tag:blogger.com,1999:blog-65432239933733405732024-03-18T22:19:30.191-03:00Outros DiálogosO enriquecimento pessoal só é possível no encontro com o outro! Dialoguemos!Marcelo Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11898920274339727756noreply@blogger.comBlogger243125tag:blogger.com,1999:blog-6543223993373340573.post-57137036132358447202024-03-14T22:36:00.002-03:002024-03-14T22:36:12.921-03:00#Verborragia: Transformação<p style="text-align: justify;">A sacada da <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/p/verborragia.html " target="_blank">#Verborragia</a> é a criação de um mecanismo que me mantenha escrevendo, mesmo se/quando não inspirado. De uns tempos para cá tenho falhado no compromisso, assim, não escrevo nem com ela. Ontem, em particular, fiquei incomodado com meu silêncio, então busquei a palavra, recebendo a sugestão que dá nome à presente reflexão. A sugestão eu recebi ontem, mas não comecei a escrever.<span></span></p><a name='more'></a><p></p><p style="text-align: justify;">Geralmente, mesmo quando desacompanhado das musas, o ato "escrevístico" se resolve por sozinho, eu só preciso começar; o texto se forma espontaneamente. Eu mais assisto que participo. Ontem eu não conseguia nem começar¹. Não vou traçar um panorama psicológico (seja geral, seja específico de ontem); assumamos apenas que eu estava cansado (com efeito, deitei na cama, adjacente a este computador, só para "esticar as costas", e desmaiei como se tivesse bebido um litro de vodca sozinho. Ah a vodca. Um dia me pergunte sobre ela.). Desânimo? Apatia? Depressão? Não são essas as formas do meu conteúdo. Traçar um texto quase "COACHistico" sobre a transformação que devo(devemos) operar para assumir o controle de nossas vidas? Blá!</p><p style="text-align: justify;">Quero falar de forma. Quase tudo pode ser analisado em termos de forma e conteúdo. Como (pseudo)filósofo que sou, têm me importado muito os conteúdos (das coisas, dos relacionamentos, das pessoas, etc.). A forma, porém, precisa ser compreendida e explorada (não confundir com estética²). Quando você diz "dava para ter dito isso de outro modo" você está tentando explorar a manutenção do conteúdo, do qual não discorda, apresentando-o de outra forma, mais palatável, menos rude ou agressiva. Eu posso te apresentar a beleza (curiosamente, aqui um conteúdo) em prosa e em verso³ (agora, a forma).</p><p style="text-align: justify;">Vivemos em um mundo material (e isso não constitui apologia ao materialismo), assim, salvo nossos mais íntimos e inefáveis sentimentos, não existe possibilidade de conteúdo sem forma, de significado sem significante. Antes de falar de qualquer alteração da forma (o que é transformação?), é preciso discutir a forma em si. A forma é, parece-me, qualquer invólucro, material ou conceitual, por meio do qual o/um conteúdo possa se manifestar no mundo dos fenômenos. Suprimida a forma, todos os conteúdos não passariam de espíritos completamente invisíveis aos nossos inúteis corpos de médiuns incompetentes. Em um mundo sem formas (e considerando-nos como somos no presente mundo, não adaptados para aquele mundo sem formas), não seriamos capazes de perceber nenhuma existência além da nossa. Estaríamos mergulhados em um absoluto nada.</p><p style="text-align: justify;">Enrolei, enrolei, e não expliquei a forma. No mundo objetivo, forma é tudo o que atinge nossos sentidos e nos mostra como é a existência fora de nós: tudo o que você recebe pela visão, audição, paladar, olfato e tato. "Estes não são conteúdos?", você poderia protestas. Mas, ora, se quando você sente o cheiro de queijo você fala de queijo, não de aromas, o odor é a forma, o queijo, o conteúdo; se você escuta Ana Carolina, a garganta arranhado é a forma, o amor desmedido, o conteúdo; se você degusta um doce semelhante àquele feito no passado por sua mãe, o sabor é a forma, a saudade é o conteúdo.</p><p style="text-align: justify;">No universo subjetivo isso fica ainda mais interessante. Na filosofia te falariam de significantes e significados. Foda-se. Esse texto é sobre formas. Você poderia achar que a fonte, a cor, o fundo que eu escolhi para este texto, são formas. Mas as letras, desprovidas de cor, justapostas dentro de sua mente e te dizendo algo com sua voz "interior", sem cor, sem tamanho, sem fundo, tudo isso é, ainda assim, forma. O quase inefável sentimento, escondido lá no fundo, talvez imperceptível até para você, de "talvez (TALVEZ) isso faça sentido!", é o conteúdo. Uma cor diferente (azul), manchando a paleta da sua existência interna<span style="font-size: xx-small;">4</span>. </p><p style="text-align: justify;">Se tudo que se nos apresenta reside em uma forma, forçoso é aceitar que toda a discussão sobre formas e conteúdos torna-se, virtualmente, inútil. Nossa experiência concreta reside em um amálgama de formas. Qualquer análise que você possa propor que separe qualquer objeto ou conceito em uma forma e um conteúdo pode ser reanalisada pela interpretação do seu pretenso conteúdo como uma forma, com outro conteúdo ainda mais profundo a ser explorado, e isso pode ser repetido ao infinito.</p><p style="text-align: justify;">Compreendendo que a discussão Forma X Conteúdo é infrutífera, analisar as formas com honestidade, em vez de abandoná-las enquanto se simula a busca de conteúdos mais profundos, pode nos oferecer rico caminho de "recompreensão" (não gosto da palavra "ressignificação") de nossas existências objetiva e subjetiva. Nesse processo, muita coisa pode ser transformada, quem sabe, para a melhor!</p><p style="text-align: justify;">Transformemo-nos! </p><p style="text-align: justify;">Notas:</p><p style="text-align: justify;">1. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2017/10/dia-ruim.html" target="_blank">Dia Ruim!</a> e <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2022/02/verborragia-inspiracao.html " target="_blank">Inspiração </a></p><p style="text-align: justify;">2. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2022/06/verborragia-penteado.html " target="_blank">Penteado </a></p><p style="text-align: justify;">3. Leia <a href="https://novosescritos.blogspot.com/2023/07/musas.html" target="_blank">Musas </a></p><p style="text-align: justify;">4. Leia "<a href="https://x.com/PhdCelo/status/1436780459153936386?s=20 " target="_blank">A teoria das core</a>s" </p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Para entender o motivo da<a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/p/verborragia.html " target="_blank"> Verborragia clique aqui</a> (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz!)</p>Marcelo Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11898920274339727756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6543223993373340573.post-4891811442109390932024-03-09T09:40:00.002-03:002024-03-09T09:40:30.132-03:00Sobre as Mulheres<p style="text-align: justify;">Decidi escrever fora da data. Não quero deliberar sobre as motivações históricas de seu surgimento, tampouco desencorajar a comemoração, mas sim discutir suas significações presentes. Que toda mulher merece respeito e reconhecimento é fato. E isso é o mínimo. Há uma dívida incomensurável. Necessidade de reparação histórica.<span></span></p><a name='more'></a><p></p><p style="text-align: justify;">Por outro lado li uma congratulação ontem, emitida por uma mulher e fiquei incomodado. Comecei a pensar nas congratulações em geral e, independente da origem ser masculina ou feminina, começaram a me parecer um tanto machistas.</p><p style="text-align: justify;">É como ouvir hoje sucessos românticos dos anos 80. Muitos deles eram lindos, para a época, emocionando casais. Hoje são retratos de relacionamentos abusivos. Não cabem mais. Assisti algo análogo nas congratulações de ontem. Não na linha do abuso, mas na sútil forma de dizer "Mulher, ponha-se (ou volte para o) no seu lugar!" enquanto se simulava o louvor.</p><p style="text-align: justify;">Veja. Não se trata de maldade do congratulador. Não é (nem sempre é) intencional. Trata-se menos de dolo que de simples materialização de um patriarcado instalado nas mentes, mesmo que nos atos deliberados tentemos desconstrui-lo.</p><p style="text-align: justify;">Na congratulação que li era dito, entre tantos outros cumprimentos:</p><p style="text-align: justify;">"...mulheres que vão à luta em busca de respeito e espaço sem perder a feminilidade e a fragilidade… </p><p style="text-align: justify;">Mulheres que passam anos abdicando de si, suas necessidades e desejos para se doarem aos filhos e à família e ainda assim são lindas, inteligentes e femininas...</p><p style="text-align: justify;">Feliz dia, semana, mês e ano, pois todo dia é dia de comemorarmos nossas conquistas, nosso espaço, nossa feminilidade, nossa força interior!"</p><p style="text-align: justify;">Talvez seja pura chatice minha, mas, repito, me incomodou. O que torna a mulher, mulher? O que eu devo localizar aí para vê-la como "não homem" e, então, reconhecer minha dívida? Como disse, respeito e dignidade são o mínimo, ou menos, portanto sequer os discutirei. Com a mulher eu tenho uma dívida ancestral então entregar-lhe tudo é, ainda, o mínimo. Mas como vou reconhecê-la para tornar ato essa quitação?</p><p style="text-align: justify;">Meu imediato incômodo foi ler "sem perder a feminilidade e fragilidade". Me parece coisa que um homem diria, imposição de uma sociedade de homens pensando nas necessidades de homens. Numa reunião hipoteticamente (mas que se efetiva e reafirma subjetivamente todos os dias, tal qual o contrato social), um conjunto de machos decretou "o mundo está mudando. Autorizemos que elas obtenham alguns espaços, mas tratemos de garantir que se mantenham mulheres nos moldes que nos agradam". "Feminilidade e fragilidade". Isso é tudo? Isso é a definição da mulher? Se não for feminina é menos mulher? Se for forte merece menos de mim?</p><p style="text-align: justify;">"Lindas, inteligentes e femininas". Sabe? há infinitas configurações de rosto e corpo. Eu sei que o expectativa ali é de construir o raciocínio de "são todas lindas, cada qual à sua maneira", mas é evidente que, na prática, prevalece o julgamento estético, de base machista, mesmo quando o agente é mulher. Há padrões estéticos introjetados com tanta força que há homens que não olham para mulheres que não estejam com determinado traje, mulheres que se sentem nuas sem maquiagem. Eu, particularmente, sou apaixonado por mulheres sem maquiagem (e foda-se também o que eu prefiro, vale dizer). Poucas coisas me parecem mais tristes do que ouvir uma moça chamando a outra de linda, desde quê (e sempre quando) maquiada. Tudo que leio ali é "parabéns pelo talento de esconder seu rosto. Estou feliz por não te ver hoje.". Do rosto desnudo, limpo, honesto, se diz "Nossa. Você está tão apagada hoje.". Voltando ao propósito deste texto, uma moça eventualmente menos linda, mais ou menos fora do padrão de beleza vigente, é menos mulher? Devo menos? O mérito é proporcional ao aspecto?</p><p style="text-align: justify;">O mesmo se pode dizer da inteligência. Sem resgatar a teoria das inteligências múltiplas - a qual, com certeza, não estava na mente do redator da congratulação- devemos reconhecer que as pessoas não estão todas nos mesmos níveis de desenvolvimento intelectual e conhecimento técnico. Uma pessoa menos sagaz merece menos respeito? Uma pessoa mais simples é menos pessoa? Uma mulher eventualmente ignorante é menos mulher?</p><p style="text-align: justify;">Da feminilidade não vou falar de novo, só demarcar que apareceu pela segunda vez.</p><p style="text-align: justify;">O texto terminava afirmando, com razão, que todo o dia é dia. O que devemos é para o ano inteiro, não para uma data comemorativa. O que perturba é a evocação da feminilidade pela terceira vez. Se todas as voltas que o texto dá fossem condensadas em linha reta (ou ponto), seria esse: o texto é uma prece, supostamente de e para mulheres, mas emitida por um(s) homem(s). Ele(s), de joelhos e mãos unidas, olhos fechados, recita(m) "Mulher, te autorizo passeios mais longos, mas lembre-se do que me agrada."</p><p style="text-align: justify;">O que é a mulher?</p>Marcelo Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11898920274339727756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6543223993373340573.post-8619696166821485362024-02-11T13:35:00.001-03:002024-02-11T13:35:10.960-03:00#Verborragia: Carnaval<p style="text-align: justify;"> Nesta verborragia fora de época, exploraremos os preconceitos, suas justificativas e meios de superação. Vou começar pelo fim.<span></span></p><a name='more'></a><p></p><p style="text-align: justify;">No fim, bem no fim, no último instante antes da linha que você agora visita, eu escolhi colocar a música "<a href="https://www.youtube.com/watch?v=rLV52d7J8rA" target="_blank">Se a vida é" (Pet Shop Boys</a>) de fundo, como satélite "inspiracional", enquanto escrevia. O motivo? Meus despreparados ouvidos da adolescência escutavam "CARNAVAL, essa vida é…", ali onde se diz "COME ON, essa vida é, that's the way life is, that's the way life is…". Só isso. Pulando o meio (que é este texto) e indo ao começo, explico a sugestão da palavra ora estudada.</p><p style="text-align: justify;">Para que o começo faça sentido, preciso ir ao "antes do começo", a "pré-história" da "história" deste registro. Em um passado muito remoto, fui cristão. Precisamos ir antes de "em um passado remoto", pois minha aversão ao carnaval me era inerente desde a mais remota juventude. Gostava do feriado, nunca da festa (para mim, bagunça, desde sempre). O cristianismo, preciso dizer, não cria loucos, tampouco preconceituosos, ele apenas oferece, a quem desejar, as justificativas (mais que convenientes) para as loucuras e preconceitos preexistes. Com isso, registro que no cristianismo encontrei toda uma variedade de justificativas para meu desagrado ante o "pecaminoso" evento ao qual me opunha, muito tempo antes de ser cristão e/ou de saber o que era pecado. Importa registrar que o amigo que indicou este texto (o amado <a href="https://twitter.com/newtonx" target="_blank">Mestre Newton</a>) o é (amigo) há mais de 3 décadas, portanto, conhece-me agora, conhecia-me no remoto passado e, sobretudo, no "antes do remoto passado cristão".</p><p style="text-align: justify;">No decorrer da parte cristã de minha vida, aprendi duas "leituras" para "Carnaval". Uma era a pura, cristã, "correta", de que "Carne Vale" era o "Adeus à carne", a despedida (aqui, carne é bife, churrasco, boi, etc.), pois em seguida entraríamos no período de penitência quaresmal, deixando de comer carne até a Páscoa.</p><p style="text-align: justify;">Na segunda, "naturalmente equivocada" (pelo prisma daqueles que me instruíam), o "aval à carne" era essa autorização ao pecado, esse mergulho nas coisas da carne, libidinosas, que afastavam de Deus. Uma "deturpação do que o carnaval deveria ser".</p><p style="text-align: justify;">Para uma pessoa que não gostava da festa do Carnaval, essas definições (e consequentes restrições) eram uma maravilha. Uma mentira? sim. Mas uma maravilha.</p><p style="text-align: justify;">O tempo passou, eu amadureci e a fé cristã tornou-se insustentável. Ainda ontem (escrevo em 11/02/2024. A conversa foi em 10/02/2024), comentava com o senhor indicador da palavra ora explorada que "a fé é uma coisa para jovens". Fé precisa de uma mistura de elevadas doses de "esperança" e "imaturidade". A vida real, quando alongada (quando você fica velho), demonstra que "esperança" não cabe, na mesma medida que te dá "maturidade". A fé perde espaço, ou se converte em uma "fé desconfiada", de qualquer modo, distinta da "fé cega" (e alucinada) dos jovens.</p><p style="text-align: justify;">Saí da igreja, assim, avançamos para "um passado menos remoto". Nesse momento, o senhor "sugeridor" da palavra de hoje, debandado antes de mim, já mergulhava no mundo secular, mas, respeitoso por meu estado civil (então, casado), não me convidava aos eventos aos quais se lançava. Eu já tinha saído da igreja. Minha desculpa para a ausência não era mais o cristianismo, mas sim o estado civil, ambos embuste, mascarando preconceitos muito mais antigos.</p><p style="text-align: justify;">Encerrado o casamento, meu querido amigo julgou pertinente o convite ao evento ("Vamos em um bloquinho de Carnaval?"), encerradas as desculpas de minha ausência. Ainda assim, rejeite os convites, abraçado aos antigos preconceitos por mais de 3 décadas. Essa rejeição durou 2 anos. </p><p style="text-align: justify;">Ontem, 10/02/2024, aceitei o convite pela primeira vez. Fui ao bloquinho. Meu amigo repetia "Venha, ao menos, como experimento sociológico". Fui, não como estudante teórico de um evento que me era externo, fui como participante, humano, real. GOSTEI!</p><p style="text-align: justify;">Para muito além de todos os meus preconceitos, os de antes do cristianismo, os contraídos no cristianismo, há uma parte de mim que se encanta com o que é "absolutamente humano", e o que assisti ontem foi "absolutamente humano". Na igreja aprendi que encontraria um antro de pecado. Não foi o caso. Deve haver mais pecado na "Caminhada da ressureição" (evento católico de São Paulo. Pesquise) do que no que assisti ontem. Ontem eu assisti a mais pura demonstração da liberdade associada à felicidade. </p><p style="text-align: justify;">Não era feio.</p><p style="text-align: justify;">Não era sujo.</p><p style="text-align: justify;">Era puro, belo, harmonioso, ruidoso, desorganizado. Era humano. Pessoas felizes. Se alguém dissesse "Deus criou o mundo na expectativa daquele momento", não seria demagogia. Os deuses criaram o mundo na expectativa de momentos como aquele. Pureza, harmonia, barulho, bagunça. </p><p style="text-align: justify;">Sabe? Um cara beijo outro cara. Sabe? Um cara e uma moça se beijaram em um desejo desesperado. Encantador. Sei lá eu se se conheciam? Eram namorados antigos? Ou se viram ali e nem sabem os nomes uns dos outros? Nada disso mura que era puro, belo, harmonioso.</p><p style="text-align: justify;">Porque a pureza não versa sobre o ato, mas sim sobre a malícia da intenção. Por malícia leia "maldade", coisa que não encontrei ali. A pureza está intacta. Deus está tranquilo. O céu tem, garantidos, seus habitantes.</p><p style="text-align: justify;">Como bônus, encontrei Jesus. Sim. É verdade! Um rapaz completamente trajado de Jesus estava ali. Tirei até foto. Esse encontra nunca aconteceu nos passeios cristãos de minha adolescência. Isso é significativo. Encontrei no bloquinho o Jesus que procurava nos eventos cristãos (Caminhada da Ressurreição inclusa). Pense nisso.</p><p style="text-align: justify;">Deus (qualquer deus. Todos os deuses) crio(aram) o mundo para ser como é. Quando dizem que "Jesus se fez igual ao homem em tudo, exceto no pecado", deveríamos compreender que "pecado" não é o beijo (ou transa) aleatórios de um carnaval qualquer, mas sim as atrocidades ocorrendo na Palestina. Não é a alegria (NEM O PRAZER) que desagradam a Deus (qualquer deus. Todos os deuses) é a ação consciente de alguém pela dor de alguém. </p><p style="text-align: justify;">Quando pessoas morrem de covid no Brasil por ação de um presidente perverso, ou crianças morrem em Gaza pela omissão de uma ONU inútil, aí reside o verdadeiro pecado, a verdadeira maldade, a verdadeira malícia. A dor infringida à carne não tem aval de nenhuma divindade.</p><p style="text-align: justify;">Já, sobre a alegria na reunião dos justos, CARNAVAL.</p>Marcelo Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11898920274339727756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6543223993373340573.post-33712555431576011672024-01-03T01:04:00.000-03:002024-01-03T01:04:03.812-03:00#Verborragia: Quimera<p style="text-align: justify;">Certa feita uma moça me chamou de "fanfiqueiro". Pedindo que explicasse, ela me deu uma descrição levemente distinta daquela que a internet dá. Apoiou-se no meu hábito de publicar textos para dizer que sou um criador de histórias.<span></span></p><a name='more'></a><p></p><p style="text-align: justify;">A internet se divide em definições, ora confirmando a alegação da minha amiga, ora declarando que "fanfiqueiros" são loroteiros. Saiamos das histórias evidentemente ficcionais, destinadas ao entretenimento, e também daquelas fantasias (mal intencionadas ou não) sobre nós mesmos narradas para obter benefícios ou admiração. Quero pensar nas histórias que criamos apenas em nossas mentes, sem compartilhar com ninguém, mas que utilizamos para definir nossas decisões e ações. As especulações quiméricas que fazemos sobre os outros, ora por fantasiá-los, ora por preconceito.</p><p style="text-align: justify;">"Quimera", segundo meu querido Michaelis, é "qualquer animal fantástico representado pela composição de partes de animais diferentes." (dentre outras definições que acabam convergindo para esta). Não precisamos de um livro para descobrir onde os animais fantásticos habitam (eu não podia perder essa. risos): Moram, invariavelmente, na mente.