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sábado, 15 de outubro de 2011

Ensaio – O Fim do Tempo (2ª Parte)


Eu sempre gostei de plantas e além de cultivá-las, cultivava o hábito de admirá-las. Jamais desprezei qualquer uma delas, seja a mais bela orquídea, seja o mais simples musgo acumulado no canto de uma parede. Já investi longos períodos de tempo sentado, imóvel, apenas olhando para uma planta. As ranhuras do caule, os contornos dos galhos, a forma das folhas.

A porção de prazer que me vem deste período de imobilidade, admirando a quase imobilidade das plantas seria, percebo agora, uma forma de criar um pequeno momento atemporal. O prazer da atemporalidade reside na ausência, mesmo que ilusória, do risco de perda; Trazendo ao interior humano os conceitos de movimento e tempo previamente apresentados, quanto maior for a possibilidade de supressão do movimento maior será a chance de anular o risco da saudade. Deixar de se mover é deixar de perder aquilo que não se move com você, é um “manter-consigo”.
Cabe aqui um esclarecimento: Este texto não tem aplicabilidade política ou social, áreas estas nas quais o “mover-se”, em sentido de “ter atitude”, é indispensável. Não é uma formação profissional, portanto, não é aplicável em ambiente de trabalho. Socialmente o “mover-se” é estimulado, até mesmo exigido, pois somos parte de uma sociedade em eterno “fazer-se” e que para isso depende do movimento de suas partes, nós. A isto não faço qualquer crítica. Minha constatação de que talvez a alma humana tenha um desejo de eliminar o movimento não anula, de modo algum, o fato de que a existência humana, enquanto entidade física, depende do mesmo movimento. Portanto, que meu texto seja lido como um Ensaio Epistemológico, não como Manual de Vida Prática.
Voltemos então ao desejo de imobilidade; talvez seja possível que o insaciável desejo humano de tudo possuir, o qual observamos diariamente em nossas vidas, seja apenas um reflexo extremo da necessidade natural da alma de tornar tudo presente. Tornar tudo fisicamente presente fica diretamente vinculado à necessidade de que isto não se torne passado. Tudo o que passa, no Tempo, se afasta, no Espaço. Quando estamos com uma pessoa querida ou em um ambiente agradável desejamos eternizar esta presença ou estadia. Por outro lado, estar ali é, naturalmente, não estar em outro lugar, portanto, ainda é ausência de alguma outra pessoa querida ou de algum outro ambiente igualmente agradável. O movimento perpetuo de companhias, situações e lugares, na busca de satisfazer a necessidade natural que temos destes é a causa direta da insatisfação pela ausência dos demais. Nosso eterno movimento (o eterno esforço por tornar presente) desdobra-se em um eterno “Tornar Passado”. 

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