Certa vez um professor me ensinou que a origem da palavra "metafísica" era " tà metà tà physiká"¹, que significa algo como "depois (ou além) da física!". Isso se deu em função da forma como os textos de Aristóteles foram organizados, sendo que os conteúdos mais abstratos foram alocados “depois” dos escritos sobre física. Com o tempo o termo passou a denotar tudo que transcende a realidade sensível.
Quando a palavra “metamorfose” foi sugerida minha mente começou a orbitar o termo “meta”, no sentido que me ensinara o professor, assim, será que poderíamos, em detrimento do emprego usual de "metamorfose" em sentido de "mudança de forma", "transformação", inferir que, ao pé da letra, poderia significar "depois (ou além) da forma"?
Não à toa, caso venhamos a explorar as metáforas dessa palavra, “metá phorá” significa “carregar para além”, já que entendemos por metáfora o emprego dos termos em sentido que nos transporta para além daquele comumente empregado.
Meta na sua cabeça que este não é um espaço de caminhos comuns. Meta em sua cabeça que vamos além. Metá!
Não podemos ignorar que a palavra “meta”, isoladamente, assumiu em nossa sociedade o significado de “objetivo”. Analisemos o desencadeamento (totalmente arbitrário que eu escolhi “porque sim!”) das premissas que reunimos até aqui:
Ainda que “metá” possa significar “mudança” (donde o significado vigente de “metamorfose”), aqui nos interessa que ela signifique “depois”, ou “além”. Certa vez eu chamei uma moça de “infinitamente amada”. É relevante recordar este evento. Infinito fala mais de espaço que de tempo, assim, infinito não é, necessariamente, eterno. Distinguir bem espaço e tempo é relevante, pois o “depois” precisa ser definido em um destes dois: é depois em uma sucessão espacial, portanto, uma justaposição simultânea? Ou é depois no tempo, invariavelmente separado no espaço?
Os livros do Ari estavam em sucessão espacial, mas para nós (para mim) interessa a sucessão temporal, portanto, depois no tempo, seja daqui alguns instantes, seja daqui três décadas. Mas depois de quê? E o que é que vem depois?
Depois do que sou agora: Vale para pupas, girinos, estudantes de direito e analistas de ouvidoria. E o que é que vem? Eis a questão! Ainda que a metamorfose prática direcione o resultado para formas pré-definidas: borboletas, sapos, advogados e alcoólatras, aplicamos o termo com certa maleabilidade, assim, “preferimos ser esta metamorfose ambulante”, mudando sempre, sem um termo. Aceito isso, por ora, não de vez.
No ponto ao qual chegamos cabe deixar de lado o grego, já devidamente dilapidado, para pensar em português: Meta, em nossa língua, em nosso tempo, significa “objetivo”.
Se concordamos que a metamorfose se refere a uma forma que vem depois, ou além, no tempo, forcemos um pouco mais a nossa intenção interpretativa (mais porque eu quero quê por evidência semântica) e assumamos que a forma que há de vir não é apenas fixa, pré-definida, mas, sobretudo, necessária: É UMA META!
Existir é, necessariamente, maleável. Convém, parece-me, que sejamos capazes de descobrir, ou reconhecer, nossa forma META, aquilo que deveríamos ser (ou que somos, de fato, desde sempre, mas que adiamos sê-lo em atenção às demandas da vida social) e então colocar essa forma como objetivo máximo a ser alcançado tão imediatamente quanto possível.
Parece-me possível.
Quando a gente atingir a meta, a gente dobra a meta!
Uma vez identificado aquilo que somos/deveríamos ser, metamorfoseemo-nos na direção do que realmente somos.
Notas:
1. Eu não decorrei a forma da escrita. Eu recordava a sonoridade e fui pesquisar.
Para entender o motivo da Verborragia clique aqui (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz! )
Nenhum comentário:
Postar um comentário