</p><p style="text-align: justify;">Nossa mente, infinitamente criativa, captura frações de informação de pessoas e situações que nos cercam e as funde com outros tantos pedações, construídos por nossos desejos ou temores, projetando um verdadeiro zoológico mítico ao nosso redor. Uma selva viva digna de um episódio de "The midnight gospel".</p><p style="text-align: justify;">Sabe? Sou contra a moda atual de combater a mente; neutralizar o ego. Assim sendo, seria contradição eu discorrer aqui em franco ataque às fantasias da nossa mente. Seria infrutífero, pois você não deixaria de fantasiar só porque um estranho da internet recomendou (você não escuta nem o seu psicólogo. risos). Além do mais, seria antinatural. Sua mente é o ápice de um longo processo evolutivo cujo propósito nunca foi a negação. "A gente é feito pra sonhar"¹ e se não o fizermos, não temos propósito.</p><p style="text-align: justify;">Você lembra quando conversamos sobre preconceito²? Deixar de ter e criar preconceitos é impossível. É característica inerente do nosso funcionamento subjetivo. É possível, porém, apropriar-se desta consciência, passar a reconhecer os momentos e atos de preconceito e, então, trabalhar ativamente para mitigá-los e ajustá-los, convertendo-os em conceitos concretos. Você "desquimeriza" a criatura, substituindo as partes indevidamente enxertadas por conhecimentos verdadeiros, conceitos sem "pré".</p><p style="text-align: justify;">Nosso relacionamento com nossas projeções deve seguir caminho semelhante. Nunca seremos capazes de deixar de fantasiar, imaginar, projetar, criar expectativas, etc. Por outro lado, sempre estará ao nosso alcance -desde que nos mantenhamos conscientes da situação fantasiosa daquele pensamento- a capacidade de destitui-las de suas partes monstruosas para descobrir suas feições reais. Você percebe algo ou alguém sempre de forma incompleta. Você pode viver por anos naquela situação ou com aquela pessoa e, ainda assim, seu conhecimento sobre aquilo será incompleto. Você, naturalmente, preencherá essas lacunas com elementos de si mesmo, sejam desejos, sejam temores. Você não é um romântico, ou canalha, ou tolo, por fazê-lo. Você é humano! E está tudo bem.</p><p style="text-align: justify;">Por outro lado, seu (eventual) hábito de povoar suas adjacências com essas quimeras pode comprometer seu relacionamento com o mundo que te cerca. Fantasie o quando quiser, mas mantenha-se consciente de que está fantasiando. Com isso, observe suas respostas ao mundo (à situação ou à pessoa). Analise seus atos antes de realizá-los, enquanto ainda estão incubando na forma simples intenções. Estas intenções são baseadas em um olhar atento para os dados concretos que você recebeu, ou estão inteiramente baseadas em suas fantasias (sejam positivas, sejam negativas)?</p><p style="text-align: justify;">Quanta informação te falta para tomar uma decisão coerente sobre o ato a seguir? Se você sabe pouco, o que fará para saber mais? Atenção a este "sabe pouco". Se você abraça quimeras sem notar que as criou, terá a ilusão de que sabe muito e se sentirá seguro para tomar decisões (equivocadas). Saber muito ou pouco não deve se basear na medição simples, superficial e irrefletida, do volume de informações que você possui, mas sim na análise cuidado do quanto delas realmente veio do objeto de sua reflexão (pessoa, situação, etc.) e o quanto você colocou indevidamente ali. Nota a diferença?</p><p style="text-align: justify;">Sou um sonhador. Jamais expurgarei minhas quimeras. Mas as mantenho ali no lugar que nasceram para habitar: uma área privativa do meu coração destinada ao meu deleite, como ler (ou escrever) um conto ou assistir um filme. No momento do ato, da ação real no mundo, da escolha das palavras ou dos movimentos, retiro-me do zoológico (ou da biblioteca, ou da sala de cinema. Use a analogia que preferir) e procuro (nem sempre com sucesso) olhar atentamente para o que há de concreto diante de mim.</p><p style="text-align: justify;">Não é fácil. Mas é possível.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Notas:</p><p style="text-align: justify;">1. Essa frase me jogou direto no Marcelo Jeneci, embora no original se diga "<a href=" https://www.youtube.com/watch?v=i9h5ykkqpZ0 " target="_blank">A gente é feito pra acabar". Recomendo que escute. Fará sentido.</a></p><p style="text-align: justify;">2. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2021/12/verborragia-preconceito.html" target="_blank">Preconceito </a>e <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2013/01/50-tons-de-homens.html " target="_blank">50 Tons de Homens </a></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Para entender o motivo da <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/p/verborragia.html" target="_blank">Verborragia clique aqui</a> (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz! )</p><div style="text-align: justify;"><br /></div>Marcelo Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11898920274339727756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6543223993373340573.post-31998118564258401262023-12-28T00:00:00.002-03:002023-12-28T00:00:26.785-03:00Você lembra?<p style="text-align: justify;">Quando percebi que hoje é quarta pedi ao meu filho que escolhesse uma palavra para a #Verborragia¹ de hoje. Como ele me devolveu um conjunto de ideias (uma conversa que tivemos no passado), não uma palavra isolada, decidi que o texto de hoje é/será uma reflexão avulsa, fora da verborragia.</p><p style="text-align: justify;">Não poucas vezes eu inferir que "somos o que lembramos"², assim, preciso registrar (orgulhoso), que meu filho chegou a conclusão semelhante, por meios próprios.<span></span></p><a name='more'></a><p></p><p style="text-align: justify;">A conversa citada acima (a qual ele me pediu que desenvolvesse neste texto) foi uma ocasião na qual ele comentou que estamos o tempo todo vivendo momentos, esse instante curioso que chamamos de "presente", infinitos momentos, infinitos "presentes", mas se, no momento (ou dia, ou década) seguinte eu não me lembrar, é como se não o tivesse vivido.</p><p style="text-align: justify;">Veja, postular que existem momentos concretos no meu passado, sem ser capaz de enumerá-los, não lhes confere maior grau de existência concreta que postular que cheguei levitando ao quarto no qual digito estas palavras. Postular, o que quer que seja, não é conferir existência concreta. Só existe o fato. Nossa relação com o fato, porém, é atravessada (por que não dizer "mutilada"?) pela arbitrariedade da nossa memória, ora retendo, ora abandonando, eventualmente até editando.</p><p style="text-align: justify;">Se eu vivi uma sequência de situações "a>b>c" e minha mente, brincalhona, me diz que foram "a>c>e", caso não exista outra testemunha que me alerte e corrija, nada no universo fará com que os eventos tenham sido diferentes de "a>c>e". Só a memória pode validá-los, recuperá-los, trazê-los à existência sob a forma de narrativa mnemônica, logo, só podem existir como me lembro que ocorreram. Ainda que nosso esforço lógico exija que apelas "a>b>c" seja a única sequência de fatos real, nossa relação com o tempo, toda ela transcorrida na memória, não na pedra, força que a verdade resida em "a>c>e" e que "a>b>c" não passe de uma hipótese; um sonho esfumaçado; uma alegoria fantasmagórica impossível de colocar no mundo.</p><p style="text-align: justify;">Se, por outro lado, um interlocutor, sabidamente presente no momento, me corrige, alegando que sua própria cadeia mnemônica garante que os eventos foram "a>b>c", temos aquela curiosa situação de duas verdades em conflito. Veja: Não temos um confronto entre verdade e mentira. Não há mentira aqui. Ambos acreditam no que dizem, conforme lhes atesta as respectivas memórias. Um dos dois precisará ser convencido, reforçando, por convenção, não por verificação empírica (salvo um evento gravado, o que não tem utilidade para esta discussão), uma das hipóteses, erigindo-a arbitrariamente a verdade, e descartando a outra. Também pode acontecer de ninguém ceder, e ambos seguirem cada qual com a certeza de que o outro está desorientado. (você é ou já foi casado? Você está neste ponto. risos).</p><p style="text-align: justify;">Brincadeiras da mente à parte, o grande ponto a se explorar aqui não é o de memórias existentes, porém distorcidas, mas sim o da memórias perdidas. Se me esqueço que almocei macarrão na última terça, sendo que o fato de eu ter testemunhado e vivido aquela refeição era o único modo de garantir-lhe existência, nunca aconteceu. Novamente sua mente lógica evocará que, na sequência histórica de todos os fatos do universo, certamente terá acontecido, independente de qualquer memória de qualquer pessoa. Está correto. Do ponto de vista lógico (quiçá mecânico), o evento aconteceu. Mas se não há quem se lembre dele, qual a relevância da lógica?</p><p style="text-align: justify;">Se nos fosse facultado catalogar (naturalmente, só podemos especular) todos os eventos que nos aconteceram concretamente, mas que tornaram-se totalmente ausentes de nossa memória consciente, esse catálogo inteiro seria guardado na estante de ficções de nossa biblioteca particular e seriam tão relevantes quanto filme visto na sessão da tarde. Eu adoro filmes. Adoro o conhecimento que extraio deles e, certamente, teríamos muito para extrair do catálogo supracitado, ainda assim, tanto em um caso como no outro, sempre encerramos a audiência ou leitura com aquele distanciamento naturalmente advindo da certeza de que voltamos à realidade (ausente no material assistido ou lido). Percebe?</p><p style="text-align: justify;">Eu sou o que eu lembro diz respeito a mim. O que não lembramos diz respeito ao nada. Ao vazio. Nunca aconteceu.</p><p style="text-align: justify;">Senti uma leve inclinação de evocar o filme "Blade Runner", mas eu levaria este texto para a direção oposta àquela que lhe cabe. Com efeito, evocar o magnífico discurso final do Roy Batty (Rutger Hauer), trazendo os paralelos com tudo o que eu lembro e que ninguém mais poderá lembrar no meu lugar (portanto, morrerá comigo), diria respeito, justamente ao que existe, enquanto eu e meu banco mnemônico existirmos, passando à inexistência quando eu me for. Ninguém poderá lembrar do meu primeiro beijo, do prazer que a chuva me causa, dos sentimentos que aquele livro inspirou, do arrependimento de ter comprado aquele lanche, etc.</p><p style="text-align: justify;">Para o presente texto faz mas sentido, talvez, o "Viva! A vida é uma festa!". (ATENÇÃO! Haverá spoiler a partir deste ponto).</p><p style="text-align: justify;">Por mais que a situação do Héctor pareça nos colocar no mesmo ponto em que estava o Roy, precisamos tomá-lo, momentaneamente, como a coisa lembrada (pela Mamá Ines), não como o ente que lembra. Todo o drama da narrativa (no filme e neste texto) orbita o fato de que ele deixará de existir exatamente quando não existir mais pessoa viva que se lembre dele. O elemento lembrado deixa o Universo com o ente que lembra. Vale para pessoas, coisas e momentos.</p><p style="text-align: justify;">Nossa presença, como ente que lembra, como singularidade mnemônica, muito mais que como presença física e/ou agente social, é que garante a manutenção, no tempo, de todo o passado (tanto quanto possível) que carregamos conosco. Morre um pouco do Universo cada vez que esquecemos um evento. É natural do processo de existir, tanto nosso quanto dos fatos. O passado vai se diluindo, se desfazendo, se desconstruindo, mas deixa um eco, e enquanto esse eco dura, ele existe. Você lembra?</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Notas:</p><p style="text-align: justify;">1. Para entender o motivo da <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/p/verborragia.html " target="_blank">Verborragia clique aqui</a> (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz!)</p><p style="text-align: justify;">2. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2023/09/verborragia-saudade.html" target="_blank">Saudade </a></p>Marcelo Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11898920274339727756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6543223993373340573.post-52883535768976756502023-12-20T22:37:00.001-03:002023-12-20T22:37:19.692-03:00#Verborragia: Labirinto<p style="text-align: justify;">Hoje foi um dia emocionalmente conflitante. Ontem foi dia de festa no trabalho (pela empresa), hoje foi dia de festa 2.0 no trabalho (pela equipe e adjacentes) e, ainda assim, uma perda (faleceu minha neta, Fumaça, a gata do meu filho¹).<span></span></p><a name='more'></a><p></p><p style="text-align: justify;">Existe um fungo (não lembro o nome), que é capaz de resolver problemas. Há experimentos nos quais ele é colocado em um labirinto e soluciona o labirinto. Eu penso na imagem do fungo se dividindo em inúmeras ramificações e, automaticamente, percebo-me observando nossa passagem pelo tempo, pelas ramificações das possibilidades, pelas escolhas, um labirinto temporal, em contraponto ao labirinto espacial ao qual estamos acostumados.</p><p style="text-align: justify;">Escolhi estar na festa de ontem, e foi muito bom. Escolhi estar na comemoração 2.0 de hoje, e foi muito muito bom (Deus, criado à nossa imagem e semelhança, sempre julga que tudo foi bom. "Reflitão!"). Quais escolhas eu poderia ter feito que salvariam Fumaça?</p><p style="text-align: justify;">Embora atribuamos "irracionalidade" aos animais, existe algum nível subjetivo de escolha, já que o animal, mesmo cercado de toda sorte de estímulos que desestimulasse a escapada, insistia em "escolher" sair. De algum modo, há um "quê" de responsabilidade de minha neta no desfecho de sua curta existência. Eu fico aqui, neste momento, lembrando do seu comportamento (extremamente carinhosa), das suas manias (decidia, aleatoriamente, transformar o momento de carinho em briga [ou brincadeira] e mordia), das suas idiossincrasias² (aprendeu que todas as manhãs eu ia para a sacada [reverenciar Akasha] e reclamava se eu me atrasava pra isso), e pensando na plena individualidade, exclusividade, especificidade, do ente que partiu, algo irreplicável, insubstituível, irrecuperável, se perdeu.</p><p style="text-align: justify;">Escolhas: minhas (quiçá dela).</p><p style="text-align: justify;">Labirintos: De nossas existências no tempo, no espaço, no mundo, no (infinitamente complexo) emaranhado da (interconexão das) existência(s).</p><p style="text-align: justify;">"Irrecuperabilidade": Dela e de tudo o que a tornava única.</p><p style="text-align: justify;">São 22:11. Ele (meu filho), que começou a jornada de volta para casa, em meio às suas próprias escolhas, labirintos, me perguntou da gata. Escolhi (labirinto), falar a verdade.</p><p style="text-align: justify;">Ele quer achar culpados: a dona dos cachorros (havia mais que um?), a vizinha, duas casas acima, conhecida por envenenar gatos, etc.</p><p style="text-align: justify;">"Esquece, Filho. Nunca saberemos. Procurar culpados não a trará de volta. Eu não processei o hospital no qual minha mãe morreu." (minhas escolhas. Meu labirinto).</p><p style="text-align: justify;">Meu filho me lê uma vez a cada 100 textos (suas escolhas. seus labirintos. Eu sou chato). Talvez, um dia, lá no futuro, quando eu for fumaça, ele escolha me ler (suas escolhas. seus labirintos) e, chegando a este ponto, possa complementá-lo a partir de suas próprias perspectivas, totalmente insondáveis para mim, labirintos.</p><p style="text-align: justify;">Este texto, como qualquer labirinto, não tem propósito (leia outros. Juro que há desfecho). Toda saída de labirinto é uma ilusão, apreciada enquanto se ignora que se caiu em um labirinto maior. </p><p style="text-align: justify;">É, meu amigo, me perdoe. Talvez este seja meu primeiro texto sem saída. Labirinto!</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Notas:</p><p style="text-align: justify;">1. Ele não sabe. Enquanto escrevo, ele ainda está na rua e achei melhor não avisar remotamente</p><p style="text-align: justify;">2. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2022/02/verborragia-idiossincrasia.html" target="_blank">Idiossincrasia</a></p><p style="text-align: justify;">Para entender o motivo da <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/p/verborragia.html" target="_blank">Verborragia clique aqui</a> (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz!)</p><p><br /></p>Marcelo Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11898920274339727756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6543223993373340573.post-71500752419342152912023-12-13T15:13:00.004-03:002023-12-13T15:13:28.878-03:00#Verborragia: Essência<p style="text-align: justify;">Dia destes conversava com uma pessoa muito amada a respeito de uma antipatia de um terceiro contra ela; noutras palavras, a pessoal mal a conhecia e decidira não gostar dela. Quando a palavra de hoje foi sugerida, aquele diálogo foi a primeira coisa que me ocorreu.<span></span></p><a name='more'></a><p></p><p style="text-align: justify;">A amada em questão é uma das pessoas mais doces e cuidadosas que eu conheço, isso é a sua essência, ainda assim, duvidou de si mesma, quando teve ciência da maneira como o terceiro a via. Parece-me natural que, quando acusados de algo, fiquemos inseguros sobre o quanto daquilo é verdade. O quanto do que acreditamos ser nossa essência o é de fato? Quanto nos enganamos sobre nós mesmos? Quanto da opinião de terceiros sobre nós é válida? Quanto disso é preconceito?¹</p><p style="text-align: justify;">Sobre a amada, protestei. Não deveria deixar-se abater por aquilo, pois era uma opinião obviamente infundada. Apelei para suas outras relações: quantas pessoas já haviam anunciado a mesma impressão? Nenhuma. Como deixar-se convencer por uma agente com o qual mal se tenha interagido? Não aceito.</p><p style="text-align: justify;">Por outro lado, a posição que ela adotou deveria servir de modelo para todos nós; a reação mais óbvio, natural e arrogante seria, desde o início, invalidar a posição do terceiro, certos de que não se aplica a nós. Estar disposto a reavaliar sua essência, buscando confirmar se há traços da característica reclamada e, consequentemente, tentar o aprimoramos, é tarefa que poucos estão dispostos a adotar. Acredito que infinitos pontos de conflito seriam contornados com essa autoanalise sincera e aberta.</p><p style="text-align: justify;">Ainda assim, há sempre o erro. O outro pode, muitas vezes, ter opiniões distorcidas ao meu respeito. Já fui acusado de ser manipulador quando, em um diálogo, pela primeira vez, discordei da interlocutora da época. Noutra ocasião a pessoa "intuiu" que eu representava encrenca. Não quero soar arrogante, mas preciso citar-me como objeto em uma análise assim, pois eu sou o único ente que me é possível conhecer por dentro, portanto, o único caso, no universo, para o qual sou capaz de conhecer, sem chance de engano, as reais intenções, a cada momento, e se são ou não compatíveis com o julgamento do terceiro. Nos exemplos dados, não eram.</p><p style="text-align: justify;">Mascara-se pela acunha do "eu intuí", "energia não mente", "o santo não bateu" e afins toda a sorte de preconceito superficial. Elementos que não estão na pessoa, mas que eu projeto nela, desvios potenciais meus, não dela, que eu autentico com essas máximas levianas. Veja: Não vou discutir intuição, energias e similares; estou inclinado a crê-las como reais, mas muitas vezes são colocadas como elemento de justificativa/validação/confirmação em um cenário no qual não estavam realmente atuando. Preconceito.</p><p style="text-align: justify;">Este texto foi iniciado em 28/11/2023 e abandonado. Não escrevi mais nada até este momento, 13:46 de 13/12/2023. Sentei -me em uma área de descanso existente em meu local de trabalho decidido a iniciar um texto novo, fora da verborragia, discutindo os sentimentos deste hiato. Começaria, naturalmente, relatando a existência de um texto incompleto para, então, explorar minha incapacidade de dar sequência ao mesmo. Nesse ato surgiu-me a compreensão de que todos os sentimentos, sejam aqueles que me fazem escrever, sejam os que me travam, pertencem a mim; são minha essência. A reflexão que pretendi fazer não caberia em outro lugar, se não, no próprio texto que eu declararia abandonado.</p><p style="text-align: justify;">A própria Verborragia é uma evidência de que não estou inspirado o tempo todo. Meu gosto pela escrita não a torna, automaticamente, prolífera em mim. Incomodado pelos hiatos de produção, criei a verborragia para que as indicações feitas pelas pessoas (e o sentimento de dívida a quem indicou) me estimulassem (ou obrigassem) a escrever. Deu certo por um bom tempo. "Um bom tempo" não é "para sempre". Eventualmente o desejo de escrever (ou o compromisso de lavar a louça) são ofuscados por um outro sentimento, forte, profundo, sem nome nem rosto (até então).</p><p style="text-align: justify;">Nessa semana meu filho me mostrou um vídeo do Ludoviajante ² e ele deu nome ao meu sentimento. Ele narrou situações nas quais, frente à necessidade de fazer algo, a mente diz "Não!". Só "não!". Sem justificativa, argumentação, substituição. Sem nada. Só não. Porque não!