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Há anos ocorrem ricos diálogos sobre Civilização Humana e Filosofia, Teologia, História e Cultura em geral! Tudo que possa interessar a alguém que espera da vida um pouco mais que outra temporada de BBB! Após diversos convites a tornar públicos estes diálogos, está feito! Quem busca uma boa fonte de leitura, por favor, NÃO VISITE este site. O que esperamos, de fato, é a franca participação de todos, pois não se chama “Outros Discursos”.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

O outro como espelho ¹ – Conclusão


Aqui estamos novamente. Chega o momento de retomar a discussão, seguindo para o ponto que me parecia chave: O Ciúme. Programas de televisão e mídias sociais apresentam profunda discussão sobre o assunto. Todo mundo tem opinião sobre o Ciúmes, alguns defendendo-o, outros criticando-o. Minha visão sobre o Ciúme é um pouco mais profunda, nem por isto mais verdadeira. Trata-se tão somente da MINHA opinião. Ela se vincula diretamente ao título da presente reflexão: O Outro como Espelho.

Cada indivíduo humano corresponde a um universo inteiro de sentimentos, desejos, intenções, temores, conhecimentos, experiências, etc. Tudo isto torna cada pessoa incomensuravelmente vasta e não menos impenetrável. “Conheço fulano como a palma da minha mão”. Mentira! Nem mesmo ele se conhece tão profundamente, embora seja elementar que ele se conheça em níveis muito mais profundos que este nível superficial, o qual você mal conseguiu espiar, mesmo em um relacionamento de décadas. É neste momento que caímos em uma armadilha de nossas estruturas cognitivas, nossa mente adora preencher lacunas. Cada pedacinho “obscuro” do outro é preenchido com algum outro tipo de informação, construindo um “outro” o qual nem sempre coincide exatamente com o “outro” real. Não estou falando de máscaras. O “outro” não precisa fingir ser outra pessoa. Ele não simula! ² É você quem insere nele diversas características idealizadas e, com o tempo, vai confirmando ou alterando esta concepção que havia previamente criado. Esta é uma operação natural.
O Ciúme, parece-me, constrói-se à partir desta operação, seguindo duas vertentes possíveis:
A)    Sendo você uma pessoa extremamente insegura (insegurança esta que pode ter-se engendrado à partir de frustrações e decepções passadas, ou por diversos outros meios), guarda em sua mente uma “caixa” cheia de possíveis “desvios de caráter” ou de “comportamento” que uma pessoa qualquer possa apresentar. Ao iniciar um novo relacionamento, momento exato da operação de “preencher lacunas”, busca justamente nesta caixa estas características e as insere naquela pessoa, como forma de se resguardar de novas frustrações. Desta vertente todo mundo fala. Seria redundância de minha parte insistir neste assunto.
B)    A segunda vertente é a que me parece mais comum, embora seja justamente aquela que a maioria dos ciumentos de carteirinha negaria contundentemente. Qual a única pessoa, em todo o Universo, que você tem reais condições de conhecer profundamente? Você! O único ser humano para o qual você sabe realmente o que pensa, o que deseja, o que seria capaz de fazer, o que não faria de forma alguma, é você mesmo. Você é o único modelo concreto de Ser Humano ao qual tem acesso. Parece-me, então, que ao iniciar um novo relacionamento (ao conhecer uma nova pessoa), você preenche as lacunas criadas por sua ignorância acerca dela com características retiradas do seu modelo, características SUAS. Disto deriva que se você tem a mínima inclinação à traição, imaginará o outro como propenso a este comportamento, assim como sendo você uma pessoa de valores mais consistentes, tenderá a ver o outro como alguém confiável.

Concentrando-nos na segunda hipótese, observe que o ato de “inserir no outro características suas” ou, para não ser tão contundente, “esperar do outro comportamentos análogos aos seus” é realizado no início de qualquer tipo de relacionamento, não sendo exclusividade dos “romances”. Torna-se mais evidente nos relacionamentos amorosos em função de ser este um tipo peculiar de aproximação humana, no qual as expectativas são mais profundas e eventuais decepções serão bem mais dolorosas. Você cobra mais do namorado ou cônjuge do que cobraria do amigo ou do colega de trabalho; espera mais daquele que destes, por isto mesmo, insere mais características. Mantendo ainda a proposta da segunda hipótese, você espera encontrar neste “outro” mais de você do que encontraria em qualquer outra pessoa, assim, teme mais frente a este espelho que aos demais!

Notas:
¹ Texto escrito ao som de Foo Fighters - Everlong.
² Ok, ok, pode até simular, mas aqui quero me concentrar no “outro” que você mesmo constrói, independente do que há de verdadeiro ou falso nas características que ele apresentou.

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