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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Habemus Papam!

Primeiro, quero mandar meu apoio ao Papa Bento XVI…” (@PhdCelo on Twitter – 14/02/2013)

Já deve ter ficado suficientemente claro aos visitantes deste espaço que eu não sou cristão ¹ , não obstante, quando torno público meu apoio a Joseph Alois Ratzinger, o Papa Bento XVI, não é com ironia que me expresso.

Deve ficar igualmente claro que ainda que eu não compartilhe das posições defendidas publicamente por este senhor e, sobretudo, pela instituição que ele representa, sou capaz de compreender os motivos destes posicionamentos. Vejamos, por exemplo, a questão dos preservativos. Qualquer manifestação pública contra a desaprovação da igreja ao uso deste material é extremamente leviana. A sociedade se choca com o “Somos contra o uso da camisinha” e logo se põe a censurar a Igreja, esquecendo-se de ler o contexto. A igreja que coloca esta proibição é a mesma que convida à Castidade, ou seja, que o ato sexual não é pecado, mas que jamais deverá ocorrer antes ou fora do casamento. O indivíduo que respeitar o “não uso camisinha” e ignora seu dever para com a Castidade é, no mínimo, um tolo. Caso a castidade fosse efetivamente respeitada ² , como uma doença venérea poderia entrar naquela família? Sendo a questão das doenças venéreas o maior estandarte da propaganda pró-preservativo, de que valeria seu uso? Alguém poderia apelar para a questão do controle de natalidade. Legal, mas ainda no interior da Fé cristã, sobretudo da Fé Católica, o mesmo indivíduo seria levado à pratica da temperança, consumido pelas questões de sua própria emancipação espiritual, pouco tempo ou interesse restaria nos apetites da “carne”. Se tal sujeito foi cristão na plenitude da prática religiosa, para quê camisinha? E se não o for, que a utilize, gozando de sua liberdade, e que deixe de anunciar-se “Cristão” ao responder as pesquisas sociais.
Outro exemplo poderia ser a questão da homossexualidade. O homossexual, no interior da Fé cristã, não deve ser expurgado, mas como o encontro sexual entre indivíduos do mesmo sexo é abominado pelas escrituras e pela tradição, caso este indivíduo abrace honestamente a Fé Católica, que esteja igualmente preparado para abraçar o celibato. A igreja estará sempre com as portas abertas para ele, anda que condene seu comportamento. Me diga, há instituição mais tolerante com o indivíduo homossexual que a Igreja Católica? Algum homem já teve seu acesso negado à ordenação sacerdotal por apresentar os “trejeitos” tão hostilizados em outros grupos? ³
Para mim, ser Papa não é ser Líder da Igreja, isto não é possível. A Igreja é viva (não é um elogio), com espírito, vontade e direção próprias. Ser Papa é ser o Rosto deste espírito, não o próprio. Católicos adoram falar da "Infalibilidade" (eu sei. eu falava muito disto quando era cristão), mas duvido que continuariam a defender tal imagem caso surgisse um Papa com ideias de encontro às defendidas pela Tradição. Assistindo ao vídeo da renuncia vejo um homem cansado; ferido pelos golpes destinados à Tradição; o maior crime deste indivíduo seria, no máximo, ter aceito a Tradição. Mas o que é legitimamente novo? O que não é nossa vida (a maior parte dela) se não o transitar entre tradições? O Papa Bento XVI, enquanto defendia os posicionamentos da Igreja estava cumprindo seu papel, postura louvável, independente de qualquer discordância que possamos ter frente aos posicionamentos em si. Defendo o Papa, não a Tradição, mas fico me perguntando: Sendo a Igreja como é, tão dura e fechada às mudanças, tão firmemente abraçada a determinados valores morais, muitas vezes censurados por quem está fora, a sociedade humana definha em comportamentos cada vez mais distantes da profunda dignidade de nossa espécie, como seria o mundo se estas lideranças emitissem um “’Tá’ liberado, galera!”? Reflita um pouco sobre isto antes de emitir um “Já vai tarde!” em alguma conversa sobre a renúncia deste Papa. Muita coisa boa da sociedade humana já foi, prematuramente, enquanto estas pessoas lutavam bravamente para sustentá-los. Mais uma vez quero dizer, não estou fazendo apologia à Igreja, à Tradição, ao cristianismo. Mas ainda que seja possível apontar diversos problemas nestes (sei que uma lista imensa de bons argumentos deve ter passado pela mente de muitas pessoas enquanto liam este texto), o quanto de nossa Humanidade 4 pode ter sido perdida em nome do Progresso?
De qualquer modo, este evento, a Renuncia do Papa Bento XVI, mostra que algo está acontecendo com a Tradição, assim, encerro reproduzindo a seguinte questão:

