O texto que segue foi
inspirado em um sonho. Outra noite sonhei que atingia a Iluminação na feira,
sob orientação do vendedor de pastéis.
No sonho eu caminhava com
meu filho pelo bairro no qual cresci, porém, passava por ruas novas, que
não existiam quando morei ali e não existem agora. Subíamos por ladeiras largas
numa manhã ensolarada observando os arredores. Em nossas adjacências não havia
casas, mas grandes áreas cercadas dentro das quais macacos e quatis brincavam
na relva e nas árvores. Tudo muito bonito. Era como um passeio no zoológico. No
alto da subida o asfalto terminava numa área vasta ornada por toda sorte de
plantas e flores. Depois desta, uma feira livre. Nada mágico na feira, gente
gritando, gente comprando, carrinhos atropelando pés, frutas e legumes
descartados atrás das barrancas.
Uma pessoa se destaca, não
por uma aura ou qualquer outra coisa mística que se esperaria ver em um sábio
ou santo, mas apenas por ser familiar, com se já o conhecesse. Ele está sentado
observando o óleo incandescente fritar o alimento. Com a fluidez natural aos
sonhos muda minha percepção da cena. Ora ele observa pastéis naquela frigideira
gigante de feira, ora não passa duma leiteira, igualmente repleta de óleo muito
quente, mas o que frita é menor que o pastel comum. Gyoza? Tempurá? Não sei.
Examinando o óleo ele começa
a me falar sobre alquimistas. Fala de sua eterna busca pelo elixir da vida e
pela pedra filosofal, os quais buscavam obter pela ininterrupta purificação de
metais através do fogo. Falou do processo de purificação do próprio alquimista
enquanto este observava a purificação do metal (qualquer semelhança com "O
Alquimista", de Paulo Coelho, não é mera coincidência). Em seguida traçou
paralelo entre aquela imagem e a observação do ato de fritar.
Fiquei alguns instantes
quieto ao seu lado, apenas observando o borbulhar do óleo e a transformação do
pastel. Pensei que poderia, talvez, atingir a iluminação através daquela
prática, daquela observação.
Passado um tempo, o mestre
pasteleiro chama minha atenção, convidando-me a abandonar a frigideira/leiteira
e a observar os arredores. Pessoas paravam para comer pastel, outras seguiam em
compras, outras apenas atravessavam a feira.
Por um instante vi algo místico sobre aqueles anônimos, um quê de aura, como se todos fossem sábios ou santos.
Por um instante vi algo místico sobre aqueles anônimos, um quê de aura, como se todos fossem sábios ou santos.
Meu mestre me alertou que
não atingiríamos a iluminação no fogo, no óleo ou no metal, mas nas pessoas,
pois são todos budas, mesmo aquelas que ainda não despertaram para isto.
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