</p><p style="text-align: justify;">Esse "não" era o sentimento que eu sentia (e sinto), eventualmente, e que me levou a abandonar o presente registro em 28/11. Eu abria o PC (ou o celular. Escrevo em ambos), olhava para o <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2014/05/ferramenta-evernote.html" target="_blank">Evernote</a> e, simplesmente, dizia não. Não havia agonia, incômodo, insatisfação, tristeza, sono, etc. Apenas "não". Aconteceu com o texto, a louça, o almoço do meu filho na quinta feira passada (acabei pedindo Ifood), a roupa para dobrar ocupando metade da minha cama (que bom que é de casal).</p><p style="text-align: justify;">O Ludo termina seu vídeo com proposições fantásticas, as quais não reproduzirei aqui. <a href="https://www.youtube.com/watch?v=HiU-JYxAmuQ" target="_blank">Assista ao vídeo</a>. Quanto a mim, decidi ser sincero com (e sobre) a minha essência. Muitos anos atrás eu fui cristão (católico) e me ensinaram que pecado confessado é pecado 50% vencido. Gosto disso. Não vou visitar um padre. Visito-vos. Quando eu aceito minha essência e abro a fragilidade que a nela (confessando-te neste relato) crio, simultaneamente, um compromisso de esforço para revisão e aprimoramento de minha própria essência. Expondo minha fragilidade, tornando-te ciente da mesma, forço-me, a exemplo da verborragia, ora por honra, ora por constrangimento, e revisar-me, garimpando no fundo do meu ser o "sim" que fiquei devendo.</p><p style="text-align: justify;">É essencial!</p><p style="text-align: justify;">É es.Sim.cial!</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Notas:</p><p style="text-align: justify;">1. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2023/01/verborragia-estranho.html" target="_blank">Estranho</a> e <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2021/12/verborragia-preconceito.html " target="_blank">Preconceito </a></p><p style="text-align: justify;">2. Assista <a href="https://www.youtube.com/watch?v=HiU-JYxAmuQ" target="_blank">Como ser mais gentil consigo mesmo </a> </p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Para entender o motivo da <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/p/verborragia.html " target="_blank">Verborragia clique aqui </a>(Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz!)</p>Marcelo Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11898920274339727756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6543223993373340573.post-77600483897446840662023-11-22T01:22:00.001-03:002023-11-22T01:22:16.336-03:00#Verborragia: Sonhos<p style="text-align: justify;">Ah, meu amigo. OBVIAMENTE eu vou subverter a expectativa do "sugeridor" desta palavra. Como eu poderia falar sobre os sonhos para a vida? Coisa chata. Todo mundo sonha; todo mundo fala sobre esforço para realizar sonhos. O "sugeridor" (que não vai se ofender pelo presente registro, pois é uma AI) disse "Vamos com a palavra 'Sonhos'. Essa palavra pode ser um ponto de partida fascinante para discutir aspirações, ambições e como os sonhos moldam nossas vidas.". VOU POR OUTRA VIA!!!<span></span></p><a name='more'></a><p></p><p style="text-align: justify;">Vou falar de um filme. Preciso explicar: Este que vos fala, PSEUDOfilósofo por definição, o é em função da "terrível" experiência realizada pelo governo do Estado de São Paulo de restaurar o estudo de #Filosofia no ensino público lá em meados de 1995/6. Um jovem quase sem noção ficou espantado quando um professor diferente¹ invadiu a sala com ensinamentos completamente distintos daqueles tão repetitivos, em forma e conteúdo, que vinha tendo, ano a ano, até então. O sujeito descrevia homens que olhavam ao redor e discutiam sobre o mundo e nunca mais o mundo foi o mesmo.</p><p style="text-align: justify;">Esse mesmo professor, certa feita, decidiu usar a televisão da escola para apresentar um filme (eu quase escrevi "Cara. Eu nem sabia que tinha TV na escola. Ele foi o primeiro a utilizar.", mas seria injustiça. Em seguida recordei que a professora de matemática nos mostrou aquele filme do Pato Donald conhecendo Pitágoras e a professora de educação artística mostrou um filme sobre Camille Claudel. Alguém também me fez assistir "Em nome da Rosa", ou seja, "destruíram minha vida [leia-se, tornaram-me {pseudo}filósofo]²).</p><p style="text-align: justify;">Nesta bagunça toda (e o indireto encaminhamento do Marcelo para o amor a Sofia), o professor de filosofia fez-nos assistir "Sonhos", de Akira Kurosawa, lançado em 1990. O filme é dividido em oito partes, oito sonhos. Algo aí (e em todo o resto do conteúdo da matéria, naquele ano), me provocou. Resgatemos os sentimentos (ATENÇÃO: Contém spoilers):</p><p style="text-align: justify;">"<i>Um raio de sol através da chuva: - Um garoto desafia a ordem de ficar em casa em um dia chuvoso. Ele testemunha um casamento lento de kitsune na floresta, sendo descoberto por uma raposa. A mulher o informa que as raposas estão zangadas, indicando que ele deve cometer suicídio. Ele parte para cumprir essa missão</i>.". "Kitsune" significa "raposa", algo que eu me lembro que o filme explicava, ainda que eu não soubesse (e não saiba) japonês. O que eu não sabia (e acabo de descobrir via "google"), é que "Raposas são um assunto comum no folclore japonês; e são descritas como seres inteligentes e com capacidades mágicas que aumentam com a sua idade e sabedoria. Entre estes poderes mágicos, tem a habilidade de assumir a forma humana". No filme, não me lembro por qual estratégia, todas as raposas são dançarinos humanos, ainda assim, sabemos (eu sabia) que são (eram) raposas. A "espiadela" do menino ao ritual secreto é um tipo de pecado, como se o rito entra as raposas fosse algo puro demais para olhos humanos, por isso mesmo, feito em dias de chuva, quando os humanos se resguardam em suas casas. Eu lembro da dança, lenta mas não cansativa, bela, sobretudo, e lembro que o menino, como eu, parecia sentir a mesma admiração (eu mesmo era, ainda, menino). Lembro do chinelo esquisito do menino, tradicional dos japoneses, e dele andando na lama. O acesso à toda aquela beleza tem um preço: O menino está condenado à morte. O filme não mostra o ato, mas o menino parte rumo à sentença. Eu sempre temi a morte, e temia ainda mais naquela época, mas lembro de sentir alguma paz no ato do garoto. É como se toda a beleza e magia testemunhadas tornassem o preço a pagar irrelevante. Valiam mais que uma vida inteira, e longevidade, sem testemunhar beleza e "algo mais" (metafísica? magia?).</p><p style="text-align: justify;">"<i>O jardim das pessegueiros - Durante o Festival de Bonecas, um garoto se entristece com a ausência de pessegueiros em seu jardim cortado. Seguindo uma menina, ele encontra bonecas vivas que o repreendem. No entanto, ao perceberem seu amor pelas flores, concordam em permitir que ele tenha um último olhar através de uma dança.</i>". Os pessegueiros em flor, toda sua magnífica beleza e o voo das pétalas ao vento (isso eu roubei de Nárnia. Outro filme. Depois discutimos isso) são representados por um balé realizado na encosta de um morro, com níveis separando algum tipo de hierarquia real. Neste morro havia, originalmente, fileiras de pessegueiros plantados que foram cortados, provavelmente uma representação do progresso que substitui o cultivo, a relação com a terra, por alguma outra produção que o filme não explora (apenas a necessidade de espaço). O menino chora com sinceridade, sofrendo a ausência das árvores, de sua beleza e sua "dança". Os espíritos do bosque, das árvores, percebem a sinceridade das lágrimas do menino e, com isso, mesmo com o bosque todo cortado, decidem apresentar a ele uma última dança dos pessegueiros. Esse sonho, que não re-assisti para este texto, parece me tocar mais agora que no passado. De algum modo (por influência ou vaticínio? Nunca saberemos), tornei-me o menino que chora por cada árvore cortada. Cada casa demolida que vejo pelos bairros onde passo me doem o coração, pois vejo a demolição das gerações que sonharam as casas, que ali moraram, riram, choraram, amaram, tudo reduzido a nada. Um morro vazio, porque alguém quer o espaço, nada mais. Sou muito apegado às histórias anônimas que não conheci.</p><p style="text-align: justify;">"<i>A tempestade - Alpinistas se perdem durante uma nevasca enquanto tentam chegar a um acampamento. Uma misteriosa mulher (possivelmente Yuki-onna) tenta atraí-los para a morte, mas um homem resiste. Quando ela desiste, a tempestade cessa, e o grupo alcança o acampamento.</i>". Esse é outro sonho que me marcou demais. Eu conseguia sentir o cansaço e a esperança se esvaindo, conforme que membro dos homens na fila, sucumbia. Um único sujeito insistia, inspirava, admoestava. Todos caíram. Não eram possível a ele arrastar todo o grupo, ainda assim, ele não desistiu. Foi em razão de sua insistência que os demais começaram a acordar e o acampamento (a "solução"?), que era invisível (pela nevasca), mas que estava a poucos metros de todos, se revela. Isso me tocou, tanto sobre a persistência, quanto sobre a necessidade de amparar os demais, independente de qualquer adversidade. Nunca esqueci este sonho.</p><p style="text-align: justify;">"<i>O túnel - Um oficial do exército entra em um túnel escuro ao anoitecer. Um cachorro raivoso surge, seguido pelos fantasmas dos soldados que ele comandou na guerra. Convencendo-os a retornar ao túnel, ele confronta seu profundo sentimento de culpa</i>.". Esse é, talvez, o sonho mais confuso. A primeira coisa da qual recordo é que o latido o cachorro tem som de disparos de espingarda (ou rifle. Não entendo muito de armas). Lembro que o oficial fica tentando convencer os fantasmas a retornar ao túnel, pois morreram e não tem consciência disso. Eu teria que reassistir para identificar se o oficial está vivo ou morto (ele mesmo sem consciência de sua situação, como os demais), mas recordo da culpa do oficial (talvez todos tenham morrido por alguma imperícia dele em suas ordens). Repensando, acredito que o oficial esteja vivo, assim, o cachorro que late quando ele tenta entrar no túnel (do qual os mortos tentam sair) representaria a impossibilidade dele entrar naquele reino (dos mortos). É um sonho emblemático.</p><p style="text-align: justify;">"<i>Corvos - Um estudante de artes encontra-se no mundo de Van Gogh durante uma visita a um museu. Procurando o artista, ele atravessa diversas pinturas, incluindo "Campo de trigo com corvos", interagindo com Van Gogh representado nas obras</i>.". Esse é, sem dúvida, o sonho mais bonito e poético. O sujeito literalmente entra nos quadros, encontrando-se com Van Gogh dentro deles e compreendendo os sentimentos e motivações do pintor a partir do interior da obra. Retrata a experiência estética profunda que um observador pode ter em frente á obra, caso se permite extrapolar o simples "olhar para os traços". O ente que produziu o conteúdo vive dentro do seu produto. Eu não conhecia nenhuma das palavras que empreguei aqui, mas lembro, com vivacidade, que foi isso que eu senti.</p><p style="text-align: justify;">"<i>Monte Fuji em chamas - Uma usina nuclear perto do Monte Fuji derrete, causando pânico. Três adultos e duas crianças são deixados para trás, confrontando a inevitabilidade da morte. Um deles admite responsabilidade e se lança de um penhasco</i>.". Acho que cheguei cansado nesta parta da/o aula/sonho. Acho que foi o trecho que menos me impressionou (ou menos compreendi). Para fechar esta lacuna, por outro lado, tenho registrado um sonho que tive em 7 de junho de 2020. Registrei assim: "Essa noite sonhei que morri. Algo explodiu no horizonte. Não era comum. Pessoas corriam em busca de abrigo. Eu sabia que não havia onde se esconder. Meu filho dormia no sofá. Pensei o quão cruel seria acordá-lo. Fiquei vendo-o dormir, repetindo que o amava, até o fogo final chegar.". Era uma explosão nuclear que avistei no horizonte, da sacada de casa. Eu olhava meu filho e pensava no sofrimento que eu lhe causaria, ainda que por segundos, se o acordasse. A morte era (como sempre é), inevitável, assim, fiz o que me cabia. Amei.</p><p style="text-align: justify;">"<i>O demônio que chora - Em um mundo pós-apocalíptico, um homem encontra um ser mutante (oni) que explica os horrores resultantes de holocaustos nucleares. Demônios choram pela dor causada por seus chifres desenvolvidos</i>.". Na época o sentimento foi de responsabilidade. Os demônios são humanos deformados por toda a destruição provocada por eles mesmos, então, são responsáveis por seu sofrimento irreversível. Essa figura pode ser explorada tanto no sentido de nossas responsabilidades nas questões ambientais quanto em nossas responsabilidades sociais e subjetivas, pois somos os criadores de nossos infernos em todas as dimensões de nossa existência.</p><p style="text-align: justify;">"<i>O vilarejo dos moinhos - Um jovem visita um vilarejo que abandonou a tecnologia moderna em favor de uma vida mais simples. Um ancião sábio explica a escolha espiritual sobre a conveniência. O filme termina com uma celebração feliz durante um funeral, simbolizando a aceitação da morte como parte da vida</i>.". Outro sonho que devo ter assistido cansado, tendo poucas recordações. Lembro da beleza do cenário fluvial que cercava o vilarejo e que as pessoas no cortejo estavam felizes, não de luto. Recordo da serenidade de ponta a ponta do sonho, assim, novamente, não sei se influenciado ou vaticinado pela narrativa, vivo hoje em busca da mesma serenidade, da simplicidade onde vivo, onde vou, no que me agrada observar.</p><p style="text-align: justify;">É isso. Este texto deve ter pouco a te dizer. Foi, muito mais, um passeio agradável pelas minhas memórias e sentimentos e sou grato por isso.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Notas:</p><p style="text-align: justify;">1. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2012/05/filosofia-de-vida.html" target="_blank">Filosofia de Vida</a> e <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2023/01/verborragia-estranho.html" target="_blank">Estranho </a></p><p style="text-align: justify;">2. Saindo do cinema, cabe menção honrosa à professora de literatura que me fez ler "As relações perigosas", de Choderlos de Laclos. Nem era tema de aula ou prova. Ela só achou que eu iria gostar e me emprestou o livro. Fiquei fascinado.</p><p style="text-align: justify;">3. Os comentários sobre os sonhos são baseados em minhas lembranças sobre os sentimentos que me inspiraram aos 14/15 anos, porém, é óbvio que não me seria possível lembrar cada sonho, conteúdo e ordem, assim, cada descrição de sonho, apresentada em itálico e entre aspas, foi recuperada mediante consulta à IA (ChatGPT).</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Para entender o motivo da <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/p/verborragia.html" target="_blank">Verborragia clique aqui</a> (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz! )</p>Marcelo Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11898920274339727756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6543223993373340573.post-67350094413556946972023-11-20T20:59:00.004-03:002023-11-20T21:02:20.976-03:00OS SINAIS (de Luciana Busquets)<div style="text-align: justify;">Pode até parecer mentira, mas a história que se segue é baseada 100% em fatos reais. Hoje vou falar sobre três amigas muito fofas, feriados intermináveis no mês de novembro, um calor das profundezas, um rolê muito louco, sinais do universo, navegador do mal (que não posso citar o nome, mas todo mundo deWe saber qual é), e uma motorista de aplicativo que, desesperada para juntar uma grana rápido, acaba aceitando todas as corridas, fazendo com que ela entre em algumas enrascadas.<span><a name='more'></a></span></div><div style="text-align: justify;">Foi em novembro de 2023, mês tão esperado pela quantidade de feriados que nele habita. Pessoas se programando para viajar ou fazer passeios diferentes pela cidade de São Paulo, entre elas, três amigas que aqui vou chamar de Vã, Má e Lau - Ops, para tudo, toda história que se prese precisa de um título. Fiquei pensando qual seria o melhor para esta história? As três amigas, um passeio de última hora e uma motorista de aplicativo que entra em todo e qualquer buraco (literalmente) ... não, grande demais para um título, talvez: Um passeio macabro na Serra da Cantareira... bom nome, mas ainda não ... Fui, deu pra mim (aquele momento em que você pensa em abandonar tudo e sair correndo) mas não é este o contexto de fato, então optei pelo seguinte nome: OS SINAIS.</div><div style="text-align: justify;">Bom, agora que já temos um título voltemos para nossa história ...onde eu havia parado? Ahhh... as três amigas, Vã, Má e Lau, que trocavam incessantes mensagens para decidir o que fariam no final de semana. Foram tantas as opções que agora só consigo me lembrar de duas delas... viagem para praia ou cachoeira no sítio Borrocada na Serra da Cantareira. Destino decidido bora comunicar os pais. As mães fizeram muitas recomendações de segurança para o passeio na trilha com cachoeira, afinal mãe não serve só para jogar pragas.</div><div style="text-align: justify;">Acordei num dia de primaVERÃO,7:00 horas da manhã e um “calorzinho” de 28°C, achando que aquele seria só mais um dia comum de trabalho de motorista de aplicativo. Caminhões e ônibus que tem pontos cegos por todos os lados, donos de carros maiores do que o meu e por isso tem a preferência, ruas repletas de motoboys que tem suas próprias regras e a seu favor... buzinas, fechadas, muitos carros com setas que não funcionam, mais buzinas, pedestres zumbis, isso para comentar só o básico. Pé na estrada que São Paulo é grande e a temperatura já subiu.</div><div style="text-align: justify;">Eis que chega o dia tão esperado. As meninas acordaram cedo, preparam suas mochilas com os lanches mais saborosos e muita água, pois esses dias os termómetros estavam batendo recordes de calor e a previsão do tempo dizia que teríamos tempestades com ventos de mais de 100km. Elas se encontraram no local marcado na zona Sul de São Paulo e pegaram um ônibus a caminho de desventuras em séries. Chegando próximo à região do Tremembé o ônibus começou a falhar, problemas com ar condicionado entre outros se me lembro bem. O motorista parava, desligava o ônibus, ligava, andava alguns metros e parava novamente. As meninas ansiosas pelo passeio e, de certo que teriam que descer do ônibus por parada geral, anteciparam a movimentação e decidiram descer do ônibus a fim de chamar um motorista pelo aplicativo.</div><div style="text-align: justify;">Enquanto isso, perto daquele local...</div><div style="text-align: justify;">Dez da manhã 33°C, já comentei que estava calor? Aplicativo tocando: embarque Tremembé destino Serra da Cantareira, bora? Eu: bora! Naquele momento nossos destinos foram cruzados e elas que estavam ansiosas por uma aventura mal sabiam o que as esperava. Chegando no local de embarque me deparo com 3 jovens pra lá de animadas e cheias de planos. Após 15 minutos de corrida o aplicativo de navegação, cujo nome não se pode pronunciar, anuncia: atenção, perigo à frente. As passageiras ficaram um tanto apreensivas, mas como isso já faz parte da minha rotina segui tranquilamente. Alguns metros à frente eu avisto um carro da CET que havia acabado de liberar a passagem. O fato é que tinha vazado óleo na pista, mas o problema foi resolvido com um pouco de serragem, areia ou sei lá o que porque não prestei muita atenção. Seguimos viagem.</div><div style="text-align: justify;">Poucos quarteirões depois em uma pista ainda íngreme, afinal estávamos subindo a serra, havia logo a minha frente um caminhão parado e algumas pessoas ao redor olhando para cima. Parei o carro e o caminhão começou a andar, arrastando com ele toda a fiação do local, fazendo com que esses fios caíssem em cima do caminhão e no capô do meu carro. Em segundos me veio à mente um curso de segurança na direção que falava sobre o que fazer se fios de alta tenção caíssem sobre o carro durante uma chuva, bateu um desespero, mas eu tinha que demonstrar calma, afinal eu estava com 3 adolescentes no carro que precisavam de alguém que transmitisse calma e confiança, como se eu soubesse o que estava fazendo, só eu sei que não, e agora vocês também. Lembrei que, em caso de chuva os vidros do carro estariam fechados e que a porta não deveria ser aberta para que a eletricidade não entrasse no carro e atingisse os passageiros, mas gente, eu estava com as janelas abertas e tudo isso passou pela minha cabeça em segundos antes que os fios pudessem atingir meu carro.</div><div style="text-align: justify;">Não vou colocar aqui nenhuma onomatopeia dos fios atingindo o carro porque não saberia reproduzir, então deixo isso por conta dos leitores, só sei que foi tudo muito rápido. Olho para trás para saber se as passageiras estão todas bem. Sim, estavam todas bem assustadas, com vontade de voltar pra casa, mas resolvi acalma-las e aguardar uns instantes antes de tomar qualquer decisão, afinal não queria me sentir responsável por estragar o passeio das meninas por ter seguido “aquele” GPS.