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Há anos ocorrem ricos diálogos sobre Civilização Humana e Filosofia, Teologia, História e Cultura em geral! Tudo que possa interessar a alguém que espera da vida um pouco mais que outra temporada de BBB! Após diversos convites a tornar públicos estes diálogos, está feito! Quem busca uma boa fonte de leitura, por favor, NÃO VISITE este site. O que esperamos, de fato, é a franca participação de todos, pois não se chama “Outros Discursos”.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Abandonei Sofia!

Semanas atrás sonhei que encontrava meu orientador da iniciação científica¹, em um café, e ele me perguntava (ou “acusava”, ou “denunciava”, ou “lamentava”. Quem pode saber?): “Por que você abandonou a Filosofia?”.

Acordei sem conseguir responder. Tenho a impressão de ter chorado antes de acordar, dada a incapacidade de responder, associada à incontornável verdade daquilo que a pergunta afirmava: Eu abandonei a Filosofia. Por semanas amarguei o peso daquela pergunta e o peso da presente existência, totalmente mergulhada em tudo que não é Sofia, pois Sofia não paga contas. O mundo é mergulhado em estupidez e eu, verme, sou amaldiçoado por ser capaz de perceber a estupidez, mas nada poder fazer a não ser alimentá-la e sobreviver das migalhas que caem de sua mesa.
A vida de um (pseudo)filósofo que não teve competência para a vida acadêmica é esta: trabalhos vazios, sendo remunerado para fazer aquilo em que não acredita para ajudar acionistas a ficar cada vez mais ricos enquanto migalhas em forma de salário caem em sua boca escancarada. Com o estímulo certo você até dá a patinha. “Por que você abandonou a Filosofia?”. É possível responder isto? É possível ter abandonado um lugar que você nunca visitou? Alguém com quem jamais esteve?
Neste final de semana ouvi Lenine cantando “No dia em que ‘ocê’ foi embora eu fiquei, sentindo saudade do que não foi, lembrando até do que eu não vivi, pensando em nós dois.”. Outros pensariam em relacionamentos passados. Eu pensei em Sofia. Saudade das aulas que não dei, lembrando das pesquisas que não fiz. No mesmo dia fui à livraria utilizar o vale-presente que ganhei de dia dos pais. Passei pela ala de administração, gestão de pessoas, coaching. Não fui capaz de escolher algo ali. Comprei um livro do Baudrillard, um do Sartre e um do Cortella (ninguém é de ferro). A derrota esfregada em minha cara. Abandonei Sofia sem nunca ter feito uma legítima declaração de amor, acovardado pela discrepância entre minha situação financeira² e a riqueza dos pais dela, não dei a ela chance de dizer sua opinião ao meu respeito.
Ainda assim, mantenho ao meu alcance pinturas com seu rosto (Baudrillard), fotos (Sartre) e selfies (Cortella), torturando-me pela pergunta que não sei responder e pelo fato que não sei contornar. Abandonei Sofia.
       
Notas:
11.    Nome omitido para que meu Mestre não se sentisse exposto (aos um ou dois leitores deste site).

22.    Nascido e Criado na Zona Leste de São Paulo, peguei o tempo que seria usado para estudar francês e alemão para ler Bergson e Kant nos originais e usei para trabalhar e colaborar nas despesas de uma casa cujo pai foi abatido pela violência da terra da garoa.

4 comentários:

  1. Caro amigo:
    Eu não abandonei Sofia. Continuo nutrindo por ela uma grande "philia". Não me sinto à altura de outro tipo de amor, o "eros". Mas, como um admirador/amigo, continuo perseguindo a tal "Sofia".
    Por "sorte", consegui segui-la mais de perto, após alguns anos sem ousar me aproximar definitivamente. Contudo, sei que essa "mulher" é inalcançável. Rsss.
    Agora, falando sinceramente, não sei se é possível "abandoná-la". Digo isto porque penso que, uma vez fisgado pelas suas "artimanhas", nosso modo de pensar nunca se modifica de novo, voltando a ser uma ingênua permanência irrefletida no mundo.
    Grande abraço.

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    1. Boa tarde Sr. Ricardo!
      Obrigado pela visita.
      Fico pensando neste não ser capaz de voltar "a ser uma ingênua permanência irrefletida no mundo". Seria uma maldição?

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  2. Não abandonou. Abandonar é outra coisa. Você deu um tempo.
    Eu penso que dei um tempo com Clio também. Estou tentando fazer as pazes.
    A vida não acabou,temos tempo!

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    1. Saudações Mestre Newton!
      Lembra da tradicional piadinha de início de adolescência, “Estou namorando com aquela menina, mas ela ainda não sabe!”?
      O senhor tem uma história com Clio (neste momento faço um “L” com o indicador e o polegar e os movimento em um semicírculo enquanto pergunto “Entendeu? Entendeu?”). O mais perto que cheguei de Sofia foi um tímido aceno à distância. Não se pode “dar um tempo” em um relacionamento que nunca começou.

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