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terça-feira, 10 de junho de 2014

O Espírito da Empresa

Sempre tive uma teoria sobre o "Espírito da Empresa", mas nunca parei para escrevê-la. Neste final de semana almocei no Sushi Mart (restaurante em Santana que frequentamos há sete anos e, em nossa opinião, é o melhor de São Paulo: #Recomendo) e a qualidade do atendimento trouxe a teoria de volta à minha mente.

Antes da análise de exemplos práticos cabe apresentar a teoria. Acredito existir um espírito subjacente a cada empresa, que trespassa, absorve e define cada área e indivíduo da mesma. Algo nos moldes do Leviatã de Hobbes, mas tão profundo que beira o metafísico. Um indivíduo recém contratado tem três caminhos:
1.                  Ele já possuía um espírito compatível com a empresa. Ele permanece e prospera.
2.                  Ele não possui tal compatibilidade, mas já apresentava inclinações que facilitaram a criação de uma: ele se adapta e prospera
3.                  Ele possui incompatibilidade inconciliável: ele sai, muitas vezes sem sequer a necessidade de ser demitido.
Este espírito, parece-me, nasce do fundador ou presidente da empresa e escorre por todos os níveis. Ocorrem desvios, é claro, mas o conceito básico permanece. Para ilustrar passemos aos exemplos práticos. Como o Sushi Mart representa o ápice de minha escala qualitativa pessoal o analisarei por último. Iniciemos o estudo pelo meu penúltimo emprego (cujo nome da empresa não direi, mas posso revelar que seu logotipo lembra bem um balde de fezes). A inclinação básica do espírito desta empresa é a do "lucro a todo custo". O sacrifício dos funcionários e dos clientes é irrelevante, desde que o fluxo de aquisição tanto de clientes quanto de funcionários mantenha o pêndulo financeiro tendendo ao lucro. Obviamente, conheci muita gente de bem, profundamente comprometida com o cliente e a ética (eu disse que há desvios), mas boa parte deles não está mais lá (eu disse que os desvios saem).
Antes deste trabalhei no já falecido Banco Real. Era destes grupos que dá orgulho em dizer que você faz parte. A preocupação com a sociedade e o meio ambiente escorria do presidente até a base. Separávamos o lixo para reciclagem no escritório e em casa. No refeitório havia fichas de congratulações para quem devolvesse o prato vazio (não desperdice alimentos. Não ponha no prato mais do que precisa). Para compartilhar a responsabilidade o banco fazia doações de alimentos para comunidades carentes, porém, o volume de doações era inversamente proporcional ao volume de pratos com restos entregues no refeitório (meu amigo, quem já trabalhou em um lugar assim?)
Antes do Real trabalhei no Unibanco (antes do Itaú). Era uma empresa técnica. Não senti o compromisso do Banco Real nem a ganância da outra empresa. O compromisso era com os processos. Áreas bem desenhadas, equipes bem treinadas, ação rápida sobre desvios (eu já disse que sempre há desvios né?), etc. Um lugar promissor.
No ápice de minha escala duas empresas completamente diferentes no ramo, mas irmãs no espírito, na qualidade. Primeiro quero retornar ao Sushi Mart: Visitamos a casa pela primeira vez em 2007, época na qual eles mantinham uma filial no Tatuapé. Cuidado no preparo dos pratos, atenção e cortesia foram marcantes. Na época eu levava marmita para o trabalho e nosso Vale Refeição era destinado a conhecer novos restaurantes. Depois de correr quase todos do Tatuapé, Carrão e Belém, e alguns de Santana e Itaquera a conclusão foi uma só - Não ir ao Sushi Mart é desperdício de tempo e dinheiro. Ratifico minha recomendação. Você não precisa citar meu nome para ter o melhor atendimento possível, incluindo visitas de um dos sócios para verificar se está tudo bem e para uma  conversa cordial. Na ausência deles os funcionários não deixam por menos (como eu disse, o espírito atravessa todos os níveis).
Para encerrar, meu último emprego (não falarei do atual por razões óbvias). O Colégio Alfa Ômega (Artur Alvim) não deveria nem ser enumerado como emprego. É uma casa. Não sei se lá eu trabalhei ou estudei, pois aprendi demais. Se tivesse poder de escolha estaria lá até hoje. Trabalharia de graça, se necessário. Mas há responsabilidades que transcendem minhas vontades pessoais. Lá o Espírito da Empresa é tão profundo que não se pode distinguir entre direção, funcionários e "clientes" (coloquei este termo no lugar de "alunos" apenas para manter a coerência interna da reflexão, mas com certeza os alunos sempre foram muito mais que simples clientes). Nunca antes eu vi tão profunda sinergia, tanto esforço conjunto por um ideal comum, a formação dos alunos com excelência. Cada professor que eu encontrava no café (preparado com muito carinho, diga-se) transbordava entusiasmo pelo ensino, amor por aqueles alunos. Cada aluno devolvia com esforço (uns mais e outros menos, é claro. São crianças) e reconhecimento. A direção abandonava completamente o conceito de chefia, estava a serviço dos discentes e docentes. Sei que lamentarei por toda a vida não ter meios de matricular meu filho ali. Quando o "Espírito da Empresa" se inclina à excelência, como é o caso do Alfa Ômega, os frutos não tardam. Sendo uma escola muito jovem, só formou dois "terceiros anos". Teve aprovados na Fuvest nos dois. Formandos do nono ano não param de ingressar em cursos técnicos públicos. Há desvios? Sim. Vi professores não tão excelentes assim. Saíram rapidamente. Vi alunos trazendo vícios de comportamento adquiridos em outras instituições; melhoraram (uns, infelizmente, saíram).

O "Espírito da Empresa" é uma manifestação mais complexa do espírito de amizade, já que as relações profissionais são bem mais frágeis e bem mais complicadas que as pessoais, mas o gérmen é o mesmo, seleção, manutenção e aprimoramento com base em valores e afinidades. Continuemos observando. Há algo para aprender com este espírito e muito para ensinar-lhe.

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