</div><div style="text-align: justify;">Eis que o motorista do caminhão, que trabalha sabe-se Deus de quê, desce do carro com um alicate na mão e nenhum equipamento de proteção, pega os fios como se tivesse cortando cabelos e “tec”. Na hora eu pensei, vamos presenciar uma morte horrível, mas o universo poupou o motorista do caminhão e a gente desse desprazer. Cortou de um lado, deu a volta no caminhão, cortou do outro lado, jogou os fios no chão como se nada fossem e seguiu seu destino, os moradores da região que se virem pra chamar a companhia responsável pelos fios.</div><div style="text-align: justify;">Nós ficamos lá com um certo receio de passar sobre os fios, mas pensei, se ele pegou com as mãos e não morreu não somos nós passando de carro que vamos... E também deixei os carros da esquerda passarem na minha frente só pra garantir né rs. Passamos em segurança e ainda faltavam cerca de 19 minutos para chegarmos ao nosso destino segundo o GPS do mal, que um pouco mais adiante indica que devo entrar à direita em uma estrada de terra, mais pedras do que terra, devo dizer. As meninas falaram: moça, deixa pra lá, não precisa não. Mas como sou brasileira e não desisto nunca eu disse - tudo bem, dá pra entrar. Segundo o mapa aquele parecia ser o único caminho e a rua era bem larga, então tudo bem. A nossa direita, pouco depois da entrada, tinha um portão com algumas casas que podíamos avistar ao longe, uma espécie de chácara sei lá. Seguimos....</div><div style="text-align: justify;">Passou por nós, no sentido contrário, um homem de bicicleta que andava no meio da pista e olhou para nós com um certo espanto... até então eu não entendi o porquê. Na estrada havia uma bifurcação, aplicativo indicou a direita, a estrada foi ficando cada vez mais estreita, havia espaço apenas para um carro e em alguns momentos nem pra um. Meio dia, vidros fechados por causa dos vários galhos que estavam entrando pela janela, um calor das profundezas, talvez a temperatura estivesse em 38⁰, mas a sensação térmica era de 60⁰, corpo molhado de suor as meninas preocupadas como eu faria pra voltar sozinha por aquele caminho e eu seguindo na força da fé.</div><div style="text-align: justify;">Alguns trechos curtos com um pouco de lama que eu tive coragem de passar, porém cheguei em um ponto em que a lama era muita, pensei que se eu fosse ficaria parada ali patinando com o carro até o natal. Neste momento fui vencida pela situação e com tristeza no coração falei para as meninas que não conseguiria seguir adiante. Num misto de sentimentos de tristeza e alegria elas concordaram rapidamente, afinal estávamos rindo de nervoso já há um bom tempo.</div><div style="text-align: justify;">Decidido isto, procurei um espaço onde a pista parecia ser mais larga pra fazer o contorno, porém me esqueci de um detalhe crucial para essa manobra, o que acabou piorando muito mais a nossa situação. Ré dada e eis que enfiei a roda do carro num buraco imenso que eu tinha desviado na ida, mas que de ré não era possível ver. Pronto, agora o carro estava atravessado no meio da pista de um lugar no meio do nada onde provavelmente não passa carro há anos.</div><div style="text-align: justify;">Em muitas tentativas frustradas de sair dessa situação acelerando o carro pra frente, pra trás e para todos os lados possíveis só me vi patinando sem sair milímetros do local. O para-choque cada vez mais solto do carro e perto do chão, então decidi que seria melhor descermos e, mesmo já sabendo que o carro era extremamente pesado ainda assim não perdi a esperança e imaginei que em 4 pessoas conseguiríamos empurrar o carro pra trás e sair do buraco. Doce ilusão.</div><div style="text-align: justify;">Tentei falar com a empresa que aluguei o carro mesmo tendo certeza que um guincho jamais conseguiria chegar no local, sem contar que é óbvio, não tinha sinal de internet na região. Só nos restou tirar as coisas do carro, e voltar o caminho a pé para pedir socorro. Peguei a coisa mais importante pra mim naquele momento, minha marmita é claro rs. Carro fechado seguimos a pé no caminho de volta à civilização. </div><div style="text-align: justify;">De longe avistamos um carro andando próximo aquela região com casas que parecia uma chácara que mencionei anteriormente. Chegamos até o carro e perguntei para o casal se eles eram da região e se tinham uma corda para nos ajudar a tirar o carro da estrada. Eles disseram que não, estavam ali procurando um cachorro que haviam perdido. Enquanto conversávamos, um pouco mais à frente à minha direita havia um homem com uma enxada que parecia estar trabalhando, talvez ele fosse um morador local e poderia nos ajudar. O casal no carro também teve essa mesma impressão e nos sugeriu conversar com ele. Sabe quando você assiste a um filme de terror e fala parar o ator não vai por aí... nossa que burro... só em filme mesmo? Não gente, não é só em filme, a gente consegue ser irracional na vida real também. Na hora do desespero toda tentativa é válida.</div><div style="text-align: justify;">Saí à frente das meninas em direção ao tal rapaz que devia ter cerca de 26 anos, usava apenas uma bermuda, corpo suado (nossa que calor minha gente), com algumas tatuagens que não consegui reparar muito bem o que eram pois estavam espalhadas naquele corpo atlético que também não reparei. Branquinho de olhos claros e cabelos castanhos, um rosto de capa de revista que você até para pra pensar, como um cara assim trabalha na roça? Cumprimentei o bonitão digo, o homem trabalhador sem camisa, digo... cumprimentei o cara: boa tarde, tudo bem? Você mora por aqui? No momento em que as 3 amigas se aproximaram do local decidi olhar para o chão pra saber em que aquele homem estava trabalhando. Ali, naquela vala observamos que algo estava sendo enterrado dentro de um saco preto. Respiramos fundo e, imagino eu que tivemos o mesmo pensamento: se correr o bicho pega. Fingimos demência e eu segui conversando com o moço que já não era tão bonito assim. - Meu carro ficou preso em um buraco na estrada, preciso de ajuda. (Enquanto eu contava isso pra ele só me vinha à cabeça que essa era a pior coisa que eu deveria ter dito, pronto, agora ele vai com a gente até o carro e mata todo mundo, meu Deus, o que eu fui falar?) Aguardei a resposta: Eu moro à 4km daqui moça, mas ali na frente tem uma bicicletaria, talvez eles possam ajudar. Imagino que o pensamento geral foi: obrigada Senhor, ele não nos atacou e a sensação de alívio foi igualmente compartilhada pelas mulheres dessa história. Com um olho no peixe e outro no gato seguimos a estrada até a tal bicicletaria. </div><div style="text-align: justify;">Já era quase uma hora da tarde quando chegamos lá, falei para as meninas chamarem outro motorista e seguirem para cachoeira. Elas, que naquela altura do campeonato não podiam ignorar os sinais do universo já tinham desistido do passeio e responderam: nós vamos ficar com você até o final, chegamos juntas e vamos sair juntas. Poucas vezes em minha vida me senti tão acolhida como neste momento.</div><div style="text-align: justify;">A loja super moderna, com equipamentos sensacionais pra quem faz trilha, algumas poucas pessoas no recinto e novamente contei o ocorrido. Infelizmente eles não podiam nos ajudar, mas orientaram que ficássemos ali na calçada esperando passar um jipe para pedir ajuda, disseram que eles estão acostumados a fazer trilha na região e sempre andam com cordas. Enquanto aguardávamos sentadas na mureta em frente à bicicletaria, as meninas, que muito educadamente me ofereceram um lanche comeram enquanto eu tentava falar com a locadora do carro para pedir um guincho, mesmo sem acreditar que seria possível entrar um guincho naquela trilha. Contato somente via WhatsApp, URA eletrônica, opções 1;3;5; e nada de vir a opção guincho... Novamente 1;4;2 ...me foi solicitado pela ura umas 6 fotos do automóvel que eu não tinha como enviar uma vez que não estava no local, enviei 6 vezes a mesma e única foto que havia tirado... enfim meu contato foi direcionado para o atendimento humano, mas que não mudou muita coisa com respostas padrão do tipo copia e cola. A pessoa solicitou novamente as 6 fotos e orientaram que eu fizesse um boletim de ocorrência e o prazo de 48horas para a solução do problema com todos os custos por minha conta. Foi nesse momento que uma das meninas me chamou a atenção para um jipe que estava parado em uma rua lateral e que aparentemente iria subir em nossa direção. Encerrei a conversa com a locadora e falei para elas – quando ele vier eu vou me jogar na frente dele. Começamos a pular na calçada abanando os braços em sinal de ajuda enquanto ele subia lindamente em nossa direção. Sinal compreendido ele parou o jipe no estacionamento ao lado da loja, fui até a janela e perguntei se estava ocupado e se poderia nos ajudar, mostrei a foto do carro e sim, ali estava o nosso salvador de nome Alexandre, o grande.</div><div style="text-align: justify;">Pulamos para dentro do jipe para chegar até o local do carro atolado e durante o caminho fomos contando nossas aventuras, inclusive sobre o trabalhador braçal que já estava voltando pela estrada com a enxada no ombro. Alexandre, Alex para os amigos, seguiu trilha a dentro com uma cara de quem nitidamente pensava: O que elas vieram fazer aqui? Até que resolveu perguntar em voz alta rs. Chegamos no carro e ele andava ao redor para avaliar o estrago, mas dessa vez com cara de: PUTA QUE O PARIU. Foi até o jipe, as meninas desceram e ele pegou uma corda pra amarrar em um lugar seguro próximo à roda da frente do lado esquerdo do carro, a intenção era arrastar o carro de forma lateral para que ele saísse do buraco e ficasse virado para o lado correto de saída da trilha. Corda amarrada, ele no jipe e eu no carro, primeira tentativa acelera de lá, eu segurando o volante com firmeza e a corda soltou. Alex desce do carro e dá alguns nós a mais. Segunda tentativa, acelera e a corda estoura. Terceira tentativa a corda estoura novamente, então ele pegou outra corda mais firme no jipe, amarrou as duas cordas e só então, na quarta tentativa ainda com dificuldade, mas muita experiência por parte do jipeiro, ele tira o meu carro do buraco ao som de gritos de alegria das meninas na trilha. Cordas soltas, passageiras a bordo e Alex seguiu de ré na trilha enquanto eu acompanhava de frente. Em um determinado momento ele subiu um barranco e o jipe começou a ficar tão de lado que começamos a gritar dentro do carro achando que ele iria tombar, mas o universo ajudou quem nos ajudou também. Voltamos para o estacionamento da bicicletaria e ele perguntou se queríamos que ele nos guiasse até a entrada principal do parque da cachoeira. A resposta que elas deram em uníssono foi não. Nos despedimos do nosso salvador que aceitou apenas uma garrafa de água como agradecimento pelo enorme favor prestado.</div><div style="text-align: justify;">As jovens me pediram pra deixá-las no metrô mais próximo, mas como eu poderia fazer isso com elas? Senti que eu deveria levá-las em segurança até suas casas, afinal “chegamos juntas e vamos sair juntas”. No caminho fomos revivendo cada detalhe da nossa corrida maluca, elas falaram sobre jogos de RPG e que o cara da enxada seria um jogar NPC da história (adoro pessoas inteligentes). Pedi que uma delas colocasse uma playlist pra gente ouvir, ela escolheu churrasco animado na laje, mas que não parecia tão animado assim pois voltamos cantando uns pagodes antigos que era só “sofrência”.</div><div style="text-align: justify;">Deixei as meninas sãs e salvas na porta de casa, nos despedimos e elas me recomendaram: Nunca mais entre em estradas de terra no meio do mato (com certeza). Eu também fiz algumas recomendações: Tenham cuidado, prestem atenção aos sinais do universo, quando não for pra ser não adianta insistir (a lição foi pra mim também, mais claro impossível). </div><div style="text-align: justify;">Acredito que algumas vezes nos vemos em circunstâncias ruins, mas que elas aparecem em nosso caminho para nos salvar de algo que poderia ser muito pior, então não reclame, apenas agradeça pelos livramentos que você desconhece. Busque o aprendizado sempre, em todas as situações, nada é por acaso, nem mesmo as pessoas que passam rapidamente pelas nossas vidas, por isso agradeço ter passado por essa situação com 3 passageiras tão especiais que mantiveram a calma e o bom humor a cada instante. Namastê.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Marcelo Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11898920274339727756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6543223993373340573.post-90300261404931426352023-11-15T06:00:00.001-03:002023-11-15T06:00:00.140-03:00#Verborragia: Jornada<p style="text-align: justify;">A palavra sugerida para hoje me pareceu tão suave e agradável quando foi proposta que comecei a escrever imediatamente. A palavra não carrega as tensões de potenciais sinônimos, ainda que saibamos que o processo, na prática, sempre as tenha. Mas essa ausência conceitual de tensões ( conceitual não. Algo na sonoridade. Uma suavidade de tom) confere suavidade ao processo. Tranquilidade em sua expectativa e realização.<span></span></p><a name='more'></a><p></p><p style="text-align: justify;">Sei que você espera alguma profunda análise da jornada de nossa existência, do processo da nossa vida. Eu esperaria isso desta palavra, no mínimo. Contenhamo-nos, brevemente.</p><p style="text-align: justify;">Pensemos, por ora, nas pequenas jornadas que realizamos cotidianamente. A jornada ao trabalho, enquanto percurso, e a jornada de trabalho, o dia te trabalho em si; o trajeto ao mercado, o itinerário do ônibus, o caminho da escola, o trânsito, etc. Todos os dias vivemos algumas jornadas pessoas, aplicando outros termos, conforme os exemplos acima. Cada jornada tem sua carga de drama, dificuldade, cansaço e, eventualmente, alegria ou conquista. Descaracterizamos as jornadas de sua natureza "jornadística" e tendemos a nos apegar aos aspectos menos agradáveis, ou tensos (para retomar o raciocínio inicial), passando a reduzir aquelas a estes, assim, "que trânsito horrível", "que dia cansativo", "que pessoa insuportável", etc.</p><p style="text-align: justify;">Nossa lente para vislumbrar os momentos de nossa existência tende a ampliar estes aspectos, chegando ao ponto de enxergarmos apenas eles. Atingimos um estado no qual não há jornada, há drama, dificuldade e cansaço.</p><p style="text-align: justify;">Se eu interrompo nossa reflexão e retorno ao início deste texto, buscando o sentimento puro que a proposição da palavra me deu, tenho duas descrições para o que senti:</p><p style="text-align: justify;">A primeira é "café com leite bem quente". Gosto de café puro, com leite, cappuccino, e todas as variações possíveis, mas o café com leite, quando bem quente (e, sobretudo, em dias frios) me causa um deleite complementar ao do sabor (que tanto aprecio). A sensação do líquido quente movendo-se dentro do corpo, aquecendo-nos por dentro, parece um tipo peculiar de abraço. Eu sei que o aparelho digestivo não passa pelo circulatório, mas a sensação que tenho é que o café está abraçando meu coração. É a esta paz aconchegante que a leitura da palavra "jornada" me remeteu.</p><p style="text-align: justify;">A segunda é "rocambole de doce de leite". Minha ex-esposa fazia um rocambole simplesmente perfeito (nota mental. Pedir um rocambole para ela). Tenho dificuldade de selecionar qual meu doce favorito, se chocolate ou doce de leite, mas no rocambole há um equilíbrio tão perfeito entre a suavidade da massa e a intensidade do doce de leite que beira a perfeição. É como o toque quente do sol numa manhã bem fria. Jornada também me deu esta sensação.</p><p style="text-align: justify;">Sei que pareço exagerado, mas gosto da forma que sinto as coisas e foi isso que a palavra me fez sentir. </p><p style="text-align: justify;">Vou explorar uma terceira via (terceira descrição de sentimento). Tenho 41 anos e um sonho tardiamente realizado de ter moto (desde os 20). A vida, as jornadas, sempre me mantiveram em rotas que adiaram este sonho, até mês passado quando, finalmente, tirei o sonho da gaveta. Antes disso, a jornada ao trabalho, o percurso, era uma desagradabilíssima sucessão de baldeações de ônibus e metrô, tudo sempre lotado e lento. A moto substituiu essa experiência pelo trânsito, o qual, em São Paulo, não é experiência das mais agradáveis. Ainda que a moto reduzida as demoras sofridas pelos carros, não estou perito em corredores, assim, eventualmente, paro atrás de um carro. A grande virada é que o sonho da moto transformou a "jornada" de ida e volta do trabalho, outrora cansativa e enfadonha, em uma experiência de deleite. Com ou sem trânsito, estou sempre em um passeio. São Paulo não mudou, nem o trânsito, tampouco a má educação dos motoristas. Meu coração mudou. O percurso que antes era mero espaço a transpor converteu-se em oportunidade de passeio. Uma jornada desafiadora, mas agradável; Café com leite bem quente; rocambole de doce de leite.</p><p style="text-align: justify;">Não nos é facultado driblar os desafios cotidianos, o percurso ao trabalho, o dia te trabalho em si, o trajeto ao mercado, o itinerário do ônibus, o caminho da escola, o trânsito, etc., mas temos a prerrogativa de selecionar os aspectos que os tornam aprazíveis. Não estou falando de pensamento positivo, olhar pelo lado bom, e tantos outros conselhos que nos dão diariamente. São bons conselhos, mas dá pra ser mais simples (e eficaz). Comecemos pelo exercício de reduzir a força de nosso apego (ou foco) aos (nos) pontos de tensão. A experiência é maior que eles. Há mais coisas acontecendo. Reduzir o apego a estes elementos tão específicos dá oportunidade aos demais aspectos daquela jornada de se apresentarem; de se fazerem notar. Quem sabe não surpreendem?</p><p style="text-align: justify;">Expandir nosso campo de visão, remover o foco centralizado para abarcar o todo requer esforço e insistência. Os pontos de tensão são muito atraentes; chamam nossa atenção com facilidade. Aprendi com um professor de pilotagem que há um fenômeno chamado "travar o alvo". Quando você focaliza algo, você, inconscientemente, mira naquilo. Se você, com uma moto, em um corredor, focaliza o retrovisor do qual deveria desviar, você o atinge.</p><p style="text-align: justify;">É nesse processo de "trava de alvo" que ficamos batendo repetitivamente nos elementos de tensão que desejávamos desviar e, com isso, convertemos ricas experiências, belas jornadas, em dramas difíceis e cansativos.</p><p style="text-align: justify;">É isso. Nossa tarefa do momento é recuperar nosso relacionamento com nossas jornadas cotidianas, naquilo que são integralmente, sem "trava de alvo" em seus problemas. É difícil, eu sei, mas a gente consegue. Tenta, erra, volta, tenta de novo, erra menos, e assim por diante.</p><p style="text-align: justify;">Isso feito, isso mantido, por quê precisaríamos discutir a jornada da vida? Será uma experiência bela, uma tapeçaria composta pelas infinitas jornadas menores. Admiremo-nos.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Para entender o motivo da <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/p/verborragia.html" target="_blank">Verborragia clique aqui</a> (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz!)</p>Marcelo Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11898920274339727756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6543223993373340573.post-91976792984252633562023-11-10T11:15:00.008-03:002023-11-10T11:15:53.198-03:00Relacionamentos Interpessoais<p style="text-align: justify;"> Este texto é especial, pois trata-se de solicitação do meu filho. Os seres humanos são demasiadamente complexos ¹ em sua individualidade. Cada um é único, por mais que nos reconheçamos como da mesma espécie, assim, quando inseridos no ambiente social, na necessidade de interação com outros, essa complexidade se amplia exponencialmente.<span></span></p><a name='more'></a><p></p><p style="text-align: justify;">Como é difícil entender o outro! O processo de diálogo, seja uma profunda conversa filosófica de bar, seja um mero organizar do posicionamento em uma fila, passa por uma sequência de ajustes de significados, verdadeiras traduções subjetivas que comprometem o pleno entendimento, mesmo que o diálogo ocorra entre indivíduos que falam o mesmo idioma, nativamente. Ocorre que a língua é precária, insuficiente para transmitir todo o universo de nuances subjetivas de cada indivíduo. Não bastasse isso, um imenso problema por si só, há grande má vontade da maioria das partes em explorar e compreender os significados empregados pelo outro. Despreza-se o que o outro quis dizer, abraçando-se o que "eu quis entender". Via de regra repetimos por aí que "tudo se resolve com diálogo", mas pouco se fala sobre a qualidade do diálogo. Se/quando o diálogo é iniciado com o objetivo de convencer o outro, não de obter entendimento mútuo, o diálogo já começa fadado ao fracasso. É assim em namoros, relações profissionais e aquisição de carne no açougue.