Perdoemo-nos!
¹ – 02/02/2013
“#DúvidaExistencialDoDia:
Há trecho do antigo Testamento no qual Deus seja chamado de Pai? E
no Evangelho, o Pai chega a ser chamado de Deus?”
@PhdCelo (Twitter – 31/01/2013)
Não tive tempo de
reler a Bíblia, portanto, a Dúvida Existencial de 31 de Janeiro
persiste. Com efeito, ouso convertê-la em inferência, embora admita
a possibilidade de equivoco:
“Não
há, no Antigo Testamento, trecho no qual 'Deus' seja chamado de
'Pai'. Igualmente, não há no Evangelho ² momento no qual Jesus se
refira ao 'Pai' com o termo 'Deus'!”. Um leitor mais frequente da
Bíblia poderá, com facilidade, citar livros, capítulos e
versículos que reduzam à falácia esta minha afirmação. Por
favor, façam isto. Ficarei grato caso receba dos senhores a
oportunidade de absorver mais este conhecimento, não obstante, me
adianto ao acrescentar que tal “revelação” não me fará recuar
em relação ao seguinte pensamento: O Deus de Jesus não é o mesmo
Deus do Antigo Testamento.
Inspirou-me a
presente reflexão alguns pensamentos sobre a prática do perdão,
tão frequentemente tratada em ambiente cristão. Minha senhora havia
narrado uma história na qual alguém evidenciava uma imensa grandeza
de espírito ao convidar ao seu casamento a mãe, quem a havia
entregue ao orfanato ainda na primeira infância por desejar
lançar-se à boemia sem os “contratempos” de um filho. No mesmo
instante me surpreendi com a grandeza daquela pessoa, ao mesmo tempo
que evidenciei minha mediocridade: “Eu jamais teria feito uma coisa
destas!”, foi o pensamento que saltou de meu espírito e preencheu
o interior do carro através da minha voz. Repensando isto desde
aquela ocasião, enriquecendo o raciocínio com o conceito de
“Carma”, apreendido através de minha Fé atual, o Budismo ³ ,
não pude deixar de concluir alguma conexão entre o perdão cristão
e a necessidade budista de evitar o carma negativo. Não confunda
isto com o pensamento espírita de realizar boas ações (no caso, o
perdão) para garantir o perdão de seus próprios pecados. Antes
disto, quero propor o Perdão como um meio salutar de evitar o
Pecado.
Sendo
estas as
bases da reflexão, corri até a Bíblia 4
e realizei a pesquisa. No Antigo Testamento, “Pecado” me levou a
um Deus ambíguo, ora justo:
“Os pais não
morrerão pelos filhos, nem os filhos pelos pais; cada um morrerá
pelo seu pecado.”
Deuteronômio 24:16
Ora orgulhoso,
ciumento, vingativo e caprichoso:
“Não te
prostrarás diante delas para render-lhes culto, porque eu, o Senhor,
teu Deus, sou um Deus zeloso, que castigo a iniquidade dos pais nos
filhos, até a terceira e a quarta geração daqueles que me
odeiam,…”
Deuteronômio 5:9
Note que mesmo no
primeiro caso, ainda que justo, não é piedoso. “Perdão”, pelo
contrário, me levou diretamente a Jesus, e com ele, um Deus
completamente diferente, ávido pela reconciliação:
“Então Pedro,
aproximando-se dele, disse: Senhor, até quantas vezes pecará meu
irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete?
Jesus lhe disse:
Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes sete.”
Mateus 18:21-22
“E, não
podendo aproximar-se dele, por causa da multidão, descobriram o
telhado onde estava, e, fazendo um buraco, baixaram o leito em que
jazia o paralítico.
E Jesus, vendo a
fé deles, disse ao paralítico: Filho, perdoados estão os teus
pecados.”
Marcos 2:4-5
E ainda:
“E os escribas
e fariseus, vendo-o comer com os publicanos e pecadores, disseram aos
seus discípulos: Por que come e bebe ele com os publicanos e
pecadores?
