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quinta-feira, 2 de agosto de 2018

(Extra) Ordinário

Por mais que se tenha o hábito de aplicar o termo "ordinário" para coisas (e pessoas) de baixa qualidade, na verdade ordinário é simplesmente algo comum. Carros na rua, pombos nos fios, lixo nos cantos, prédios no centro, etc. Tudo ordinário.

Santos, budas, milagres e prodígios, não. Tudo o que não é comum, está além ou fora do comum é "extra" comum, extraordinário. Curiosamente, todos os grandes sistemas de crenças da atualidade são apoiados em entidades extraordinárias do passado. Curiosamente, há grande apego aos feitos extraordinários para referendar a crença. Onde há milagres, ali estarão os crentes.
Retornamos ao mecanismo da lâmpada mágica, da joia que concede desejos. Tudo indica que o humano é interesseiro por excelência, correndo sempre para o Deus que prometer (e supostamente cumprir) mais. Um caminhou sobre as águas, outro foi protegido da chuva por uma naja gigante, outro ergueu uma montanha inteira para guardar seus concidadãos. Espera-se que, tão poderosos, cumpram com facilidade e eficiência as tarefas de nos curar, proteger, conferir sorte, etc.
Neste cenário eu esbarro com o problema do Deus Esclarecido. As pessoas seguem seus deuses no mais completo escuro, abandonadas, vedado o acesso ao extraordinário. Mantém-se firmes, porém, amparadas nos feitos passados (provavelmente lendários) e na expectativa de que voltem a ocorrer a qualquer momento. A grande verdade é que vivemos em um mundo de pregações e palestras recheadas de grandes verdades e revelações que não resolveram nem mesmo a vida do pregador ou palestrante (salvo nos casos dos remunerados); como esperar qualquer eficácia para os ouvintes?
Como, então, falar a essas pessoas da necessidade de assumir a responsabilidade pela existência, tal qual ensina o Deus Esclarecido? Como lhes convidar ao relacionamento com um Deus que não lhes protegerá, nem curará, nem recompensará os feitos e renúncias? Os jovens da atualidade, quando não ateus (coisa ordinária, diga-se), partilham imagens nas mídias sociais falando da fé no Deus da Vitória. No Deus que permite pequenas perdas porque o resultado será inimaginável. Os adultos vendem seus bens para "deitar" o valor aos pés do "apóstolo". No deserto da realidade dada abraçam o oásis da realidade prometida.
Não sou (tento não ser) pessimista. Tudo que quero é rever o método. Todos os métodos. Infinitas escolas nos ensinam infinitas preces, ritos, mantras, comportamentos. Todas (TODAS) falham. Do contrário esbarraríamos em legiões de Santos e/ou Budas por aí. Nunca encontrei um único. Ainda assim acredito que a iluminação seja possível. Creio que já tenham existido Budas e possam existir de novo. Não é uma questão metafísica, mística, mágica. Tudo o que existe tem sua realidade dada e a potencial. Tudo tem alguma potencialidade. O Sol é uma gigante vermelha potencial. O alcoólatra é um sóbrio potencial. A casca da banana é húmus potencial. O Homem é, potencial e invariavelmente, um reduto de Excelência Ética. Falta apenas descobrir (e trilhar) o caminho para converter esta realidade potencial em uma realidade concreta.
Imagine um mundo (e ele não tem nada de impossível) no qual o compromisso com a excelência ética sobrepujou o torpe apego à excelência estética ora vivenciado. Um mundo no qual não seja necessário sonhar com entidades metafísicas protetoras, pois cada humano existente é um protetor e não há humano do qual se precise ser protegido. Um mundo no qual não se ore por cura, pois todos os médicos, técnicas, medicamentos e equipamentos estão ao serviço da comunidade, não do lucro. Um mundo no qual não se tolera o lucro, tampouco exista quem o deseje. Este mundo não é extraordinário. Esses homens e sistemas de valores não são extraordinários. Tudo que há é um atraso deliberado de vossa parte em tornar esta potencialidade uma coisa ordinária.

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