Hoje (terça-feira, 24/10/2017) não é um bom dia para escrever. Estou cansado. Hoje e ontem foram dias particularmente complicados no trabalho em função de ausências. O cansaço implica em considerável redução nos níveis de otimismo, esperança e boa vontade. Como costumo publicar textos às quintas (antecipados no máximo para a noite da quarta) seria sábio respirar, descansar e escrever só amanhã. Tenho tempo. Por isso mesmo decidi viver a experiência de escrever hoje: Hodie!
Enquanto escrevo penso em minhas motivações para escrever. Por muito tempo minhas reflexões foram marcadamente políticas e sociais, com pinceladas e momentos psicanalíticos. Mais recentemente tem sido profunda a minha inclinação aos temas espirituais. No geral penso que não saí da Filosofia, antes nos caminhos da Ética, Sociologia e Epistemologia, agora mergulhando na Metafísica. Hoje, porém, cansado, não me sinto filósofo (com efeito, não o sou, mas no geral simulo sê-lo com desempenho aceitável). Reflito então sobre o motivo da escrita, sobre o motivo dessas publicações.
A plena ausência de comentários e reações aos textos faz-me duvidar dos números astronômicos de visitas que o Google Analytics tenta me convencer que recebo. Não importa. No fim (sobretudo agora) percebo que escrevo inteiramente voltado ao ato da criação e reflexão, não ao da leitura (embora caso aconteça não seria rejeitada, é claro). Há aqui um "quê" catártico. Me faz lembrar minha época de cristão, quando eu ouvia e repetia a máxima de que aquele que prega é, na verdade, o primeiro ouvinte da pregação.
Quando escrevo, portanto, o faço muito mais para organizar minhas próprias ideias e alcançar conclusões que me pareçam coerentes do que convencer outros sobre estes temas. Muitas vezes início os textos com um certo propósito e termino noutro, posto que o próprio ato reflexivo conduziu-me por caminhos não originalmente meus. Noutras palavras, de tudo quanto eu produzo sou nada mais que o primeiro leitor (quiçá o único), sendo o texto ou a reflexão quase independentes; as musas dos gregos, a "revelação" cristã, os Upanishads hindus. Talvez sejam todos, de fato, resultados pintados em tons e perspectivas diferentes mas sobre o mesmo original (leia O Sopro Vital do Eterno). Caso te incomode tamanha "metafisicidade", então infiramos tão somente que a criatividade humana opera em ritmo mais rápido que o intelecto, de tal forma que até o autor fica para trás em relação à obra. Não importa. Escrever é mágico e, caso não seja místico é, sem dúvida, catártico.
Escrevi no trem, voltando do trabalho. A distância que esta composição está da estação inicial é uma mera fração da distância que eu mesmo estou do cansaço anunciado acima. Eu imaginava que escreveria algo sobre desesperança e falta de fé, mas novamente fiquei para trás, e agora descubro surpreso os caminhos que meu espírito seguiu em detrimento de minha mente. Este foi um dia ruim? Não sei mais dizer. Coisas deram certo e outras errado, como em qualquer outro. A qualidade do dia depende da inclinação do espírito. Um pouco mais cedo li (nos Upanishads) que a iluminação depende da tranquilidade e pureza do espírito. Neste momento entendo que a pureza -muito mais que a ausência de pensamentos pecaminosos que nossa base cristã levaria a interpretar- consiste em não deixar-se turvar pelos eventos externos, não importa sua natureza. Um dia ruim? Hoje não.
Sempre leio, nunca comento.
ResponderExcluirGosto dos textos, e da perspectiva de que eles seguem caminhos que você não imagina quais serão.
Saudações Mestre. Obrigado pela boa vontade (quiçá esforço. rs).
ResponderExcluirLeio, nem sempre, mas com certa frequência e também não comento mas, aqui tenho que manifestar minha concordância com: A qualidade do dia depende da inclinação do dia. Isso se faz muito presente nesse meu 1 ano e 5 meses disponível para o mercado em que venho trabalhando - diria muito mais servindo - em diversas frentes e, o fato de todos os dias aprender algo novo faz meu dia bom. :)
ResponderExcluirBoa tarde Gabriela.
ExcluirObrigado pela visita. Isto é verdade. Necessitamos rever nossas respostas ao mundo antes de discutir o mundo. Nossas reações definem a realidade, não o contrário. A humildade de dizer "o fato de todos os dias aprender algo novo" é uma ferramenta valiosíssima.