Aqui estamos novamente. Chega o momento
de retomar a discussão, seguindo para o ponto que me parecia chave: O Ciúme. Programas de televisão e mídias
sociais apresentam profunda discussão sobre o assunto. Todo mundo tem opinião
sobre o Ciúmes, alguns defendendo-o, outros criticando-o. Minha visão sobre o Ciúme é um pouco mais profunda, nem por
isto mais verdadeira. Trata-se tão somente da MINHA opinião. Ela se vincula
diretamente ao título da presente reflexão: O Outro como Espelho.
Cada indivíduo humano corresponde a um
universo inteiro de sentimentos, desejos, intenções, temores, conhecimentos,
experiências, etc. Tudo isto torna cada pessoa incomensuravelmente vasta e não
menos impenetrável. “Conheço fulano como a palma da minha mão”. Mentira! Nem
mesmo ele se conhece tão profundamente, embora seja elementar que ele se
conheça em níveis muito mais profundos que este nível superficial, o qual você
mal conseguiu espiar, mesmo em um relacionamento de décadas. É neste momento
que caímos em uma armadilha de nossas estruturas cognitivas, nossa mente adora
preencher lacunas. Cada pedacinho “obscuro” do outro é preenchido com algum
outro tipo de informação, construindo um “outro” o qual nem sempre coincide
exatamente com o “outro” real. Não estou falando de máscaras. O “outro” não
precisa fingir ser outra pessoa. Ele não simula! ² É você quem insere nele
diversas características idealizadas e, com o tempo, vai confirmando ou
alterando esta concepção que havia previamente criado. Esta é uma operação
natural.
O Ciúme,
parece-me, constrói-se à partir desta operação, seguindo duas vertentes
possíveis:
A)
Sendo
você uma pessoa extremamente insegura (insegurança esta que pode ter-se
engendrado à partir de frustrações e decepções passadas, ou por diversos outros
meios), guarda em sua mente uma “caixa” cheia de possíveis “desvios de caráter”
ou de “comportamento” que uma pessoa qualquer possa apresentar. Ao iniciar um
novo relacionamento, momento exato da operação de “preencher lacunas”, busca
justamente nesta caixa estas características e as insere naquela pessoa, como
forma de se resguardar de novas frustrações. Desta vertente todo mundo fala.
Seria redundância de minha parte insistir neste assunto.
B)
A
segunda vertente é a que me parece mais comum, embora seja justamente aquela
que a maioria dos ciumentos de carteirinha negaria contundentemente. Qual a
única pessoa, em todo o Universo, que você tem reais condições de conhecer
profundamente? Você! O único ser humano para o qual você sabe realmente o que
pensa, o que deseja, o que seria capaz de fazer, o que não faria de forma
alguma, é você mesmo. Você é o único modelo concreto de Ser Humano ao qual tem
acesso. Parece-me, então, que ao iniciar um novo relacionamento (ao conhecer
uma nova pessoa), você preenche as lacunas criadas por sua ignorância acerca
dela com características retiradas do seu modelo, características SUAS. Disto
deriva que se você tem a mínima inclinação à traição, imaginará o outro como
propenso a este comportamento, assim como sendo você uma pessoa de valores mais
consistentes, tenderá a ver o outro como alguém confiável.
Concentrando-nos na segunda hipótese,
observe que o ato de “inserir no outro características suas” ou, para não ser
tão contundente, “esperar do outro comportamentos análogos aos seus” é
realizado no início de qualquer tipo de relacionamento, não sendo exclusividade
dos “romances”. Torna-se mais evidente nos relacionamentos amorosos em função
de ser este um tipo peculiar de aproximação humana, no qual as expectativas são
mais profundas e eventuais decepções serão bem mais dolorosas. Você cobra mais
do namorado ou cônjuge do que cobraria do amigo ou do colega de trabalho;
espera mais daquele que destes, por isto mesmo, insere mais características.
Mantendo ainda a proposta da segunda hipótese, você espera encontrar neste “outro”
mais de você do que encontraria em qualquer outra pessoa, assim, teme mais
frente a este espelho que aos demais!
Notas:
¹
Texto escrito ao som de Foo Fighters - Everlong.
²
Ok, ok, pode até simular, mas aqui quero me concentrar no “outro” que você
mesmo constrói, independente do que há de verdadeiro ou falso nas
características que ele apresentou.
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