</p><p style="text-align: justify;">Se/quando, há desejo e esforço legítimos pela compreensão do outro, seus valores, desejos, inquietações, etc., então o diálogo torna-se tão fluido que, não raro, dispensa verbalização. As pessoas se entendem no olhar. Concentremo-nos, portanto, no esforço por travar diálogos verdadeiramente voltados à busca pela compreensão de quem é a pessoa à nossa frente.</p><p style="text-align: justify;">Outro ponto relevante, satélite à situação acima, é a idade. Diferença de idade não confere superioridade hierárquica, tampouco maior perícia interpretativa. A pessoa mais velha, amigo, pai, professor, gestor, não é, necessariamente, a pessoa mais habilidosa no processo de conversação, assim como ser jovem não o torna automaticamente imperito. Isso torna os diálogos entre pessoas com diferença de idade potencialmente mais infrutíferos que os demais, pois o elemento de maior idade inicia com a prerrogativa de estar com a razão, tomando os argumentos do jovem como inválidos sem qualquer ponderação a respeito. Não escuta. Os sons dão toda a impressão de diálogo, mas não passa de um monólogo. Novamente, concentremo-nos no esforço por travar diálogos verdadeiramente voltados à busca pela compreensão de quem é a pessoa à nossa frente.</p><p style="text-align: justify;">Falta diálogo. Mais que isso, falta saber dialogar. Ouvir, perguntar se algo não ficou claro, ouvir de novo, calar ², ter menos pressa para a réplica. É possível. Requer esforço e atenção, mas é possível. Concentremo-nos no esforço por travar diálogos verdadeiramente voltados à busca pela compreensão de quem é a pessoa à nossa frente.</p><p style="text-align: justify;">Notas:</p><p style="text-align: justify;">1. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2023/04/verborragia-meias-3.html" target="_blank">Meias (3)</a> </p><p style="text-align: justify;">2. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2023/11/verborragia-silencio.html " target="_blank">Silêncio </a></p><p style="text-align: justify;">Para entender o motivo da <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/p/verborragia.html " target="_blank">Verborragia clique aqui</a> (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz!)</p>Marcelo Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11898920274339727756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6543223993373340573.post-74232328422722161082023-11-08T16:29:00.004-03:002023-11-08T16:29:20.668-03:00#Verborragia: Silêncio<p style="text-align: justify;">Aqui mais uma palavra que me deixou animado¹ com a escolha/sugestão, ainda assim, fiquei em silêncio, adiando a produção do respectivo texto. Noto agora, enquanto digito, que o próprio ato é uma sucessão de silêncios, como se a criação fosse um ditado: em silêncio "escuto" meu espírito, escrevo, escuto, escrevo, etc.<span></span></p><a name='more'></a><p></p><p style="text-align: justify;">Em diversos momentos do nosso dia paramos (ou deveríamos parar) para pensar: qual será o almoço, o que responder para a pessoa, como solucionar aquele problema, etc. Embora todos estes momentos pareçam muito barulhentos, dada a verborragia praticada por nossas mentes, há um quê de silêncio, pois há algo em mim que cala para ouvir o outro algo tagarela. Curiosamente, os dois "algos" sou eu, minha mente, meu ego.</p><p style="text-align: justify;">Entre a palavra "ego" e a palavra "entre" fiz outra pausa, novo silêncio, para escutar o que meu espírito desejava dizer em seguida. Já postulamos noutras oportunidades que nossa existência subjetiva tem aspecto de população, não de indivíduo ², e nesse diálogo, alternância de falar e calar de cada parte, que nossa personalidade é desenhada, assim como nossas respostas ao mundo são decididas (nem sempre democraticamente).</p><p style="text-align: justify;">Outro silêncio aqui.</p><p style="text-align: justify;">Penso que um exercício interessante seria a tentativa (e é, geralmente, a isso que as religiões orientais nos convidam) de silenciar, momentaneamente, todas as partes do eu. Se, em cada silêncio meu, outra parte minha fala, quem me dirigiria a palavra em caso de silêncio generalizado?</p><p style="text-align: justify;">Talvez algo muito tímido (ou sensato) esteja sempre em silêncio, evitando disputar espaço com a gritaria geral que há em mim. Se ele não precisasse lutar por atenção, o que diria? Pode ser Deus, ou deuses, consciências transcendentais, mas não precisamos discutir metafísica ou mitologias para insistir nesse intento: pode ser "meu coração", meu inconsciente, meu subconsciente, etc.</p><p style="text-align: justify;">Que há algo em mim que é diferente de mim e tem muito a dizer é fato: meus sonhos demonstram isso todas as noites³.</p><p style="text-align: justify;">O que "ele" me diria se recebesse minha atenção em vigília?</p><p style="text-align: justify;">Outro silêncio aqui.</p><p style="text-align: justify;">Eu nunca gostei de reuniões. Mesmo aquelas em que não há desordem (leia-se "discussão"), a eficácia é muito baixa. "Nada que um e-mail não tivesse resolvido!", como se diz por aí. Na adolescência eu participava de um grupo de jovens, na igreja, e desde aquela época me desencantava com as repetitivas reuniões: alinhamento, realinhamento, revisão, cobrança, queixa, etc. Nós não tínhamos e-mail. Naquela época eu dizia "se reuniões realmente resolvessem coisas, jamais teria acontecido uma segunda reunião, na história da humanidade.". Ainda penso assim, seja para as reuniões externas de nossa vida em sociedade, seja para a interminável reunião das partes de nossa existência subjetiva. Deveríamos dar uma oportunidade para o silêncio. Eventualmente falamos para refletir ⁴, o que é bom e importante, mas precisamos, eventualmente, de um silêncio mais profundo, isento até da reflexão (que é ruído, mesmo que benéfico) ⁵.</p><p style="text-align: justify;">Longo silêncio aqui (uma semana entra a parte acima e a abaixo).</p><p style="text-align: justify;">Conversei com Colorine (vocês adorariam conhecê-la) sobre amor. Tentei defini-lo, às pressas, como: "O amor é o cuidado, o carinho, o afeto. Ele não mora no que se diz, mas no que se faz. Há "Eu te amo" em "Respire!", em "Dormiu bem?" e em "Como você está?". Ele também não reside nos grandes incêndios, explosões, intensidades. Ele mora na suavidade. Na garoa, na planta regada, na flor observada.".</p><p style="text-align: justify;">Passamos a explorar a necessidade, ou não, de dizer "Eu te amo!". Me pareceu fazer sentido trazer o tema para cá, pois se não digo, amo em #Silêncio.</p><p style="text-align: justify;">Dizer "Eu te amo!" me parece importante, portanto, neste caso, não farei apologia ao silêncio. (notou que inverteu-se completamente o assunto? Era preciso. Esgotei o que havia para refletir sobre o calar no trecho anterior. Foi uma curva bem vinda).</p><p style="text-align: justify;">Como respondi naquele diálogo, "Eu te amo!" é algo que gosto de dizer, de ouvir, mas vivemos em um mundo no qual a frase foi banalizada. "Eu te amo!" é repetido como mantra, por pessoas que nada sentem naquele momento (ou sentem outras coisas, confundidas com amor). Melhor seria que tivessem se calado. Melhor seria o silêncio. Torna-se necessário existir o ato (eventualmente silencioso) para validar aquilo que se diz.</p><p style="text-align: justify;">Há muito amor não dito, no mundo. Amor calado; amor não confessado. É possível amar, romanticamente ou não, sem dizer, em silêncio. É evidente que o amor não romântico tem menos ocasiões de não ser dito, não ser demonstrado. É mais fácil que o amor não romântico seja dito e mostrado e o romântico, escondido, silenciado. Calar não é o ideal. O sentimento quer viver, quer ser vivido, quer ser apresentado, mas é possível amar sem dizer. Me parece até algo comum. Mas é imprescindível que, pelo menos, o amor seja demonstrado.</p><p style="text-align: justify;">O amor dito ou não dito, demonstrado ou não, é algo complexo. Tem um milhão de variáveis para se avaliar. O ideal (não necessariamente realizável) seria o amor incondicional.</p><p style="text-align: justify;">Nesta experiência, o ente que ama não precisa de nenhuma validação da parte do ser amado. Não o ente que ama não precisa que o amado ame, diga ou demonstre. Por outro lado, o ente que ama, como agente ativo daquele amor, precisa de validação de seu próprio amor, ou seja, dizer e demonstrar. A validação faz-se necessária ou não, conforme a direção do sentimento. O agente do amor torna a validação importante, enquanto ele demonstra e fala do amor. Quando o agente do amor cobra fala ou demonstração do ser amado, aí sim, há um problema. O amor deixa de ser incondicional, pois o amor fica condicionado àquilo que o outro devolve; o que diz e demonstra.</p><p style="text-align: justify;">Em uma direção a validação é importante; em outra direção a validação torna-se problema. Faz sentido?</p><p style="text-align: justify;">Quando você ama alguém, ao amar, quer demonstrá-lo. Isso não é um problema. Ao amar, quer falar. Isso não é um problema. Você, ao amar, quer demonstrar. Isso não é um problema. Quando, você, ao amar alguém, quer que essa pessoa retribuía. Isso é um problema, pois aí você coloca uma condição ao seu amor. Isso é amor condicional. "Eu te amo se você e amar"; "Eu te dou carinho SE você me devolver carinho". Isso é uma condição. Este "SE" é uma condição. "Eu gosto de você SE…". Todo o amor que espera, que pede, que vislumbra, que tem expectativa de receber algo, é condicional.</p><p style="text-align: justify;">Para que o amor seja incondicional você tem que ser capaz de amar, de dizer que ama, de entregar amor, de entregar afeto, afeto, de entregar cuidado, de não fazer silêncio, sem esperar receber algo em troca.</p><p style="text-align: justify;">Novo silêncio aqui. Agora sem espera. Silêncio conclusivo. Calo-me.</p><p style="text-align: justify;">Começamos explorando os pontos nos quais convêm calar. Terminamos nos pontos em que convém falar/demonstrar. Ora silêncio, ora outra coisa. </p><p style="text-align: justify;">Esse texto parece ambíguo. Duas metades que não se completam, como se eu tentasse reconstituir o fruto original unindo meio tomate e meia laranja. Não é isso. Acho que o amor, romântico ou não, é o centro da existência, quando se está aberto à ideia de descobrir que somos mais que autômatos programados para manter este mundo existindo. Inserindo-nos na hipótese de que a existência humana tenha significado maior que a de ser engrenagem econômica, um significado faz-se necessário. Se assim é, parece-me que o Amor é um bom candidato. Se assim for, assumo que o silêncio que eu aprendi na primeira metade deste texto me fez ouvir e, ao fazê-lo, aquilo que me transcende e, ainda assim, sou eu, falou-me da segunda parte. Falou-me de Amor.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Notas:</p><p style="text-align: justify;">1. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2023/10/verborragia-caminho.html" target="_blank">Caminho </a></p><p style="text-align: justify;">2. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2023/04/verborragia-meias-3.html" target="_blank">Meias (3)</a> </p><p style="text-align: justify;">3. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2020/09/eu-nunca-sonhei-com-deus.html" target="_blank">Eu nunca sonhei com Deus </a></p><p style="text-align: justify;">4. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2023/09/verborragia-reflexao.html" target="_blank">Reflexão </a></p><p style="text-align: justify;">5. Ouça <a href="https://www.youtube.com/watch?v=NhAgKIcs7kI " target="_blank">A paz que eu sempre quis (Vida Reluz) </a></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Para entender o motivo da <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/p/verborragia.html" target="_blank">Verborragia clique aqui</a> (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz! )</p>Marcelo Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11898920274339727756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6543223993373340573.post-13452288650651958072023-10-18T14:22:00.001-03:002023-10-18T14:23:41.707-03:00#Verborragia: Caminho<p style="text-align: justify;">A palavra proposta para esta quarta me causou alegria quando li, embora não tivesse pensado, de pronto, por qual caminho seguiria para desenvolvê-la. Pareceu-me, a primeira vista (e segunda, também terceira), suave, agradável e profunda. Caminho por aqui.<span></span></p><a name='more'></a><p></p><p style="text-align: justify;">O primeiro ponto que me agrada é a dupla significação, sendo-lhe possível transitar entre substantivo e ato sem necessidade de qualquer flexão (tal qual empregos no primeiro parágrafo). Essa ambivalência do termo se sustenta ainda que eu não saiba onde pretendo chegar (na vida, na via e neste texto). A dupla significação do termo se realiza pela simples decisão de me movimentar: Se me ponho em movimento, exista ou não destino, exista ou não um plano, um mapa, eu caminho; e seu eu caminho, automaticamente se constitui, à minha frente, um caminho.</p><p style="text-align: justify;">Como já dizia Almir Sater, "Caminhos me levem, aonde quiserem, se meus pés disserem que sim.".</p><p style="text-align: justify;">No texto (e na via; e na vida) já me peguei muitas vezes sem ideia da finalidade (isso é mais frequente que seu contrário) e, não raro, faço -me estático. Isso é um problema! Não saber a direção é aceitável (quiçá natural), mas não se mover é devastador. Um único dia no qual não me movo (na via; no texto; na vida) basta para iniciar uma reação em cadeia de recorrente inação, cada momento estagnado justificando e promovendo a estagnação seguinte. Um único "está bem. Por hoje paro. Só por um momento. não há mal algum!" é a armadilha sutil que interrompe o caminho, substantivo e verbo. Sendo toda a existência humana baseada na dupla órbita de sujeito e verbo ¹ entre si ("eu sou", "ele foi", "ela fará", etc.), a subtração do ato, do movimento, do caminho, é base para um processo de desconstrução do indivíduo que culminará na inexistente dele mesmo; uma carcaça que esqueceu de morrer, atônita, apática, inútil (não confundir com desconstrução do ego, tampouco com o hábito da atualidade de tratar ego como inimigo. Já discutimos isso ²).</p><p style="text-align: justify;">Recuperado o movimento (não caiamos na armadilha de usar nossa ignorância sobre destino ou propósito para justificar a estática) , nascem automaticamente Caminho e Caminho (ato e meio), ambos prenhes de horizontes, infinitos destinos.</p><p style="text-align: justify;">Dou um passo, logo, eu caminho. Se/quando caminho, encontro o Caminho. </p><p style="text-align: justify;">O trecho acima foi composto na tarde de 17/10/2023. O que segue está sendo digitado no início da tarde de 18/10/2023.</p><p style="text-align: justify;">Na noite entre aquele momento e agora passei por um injustificável momento de desesperança ³. Uma tristeza generalizada, embora nenhum evento externo me tenha atingido diretamente. Faz dias que sofro com as imagens dos feridos e mortos na Palestina, sobretudo as imagens das crianças 4, mas ainda que isso possa ter catalisado a tristeza, não me parece ter sido a causa. Cheguei a publicar "<i>Parece que a única lei do mundo é a injustiça. Não tem ninguém olhando. Não tem ninguém ajudando. Não aguento mais</i>." no <a href="https://twitter.com/PhdCelo" target="_blank">Twitter</a>. Senti uma descrença geral em tudo e em mim, como se eu estivesse aquém de tudo que produzo, ou melhor, como se todos os meus atos fossem medíocres e inúteis. Na volta pra casa, de moto, até a coragem de entrar em corredores eu perdi. Foi uma noite estranha. Do mesmo modo que veio, foi. Acordei disposto, antes até do alarme tocar, lavei a louça, arrumei a cama (entre outras atividades matinais comuns), e fui trabalhar.</p><p style="text-align: justify;">Senti-me, então, em um dilema. O que descrevo acima demonstra que, por um momento, interrompi o movimento que eu mesmo propunha na primeira parte do texto. Seria <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2023/10/hipocrisia.html" target="_blank">hipocrisia </a>concluí-lo e publicá-lo?</p><p style="text-align: justify;">Decidi que não. Como sempre, quem escreve nada mais é que o primeiro leitor do texto, assim, o convite também era para mim. Abandonar o texto seria, isso sim, a sucumbência à inércia, não o sentimento da noite passada.</p><p style="text-align: justify;">Voltei, escrevi, publicarei.</p><p style="text-align: justify;">Ninguém disse que o Caminho seria isento de obstáculos. Nunca disse que Caminho sempre com o mesmo ritmo.</p><p style="text-align: justify;">Caminhemos!</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Notas:</p><p style="text-align: justify;">1. Leia <a href=" https://outrosdialogos.blogspot.com/2011/05/ser-humano-mesmo-que-tal-tornar-se.html 2. Leia Inflação " target="_blank">“Ser” Humano! Mesmo? Que tal “Tornar-se”? </a><br /></p><div data-en-clipboard="true" data-pm-slice="1 1 ["ol",{"style":null,"start":null,"backgroundColor":null,"color":null,"lineHeight":null,"listStyleType":null},"li",{"style":null,"checked":null,"value":null,"displayValue":2,"backgroundColor":null,"color":null,"listStyleType":null}]">2. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2023/03/verborragia-inflacao.html" target="_blank">Inflação </a></div><p style="text-align: justify;">3. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2023/03/verborragia-encorajo.html " target="_blank">Encorajo </a></p><p style="text-align: justify;">4. Leia <a href="https://novosescritos.blogspot.com/2023/03/verborragia-interestelar.html " target="_blank">Interestelar </a></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Para entender o motivo da <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/p/verborragia.html" target="_blank">Verborragia clique aqui </a>(Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz! )</p>Marcelo Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11898920274339727756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6543223993373340573.post-87891984436407456502023-10-18T06:00:00.001-03:002023-10-18T06:00:00.155-03:00Hipocrisia<p> O texto de hoje é uma hipocrisia.</p><p>Não será concluído.</p><p>Não será publicado.</p><p>Agradeço.</p><p>Um abraço.</p>Marcelo Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11898920274339727756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6543223993373340573.post-91257290044465462472023-10-09T23:49:00.001-03:002023-10-09T23:49:04.423-03:00#Verborragia: Aventura<p style="text-align: justify;"> A palavra indicada para esta verborragia é #Aventura. É uma escolha curiosa. A vida deveria ser uma aventura mas, no geral, tornou-se um processo tosco e repetitivo, nada "aventurínico" .</p><p style="text-align: justify;">Hoje é sexta, 06/10/2023. A palavra foi escolhida/proposta desde 30/09, sábado, e a frase acima está escrita desde então, imóvel, inerte, como uma semente sem eclodir.<span></span></p><a name='more'></a><p></p><p style="text-align: justify;">Essa foi uma semana na qual não me senti aventureiro, portanto, julguei-me desconectado demais da palavra para desenvolvê-la. Adiava a escrita como se levá-la a termo configurasse algum tipo de hipocrisia. Só hoje fui assaltado pela compreensão de que é justamente a apatia que sinto agora que torna tão imperativo que a palavra seja especificamente esta.</p><p style="text-align: justify;">Eu não sou um sujeito particularmente destemido. Escolhi "destemido" no lugar de "corajoso" porque há confusão na leitura dos termos. Tenho medos, muitos, mas não me deixo petrificar por eles. Se é preciso fazer, vou e faço; Se é preciso ir, vou. Há medos¹, entretanto, relacionados a coisas não necessárias, assim, não vou, não faço.</p><p style="text-align: justify;">Como a aventura entra em tudo isso?</p><p style="text-align: justify;">Essa foi uma semana na qual não me senti particularmente aventureiro. Eu ando de moto há três semanas, aproximadamente. Em semanas anteriores, nas quais eu me sentia particularmente aventureiro, minha "aventura" era comedida: fazia a viagem de ida e volta do trabalho sem adentrar em todos os corredores. Há alguns, mais largos, nos quais sentia maior segurança em desbravar; de outros me esquivava, enterrando-me na fila dos carros, abraçado ao trânsito desagradavelmente lento de São Paulo. Aqui evoco a ordem das definições de "Aventura" do Michaelis para servir de roteiro para nossa análise.</p><p style="text-align: justify;">As definições 1 e 2 são, respectivamente "Acontecimento imprevisto; incidente" e "Ação ou empresa arriscada". Justo nessa semana, adquirem importância especial se considerarmos que na terça feira, 03/10, ocorreu greve dos metroviários em São Paulo. Já havia agendamento prévio de consulta com dentista para meu filho (estrategicamente escolhido em clínica próxima ao meu trabalho) e uma reunião na qual eu precisava estar na mesma manhã. Eu levaria meu filho de garupa. Até aí, tudo bem. Tudo sob controle. O "acontecimento imprevisto; incidente" foi a greve cair exatamente no mesmo dia, levando todos os usuários de trem e metrô para o ônibus ou carro, gerando trânsito ainda pior que o normal. A "ação ou empresa arriscada" se desenrolou no momento em que eu, preocupado com os dois horários que não podia perder (consulta e reunião. Lembra?) comecei a mergulhar em corredores que até então não entrava. Deu tudo certo. Sobrevivemos, consulta e reunião realizadas. Desbloqueei alguns medos.