Um pouco mais de
Fé!
– 18/01/2013
“Disse
o Senhor: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira:
Arranca-te e transplanta-te no mar, e ela vos obedecerá.” Lucas 17:6
“E
Jesus lhes disse: (…) em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de
mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e há de passar; e nada
vos será impossível.”
Mateus 17:20
Antes de tudo, preciso dizer! Estes não
são pensamentos destinados aos cristãos, embora discorram de sua Magna Carta, O
Evangelho. Não tenho qualquer intenção de escandalizar alguém, mas sei que
grande a possibilidade de que isto ocorra, portanto, se você não está preparado
para aceitar que existem pensamentos diferentes do seu (não importa se são ou
não verdadeiros), não siga com esta leitura. Siga sua vida em paz, assim como
eu seguirei a minha. Caso insista em continuar, o fará por sua conta e risco.
Eu tenho uma visão muito peculiar sobre
o mundo. Esta visão não é nova, não se trata de algo apreendido no budismo ¹,
embora neste eu tenha encontrado subsídios para ratificá-la; ela remonta ao
interior do meu passado cristão, quiçá mais antiga. Antes de qualquer discussão
sobre deuses amorosos criando-nos como filhos ou “grandes explosões”
fundamentais, proponho uma revisão de nossa postura metafísica frente ao mundo.
Suponha, só por um instante, que sua capacidade cognitiva não é uma
consequência do mundo mas, antes, seja anterior ao mesmo. Realize o exercício
intelectual de imaginar o Universo como algo “derivado de” e “submetido à” alguma
razão primordial que o engendra e coordena. Chame tal razão de Lei, Deus,
Força, por ora, não importa. Ainda seguindo este exercício, aceite que sua
própria racionalidade participa, em alguma medida, daquela Razão anterior,
interior e ulterior. No interior da hipótese de haver uma razão criadora, você
é obrigado a aceitar-se como participante desta faculdade de criar. Agora,
releia os trechos dos evangelhos citados acima. Não são narrativas do arauto de
um Deus além do mundo, caso contrário registrar-se-ia:
“Se
tiverdes fé como um grão de mostarda, pedireis ao vosso Pai, que esta no Céu,
Arranca esta amoreira daqui e
transplanta-a no mar, e Ele vos atenderá!” ou ainda “E Jesus lhes disse: (…) em verdade vos digo
que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis ao vosso Pai, que esta no
Céu: Move este monte, passando-o daqui para acolá, e Aquele que te observa e te
ama há de mover o monte, pois nada Lhe é impossível.”
É indiscutível a presença de inúmeras
outras passagens nas quais se evidencia o “Pede, e será atendido!”, atribuindo
força e ação à divindade, mas me chamam a atenção estas duas, em particular,
como exemplo da Fé como determinante para a capacidade intrínseca ao homem de
participar ATIVAMENTE da criação, não mais como um mero pedinte, implorando a
ação divina. O grande problema aqui é a mediocridade da Fé humana. Poderíamos
trazer a esta discussão um devoto cristão e até mesmo um experiente budista.
Questionado sobre o poder da Fé, o cristão a limitaria à capacidade de atuar,
paralelamente ao tratamento médico, na cura de uma doença; também falaria da
possibilidade de harmonia familiar ou prosperidade financeira, tudo alcançado
pelo infinito amor de Deus. Graça implorada, graça alcançada. O budista, por
definição, conseguiria compreender com mais facilidade a minha proposta de
participação ativa na faculdade de criar da Razão ou Lei do Universo, porém,
conduzindo a discussão ao ponto do poder da Fé em nossas vidas, curiosamente
chegaríamos ao mesmo discurso limitador, falando da capacidade de atuar,
paralelamente ao tratamento médico, na cura de uma doença; da possibilidade de
harmonia familiar ou prosperidade financeira, tudo alcançado pela nossa
participação ativa na Lei do Universo. Crenças diferentes, mesma Fé! Ou melhor,
mesma falta de Fé! Muito forte? Tudo bem, então registremos assim: Mesma
Covardia!
