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Há anos ocorrem ricos diálogos sobre Civilização Humana e Filosofia, Teologia, História e Cultura em geral! Tudo que possa interessar a alguém que espera da vida um pouco mais que outra temporada de BBB! Após diversos convites a tornar públicos estes diálogos, está feito! Quem busca uma boa fonte de leitura, por favor, NÃO VISITE este site. O que esperamos, de fato, é a franca participação de todos, pois não se chama “Outros Discursos”.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Finalmente, a Igualdade Social

Há um rapaz de grande sagacidade ¹, do qual não cheguei a participar diretamente da formação, mas com o qual tive o privilégio de trabalhar por alguns meses como professor e aluno em 2012. Há pouco ele me enviou, por uma mídia social, uma imagem com os seguintes dizeres:

Se a desigualdade social diminuiu, segundo o PT, por que houve um aumento na criminalidade?
Inspirado pela provocação, respondi nos seguintes termos:
O centro de todo o problema (não a totalidade dele, observe) repousa nos critérios pelos quais "igualdade social" é medida. Vamos, por um instante, aceitar a hipótese de que realmente houve diminuição da desigualdade. Os indicadores aplicados pela situação, assim como os belíssimos gráficos apresentados pela fração da mídia que a apóia, são voltados, via de regra, aos padrões de consumo, sendo secundária a qualidade de vida e a dignidade individual. O aumento da oferta de "futilidades" domésticas aliado à manobras econômicas que visam facilitar o acesso imediato a estas - ainda que o sujeito morra sem quitar suas dívidas - apresente belíssimas curvas as quais fazem parecer que o poder aquisitivo médio da população aumentou. Quando o governo banaliza a formação das pessoas enquanto valores humanos e se concentra apenas no fluir dos recursos econômicos, os padrões éticos da massa tem desenvolvimento inversamente proporcional ao da suposta igualdade social. A frustração pelo que não se pode ter (justamente aquilo que se ensina que se deve ter para ser alguém) extrapola todos os limites de sociabilidade reduzindo o sujeito ao animal capaz de qualquer ação para satisfazer suas necessidades básicas (as reais e as inventadas).
A propaganda diz que temos, em São Paulo, mais de 200 km de faixas exclusivas. Meu amigo, para criar este número tiveram a capacidade de colocar corredor em trechos da radial leste nos quais só havia duas faixas (portanto, sobrou apenas uma faixa para veículos) e onde quase não trafegam ônibus. É lindo ver, pela manhã, os carros parados no engarrafamento e o corredor deserto logo ao lado. Frustração para o cara que suou para ter um carro popular. Frustração para o cara que suou para ter um carro de luxo. Frustração para o cara que nem suou tanto assim e tem um carro de luxo. Frustração para o sujeito que vai enfrentar uma hora e meia em transportes públicos até chegar no trabalho e recebe uma miséria. Cada indivíduo é bombardeado pela indignação com o descaso, a frustração pelo consumismo esfregado em sua cara sem ter o poder de adquirir aquilo que deseja, na base da pirâmide a agonia por não ter nem o que é elementar. Isto só poderia explodir em violência, criminalidade, desrespeito à dignidade do próximo, desprezo por qualquer ideia de propriedade, etc.
Atingimos a Igualdade Social? Só posso concluir que sim! Toda a sociedade está igualmente desesperada, e quando não se tem esperanças, não há o que perder. Vale tudo!

Notas:

¹ Optei por não incluir o nome para que ele não se sinta exposto

4 comentários:

  1. Confirmo! Kkk
    Não consigo gerar controvérsia, concordo integralmente.
    Saudades desses diálogos...

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  2. Marcelo, eu concordo que há uma preocupação em se ter um número redondo (200 quilômetros de corredores, ao invés de 197) e que para isso talvez se erre aqui ou acolá nas decisões de onde os ter. Mas o fato de existirem esses novos corredores não seria um bom sinal?