E Jesus, tendo
ouvido isto, disse-lhes: Os sãos não necessitam de médico, mas,
sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas, sim,
os pecadores ao arrependimento.”
Marcos 2:16-17
No
Budismo aprendemos que é necessário reconhecer o Tempo e a
Capacidade das pessoas. Acredito que Jesus tivesse algo completamente
novo para apresentar ao mundo, não obstante, o Tempo não era
propício nem o espírito das pessoas capaz de acompanhar uma
transformação muito profunda, assim, o que aprendemos no Evangelho
não era, parece-me, o mais longe que Jesus seria capaz de ir mas sim
o mais longe que seus contemporâneos seriam capazes de “processar”.
Assisto isto hoje com o Budismo. A mente das pessoas é desenhada
desde a infância para enxergar o mundo alicerçado (alicerçando-o)
em uma metafísica completamente cristã. Aceitam sem dificuldades
quando um indivíduo transita/converte-se do catolicismo para o
protestantismo ou vice-versa, mas não tem o menor preparo para lidar
com algo fora deste desenho, como quando alguém relata não crer na
Bíblia, anuncia-se Ateu, Hinduísta ou Budista. Como pode alguém
não acreditar em Deus? Como pode alguém crer em outros deuses? Como
é possível duvidar da Bíblia? Destinarei um texto futuro à
discussão destes pontos. Por ora, concentremo-nos em Jesus.
O
conceito de “Carma” é extremamente antigo, aparece vinculado a
religiões antigas como o Bramanismo (ou Brahmanismo) e sobrevive até
hoje. A palavra “Carma” vem do sânscrito “Karma” ou “Karmam”
e significa “Ação”. Em sentido religioso, a discussão sobre o
“carma” refere-se às ações humanas e suas consequências, por
isto mesmo é frequentemente associado à “causa e efeito”.
Embora o termo seja frequentemente evitado em ambiente cristão, o
fato é que não precisamos ser reencarnacionistas para acreditar em
carma, uma vez que mesmo no cristianismo há a necessidade de
observar suas ações para evitar consequências negativas. Os
“efeitos” de determinada “causa”, seja positiva ou negativa,
podem ser observados na mesma existência, assim, o conceito de
“carma” subsiste à negação da ideia de reencarnação.
Efetuada a defesa do “carma”, cabe agora a reflexão na qual o
conectava ao “Perdão”.
O
“carma” é construído através de nossos pensamentos, palavras e
ações. Pensamentos, palavras e ações positivas levam a
consequências positivas; este é o carma positivo. Pensamentos,
palavras e ações negativas levam a consequências negativas; carma
negativo. Aquilo que é “retribuição cármica” para mim
equivale à “justiça divina” para um interlocutor cristão. Os
senhores creem que a justiça de Deus recairá sobre um terceiro,
seja nesta vida, seja na recusa do acesso ao céu. Para mim,
“efeitos” surgirão nesta existência ou em existências futuras,
assim como hoje experimento os efeitos das causas que criem em meu
passado próximo ou até mesmo em existências passadas.
Considerando, agora, o exemplo de alguém que nos tenha ofendido;
alguém que “pecou” contra nós. A má ação desta pessoa terá
alguma consequência equivalente à gravidade da própria ação,
seja nesta vida, seja numa existência futura, seja quando for posto
diante de Deus. A justiça tem seus meios naturais para
concretizar-se, porém, inclinamo-nos à tendência de julgar os
outros, tornando-nos juízes e carrascos dos outros. Esta postura
nada mais é que a decisão de participar do carma negativo desta
pessoa, daí a importância da prática do Perdão. Quando um
terceiro nos ofende ou machuca, seus pensamentos, palavras e ações
estão, automaticamente, criando o carma negativo para aquela
pessoal, sendo inevitável o efeito negativo para estas ações. Este
“efeito inevitável” não depende de minha ação, portanto, não
há qualquer necessidade de ações complementares efetuadas por mim
a não ser o “Perdão” e a prática de um modo de vida exemplar
que proporcione àquele indivíduo a transformação necessária para
que, mesmo que não seja possível reverter o carma negativo já
criado, interromper o processo de criação deste tipo de carma; em
outras palavras, mudar a postura daquela pessoa a partir de agora.