Quem, neste mundo, teria a Fé Corajosa
que Jesus teve, ao ponto de dizer publicamente - sem se esconder atrás do “Isto
foi em sentido figurado!” ² - que poderíamos ordenar às árvores que se movessem
e elas NOS atenderiam?
Quem teria a Fé Corajosa de Sakyamuni ao
ponto de alegar – igualmente sem o “Sentido Figurado” - que até os deuses vem
ao mundo para aprender CONOSCO o caminho para a Iluminação atingida por NÓS?
Será à ordem do homem que a amoreira
caminhará, será à ordem do homem que o monte se levantará, será aos pés do
homem que os deuses se prostrarão para ouvir e aprender, pois o mesmo Sábio
disse:
“Respondeu-lhes Jesus: Não está
escrito na vossa lei: 'Eu disse: Sois deuses?'…” João 10:34
O difícil não é ter a Fé do tamanho de
um grão de mostarda, é ter Coragem para reconhecer sua verdadeira natureza. É
confortável ser aluno, é dura a responsabilidade do professor; é confortável
ser filho, e dura a responsabilidade do pai; é confortável ser criatura, é dura
a responsabilidade de reconhecer-se como criador; é confortável pedir; Agora,
vai e faz!
Notas:
¹
Meus amigos mais próximos conhecem meu histórico de vida, o caminho percorrido
até tornar-me Budista. Devo dizer que fui cristão a maior parte da presente
existência, não destes que alimentam as pesquisas anunciando-se católicos ou
evangélicos apenas por herança familiar, sem qualquer compromisso concreto com
a fé que anunciam. Eu era Católico Apostólico Romano, com muito orgulho. Participava
das missas, retiros, grupos de oração, confissão, etc. Sou imensamente grato
por tudo que vivi lá; Não seria capaz de ver o mundo como o vejo se não tivesse
estado ali. Minha fé atual seria incompleta. Com o tempo, por mais que a
doutrina católica me agradasse, questionamentos internos iam minando minha fé
no cristianismo, minha fé no deus cristão. Tamanho era o abismo entre mim e a
divindade, abismo este criado pelo acúmulo de minúsculas lacunas, que cheguei a
passar um bom tempo apresentando-me como Ateu. Ateu sim, mas não menos
espiritual. Metafísico, se você preferir, já que o expurgo da divindade não
diminuía em nada o imenso volume de minhas dúvidas, às quais eu procurava com
todas as minhas forças internar oferecer estruturas que dessem significado à
vida, à existência em geral. Qual não foi minha surpresa quando, por capricho
da própria vida, tropecei no Budismo. O grande fascínio que este gerou em mim
não se deve ao fato de ter-me convencido, mas sobretudo por apresentar simetria
junto às conclusões que eu mesmo havia alcançado.
²
A Fé medíocre de nossos contemporâneos (também a minha) é uma vergonha. Todos
gritam “Sou Evangélico” (Atenção, Evangélico é todo aquele que se diz crer no
evangelho, inclusive os católicos. O termo correto para “cristão não católico”
é “protestante”), mas deveriam rasgar as páginas da Bíblia para com elas fazer
origami. Ao menos assim dariam alguma utilidade ao papel cujo conteúdo fazem
questão de desprezar. Preferem criar alternativas interpretativas ao texto à
dar algum crédito àquele que dizem seguir. A ordem para transformar o mundo é
de Jesus, não minha. A máxima “Sede santos!” é de Jesus, não minha. Não está
escrito “Em verdade voz digo: Venho pedindo para ser santos, mas sei que são
apenas humanos, portanto, façam seu melhor, pois isto bastará ao meu amor
misericordioso!”. Está escrito “Sede Santos!” (Cf. Levítico 20:7; 1 Pedro
1:15-16 – Entre outras)
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