(…) #DúvidaExistencialDoDia: O mais ferrenho defensor da Tradição renuncia à sua liderança. O que isto significa?” (@PhdCelo on Twitter – 14/02/2013)

Notas:
¹ Indico a leitura de Um pouco mais de Fé! e Perdoemo-nos!, entre outros.
² Não sou um puritano. Não estou fazendo apologia à Castidade. Apenas estou lendo a posição da igreja e do católico em seu interior.
4 Indico também a leitura de Ser” Humano! Mesmo? Que tal “Tornar-se”?

6 comentários:

  1. Você ignora o "Vaticanleaks" e o tal mordomo do papa. São dados essenciais para analisar essa renúncia.

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    1. Mestre Newton, embora a pessoa do próprio Papa conecte diretamente os dois eventos, não sou capaz de vislumbrar, neste momento, um relação causal entre ambos!
      Desculpe, sou demasiadamente lento! Ficaria grato caso o senhor complementasse esta linha de raciocínio!

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  2. Muito bom o texto. Gostei muito da pergunta final. Pensei em duas vertentes de resposta:
    1ª Ele não aguentou o tradicionalismo da igreja;
    2ª A igreja não aguentou seu tradicionalismo.
    Talvez nossa mente se clareará observando os primeiros anos do novo papado.

    Sobre as questões que envolvem o tradicionalismo cristão, não creio que uma pessoa deva fazer ressalvas quanto a conduta moral da igreja. Ou ela se entrega por inteira ou rompe com a igreja. Muita gente se diz católica (ou mesmo cristã) para jogar, à priori, panos quentes a uma possível discussão que possa nascer com seus semelhantes.

    De novo: como você coloca os numerozinhos sobrescritos no texto?

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    1. Pois é, Sr Lucas!
      Só nos resta aguardar para, com o tempo, compreender os motivos e consequências desta decisão. Gostei particularmente do "não creio que uma pessoa deva fazer ressalvas quanto a conduta moral da igreja!"

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  3. Gostei de seu posicionamento de apoio ao Papa, ainda que eu me distancie de certas questões mundanas atuais por julgar demasiadas discutidas, mais em devaneios que em reflexões, pelo fato de separar muito bem as questões analisadas aqui (igreja, papado e cristianismo) e não sair "sinonimando" esses termos.
    Quanto ao possível conflito que havia entre "Sua Santidade" e a igreja católica, gostaria de compartilhar que tenho amizade com um senhor franciscano e um senhor palestrante adventista, ambos leitores assíduos da Bíblia, que me ofereceram em várias oportunidades seus pontos de vista resumidos na frase "Este Papa não é abençoado pelo Espírito Santo. Ele é a figura da Besta, conforme diz o Apocalipse".
    O rompimento da tradição é encarado, ainda, como um ato herege, até mesmo para "Sua Santidade"... A humanidade então, encontra-se no "fogo e enxofre" de acordo com os (adoro esse termo) "religiosos".

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    1. Acerca do "fogo e enxofre", descrente que sou na presença de uma divindade e, consequentemente, na possibilidade da condenação, assisto decepcionado nossa espécie construindo, com sangue e suor, as estruturas do Inferno ao qual se condena autonomamente. Não obstante, quando meu último vestígio de esperança está prestes a desaparecer, vislumbro um indivíduo ou atitude que, com simplicidade, demonstra que ainda existe algo de humano. Como pode, afinal, existir tanta resistência ao rompimento com a Tradição? Quem menos tradicionalista quanto Jesus? Se não o fosse, teria sido apenas "mais um judeu", e esta conversa não estaria ocorrendo.
      Quanto à questão do Papa, fico pensando na afirmação "não é abençoado pelo Espírito Santo…". Triste saber que "espírito santo" significa, na verdade, "ser conforme aquilo que se espera dele", nada mais. Quando eu era cristão, participava de um "Ministério de Música" (Banda para animar a missa! rs). Quando no início, com pouca experiência musical, nossa "inabilidade técnica" era compreendida pelos que nos ouviam como "falta de unção". Interessante assistir o tempo. Amadurecemos musicalmente, nos especializamos naquilo e, embora nenhuma mudança profunda tivesse ocorrido em nossa existência espiritual (nossas "práticas religiosas"), passamos a ser convidados para tocar até fora de nossa paróquia. Curioso, não?

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