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sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Paradoxo do Amigo Imaginário - Parte 2

Ironias da vida: Quando publiquei este ensaio pela primeira vez, em novembro de 2016, disse que havia esbarrado com uma nota minha de agosto de 2014 mas não conseguia lembrar o que esperava que aquela nota me dissesse. Hoje, no final de agosto de 2017, achei outra nota, uma mensagem para mim, guardada ao concluir o primeiro ensaio e, novamente, não faço ideia do que pretendia me dizer com "Lembrar da minha garagem!".

Devo ter vivido alguma experiência intelectual em minha garagem enquanto saia de casa rumo ao trabalho naquela manhã. Ou posso, naquela manhã, ter recordado de alguma experiência ainda mais antiga, talvez até de 2014, e agora tudo se foi (de novo). Enquanto minha arisca memória se recusa a me devolver aquelas idéias, aproveitarei para desenvolver os dois adendos possíveis ao Paradoxo do Amigo Imaginário, o que pretendo fazer expondo um deles aqui e outro em uma futura "Parte 3".
Metafisicamente falando o Paradoxo do Amigo Imaginário tem dois desdobramentos possíveis, um negativo e outro positivo. No texto de hoje trataremos do negativo, mas antes de iniciá-lo quero informar que não estamos em um ambiente matemático de "1 + (-1) = 0". Por mais que os dois aspectos pareçam antagônicos é possível que não se anulem. A compreensão dos dois vai depender do seu próprio grau de materialismo e/ou abertura à possibilidade de uma metafísica real (ainda que aqui seja apenas postulada, não demonstrada). Um leitor totalmente materialista irá se sentir satisfeito com esta "Parte 2" e frustrado com a 3. Um religioso terá a experiência inversa, perturbando-se com a 2 mas concordando (parcialmente, ao menos) com a 3. Uns poucos loucos se agradarão das duas e localizarão suas conexões ( 1 + (-1) = infinito).
À parte negativa não dei este nome por qualquer motivo pejorativo. Ela é negativa porque em sua conclusão irá negar a experiência metafísica e trazer todo o material analisado ao escopo da subjetividade (primeiro pensei em escrever "psicologia" ou "psicanálise", mas não sou nem um nem outro, sou (pseudo)filósofo, portanto, não entregarei meus postulados tão facilmente àquelas doutrinas).
Se você leu com atenção (se não leu, clique aqui) lembrará que na primeira parte propomos o recurso ao amigo imaginário como um recurso intelectual para a) organizar ideias e b) expurgar temores. A organização de ideias foi desenvolvida ainda naquela parte. Sobre o assunto expurgo dos temores, quero falar de uma experiência minha, da época de infância e sobre a qual já falei em outras oportunidades. Eu cresci morando em um sobrado na zona leste de São Paulo. O lugar abaixo das escadas que levavam à parte de cima da casa era usado para guardar as "tranqueiras" da família, o que incluía minha velha bicicleta vermelha. O local era muito escuro e só bem mais tarde meu pai instalou uma lâmpada. Mesmo depois desta, tanto a lâmpada quanto interruptor ficavam bem no fundo do espaço escuro, assim, era preciso atravessar um espaço (interminável, aos olhos da criança) de trevas até encontrar a luz. Havia algo no escuro que me aterrorizava. Nenhuma novidade até aqui. Quaisquer monstros que pudesse eu imaginar seriam apenas isto, projeções de minha mente tentando dar forma ao medo da área desconhecida. No meu caso o escuro era habitado e preenchido por um monstro, cuja forma eu nunca defini, confundido e fundido que estava com o próprio escuro. Ora, eu queria minha bicicleta e precisava atravessar o imenso domínio do monstro sem sofrer as atrocidades que os monstros fazem com as crianças, sair ileso e ainda carregando minha bicicleta (obs: vim até aqui sem lembrar o motivo da nota de novembro de 2016. Agora lembrei: "Minha Garagem" era o nome que eu dava ao local sob a escada que estou descrevendo agora). Como, então, vencer o medo e não ficar sem a bicicleta? Eu não era, ainda, capaz de ultrapassar o temor infundado através do simples esforço racional. Resultado: Estratégia (ainda não paradoxal) do Amigo Imaginário. Ainda que o monstro fosse inevitável, sua presumida hostilidade não tinha que ser. Passei a olhar bem no meio das sombras e dialogar com elas, amigavelmente convertendo seu habitante em aliado. Em vez de temer seu surgimento repentino eu mesmo o evocava antes de entrar na "garagem", comunicava minha intenção de apenas pegar a bicicleta e saia tranquilamente sem sofrer qualquer ataque.
Ora, quantas garagens tenebrosas cada homem primitivo, individualmente e em grupo, precisou adentrar e quantas vezes a estratégia do Amigo Imaginário não deve ter sido o único recurso para vencer o medo e o desespero nas situações em que suas ferramentas, engenhosidade e trabalho em equipe não bastavam? Do medo nasciam os Deuses? Paradoxo. Não é a toa que até hoje o "amor a Deus" é anunciado como "temor a Deus" tão entusiasticamente por sacerdotes de tão distintas práticas religiosas.
A Estratégia do Amigo Imaginário, recurso utilíssimo (quiçá imprescindível) para nossa existência subjetiva (repito, como base para organização de ideias e expurgo de temores) é de extrema relevância para uma existência interna minimamente tranquila ou suportável, não obstante, se expande e acaba se convertendo em paradoxo. Ora, aqui (no interior da Parte 2) o paradoxo é este limiar terrível no qual localizando a forma do nascimento dos deuses (ou de sua criação) ficamos a um passo de decretar sua morte. Paradoxo. A manutenção da crença nas divindades depende invariavelmente da ignorância de sua origem? Paradoxo. É mesmo inerente ao conceito de divindade que não exista origem? Paradoxo. Ou, por outro lado, seria possível harmonizar a ausência de origem da divindade em si (e para sim?) com a necessidade (nossa) de identificar sua origem (para nós)? Paradoxo.
Retiro-me deixando estas questões.

Que a Força esteja com todos!

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