    Não seria bom do ponto de vista ambiental, já que um ônibus com 100 pessoas polui menos do que 100 pessoas em 50 carros? Não seria bom para romper um pouquinho com essa ideia de consumismo já que talvez para alguns lugares seja mais rápido ir ao trabalho de ônibus do que de carro? Não seria bom do ponto de vista estrutural da cidade, já que alguma hora não teremos espaços onde alargar mais as nossas vias? Não seria bom do ponto de vista educacional, pois se o ônibus vai mais rápido do que o carro, então tudo aquilo que a criança vê na escola, ela passa a ver também em seu dia-a-dia?

    Talvez o caso da radial seja o erro para ter o número arredondado, mas será que ele é regra?

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    1. Boa Noite Mestre Lucas!
      Minha vida profissional começou há, pelo menos, 15 anos. Há seis, adquiri meu primeiro veículo particular. Em, aproximadamente, 1560 dias trabalhados (dias úteis do ano vezes seis. Não tenho certeza se calculei corretamente) eu fui trabalhar de carro exatas quatro vezes. Considerando esta premissa, por favor, não reduza esta reflexão a uma crítica aos corretores de ônibus, tampouco uma apologia ao uso dos veículos particulares. Procurarei esclarecer meu ponto de vista através de pequenas respostas dadas da mesma ordem dos seus questionamentos:
      * A instalação DESTES corredores não é bom sinal, assim como a construção DESTAS novas estações de metrô, no ritmo e localização que isto está ocorrendo, não é bom sinal. Há um problema sério nas políticas públicas e já passou da hora de nos deixarmos iludir por estas medidas para eleitor ver.
      * O benefício ambiental é ilusório, já que os corredores, na forma que foram implantados, de modo algum seduzem o usuário de carro a abandonar esta prática. Usa os corredores quem já usava as mesmas linhas antes deles.
      * Mesmo antes dos corredores já era mais rápido ir de ônibus e metrô para muitos pólos de trabalho da cidade, ainda assim, este argumento nunca seduziu o usuário de veículo particular. Ele abre mão do tempo em função do conforto. Acorda mais cedo para isto. Quem pode até vai de taxi (que pode entrar no corredor, diga-se) e ainda diz que isto otimiza o tempo (ele vai trabalhando com seu laptop de última geração no conforto do taxi)
      * Seria, sem dúvida. Como disse, de modo algum me oponho aos corredores. Oponho-me à política pública aí empregada. O planejamento e a implantação passaram longe de qualquer idéia honesta de favorecer a população.
      * Não entendi o penúltimo questionamento.
      * Conclusão: A gestão torpe à qual estamos submetidos é muito mais grave que o mero arredondamento de 197 para 200 km. 3 km são oportunidade de uma onda incalculável de superfaturamento. Se preferir que eu seja menos agressivo, deixando de sugerir a possibilidade de corrupção, pensemos então que, mesmo sem desvios, estes 3 km inúteis custaram dinheiro público que poderia ser revertido para melhores fins. Seguindo a mesma linha de raciocínio, por que pararmos no arredondamento de 197 para 200? Será que não houve um momento no qual tínhamos 150 Km e precisávamos expandir para 197 km? Será que estes 47 km foram introduzidos mediante estudo sério de onde eram mais necessários e úteis ou, assim como no caso da Radial, foram despejados onde era mais fácil tanto para instalar quanto para “publicar”? Por favor, lembre-se das mudanças ocorridas nos itinerários de diversas linhas logo após a inauguração dos últimos trechos de corredor. Estas alterações atendiam as comunidades locais? Então qual o motivo de tantas manifestações logo em seguida? Tantos anos de trabalho no universo corporativo me ensinaram um padrão que é muito nítido na gestão pública: “os fins justificam os meios” foi convertido na insana prática na qual “as metas (nos gráficos no final do período) valem mais que os resultados (concretos)” (Por favor, observe que nisto exponho algo que observei, não que apoio)

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