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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Gotas no Box

       As condições financeiras da minha infância não me possibilitaram conhecer esta avançadíssima tecnologia chamada box (de banheiro). Usávamos aquelas cortinas plásticas vendidas nos mercados. Ainda assim, já naquela época tive algumas reflexões semelhantes à que tecerei abaixo. Publico-a assim tardiamente em função de só agora, observando o box, tê-la rememorado. (Daí também o título do texto).

       A água, em função de um fenômeno chamado tensão superficial, pode apresentar comportamentos bem peculiares. Um exemplo são as gotas, aglomerações de determinado volume de água o qual, fechado em si mesmo, manifesta a tensão superficial como um verdadeiro casulo (qualquer um que assista desenhos animados ou tenho brincado com formigas no quintal sabe do que estou falando). Outra peculiaridade é a aderência que, penso, deriva do mesmo fenômeno. Gotas d'água em superfícies planas fixam-se a estas, desafiando até mesmo a gravidade. Não sei se é a tensão superficial que faz água grudar em água ou se no "nível existencial" da gota a gravidade da superfície supera a gravidade da Terra assim como em nosso nível a gravidade da Terra supera a do Sol.

       O fato é que este universo de peculiares e "níveis existenciais" nos proporciona experiências interessantíssimas. No box, a "vida da gota" possibilita uma boa analogia à nossa vida. Pensemos no box como o tempo (como bergsoniano que sou, prefiro substituir "tempo" por "duração"). O momento em que a gota atinge o alto ou meio do box é o nascimento. A base do box, a morte. Assim como no mundo há unidades materiais inanimadas - os objetivos - e outras não só animadas, mas dotadas de imprevisibilidade capaz de emancipa-las da simples causalidade - os seres vivos -, no box há gotas imóveis e móveis. É no interessante observar que assim como nós, as gotas móveis emprestam das imóveis a matéria necessária para manter o movimento. Assim como nós, enquanto seguem seu caminho deixam um rastro feito de muito mais que excrementos. No caminho gotas móveis não encontram apenas gotas imóveis, podem unir-se a outras igualmente móveis. Estes eventos são particularmente semelhantes à vida humana. Os encontros com gotas móveis podem gerar unidades que seguirão indistintas até o fim do percurso. São possíveis também separações, criando novas gotas, cada uma irreversivelmente impregnada de algo da outra. Também acontece, nestes encontros, de uma gota móvel tomar da outra o que lhe era necessário para seguir adiante, abandonando aquela na imobilidade à qual foi reduzida. Queira a "entidade metafísica à qual os senhores prestam culto" que nosso fim seja uma bela reunião na base do box ou, além, no oceano. Haverá ralos, centros de tratamento, caixas d'água, quintais, chuvas, novos boxes, em ciclos quase intermináveis, indecifráveis, memoráveis. Ou não! Pode mesmo terminar tudo no ralo. Não importa! Importa este box, este percurso, as gotas aqui encontradas e ali deixada. Quando possível, observe as gotas no box.


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