</p><p style="text-align: justify;">Sobre o elemento 3, "Conquista amorosa que geralmente se revela passageira; caso, flerte", nada tenho a dizer. Trata-se de aventura da qual não estou participando.</p><p style="text-align: justify;">A definição 4, "Sucessão de ocorrências resultantes de causas independentes da vontade; contingência, eventualidade, sorte", remonta à minha experiência espiritual nessa mesma jornada motociclística de 3 semanas. Antes disso, muito tempo antes disso, desenvolvi o hábito de conectar-me com os elementos da existência. Fazia (e faço) reverência aos elementos que compõe o universo, Terra, Água², Ar, Fogo e Akasha. Depois de um tempo, incluí divindades no processo, assim, na medida do possível, realizava, todas as manhãs, no conforto do ônibus lotado que me levava, reverência:</p><p style="text-align: justify;">à Terra, à Gaya, ao Ganesha, à Lakshmi</p><p style="text-align: justify;">à Água, à Lua, à Parvati, ao Indra, ao Varuna</p><p style="text-align: justify;">ao Ar, ao meu amado mestre Shiva, ao meu amado mestre Shiva, ao meu amado mestre Shiva,</p><p style="text-align: justify;">ao Fogo, ao Krishna³ e ao Brahma.</p><p style="text-align: justify;">Incluída a moto na rotina, vivo o conflito de inserir esse momento de oração em minha viagem, cheia de surpresas que alteram meu estado de atenção, mas tenho conseguido realizar as preces na ida e na volta.</p><p style="text-align: justify;">Eu desejei explicar esse momento de oração porque a definição 4 fala de "sorte". A cada divindade que eu menciono em minha oração eu ofereço uma reverencia, seguida de um agradecimento, assim, minhas orações na ida e na volta tem sido assim:</p><p style="text-align: justify;">"Eu reverencio ao elemento Terra, e à minha amada irmã Gaya, a quem agradeço pela nutrição do meu corpo e pela boa saúde; eu reverencio o meu amado irmão Ganesha⁴, a quem agradeço pelos caminhos desobstruídos e seguros; eu reverencio a senhora Lakshmi, a quem agradeço pelos momentos de boa sorte</p><p style="text-align: justify;">Eu reverencio o elemento Água, e a minha amada irmã Lua, a quem agradeço pela beleza distribuída nas noites deste mundo; reverencio minha amada mãe Parvati, a quem agradeço pelos caminhos desobstruídos, pelos caminhos seguros, e pelos momentos de boa sorte; eu reverencio meu querido amigo Indra, ao qual agradeço pelo bom tempo e segurança na terra; eu reverencio meu querido amigo Varuna, ao qual agradeço pelo bom tempo e segurança no mar</p><p style="text-align: justify;">Eu reverencio o elemento Ar, e reverencio meu amado mestre Shiva, ao qual agradeço pelos caminhos desobstruídos, eu reverencio meu amado mestre Shiva, ao qual agradeço pelos caminhos seguros, eu reverencio meu amado mestre Shiva, ao qual agradeço pelos momentos de boa sorte</p><p style="text-align: justify;">Eu reverencio o elemento Fogo, e reverencio meu querido amigo Krishna, ao qual agradeço por ter-me iniciado nos caminhos do vedanta, e reverencio o senhor Brahma, ao qual agradeço por criar este mundo com tanto amor e carinho, mundo cuja beleza me fascina incessantemente.</p><p style="text-align: justify;">Em tudo reconheço Akasha, e por manter tudo unido e funcionando, proporcionando-me esta experiência de beleza e contemplação, eu reverencio Akasha."</p><p style="text-align: justify;">(encerrado o trecho acima, ainda em 06/10, passei por nova suspensão na escrita. A retomada abaixo ocorreu em 09/10/2023).</p><p style="text-align: justify;">Há momentos da vida de todos nos quais o acaso parece nos favorecer; estes momentos são denominados, via de regra, de sorte. Cada pessoa, conforme sua experiência pessoal, subjetividade e (eventualmente) espiritualidade, atribuirá estes momentos de sorte a uma origem: Uns agradecerão divindades, outros atribuirão à pura aleatoriedade, outros oscilarão em variantes destes dois cenários. O importante é que, independente da causa que cada um de nós atribuamos aos eventos da nossa existência, os eventos estão lá, ora positivos, ora nem tanto, emaranhando-se nessa complexa tapeçaria que chamamos de vida, a maior #Aventura .</p><p style="text-align: justify;">Curiosamente, a 5ª definição nos dirá que Aventura é "folia barulhenta e divertida; farra, patuscada.", um lembrete importante de que nossa vida precisa ser compreendida como uma oportunidade de deleite⁵, não de sofrimento. Veja, os momentos não tão positivos assim são inevitáveis, eventuais dores físicas e emocionais são inevitáveis, mas o sofrimento⁶ é evitável. Sentir a coisa é inevitável, mas sofrer a coisa é escolha. É possível escolher se percebo a vida como castigo, ou como aventura. É possível o esforço diligente e constante de instalar nossos pensamentos na segunda via, donde deriva a 6ª definição de #Aventura, "feitos heroicos de cavaleiro⁷ andante ou de cavalaria.".</p><p style="text-align: justify;">Todo o herói de qualquer história passa por desafios, problemas, complicações, perdas, etc., do contrário, todos os livros e filmes mostrariam a monotonia da bem aventurança ininterrupta, algo que não nos agradaria ler ou assistir⁸. O mesmo vale para nossa própria existência. Ela é baseada no enfrentamento dos desafios, o heroísmo diário realizado por cada um de nós, conscientes ou não, para seguir em frente. A #Aventura cotidiana nos grandes e pequenos desafios, rumo a novas paragens.</p><p style="text-align: justify;">Precisamos reconhecer, ou recordar, que a vida é uma grande aventura a ser desbravada corajosamente. Não é fácil, mas é possível. E não precisamos estar sozinhos nessa labuta. É natural das grandes histórias que não sejam vividas por heróis solitários, mas por agrupamentos de valentes personagens movidos por ideais em comum. Nossa vida também pode ser assim, cada qual apoiando o amigo adjacente em sua aventura particular, criando uma comunidade voltada ao bem geral, ao sucesso de cada um em seus riscos e empreitadas. É possível.</p><p style="text-align: justify;">Aventuremo-nos por essas vias.</p><p style="text-align: justify;">É possível!</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Notas:</p><p style="text-align: justify;">1. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2021/07/nao-deixe-o-medo-de-cegar.html" target="_blank">Não deixe o medo DE cegar! </a></p><p style="text-align: justify;">2. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2021/08/fiat-agua.html" target="_blank">Fiat Água! </a></p><p style="text-align: justify;">3. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2017/02/um-deus-esclarecido.html" target="_blank">Um Deus Esclarecido!</a></p><p style="text-align: justify;">4. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2021/09/ganesha.html">Ganesha</a></p><p style="text-align: justify;">5. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2023/02/verborragia-bacon.html" target="_blank">Bacon</a></p><p style="text-align: justify;">6. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2017/10/por-que-deus-ignora-nosso-sofrimento.html" target="_blank">Por que Deus ignora nosso sofrimento?</a></p><p style="text-align: justify;">7. Leia <a href=" https://outrosdialogos.blogspot.com/2022/01/verborragia-cavaleiro.html" target="_blank">Cavaleiro</a></p><p style="text-align: justify;">8. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2018/08/salvar-os-santos.html " target="_blank">Salvar os Santos</a></p><p style="text-align: justify;"> </p><p style="text-align: justify;">Para entender o motivo da <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/p/verborragia.html" target="_blank">Verborragia clique aqui</a> (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz! )</p>Marcelo Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11898920274339727756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6543223993373340573.post-10654604641437408602023-10-01T11:37:00.007-03:002023-10-01T11:39:18.907-03:00Se desce vontade!<p style="text-align: justify;"> Em 22/07/2023 eu publiquei lá no Twitter (<a href="https://twitter.com/PhdCelo" target="_blank">@phdcelo</a>): "<i>Fiquei com vontade de escrever um texto com a análise conceitual da relação entre 'desse' e 'desce'</i>!". Vamos ver no que dá!<span></span></p><a name='more'></a><p></p><p style="text-align: justify;">Tanto "Dá" quanto "desse" são formas de conjugação do verbo "dar", esse mesmo verbo que te fez entrar aqui pronto para protestar contra o erro gramatical do título do presente texto. Testo sua paciência com minha escolha de palavras. Parece-me que você falhou (caso o protesto fosse, de fato, a sua motivação).</p><p style="text-align: justify;">Deu-te vontade de protestar (ou apenas ler); deu-me vontade de provocar (quiçá escrever).</p><p style="text-align: justify;">Mas e quando a vontade desvanece? E se a vontade desce?</p><p style="text-align: justify;">Desce teu ímpeto de entrar aqui, de ler, de protestar. Desce meu empenho em escrever, refletir, pesquisar.</p><p style="text-align: justify;">Desse jeito não sei para onde vamos, sem protesto, leitura, ou diálogo, desvanecemos.</p><p style="text-align: justify;">Se desce a vontade, perdemos a força, o empenho, o começo, o caminho.</p><p style="text-align: justify;">Se desce a vontade, com ela decresce o fato, o ato, só cresce o mato.</p><p style="text-align: justify;">Perdemos o texto; se desfaz o testo, com ou sem, "pre", com ou sem "pro", com ou sem "sempre", com cem desculpas, sem qualquer ato.</p><p style="text-align: justify;"> Se desce vontade, todos os "se's" se tornam nunca; Ah! Se desse vontade, nunca "se", sempre feito! Ainda que não perfeito.</p><p style="text-align: justify;">Se desse vontade, refletiria, falaria, cantaria, correria.</p><p style="text-align: justify;">Desse jeito, viveria a vida, desse ou não desse, como o menino que desce a ladeira; com a chefia ,"desce mais uma gelada"; Sol que desce no horizonte, do dia em que me desse vontade, ciente de tê-lo vivido, pleno, feliz, quiçá dolorido, mas feito.</p><p style="text-align: justify;">Se desse vontade!</p>Marcelo Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11898920274339727756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6543223993373340573.post-76971358304942477842023-09-30T16:44:00.000-03:002023-09-30T16:44:01.620-03:00#Verborragia: Reflexão<p style="text-align: justify;">Considerando que a Verborragia é, desde a origem, fonte de contos E REFLEXÕES, acho justo (e interessante) que a palavra proposta para hoje seja #Reflexão. Irrefletidamente lanço-me ao desafio.<span></span></p><a name='more'></a><p></p><p style="text-align: justify;">Embora a primeira ideia que nos ocorra, instintivamente, seja aquela sobre o ato subjetivo de refletir, convém "refletir" brevemente sobre a reflexão física. A luz, o som, e afins, movendo-se em certa direção, podem atingir uma superfície ou um meio diferente daquele onde estavam e sofrer um desvio em sua direção, mais ou menos acentuado conforme o ângulo de incidência. Ao observamos este fenômeno dizemos que o movente (luz, som, etc.) foi refletido. Isso é interessante: a reflexão ocorre ao movente, não é realizada por ele. A luz nunca se reflete; é imprescindível o elemento externo que a reflita.</p><p style="text-align: justify;">Apropriando-nos desta analogia, temos uma premissa interessante para discutir ao nos debruçarmos sobre a reflexão subjetiva: o mundo, parece, não pode se refletir, ou melhor, não reflete sobre si mesmo. É preciso um elemento "externo", eu, que o reflete.</p><p style="text-align: justify;">Por mais que eu esteja no mundo, trabalhando, rindo, escrevendo e bebendo cerveja, e embora os atos de minha mente se desdobrem no mundo, minha mente não está no mundo. Ela é um fenômeno quase acidental que ocorre em nosso cérebro (parece), mas não podemos abri-lo e apontar a mente em algum ponto. Também é evidente que ela não é o cérebro e seríamos seres completamente funcionais e ativos se não a tivéssemos.</p><p style="text-align: justify;">A Mente não é imprescindível para a existência do mundo, é completamente prescindível para nossa existência, mas é indispensável para a reflexão. É por meio dela que realizo a reflexão necessária para a construção deste texto, é por ela que você reflete e o avalia, concordando aqui, discordando ali, é com ela que você repensa, reflexivamente, se poderia ter escolhido palavras melhores em uma discussão passada, ou planeja o melhor discurso para um encontro futuro.</p><p style="text-align: justify;">A mente possui, inclusive, essa curiosa capacidade de dar um passo para trás, observar-se a si mesma e refletir sobre o que observa. É um aparato magnífico.</p><p style="text-align: justify;">Curiosamente, ainda que cada humano existente neste planeta possa uma mente (acho), nem todas as pessoas refletem (sobre o que quer que seja). Reflita sobre isso!</p><p style="text-align: justify;">É como se cada pessoa no mundo possuísse um veículo (imagine como preferir, carro, moto, bicicleta) e a maior parte da pessoa andasse a pé. Ok! Analogia ruim. Caminhar faz bem (refleti sobre a má qualidade da minha analogia. rs). Imagine que cada pessoa no mundo tem um carro e o utiliza, mas pouquíssimas pessoas utilizam cinto de segurança (refletindo bem, esta analogia está melhor.).</p><p style="text-align: justify;">A reflexão é o ato do (melhor) emprego da mente, exercitando-a naquilo para que foi desenvolvida (pelos deuses, pela evolução, acidentalmente, você escolhe). A mente¹ tem a capacidade de realizar muitas atividades não reflexivas, algumas úteis, outras apenas recreativas e outras, ainda, muito prejudiciais (uma pessoa que sofre de ansiedade ou depressão pode te falar muito sobre isso), assim como o carro possui diversos elementos, sendo o cinto de segurança apenas um deles.</p><p style="text-align: justify;">Parece-me salutar refletirmos abundantemente sobre nossa faculdade de refletir, exercitando-a, evocando-a, aprimorando-a, com o objetivo de compreender melhor o mundo que nos cerca e o nosso universo interior.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Notas:</p><p style="text-align: justify;">1. Leia Inflação https://outrosdialogos.blogspot.com/2023/03/verborragia-inflacao.html </p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Para entender o motivo da Verborragia clique aqui (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz! https://outrosdialogos.blogspot.com/p/verborragia.html )</p>Marcelo Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11898920274339727756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6543223993373340573.post-39888310711954220622023-09-23T09:52:00.004-03:002023-09-23T09:52:22.468-03:00#Verborragia: Resiliência (2)<p style="text-align: justify;"> Penso que se eu escrevesse um texto a partir de uma palavra sem saber ou lembrar que já o havia feito conseguiria seguir com mais desenvoltura. Provavelmente repetiria ideias mas, ignorando a repetição, as julgaria inéditas e seguiria a vida. O problema é que já escrevi sobre #Resiliência¹ e lembro bem o que escrevi. Como seguir caminho distinto? Como produzir algo inédito? Rejeitar a palavra eu não posso.<span></span></p><a name='more'></a><p></p><p style="text-align: justify;">Resilientemente, vou suportar as tensões (autoinfligidas) de não desejar/aceitar repetições e procurarei conferir elasticidade suficiente ao texto, à mente e à inspiração para obter algo coerente. Aí está: Apeguemo-nos à elasticidade.</p><p style="text-align: justify;">Veja! algo demasiadamente rígido não pode, por definição, ser resiliente. O elemento rígido, ao sofrer a tensão externa tende a suportá-la até o limite de força do material que o constitui e, então, se rompe. A resiliência é, por definição, própria de materiais elásticos, por outro lado, não é inerente à elasticidade.</p><p style="text-align: justify;">A massa de modelar, por exemplo, é plenamente elástica, porém, não resiliente, pois se sujeita sem resistência à tensão externa, mas é completamente incapaz de retornar à forma original sozinha. É preciso nova tensão, sempre externa, na medida e nos pontos corretos, para devolvê-la à forma inicial.</p><p style="text-align: justify;">É preciso ter elasticidade e, ainda, alguma força interna, algo inerente à sua constituição, que lhe torne capaz de retornar à sua forma ou situação original quando a tensão externa termina. É como a espuma do seu colchão: Você a deforma com o peso do seu corpo, mas ela recupera o formato original quando você se levanta (não esqueça de fazer as rotações periódicas recomendadas pelos fabricantes de colchões, do contrário, dormirás numa concavidade nada confortável).</p><p style="text-align: justify;">"Força interna", seja pelas características da substância que compõe o objeto analisado, seja pelas inclinações e valores do indivíduo que está lendo este texto, parece ser um ponto primordial de análise, conectado ao conceito prévio de elasticidade.</p><p style="text-align: justify;">O espírito humano é uma bagunça ² e existem forças puxando para todos os lados, ainda que você alimente a ilusão de que você é um só e está convicto do que deseja. Convicto ou não, a "força interna" requerida para superar as tensões externas sem se deixar moldar definitivamente por elas é rara e acessada por poucos.</p><p style="text-align: justify;">Via de regra deixamo-nos moldar pela sociedade, a família, as relações, os empregos³, com toda a elasticidade possível, como "massa de modelar", mas completamente desprovidos de força interna para recuperar nossa essência. Via de regra, falta-nos até a rigidez do início deste texto, oposta à #Resiliência, para não nos deixarmos moldar pelas tensões externas. Alguma rigidez, se não nos destroçasse, seria evidência da presença da força interna para não nos tornarmos excessivamente (e irrecuperavelmente) maleáveis.</p><p style="text-align: justify;">Sigamos, portanto, pela via da obtenção/criação/descoberta da força interna necessária para atribuir alguma resiliência à nossa elasticidade. Força com consciência, do contrário, aplicaremos desproporcionalmente, tornando-nos demasiadamente rígidos, logo, inclinados à ruptura.</p><p style="text-align: justify;">Como obter/criar/descobrir?</p><p style="text-align: justify;">Respire! É uma ótima forma de não morrer por asfixia (literalmente e figurativamente). Os passos seguintes são com você, pois a estrutura interna de cada pessoa é única, portanto, você precisará caminhar por locais e cômodos cujo mapa não me é facultado possuir. Respire!</p><p style="text-align: justify;">Conheça-se! Se você não se conhece não existe razão para a resiliência. Voltar a quê? Para quê? Por quê? Qualquer forma serve. Conheça-se!</p><p style="text-align: justify;">ERRE! Adoro esta palavra. Serve tanto para que você se permita o equivoco (e está tudo bem) quanto para que você caminhe (seja errante!). ERRE!</p><p style="text-align: justify;">É isso. Resilientemente, sigamos!</p><p style="text-align: justify;">Notas:</p><p style="text-align: justify;">1. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2022/02/veeborragia-resiliencia.html " target="_blank">Resiliência </a></p><p style="text-align: justify;">2. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2023/04/verborragia-meias-3.html " target="_blank">Meias (3) </a></p><p style="text-align: justify;">3. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2011/06/falacia-do-consumo.html " target="_blank">A Falácia do Consumo </a></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Para entender o motivo da <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/p/verborragia.htm" target="_blank">Verborragia clique aqui</a> (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz! l )</p>Marcelo Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11898920274339727756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6543223993373340573.post-69836596328066407342023-09-20T21:27:00.003-03:002023-09-20T21:53:04.900-03:00 Carta aberta à pessoa ausente<p style="text-align: justify;">(convêm que seja antes da sexta, para que não pareça motivada pelo álcool):</p><p style="text-align: justify;">Eu não preciso de você!</p><p style="text-align: justify;">Na sua ausência eu sorrio, passeio, brinco.</p><p style="text-align: justify;">Eu posso sorrir sem ser com você e chorar sem ser por você.<span></span></p><a name='more'></a><p></p><p style="text-align: justify;">Eu vejo pores do Sol, figuras em nuvens, leio Jung e assisto Adam Sandler.</p><p style="text-align: justify;">Eu não preciso de você!</p><p style="text-align: justify;">Sigo o caminho, realizo sonhos, conquisto amigos (nem sempre), não reclamo do trânsito.</p><p style="text-align: justify;">A vida não é menos bela por ser distinta da que sonhei para nós, assim como qualquer sonho nunca superará qualquer fato.</p><p style="text-align: justify;">Lamento não poder te dizer o que fiz hoje, o que sonhei ontem, o que pretendo comer amanhã, mas fiz, sonhei e comerei.