Menos carma negativo para ele; menos carma negativo para mim; Duas
vidas transformadas positivamente.
Se,
por outro lado, endurecermos nosso coração, fechando-nos à
possibilidade do Perdão, tornaremo-nos algozes deste indivíduo,
portanto, em nome da ofensa e dor causadas por ele, seremos nós a
ofender e ferir. De vítimas passamos a agressores, porém, nada,
seja no Budismo, seja no Cristianismo, justifica a agressão. REPITO,
NADA, SEJA NO BUDISMO, SEJA NO CRISTIANISMO, JUSTIFICA A AGRESSÃO.
Seremos idênticos àquele que nos feriu, nossas ações negativas
levarão à efeitos negativos equivalentes ou piores que os dele
(afinal, eramos portadores de revelações que talvez ele não
possuísse). Duas vidas arruinadas. Perdoemo-nos! Perdoemo-nos
sempre! Perdoemo-nos sete vezes, setenta vezes sete vezes!
Reconciliemo-nos com a “Vida do Mundo” 5,
tornando-nos dignos deste magnífico dom que recebemos, nossas vidas,
ao mesmo tempo que tornamo-nos portadores da “dignificação” das
outras vidas! Perdoemo-nos!
Notas:
¹ Este é o segundo
fragmento dentre alguns pensamentos soltos que venho alimentando
quando reflito acerca do Evangelho. Indico a leitura do fragmento
anterior, Um
pouco mais de Fé!,
para uma compreensão mais ampla desta proposta.
² Atenção: Não
me refiro ao Novo Testamento, mas especificamente aos Quatro
Evangelhos. Também aqui cabe esclarecer que não me refiro à
totalidade destes, mas especificamente aos pronunciamentos do próprio
Jesus. Provavelmente quando terceiros se referem à divindade, mesmo
no interior do Evangelho, devem utilizar a palavra “Deus”.
³ É Mister que os
senhores não confundam minhas opiniões com os ensinos do Budismo.
Tudo o que aqui exponho é fruto de minha própria reflexão, jamais
de meu aprendizado naquela doutrina. Tudo o que possa parecer
ofensivo ao cristianismo (juro que não é minha intenção. Tenho
muita gratidão ao meu passado como cristão) jamais foi pronunciado
em qualquer reunião budista que visitei tampouco nos livros que
estudei. Ali guarda-se grande respeito para as demais religiões;
jamais se denigre outro ensino. Procura-se sempre estudar o interior
do próprio Budismo. Isto posto, caso algum interlocutor considere
ofensiva esta reflexão (repito, não é a intenção), que se volte
para mim todo o ressentimento, jamais para com o Budismo.
Fantástico rogo ao G.A.D.U que ilumine mais ainda sua consciência e que você possa escrever muito mais, trazendo luz onde reina trevas.
ResponderExcluirBoa Tarde Fernando!
ExcluirMuito obrigado pela visita e pelo comentário. Neste muito imperam não apenas as trevas mas, sobretudo, o vento, assim, é grande o risco de vermos nossas pequenas velas, acesas com tanto esforço, serem apagadas em seguida.
É na reunião das pequenas velas que obteremos a grande chama, a luz imune ao vento. É no diálogo que iluminaremo-nos mutuamente. Espero reencontrá-lo aqui sempre.
Att,
Obrigado Marcelo pela resposta. Que a chama seja contagiante.
ExcluirDepois se permitir gostaria de publicar seus textos no meu canal no facebook: https://www.facebook.com/magnifiquesophie
se isso ajudar a trazer pessoas para lerem estas linhas, acredito que será uma ajuda em espalhar essa chama em pequenas velas
Quem sou eu para vetar isto, jovem? O que julgar útil, aplique, compartilhe. Despreze ou refute o restante.
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