Outro dia, no metrô,
sentou-se à minha frente uma senhora aparentando idade já bastante avançada. Chamaram
minha atenção seus brilhantes olhos azuis, os quais automaticamente levaram-me à
reflexão que segue:
Olhos não envelhecem! O
enrugamento da pele que os circunda leva à ilusão de que acompanham o avanço da
idade. A dificuldade de visão em muitos idosos evidencia haver alguma
degradação interna, mas do ponto de vista estético, não há diferença entre o
olhar daquela senhora em seus (talvez) 70 anos e o da moça de 20 que ela foi.
Curioso: Porque homens e mulheres se dizem fascinados por olhares alheios, mas
nunca param para contemplar o olhar de um idoso?
Penso que mentiu cada homem
que incluiu o “Lindos olhos” em seu discurso de “corte”, afinal, olhar igual ou
até mais bonito poderia se apresentar em uma senhora e nunca vi um moço
dirigindo-se assim à uma anciã. Me agrada o olhar dos idosos, homens ou
mulheres, pois vejo através deles muita vida. Não apenas “memórias”, como se
representassem um banco de dados, mas vida real, concreta, vivida, sofrida, e
muita vida ainda para se viver, já que a Vida não se mede pelos anos, mas sim
pelos significados.
Aprender a olhar os olhares
poderia nos levar a reconhecer a profundidade de cada vida, mergulhando em
existências prontas a compartilhar conosco algo deste “ser profundo”. Não falo
de ouvir histórias; parar para imaginar como era a vida no quando de alguém que
começa seu relato com o tradicional “No meu tempo…”. O tempo dele é agora,
assim como o seu. Daqui há 40 anos o meu tempo será 2053, não aquela época
passada na qual eu escrevia textos que só eu lia. Olhar o olhar do idoso é
perceber que ali há alguém que amou muito, que chorou muito, que construiu e
perdeu muita coisa e segue, crescendo e aprendendo como você. Reconhecer que a
beleza do espírito transcende qualquer atributo físico e, sobretudo, não se
deprecia com o tempo, pelo contrário, só se expande. Agradeço a vida por cada
oportunidade que tenho de encontrar um idoso. Não pelas lições que suas histórias
nos dão; não pela experiência que podem compartilhar; agradeço mesmo quando não
tem nada a dizer ou quando a sensatez do discurso se perdeu com a dor de ver
seu mundo se desconstruindo. Agradeço pelo que seus olhares me ensinam. Se o olhar
é a janela da alma, agradeço pelos encantadores fragmentos de espírito com os
quais tive a oportunidade de conectar o meu. A linguagem jamais será capaz de
expressar tanto quanto um único olhar.
Discorreu bem sobre o assunto...
ResponderExcluirA verdade esta explicita no olhar, que independe da nossa idade.
É isso meu irmão. Obrigado!!!
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