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Há anos ocorrem ricos diálogos sobre Civilização Humana e Filosofia, Teologia, História e Cultura em geral! Tudo que possa interessar a alguém que espera da vida um pouco mais que outra temporada de BBB! Após diversos convites a tornar públicos estes diálogos, está feito! Quem busca uma boa fonte de leitura, por favor, NÃO VISITE este site. O que esperamos, de fato, é a franca participação de todos, pois não se chama “Outros Discursos”.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Ouro de Tolo

            Outro dia direcionei este texto para um amigo. Na ausência de retorno, pareceu-me melhor lança-lo aqui, para olhares de “amigos anônimos”. Quem sabe por aqui possamos construir um diálogo. O texto começava assim “Nosso mundo é totalmente edificado sobre as mais absurdas vaidades e futilidades, todas revestidas da mais profunda urgência e imprescindibilidade. Isto me perturba.”

            “(…) estava saindo de uma reunião de Ouvidorias, realizada por vídeo conferência entre meu chefe (que é ouvidor desta empresa e presidente de sei lá quantos conselhos de ouvidores) e outros ouvidores no Rio de Janeiro. Um desfile de egos e ilusões que me dava até falta de ar. Não são pessoas más, mas são pessoas enganas em uma sociedade equivocada. Discutiam e rediscutiam decisões sobre procedimentos de Ouvidorias como se a existência de suas áreas e cargos fosse imprescindível para o bom funcionamento das respectivas empresas e, até mesmo, da sociedade. Eu só pensava no Raul (“E você ainda acredita que é um doutor, padre ou policial que está contribuindo com sua parte para nosso belo quadro social…”).
            Multiplicam-se empresas para fornecer produtos e serviços desnecessários, e nestas multiplicam-se áreas e cargos para garantir o fornecimento dos tais produtos e serviços com lucro crescente. Este lucro, distribuído sob a forma de salário, investimentos e dividendos, é utilizado pelos indivíduos recebedores para adquirir outros produtos e serviços desnecessários, produzidos em empresas prescindíveis com suas intermináveis áreas e cargos irrelevantes. Depois as pessoas comemoram o carro novo, agradecem a deus pela “promoção” no trabalho, comemoram. Com qual propósito? Não precisamos de carros, TV’s, partidas de futebol e embates políticos.
            O senhor é capaz de imaginar onde estaria esta sociedade sem estas distrações?
            Será mesmo que sou o único que vê que tudo o que é mais desejado é, justamente, o responsável por todos os males dos quais nos queixamos? Desigualdade, criminalidade, miséria, etc.
            Qual a finalidade de uma Ouvidoria, se a empresa fosse feita de pessoas verdadeiramente dedicadas ao bem do cliente? Qual a necessidade de um plano de saúde se a gestão pública fosse realmente voltada ao bem da população? Pense em um mundo no qual não houvesse quem cobiçasse o celular, tênis ou carro do próximo. Haveria polícia? Pense em cada homem que hoje é policial ou membro das forças armadas com uma vida dedicada à pratica docente, às artes ou à medicina (o mundo estaria todo edificado sobre este tripé, pois nada mais seria necessário). O homem que foi para o campo não foi porque só lhe restou esta opção, nem porque foi ali que nasceu e não teve oportunidade de conhecer outro mundo. O homem do campo está lá porque ama o campo. Porque se alegra ao saber que toda uma civilização é sustentada pela terra que ele trabalhou. As pontes, que não teriam como nem porque serem superfaturadas, conectariam vidas apaixonadas pelo bem geral.
Ao adoecer você não passaria horas esperando atendimento em um hospital público. Haveria três ou quatro médicos morando na sua rua. É uma coisa mais séria? Precisa de local e equipamento adequado? Há meia dúzia de postos de saúde e dois hospitais só no seu bairro. Imagine um mundo em que o conhecimento estivesse ao alcance de todos, em vez de restrito aos filhos dos pais que podem pagar as melhores escolas. Reflita sobre quantos gênios nós já perdemos em canaviais, callcenters, mangues, delegacias, ouvidorias, etc. Imagine o que eles teriam criado, se tivessem tido tempo para viver as respectivas criatividades. Tempo que enterraram em trabalhos absurdos e desnecessários lutando pra sobreviver enquanto construíam a riqueza de terceiros que nunca nem saberão seus nomes. Eu não consigo entender como a comunidade humana não realiza este “Estado de espírito”. Eu poderia viver vidas inteiras neste mundo e não entenderia esta espécie. Não falo de comunismo. Não quero um mundo vermelho. Quero um mundo no qual não haja motivo para riqueza. NÃO HÁ MOTIVO PARA RIQUEZA! Falo em um mundo em que a escolha do carro não foi pelo que era possível pagar, pois qualquer carro seria tão barato quanto é baixo o meu salário. Mas veja só, o carro não é necessário. Pois o status que se poderia esperar dele é desprezível. Neste mundo o carro serviria apenas para ir à algum lugar. Dá para imaginar? E se não for tão longe vamos à pé, não importa o horário. Por que alguém precisaria me roubar? As ruas seriam alamedas arborizadas e em caso de chuva eu entraria na primeira casa que visse. Estaria aberta e seu morador, mesmo que um estranho, me ofereceria um café até que a chuva terminasse. Descobriríamos que apreciamos os mesmos autores mas temos gostos musicais divergentes. Passearíamos pela rua a pé, não importa o horário. Não haveria motivo para temer a noite. Apreciaríamos as estrelas. Viagens longas seriam de metrô ou trem, cujas linhas teriam sido distribuídas de forma extremamente eficiente, construídas com qualidade e sem propinas. Não haveria motivo para greve.  Rudolf Diesel não teria sido assassinado e a Tesla Motor’s seria conhecida internacionalmente.¹
Quando vejo o mundo descrito acima e o emparelho ao mundo atual, sei que é utópico. Ao mesmo tempo, ele é tão perturbadoramente lógico que, para mim, utópico é o mundo em que vivemos.”
Nota:

¹ O parágrafo em itálico foi aportado hoje. Não constava no texto original.

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