</p><p style="text-align: justify;">Eu não preciso de você!</p><p style="text-align: justify;">Eis o feliz presente da vida: E nunca esqueço de você!</p><p style="text-align: justify;">Me sinto feliz! Minha felicidade não está condicionada à sua presença, por isso mesmo, não há qualquer necessidade de te esquecer. Não há o que esquecer. Não há o que superar. Sou grato pela memória, a voz, a risada, o sotaque.</p><p style="text-align: justify;">É isso. Eu posso viver uma vida inteira sem você e terá sido uma bela vida. Não precisar de você é o que te torna verdadeiramente amada. O caminho do afeto é assim.</p><p style="text-align: justify;">Eu não preciso te esquecer!</p>Marcelo Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11898920274339727756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6543223993373340573.post-86082928875233827362023-09-17T12:30:00.005-03:002023-09-17T12:30:41.669-03:00#Verborragia: Saudade<p style="text-align: justify;">Notei que quando uma palavra é proposta/escolhida para a #Verborragia eu não costumo verificar se já produzi texto sobre aquela palavra. Penso que mesmo se a palavra for repetida, a época mudará a inclinação de minha inspiração, gerando resultado distinto. #Saudade, por outro lado, é coisa tão natural de existência humana que me deixou curioso: Como nunca ninguém pediu/propôs? Pesquisei meus textos passados: Nunca ninguém pediu/propôs.<span></span></p><a name='more'></a><p></p><p style="text-align: justify;">Se a "#Saudade é um prego, o coração é um martelo, fere o peito e doí na alma, e vai virando um flagelo". Perdão. Não tinha como não evocar essa música. A coisa mais encantadora da palavra #Saudade é o relato frequente de sua difícil tradução, sendo fácil localizar traduções para "nostalgia", mas não exatamente para aquilo que "saudade" evoca. Deve ser verdade (não sou linguista. Não fui estudar todos os idiomas para confirmar essa afirmação. Rs). Somos entidades mnemônicas. De todas as características que se pode evocar para descrever o que é "ser humano", fala, raciocínio, polegar opositor, etc., a menos utilizada (sobretudo por não ser exclusiva) é a memória. Ocorre que, em nós, os mais diversos níveis, conscientemente ou não, de memória, é que tornam possível nossa definição e coesão como espécie, assim como são a condição de possibilidade de nossa individualmente. É meu acervo mnemônico que me faz ser eu, me faz ser único e distinto de cada possível visitante deste texto. Cada escolha de palavras que faço aqui pode ser explicada rastreando minha existência até um momento passado que aproximou minha personalidade (desejos, gostos, valores, etc.) desta palavra e não de outra; cada reação minha a um estímulo externo poderia ser explicada pela mesma estratégia: mais que este corpo, esta cor de pele, esta altura, aquela cicatriz, o timbre e tom de voz, eu sou o que eu lembro (até quando a lembrança não é consciente).</p><p style="text-align: justify;">Sendo a memória algo tão marcante e profundo em nossa existência (coletiva e individual), não é surpresa alguma que um dos sentimentos com maior poder de impacto sobre nós seja a saudade. Se eu sou o que eu lembro, eu existo muito mais na memória que no ato, assim, minha mente tende a dar mais atenção às ausências que às presenças.</p><p style="text-align: justify;">Como tudo que constitui nossa existência, a existência da saudade não é, em si, um problema mas um desequilíbrio¹ em sua dosagem pode vir a ser. Uma definição superficial, incompleta e facilmente contestável de "Depressão" é "excesso de passado (ou de memória)". Por ora, não a contestemos. Vamos assumir como "uma definição possível" e explorá-la: Ora! Se tudo o que somos é memória, como o excesso do nosso elemento mais fundamental pode ser fonte de sofrimento? Ainda assim, acontece. O ponto é a dosagem. Tudo que somos é memória, ainda assim, precisamos estar no mundo, viver o presente, atuar no agora. Para tanto, recorro ao meu acervo mnemônico e, com ele, seja por reflexão, seja por instinto, tomo uma decisão e ajo. O dano nasce quando eu me fixo no acervo, abraço o passado, a memória, e abandono a atuação no presente. Não vou, obviamente, tirar uma máxima do tipo "Viva o presente!" como uma cura mágica para a depressão. Trata-se de coisa séria que não pode ser contornada com frases de efeito (a famosa "não fique assim!"). Não vou falar de depressão nem de curas, vou falar dos momentos em que nos apegamos ao passado, deixamos de atuar no presente, mas não em cenários depressivos (para os quais cabe a ajuda profissional, não a leitura deste texto). Eu gosto do passado. Eu gosto de lembrar. Isso pode reforçar (negativamente) meus quadros de procrastinação (este texto era para quarta, comecei a escrever na sexta e o estou concluindo no domingo). O mesmo recurso ao acervo mnemônico deveria me alertar para as ocasiões em que a procrastinação me causou complicações, levando-me a reações diferentes no presente. É preciso equilibrar memória e ação.</p><p style="text-align: justify;">Voltando à Saudade, tendo o cenário acima como premissa, devemos compreender que há situações, lugares e pessoas que se vão, no tempo e no espaço, e nos ressentimos destas ausências. Foram momentos bonitos, nos quais é bom pensar, mas não precisam ser dolorosos. A ausência deve ser encarada como ocasião de valorizar aquilo que se foi, não um meio de reforçar a ausência, convertendo-a em dor.</p><p style="text-align: justify;">A Saudade é uma característica bela, cuja função e nos mostrar que aquilo que nos habita a memória foi prazeroso, algo a ser guardado e, eventualmente, revisitado, com carinho e respeito, não com lamento. A Saudade deve ser, ainda, professora de que é bom pensar no que FOI, mas é inútil (e danoso) pensar no que poderia "TER SIDO". Somos seres mnemônicos, mas também imaginativos. Não nos apeguemos à imaginação. Mantenhamos a imaginação onde ela é útil: Como ferramenta para construir futuros melhores, não para lamentar passados irreais.</p><p style="text-align: justify;">Tens saudade de relacionamentos significativos? Construa relacionamentos ainda melhores.</p><p style="text-align: justify;">Tens saudade de lugares belos? Conheça novas paisagens.</p><p style="text-align: justify;">Tens saudade de pessoas que partiram²? Valorize o tempo com os presentes.</p><p style="text-align: justify;">Eu tenho saudade de quando a vida era simples e eu tinha mais esperança ³. Dever ser momento de simplificar minha vida.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Notas:</p><p style="text-align: justify;">1. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2021/07/nao-deixe-o-medo-de-cegar.html" target="_blank">Não deixe o medo DE cegar!</a> e <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2022/02/veeborragia-resiliencia.html " target="_blank">Resiliência </a></p><p style="text-align: justify;">2. Leia <a href=" https://outrosdialogos.blogspot.com/2022/09/verborragia-morte.html " target="_blank">Morte</a></p><p style="text-align: justify;">3. Leia <a href=" https://outrosdialogos.blogspot.com/2023/03/verborragia-encorajo.html " target="_blank">Encorajo</a></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Para entender o motivo da <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/p/verborragia.html" target="_blank">Verborragia clique aqui</a> (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz! )</p>Marcelo Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11898920274339727756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6543223993373340573.post-19584650112463083422023-09-06T20:12:00.000-03:002023-09-06T20:12:43.419-03:00#Verborragia: Efêmero<p style="text-align: justify;"> Esta palavra é curiosa, pois pressupõe um antônimo que é ilusório: o que há que não seja inerentemente efêmero? Para inferir um "não efêmero" qualquer precisaríamos nos embrenhar por todas as especulações filosóficas sobre absolutos, trabalho que me seria extremamente prazeroso, mas nada útil para a presente reflexão.<span></span></p><a name='more'></a><p></p><p style="text-align: justify;">Assumamos, portanto, que embora nossa espécie seja criativa suficiente para postular infinitos absolutos e que todos sejam conceitualmente defensáveis, nenhum é empiricamente demonstrável ¹. Por outro lado, a impermanência geral é incontestável, desde um momento, que se esvai em um suspiro, até o Sol, inda que demore 5 bilhões de anos para se esvair. Entre o momento e o Sol, nossas tacanhas existências simulam eternidades enquanto se aniquilam em poucas décadas de labuta e lástima.</p><p style="text-align: justify;">Há alegrias, eu sei, mas se dissolvem como momentos. Há infortúnios, e estes parecem durar mais que as estrelas. Essa ilusão/distorção em nossa forma de experimentar a Duração em si e as durações particulares alimentam nossa confusa interpretação sobre efemeridade e eternidade.</p><p style="text-align: justify;">Medindo tudo pelas réguas de nossas vidas curtas e limitadas sustentamos a falácia de que tudo que nos supera em tempo de permanência tende a ser perene e aquilo que superamos é efêmero. Se pudéssemos dar um passo para trás e olhar a existência com os olhos de Brahma (você não precisa ser místico. Leia "Brahma" como a perspectiva do Universo material que lhe cerca) perceberíamos que absolutamente tudo no Universo (e ele mesmo) é efêmero e não dura mais que um dia.</p><p style="text-align: justify;">À luz da mais plena certeza (e compreensão) da completa impossibilidade de manutenção das coisas (do que quer que seja) poderíamos, talvez, nos libertar do julgo dos apegos. </p><p style="text-align: justify;">Isso é bom, mas efêmero. Deixo ir. Já foi.</p><p style="text-align: justify;">Isso dói. É efêmero. Já não sinto mais.</p><p style="text-align: justify;">A psicologia e a espiritualidade vão te ensinar que passado e futuro são ilusões, te convidando a se dedicar ao presente. Eles estão corretos, porém, por um instante, sem ônus ao que te ensinaram, quero propor momentaneamente (efemeramente) que ilusórios são o futuro E O PRESENTE, pois à luz da efemeridade geral das coisas, tudo já passou. Nossa existência é uma memória. Tudo já passou (repetição não acidental). Você supõe que me esteja lendo, mas a palavra "lendo" já é passado. Tudo que veio antes e depois dela é memória para você e para mim. Tudo desfeito no tempo, ilusoriamente sustentado em sua mente, ou armazenado em um banco de dados que, em breve, será desfeito, instalado em sistemas de computadores com validade limitada alocados em um planeta que será engolido pelo próprio Sol ², cujo passado amarelo será lembrança de uma raça que não nos é facultado conhecer.</p><p style="text-align: justify;">E as estrelas? São uma bela imagem prática da efemeridade. Todas, sem exceção, são passado. Algumas já não existem mais. "O Sol existe!", você protestará, mas até ele é passado, pois a luz que atinge seu rosto saiu de lá 8 minutos antes. A luz que você observa é do passado. Lembrança do que o Sol era. O Sol já passou, efêmero, se foi.</p><p style="text-align: justify;">Esse não é um texto pessimista. Não quero falar de fim. A impermanência não é uma lástima, mas sim o que atribui beleza à existência inteira. Shiva, o deus da destruição, é a condição de possibilidade de tudo o que é novo. Não é possível criação, mística, poética e material sem a impermanência de tudo que antecedeu cada novidade; do contrário, seriamos estáticos, absolutos, imóveis, inertes, perenes, sem graça, vazios.</p><p style="text-align: justify;">A a compreensão da efemeridade que torna possível os novos amores, novos empregos, novas canções, assim como a visita a velhos lugares com novas emoções.</p><p style="text-align: justify;">Tudo passa.</p><p style="text-align: justify;">Notas:</p><p style="text-align: justify;">1. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2012/08/uma-questao-de-fe.html " target="_blank">Uma Questão de Fé!</a> </p><p style="text-align: justify;">2. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2018/08/salvar-os-santos.html " target="_blank">Salvar os Santos</a> </p><p style="text-align: justify;">Para entender o motivo da Verborragia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/p/verborragia.html" target="_blank">clique aqui </a>(Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz! )</p>Marcelo Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11898920274339727756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6543223993373340573.post-51102398898674342202023-08-23T07:38:00.003-03:002023-08-23T07:38:12.667-03:00#Verborragia: Serendipidade (2)<p style="text-align: justify;"> A palavra de hoje não é de hoje. Foi sorteada para a última sexta (18/08/2023), portanto, destinava-se a ser (e tornou-se) um conto. Por outro lado, atrasei-me na composição, ora por procrastinação, ora porque o texto insistia em seguir (não era bloqueio criativo. Eu não era impedido de escrever. Apenas não chegava ao termo). Terminei hoje (estou escrevendo em 22/08), portanto, decidi reter a publicação para a próxima sexta. <span></span></p><a name='more'></a><p></p><p style="text-align: justify;">Por outro lado, avizinhando-se a quarta (e, com ela, a necessidade de uma reflexão), decidi não sortear outra palavra, aproveitando a que já tinha. Ocorre que a própria composição do conto converteu-se em uma experiência de serendipidade para mim. Para quem não sabe (e em uma explicação muito tosca), serendipidade consistente no encontro acidental de algo muito importante ou valioso enquanto se procurava outra coisa (ou nada). </p><p style="text-align: justify;">Assim que tive contato com a palavra tracei um destino para o conto, esse destino pode ser definido como aquilo que eu buscava. O conto, por sua vez, riu de mim e seguiu para onde desejava (a coisa encontrada sem ser buscada).</p><p style="text-align: justify;">Ainda que o conto lhe pareça fraco, curto ou mal encerrado (gostei mais do meio que do fim), sua produção e totalidade me causaram grande satisfação pessoal. Foi um daqueles poucos textos dos quais me orgulho e fico ansioso pela publicação, ansiedade que vou cultivar amorosamente para praticar a paciência até sexta.</p><p style="text-align: justify;">Geralmente escrevo no metrô. Quando se aproxima o momento de baldeação ou minha estação final, salvo o que produzi até ali e encerro até a próxima viagem. Mergulho no trabalho. Para este texto cada interrupção era acompanhado da agonia de pausar a leitura de um livro um fim de episódio destas séries que não dão lançadas de uma vez. Eu vivia a ansiedade e curiosidade de desejar saber o que aconteceria a seguir (veja bem. A experiência foi minha. O carinho pela história foi meu. Não crie expectativas. A sexta-feira pode te decepcionar).</p><p style="text-align: justify;">O que desejo explorar aqui é o seguinte: a serendipidade acontece o tempo todo em nossas vidas, mas passamos tanto tempo fantasiando coisas imensas, magníficas, heroicas (aquilo que se buscava), que acabamos desprezando ou subvalorizando a coisa encontrada sem ser buscada.</p><p style="text-align: justify;">Uma menina sonha com um príncipe enquanto dribla o sujeito gentil ¹, o rapaz almeja o emprego de salário milionário enquanto ignora a oferta de vaga que abriria sua carreira ², o (pseudo)filósofo procura Deus (leia Eu nunca sonhei com Deus).</p><p style="text-align: justify;">Uma vez, pensando sobre o amor (aqui não vai ter "leia x". Essa publicação segue pendente), registrei "A ficção e o romantismo nos condicionaram a esperar que o #Amor seja um incêndio, uma fúria, uma coisa avassaladora, quase dor.</p><p style="text-align: justify;">Talvez Ele seja tão suave, puro, meigo; talvez seja tão terno que se/quando nos ocorre, coisa rara, sequer o consigamos reconhecer. Ele é um abraço". Dá para reproduzir a frase acima substituindo"amor" por toda uma variedade de sonhos nossos, aquilo que se buscava, e o abraço pelas infinitas "a coisa encontrada sem ser buscada" que deixamos de lado.</p><p style="text-align: justify;">É possível passar uma vida inteira tropeçando em serendipidades sem notá-las. Não faça isso.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Notas:</p><p style="text-align: justify;">1. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2021/12/verborragia-pertencer.html" target="_blank">Pertencer </a></p><p style="text-align: justify;">2. Leia<a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2014/06/o-espirito-da-empresa.html " target="_blank"> O Espírito da Empresa </a></p><p style="text-align: justify;">3. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2020/09/eu-nunca-sonhei-com-deus.html" target="_blank">Eu nunca sonhei com Deus </a></p><p style="text-align: justify;">Para entender o motivo da Verborragia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/p/verborragia.html" target="_blank">clique aqui (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz!</a> )</p>Marcelo Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11898920274339727756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6543223993373340573.post-13632279674109013152023-08-16T22:18:00.002-03:002023-08-16T22:35:55.481-03:00#Verborragia: Atmosfera<p style="text-align: justify;"> Não. Não vamos reinaugurar a #Verborragia falando de gases. Ainda assim, dialoguemos brevemente sobre o fenômeno físico, antes de explorar eventuais conceitos subjetivos.<span></span></p><a name='more'></a><p></p><p style="text-align: justify;">Essa imensa redoma de gases que contorna nossos países e garante nossa sobrevivência (em detrimento de nosso incessante esforço para promover o contrário) não passa de uma finíssima película de ar, quando considera em proporções astronômicas. Uma indigestão do Sol bastaria para varrer esta película do nosso planeta¹ e extinguir nossa existência. Enquanto o Sol não o faz, estamos nós aqui brincando de sujar a película sem considerar que é, por ora, tudo o que temos e o eventual processo de regeneração é muito mais lento que nossa capacidade de estrago. Finalmente, antes que o Sol e a poluição eliminem a possibilidade de vida na Terra, as relações individuais com o ar também são, ou podem ser, precárias, seja por patologias (bronquite, asma, etc.), seja por atividades insalubres (tabagismo, sedentarismo, etc.).</p><p style="text-align: justify;">Mas este texto não é sobre astronomia, ecologia ou saúde pública.</p><p style="text-align: justify;">Uma vez que atmosfera, em termos físicos, nos cerca e mantém, convencionou-se aplicar o termo também em circunstâncias sociais e subjetivas, assim, "há uma atmosfera boa ali" e "não gostei da atmosfera" não são termos empregados após uma análise da volumetria e qualidade dos gases naquela região, mas sim para descrever nossas percepções subjetivas das interações sociais.</p><p style="text-align: justify;">Pensando em ambientes, grupos, encontros familiares e locais de trabalho, cada agrupamento de pessoas terá um atmosfera específica, assim como cada região do mundo poderá ter maior ou menor concentração de certos gases, conforme as peculiaridades do lugar. A mais sutil interferência no grupo (uma contratação, uma mudança, uma nova namorada) altera o equilíbrio anterior e torna necessária uma série de adaptações até se atingir novo equilíbrio. A propósito, não leia "equilíbrio" como algo intrinsecamente positivo: era apenas um ponto de estabilidade, que poderia se apresentar como uma constante tensão, ou paz, ou alegria, ou tristeza, e por aí vai. Esse novo momento de estabilidade pode não ser salubre para todos no ambiente, produzindo eventuais evasões ou expurgos no grupo ("Nossa. Fulano nunca mais deu notícias."). Ainda pensando em grupos, existe a possibilidade de existir um Sol, um indivíduo de destaque que, ao chegar, promove calor, luz e conforto, OU ter o poder de varrer para longe toda a atmosfera de paz que estava ali instantes atrás. Atenção: não leia esse trecho como sendo duas atividades distintas de um mesmo indivíduo, que ora promove uma atmosfera, ora outra (se existir alguém assim, fuja). Haverá, via de regra, um ente de destaque que sempre promoverá a paz, ora mais, ora menos, mas nunca o oposto, e/ou haverá um indivíduo que sempre expurgará a paz. </p><p style="text-align: justify;">Reduzindo nosso campo de análise para nossa intervenção direita e ativa na atmosfera, precisamos avaliar qual a qualidade da nossa colaboração na sua manutenção: acendemos fogueiras, construímos fábricas ou plantamos árvores? Assim como, astronomicamente falando, nada poderíamos fazer caso uma super onda fosse expelida pelo Sol, pouco podemos fazer quando há presenças negativas muito marcantes no grupo, por outro lado, assim como em circunstâncias solares normais podemos comprometer a coisa toda (vide "efeito estufa"), podemos potencializar tendências negativas na atmosfera interna do nosso grupo ou minar as tendências positivas. Frequentemente nos queixamos das variações climáticas e das presenças inoportunas, mas o quanto analisamos nossos níveis de responsabilidade em cada caso?