Estava pensando
nisto esta manhã – na fragilidade, impermanência e brevidade da vida - do ponto
de vista de um buda.
Quando olhamos do
nosso ponto de vista tão limitado a vida é demasiadamente curta e a maior parte
deste "quase nada" é repleto de sofrimentos.
Quando olhamos do
ponto de vista da vida eterna de um buda, a vida é um mergulho e a morte é o
retorno à superfície para tomar fôlego. Pulmões cheios, novo mergulho.
Há dor, há
tristezas, perdas, derrotas, mas eu me imaginei morrendo e acordando como buda.
Reunido em um único ponto na totalidade de todos os "eu" que eu já
fui. Marcelo + Manoel + Carla + Nikola + Aramastefh + sei lá quantos outros.
Impossível contar, pois sempre tenho sido alguém.
Aqui vivo a
tristeza de não lembrar dos outros e o medo aterrorizante de perder até este
único. Então me imagino (de novo) morrendo e acordando como buda. O que mais eu
poderia fazer a não ser gargalhar quando lembro desta tristeza, desta saudade,
deste medo? Tola infantilidade. Egoísmo vazio. Rio com todas as minhas vozes
reunidas. Depois mergulho de novo. Outra vida, porque tenho saudade de conhecer
alguém que ainda não conheço, e como poderia reviver isto em um nível de
existência no qual conheço todos? Saudade de ser "pai de primeira
viagem", saudade do primeiro emprego, primeira demissão, primeiros amassos
no ponto de ônibus, primeiro joelho ralado, primeiros passos, primeiras letras,
primeiras broncas; saudade de decidir se acredito ou não em disco voador,
saudade de escrever um livro, saudade de ler este mesmo livro ansioso por
descobrir o final, saudade de ter o amor correspondido, saudade da dor de ser
rejeitado, etc.
Estava pensando
nisto esta manhã, vendo o azul do céu e a luz do sol e linhas brancas de nuvens
cirrocumulus cuidadosamente organizadas pelo vento. Quero ver isto de novo.
Amanhã, semana que vem. Neste e em outros séculos. Neste e em outros mundos.
Mundos com céus verdes, sóis vermelhos e oceanos sulfúricos. Um mundo adjacente
à nova que o kepler filmou explodindo. Terror frente ao fim inevitável e, ainda
assim, que coisa magnífica.
E o Carma? Bem
vindo carma! Abençoado carma! O carma não é uma ameaça. O carma é a garantia. É
a certeza e o fim do medo. Pelas relações cármicas terei novas chances de viver
aventuras inéditas com meu filho, minha esposa, minha irmã, meus amigos. Bem
vindo carma.
Hoje pensei na vida
do ponto de vista da Vida Eterna do Buda e, pasme, eu o sou. Não por arrogância
ou prepotência, tampouco por revelação divina ou alienígena. O sou por simples
inerência, pois é implícito do "ser budista" ser um buda, se ainda
não de fato, sempre de direito.
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