Para entender o motivo da Verborragia clique aqui (clique também para colaborar. Não custa nada). A palavra de hoje é "Perdão".
O ambiente em que vivemos é predominantemente cristão, sejamos ou não praticantes ativos de alguma igreja. Neste cenário, tão saturado de toda sorte de pregações, homilias e discursos, falar de um conceito tão específico -quase propriedade deles- é um desafio. Perdoem-me.
Seja pela disposição cristã inserida em nossa cultura, seja pela simplicidade das máximas do senso comum (e assim que escrevi notei que era quase uma redundância), nota-se um convite geral e insistente pelo perdão, acompanhando de uma inclinação crônica de não praticá-lo.
Toda sorte de motivos é dada; perdoar é/seria importante porque:
* é o melhor a fazer e agrada a Deus (qualquer deus; todos os deuses);
*Te ajuda a eliminar sua própria toxicidade (aquele papo do "tomar o veneno esperando que o outro morra");
*Evita desdobramentos psicossomáticos negativos;
*Te ajuda a reconhecer teus próprios desvios e a aprimorar-se; etc.
Como eu disse, conceito saturado. Em que eu poderia colaborar? Nenhuma via acima (e tantas outras omitidas ou esquecidas) é incorreta. Todas potencialmente dignas. E agora? (Pode te interessar ler Meu Olhar sobre o Evangelho - 2, de 2013)
Eu poderia escapar falando de amor e, sobretudo, incondicionalidade, mas acho que isso também está gasto e você já sabe, intuitivamente, o que seria melhor fazer.
Quero seguir, portanto, outra via; Menos digna, menos comum. Tenho certeza que já escrevi sobre ela décadas atrás, mas não sei onde guardei. Retornou-me enquanto eu escrevia "E agora?"
Perdão vicia. É um mal que o cristianismo, involuntariamente, nos imputou. Leia com atenção: nem o cristianismo, nem o perdão, são males em si; o mal é o vício. Ora! Acabei de dizer que temos resistência crônica ao ato de perdoar, então o que é o vício? Em quê? Somos viciados em ser perdoados. O Amor Incondicional que é Deus (e, vez ou outra, um humano tolo) perdoa tudo. A gente se arrepende, muitas vezes de coração, pede perdão, mas não interrompe pra valer o processo de ser perdoado.
Consegue entender?
A fronteira é sútil!
Não estou dizendo que, por malícia, repetimos os erros justamente por contar com o perdão (ok! às vezes sim!), mas nos apegamos ao perdão como um tipo de muleta, de justificativa, e com isso relaxamos em nosso empenho pelo aprimoramento. Isso serve para qualquer perdão, o das divindades, o das pessoas, o do bichinho cuja água você esqueceu de trocar, etc.
O Perdão é uma coisa fabulosa, profunda, magnífica. Quem é capaz de praticá-lo com sinceridade (ou seja, não apenas na fala, enquanto o coração se afoga em mágoas) se aproxima da compreensão sobre como as relações humanas devem operar.
O Amor Incondicional (substrato do perdão) é uma joia rara, quase mítica, mas possível; se você conseguir abraça-lo não haverá mais distinção entre você e os semideuses ou anjos de qualquer mitologia.
Mas há um passo a mais que todos nós podemos dar, está aí na sua frente (como qualquer passo estaria), me insistimos em tombar para o lado:
Assumir a responsabilidade concreta e profunda pelos nossos atos e trabalhar diligentemente para não precisar mais do perdão (atenção! este não é um texto religioso. Estou falando de comportamento e relacionamentos, não de pecados), tanto quanto possível, um dia por vez!
A maior e mais profunda demonstração possível de amor e gratidão pelo perdão recebido, de quem quer que seja, é nunca mais precisar pedi-lo!
Isso é divino!
Novamente me surpreendi com seu ponto de vista em relação a algo tão "comum" que é pedir perdão, que sim, vicia!
ResponderExcluirE quanto mais nos apegamos a esta possibilidade maior o risco do arrependimento não ser sincero.
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