</p><p style="text-align: justify;">Finalmente, nas relações exclusivamente individuais com a atmosfera (física e social), há circunstâncias aparentemente alheias ao nosso controle (asma, pessoas conscientemente mal intencionadas, bronquite, pessoas tóxicas, etc.) e circunstâncias diretamente derivadas de nossa postura (tabagismo, precipitação, sedentarismo, irritabilidade, etc.). Para as situações em que temos responsabilidade direta cabem (e agora me dou conta que isso é redundante; vale para tudo na vida) revisões interiores de nossas ações e omissões, renovando nosso portfólio de atuação (e respostas) objetiva(s) e subjetiva(s) para as circunstâncias ao nosso redor, caso realmente estejamos incomodados com as circunstâncias atuais e sinceramente desejemos promover mudanças concretas e duradouras no cenário geral. E as circunstâncias alheias ao controle? A ausência de controle é uma desculpa conveniente para justificar nossas omissões; reveja os exemplos que dei: a asma e a bronquite se instalam no organismo à revelia da intenção e interferência da criança ou dos pais, mas todos tem o poder de, voluntariamente, procurar tratamentos para mitigar crises e suas consequências, além da "bombinha" e outros recursos para emergências; para pessoas conscientemente mal intencionadas e/ou tóxicas somos dotados de sensibilidade suficiente (basta o mínimo) para notar suas natureza e nos apartarmos de sua companhia ou, quando impossível (em relações profissionais, por exemplo), alterar deliberadamente nosso portfólio de atuação e respostas (repetição não acidental) para criar mecanismos de proteção contra seus poderes de manipulação ou dano.</p><p style="text-align: justify;">Resumidamente, seja para garantir um mundo respirável para nossos filhos, seja para construir ambientes e interações salutares para nós, convém atenção aos cenários e ao nosso poder de intervenção, avaliando e ajustando conscientemente nosso impacto nessa existência.</p><p style="text-align: justify;">Nota: </p><p style="text-align: justify;">1. Antes de publicar fiz algumas pesquisas (leia-se "Perguntei para o chatGPT") e concluí que a gravidade e a magnetosfera tornam extremamente improvável uma remoção total da atmosfera, mas ainda assim é possível algum dano. Para o bem do texto, vamos fingir que eu não pesquisei (risos). </p><p style="text-align: justify;">Para entender o motivo da Verborragia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/p/verborragia.html" target="_blank">clique aqui (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz!</a>)</p>Marcelo Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11898920274339727756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6543223993373340573.post-49392706229208330842023-07-25T09:40:00.008-03:002023-07-25T09:40:56.857-03:005 Minutos<p style="text-align: justify;">Ai ai, você sabe a importância de 5 minutos?</p><p style="text-align: justify;">Nesta pandemia eu descobri!</p><p style="text-align: justify;">Sabe quando você está com sono e fala: Só mais 5 minutos!</p><p style="text-align: justify;">Quando faltam só 5 minutos para o lanche e você fica ansioso.<span></span></p><a name='more'></a><p></p><p style="text-align: justify;">Quando faltam 5 minutos para chegar à escola e você fica feliz em rever seus amigos</p><p style="text-align: justify;">Aqueles últimos 5 minutos que você passou com alguém especial</p><p style="text-align: justify;">Até quando 5 minutos viram 30, na aula de matemática</p><p style="text-align: justify;">Sabe o que pode acontecer em 5 minutos?</p><p style="text-align: justify;">Pessoas falecem em 5 minutos</p><p style="text-align: justify;">Pessoas são assaltadas em 5 minutos</p><p style="text-align: justify;">Pessoas podem até tropeçar de uma escada e morrer</p><p style="text-align: justify;">Mas não são só coisas ruins que acontecem em 5 minutos!</p><p style="text-align: justify;">Falta apenas 5 minutos para o seu pai viajar, mas pode ser que você tenha a melhor conversa da sua vida com ele, nesses últimos 5 minutos</p><p style="text-align: justify;">Pode ser também, naquele momento que você só quer ficar mais 5 minutos com seu parceiro</p><p style="text-align: justify;">Quando você sai com seu amigo e você nem viu que já passou 5 minutos</p><p style="text-align: justify;">O que eu quero dizer é</p><p style="text-align: justify;">Você não sabe o que pode acontecer daqui 5 minutos, então aproveite ao máximo cada minuto com aquela pessoa, pode ser os últimos 5 minutos que você vai ver ela </p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Leonardo B Moreira</p>Marcelo Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11898920274339727756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6543223993373340573.post-86974847129878859802023-04-16T17:51:00.000-03:002023-04-16T17:51:04.644-03:00#Verborragia: Meias - 3<p style="text-align: justify;">A palavra "Meias", originalmente escolhida para ser um conto, tornou-se causa de um conflito: quando foi sorteada a primeira reação dos meus dedos (o texto sai como decide sair; não faço planos) foi despejar meia dúzia de rimas aleatórias sobre o papel (na verdade, no celular); de alguma forma me indispus com aquelas rimas, como se fossem artificiais, então abandonei o texto e me forcei em uma prosa; ocorre que a deliberação pela prosa foi em si uma adulteração da naturalidade que pretendo para os textos, donde o retorno e a publicação do texto em verso ¹.<span></span></p><a name='more'></a><p></p><p style="text-align: justify;">Em contrapartida, quando fui sortear a palavra para o conto seguinte me vi impedido de fazê-lo, incomodado pela lembrança do meio texto deixado para trás. Retomei-o, gerando um texto em prosa ².</p><p style="text-align: justify;">Finalmente, superados os contos, chegou o dia de sortear a palavra para uma reflexão, mas eu ainda estava preso às meias; Mais especificamente, àquela experiência de #Conflito.</p><p style="text-align: justify;">Se/quando reunidas duas metades (duas meias) se obtém, mais ou menos, um inteiro, o presente texto é em si uma desarmonia, uma fonte de conflito, ao introduzir a terceira metade.</p><p style="text-align: justify;">A existência é inteiramente (sem [ou com] jogos de palavras com as "meias") construída sobre conflitos, desde um primeiro conflito estrutural que fez explodir a matéria antes reunida em um ponto, passando pelo conflito dos elementos simples, destinados a ser estáticos, "indevidamente" se reunindo em elementos orgânicos, até os conflitos internacionais por território e recursos. A primeira unidade biológica que se moveu o fez em função do conflito entre a economia energética do repouso (ou a segurança do ponto em que se encontrava) e a necessidade de obter mais energia (alimentos, luz solar, etc.).</p><p style="text-align: justify;">Romances se iniciam a partir do conflito entre a praticidade da solidão e a insustentável saudade do outro; terminam pelo conflito entre as meias e as verdades; o luar é visível pelo conflito entre os materiais na lua e a luz solar, donde a reflexão, do contrário a luz seria absorvida e a lua seria invisível. A estabilidade de um átomo repousa no conflito de partes que se atraem e partes que se repelem; mesmo as nuvens só são possíveis em função de conflitos de atração e repulsão nas moléculas da água.</p><p style="text-align: justify;">Como de costume (mas não exclusivamente), passemos ao próximo nível nesta escala que foi do quase nada ao algo e do algo à vida: passemos da vida à consciência.</p><p style="text-align: justify;">Se a existência foi progressivamente se complicando, também se complicaram as formas de conflito, donde deriva que a consciência humana é (potencialmente), o império dos maiores conflitos.</p><p style="text-align: justify;">Vivemos um oceano de conflitos internos, desde a decisão de ficar deitado ou ir tomar uma água até as insuperáveis dúvidas existências dos filósofos, sejam os acadêmicos, sejam os anônimos. Os conflitos subjetivos se potencializam quando versam sobre as relações objetivas, ou melhor, nos pontos de contato de subjetividades distintas. A comunicação (e note que ainda não introduzimos intencionalidades maliciosas e/ou mentiras) é uma ferramenta intrinsecamente conflituosa, pois envolve incontáveis processos de tradução nos quais, invariavelmente, dados/intenções são perdidos e desencontros/desentendimentos são promovidos. Veja: a subjetividade, uma qualquer, é em si um universo quase infinito e extremamente complexo de conceitos, ideias, intenções e sentimentos; Este universo não é, em absoluto, comunicável; opera-se uma tentativa mais ou menos (nunca completamente) eficiente de traduzir esta existência profunda, complexa e, por isso mesmo, inefável, em elementos parcialmente coerentes no idioma comum (aqui português, ali espanhol, acolá inglês, e por aí vai). Uma infinidade de nuances, significações e sentimentos já foi perdida; essa mensagem, incompleta e falha por natureza, é captada pelos órgãos dos sentidos do interlocutor; esse simples pulo, de um corpo ao outro, dos lábios aos ouvidos, quando falado, dos dedos aos olhos, quando escrito ou gesticulado, é por si só falho e incompleto, passível de perda e distorção adicionais por toda sorte de fatores; finalmente, a coisa (ainda é uma mensagem?) capturada pelo receptor precisa passar por nova tradução, indo da linguagem comum ao profundo e complexo idioma interno do outro. As duas traduções anteriores fornecem uma "frase" fragmentada, repleta de lacunas, as quais o receptor procura preencher com as referências do seu universo subjetivo pessoal, portanto, invariavelmente distintas dos elementos originais presentes na frase do emissor e perdidos no processo. Nota o quanto se perde aí? A margem que se cria, invariavelmente, para toda sorte de engano e erro? E tudo isso só no primeiro contato! A sucessão de eventos acima ocorreu no momento de um "Olá!". Se/quando o diálogo segue as ocasiões de perda de dados e de distorção de significado se multiplicam exponencialmente.</p><p style="text-align: justify;">Comunicação é conflito: Incubadora de meias verdades, mesmo se/quando ninguém pretende mentir.</p><p style="text-align: justify;">Introduzidas as más intenções, o egoísmo, a vaidade, a vontade ativa de enganar ou iludir, de extrair indevidamente do outro benefícios para si, a exponenciação se multiplica: Conflito à enésima potência (sou de humanas. Não me crucifique pelas incoerências matemáticas).</p><p style="text-align: justify;">Note que, embora estejamos tratando das interações entre entidades subjetivas, a comunicação ocorre em terreno objetivo. Subtraída momentaneamente a alteridade, logo, a oportunidade da comunicação, resta-nos ainda a infinidade de conflitos internos que um único indivíduo pode construir e aprimorar; melhor dizendo, cultivar e nutrir.</p><p style="text-align: justify;"> Ainda que o empirismo sugira que a existência subjetiva seja uma existência individual o fato é que nenhum ente humano isolado é um indivíduo ³. Somos compostos por conjuntos de desejos, valores e ideias que se reúnem em organismos (ou facções) que disputam entre si (mais conflito) a hegemonia para o controle da entidade que chamamos de "Eu". Esse processo profundo e complexo ocorre em níveis não observáveis e para isso aplicamos o nome de "inconsciente" e os fragmentos disto que vazam ou transbordam para a parte "observável" de nosso existência interior nós chamamos de "consciência". A parte consciente de nosso ser opera em idioma comum (no nosso caso, o português) e sua (nossa) compreensão do mundo objetivo é organizada em conceitos extraídos deste ou construídos neste idioma. O rei (a consciência) sitiado(a) em sua fortaleza escuta o ruidoso protesto da nação sanguinolenta urrando em frente aos portões, mas não consegue distinguir o que exigem; Por não ouvir, não age; por não agir, será enforcado.</p><p style="text-align: justify;">Eventualmente escuta um grito que se destaca da tempestade de vozes, um "temos fome" aqui, um "não suportamos os impostos" ali. Há reis que caçoam e ignoram, demasiadamente confiantes em suas muralhas; estes tem a vida encurtada; Eventualmente há o rei que joga pães do alto do muro ou interrompe a taxação por uma quinzena. A multidão não se dispersa mas, distraída, adia a derrubada dos portões.</p><p style="text-align: justify;">Os gritos eventualmente compreensíveis denominamos "sonhos" aqui, "intuições" ali. Aos que lhes dão ouvidos denominamos sábios, sensatos, sortudos ou alquimistas; sobre os arrogantes a lhes ignorar dizemos "pobre infeliz. Sempre falha. Nasceu sem sorte .". Ora bolas; outro conflito.</p><p style="text-align: justify;">Este texto não é sobre misticismo; não vou dar significado mágico a esses ruídos sem idioma que tentam apontar caminhos para nossa consciência ignorante; também não é, de modo algum, a tentativa de minar interpretações metafísicas ao cenário; por isso mesmo este texto está destinado a ser uma meia verdade, enraíza na infinidade de conflitos de nossa existência. Seja simples comunicação falha de nosso inconsciente com nosso consciência, tentando desesperadamente nos enviar mensagens e sugestões em idiomas que nossa mente não consegue abarcar, seja de fato uma manifestação transcendental nos orientando, o fato é que na infinidade de conflitos que regem nossa existência objetiva e subjetiva reside, de algum modo, a semente de um fruto com poder de iniciar o fim dos conflitos. Pretensioso, eu sei; por isso usei "iniciar".</p><p style="text-align: justify;">Os conflitos são tantos (ainda mais ao falarmos do universo subjetivo) que eu mesmo me perdi no tema, iniciando por falar de conflitos objetivos, depois subjetivos e saltando, inadvertidamente, para as intuições. Provavelmente algum(ns) golpe(s) de Estado em meu espírito bem no meio da composição do texto.</p><p style="text-align: justify;">Pensei em rever as três etapas (conflito objetivo, conflito subjetivo e intuições) com alguma interpretação dialética, mas na verdade a progressão que elas operam não gera conflito em suas etapas: não podem ser lidas como tese, antítese e síntese. Considerando isso o incomodo que senti, como se cada qual estivesse incompleta, encerra-se no entendimento de que a proposta seguinte (na cronologia do texto) é, potencialmente, antecessora e causa da anterior (em cronologia existencial). Vejamos:</p><p style="text-align: justify;">Sendo as etapas acima classificadas como A, B e C, temos que o indivíduo humano, qualquer um e todos, nasce em C. Antes mesmo da aquisição de idioma e da capacidade de comunicação consciente com terceiros, as marés de desejos se formam e os primeiros conflitos se instalam, dados os sentimentos, desejos e instintos se organizando nas primeiras facções, praticamente tribais. A criança pede o brinquedo e o descarta, chora de fome e cospe a comida, pede um colo só para pedir o próximo. Nesse estado inicial, ausente o idioma, ausente a consciência pensando em língua comum, a tradução não é necessária e a existência é, parece-me, preponderantemente intuitiva. A criança surfa em suas intuições e chora quando "toma um caldo".</p><p style="text-align: justify;">Iniciada a aquisição do idioma começa a construção da individualidade subjetiva, o que se demonstra pela repetição de "eu", "meu", "dá" e equivalentes. Embora B e A se construam quase simultaneamente, há uma anterioridade -ao menos ideal - de B, pois algumas traduções internas rudimentares precisam se operar, com algumas idas e vindas dialéticas, até que expressões sejam emitidas externamente. É nessa anterioridade ideal/conceitual de B que reside o início da construção dos conflitos, ora entre o que quero mas ainda não encontro repertório vocabular para evocar, o que quero mas já compreendi que não é de obtenção imediata, o que quero e já foi decretado que não posso.</p><p style="text-align: justify;">Conforme vou criando vocabulário para externar meus sentimentos e desejos, também começo a externar meus conflitos, sempre voltando ao choro quando a linguagem comum não os resolveu para mim.</p><p style="text-align: justify;">Despejados os conflitos no mundo objetivo, torno-me A e mergulho no caleidoscópio de traduções infindáveis.</p><p style="text-align: justify;">A progressão de C a A não é um passo a passo no qual o elemento anterior é superado e abandonado, ocorrendo a incorporação de cada novo elemento de modo que tornamo-nos um emaranhado confuso, rotativo talvez, de C>B>A>C>B>A>C>B>A e assim por diante. Somos os três ao mesmo tempo; chafurdamos nos conflitos de cada nível, incapazes de conceber uma existência não conflituosa. Somos, de fato, três metades.</p><p style="text-align: justify;">Dado que C+B+A é o que nos forma e dadas as três leituras aqui realizadas (a progressão de A a C, a progressão de C a A e, finalmente, a simultaneidade CBA), sou obrigado a inferir que C possui, ao menos idealmente, o menor índice de tradução, por tanto, a menor margem para perdas e erros; é claro que na primeira infância isso é mais verdadeiro que na idade avançada, quando nos tornamos reféns do idioma e ariscos à qualquer manifestação do inconsciente; ainda assim, ele está lá, usando toda sorte de subterfúgios não idiomáticos para nos admoestar (sobre o que quer que seja) enquanto lutamos para encaixar tudo no nosso referencial vocabular. Na infância fluímos mais, ouvimos (melhor, sentimos) mais e catalogamos menos. Falando em termos de intuição, é possível residir aí a diferença entre um cético inveterado (como eu) e um místico; este conseguiu manter (ou recuperar) a fluidez não idiomática da primeira infância e baila com os sentimentos e inclinações (eventualmente, orientações) não linguísticos que recebe de seu inconsciente; aquele se tranca no alto da torre construída com blocos conceituais e rejeita outras formas de expressão e entendimento como se fossem tribos bárbaras lhe atacando; meias verdades.</p><p style="text-align: justify;">Como entusiasta da metodologia científica sou obrigado a me render à necessidade de conceitos, categorias, classificações, tudo sempre no bom e velho idioma comum; por outro lado, é indiscutível o imenso volume de conhecimento produzido por pura intuição e só depois categorizado, portanto, é inaceitável o desprezo a este reino. As análises da subjetividade, a psicologia, a psicanálise, são tanto mais ricas e eficazes quanto se aventuram, progressivamente, em aceitar e dialogar com esse reino não idiomático tão vasto e profundo; essa multidão de vozes sem palavra; esse som do silêncio (Hello darkness, my old friend...).</p><p style="text-align: justify;">Falei, falei, e nada entreguei. Texto chamado "Meias" quê é terço, não metade; reflexão sobre conflitos que não os resolve; convite à (abertura à) intuição de um tal que nada intui.</p><p style="text-align: justify;">Considerando a compulsão, evidenciada na construção deste texto, de forçar interpretação dialética onde ela não está (uma coisa não se torna automaticamente dialética simplesmente por existirem três termos) , vou "dialetizar" o último parágrafo:</p><p style="text-align: justify;">Tese: a existência subjetiva é uma paradoxo insuperável de meias verdades e elementos não perfeitamente cambiáveis (metades, terços e incoerências gerais);</p><p style="text-align: justify;">Antítese: não são, necessariamente, insuperáveis, mas sim conflituosos, passíveis de solução, ainda que o presente "tentante" não o tenha realizado ("reflexão que não os resolve...")</p><p style="text-align: justify;">Síntese: é justamente pelo processo exclusivamente conceitual, não intuitivo, do presente "tentante" que o processo não se soluciona.</p><p style="text-align: justify;">O texto inteiro existe para mostrar a dualidade "Objetividade X Subjetividade" -aparentes metades ("meias") perfeitas da existência- e segue para a "terceira metade", um outro nível existencial cuja função (entre diversas outras possíveis não exploradas aqui) é preencher lacunas no nosso entendimento geral de nós e do mundo para enriquecer nosso caminhar nesta existência.</p><p style="text-align: justify;">É isso! Creio que na abertura à ideia de que nosso inconsciente tenha algo a nos dizer resida nossa capacidade (potencial) de começar a solucionar nossos conflitos, primeiro os internos, depois os externos. Tenho a a intição que este seja o meio.</p><p style="text-align: justify;">Notas:</p><p style="text-align: justify;">1 . Leia <a href="https://novosescritos.blogspot.com/2023/03/verborragia-meias.html" target="_blank">Meias - 1 </a></p><p style="text-align: justify;">2 . Leia <a href="https://novosescritos.blogspot.com/2023/04/verborragia-meias-2.html" target="_blank">Meias - 2</a> </p><p style="text-align: justify;">3. Leia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/2016/11/paradoxo-do-amigo-imaginario.html" target="_blank">Paradoxo do Amigo Imaginário </a></p><p style="text-align: justify;">Para entender o motivo da Verborragia <a href="https://outrosdialogos.blogspot.com/p/verborragia.html" target="_blank">clique aqui (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz!</a>)</p>Marcelo Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11898920274339727756noreply@blogger.com0