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Há anos ocorrem ricos diálogos sobre Civilização Humana e Filosofia, Teologia, História e Cultura em geral! Tudo que possa interessar a alguém que espera da vida um pouco mais que outra temporada de BBB! Após diversos convites a tornar públicos estes diálogos, está feito! Quem busca uma boa fonte de leitura, por favor, NÃO VISITE este site. O que esperamos, de fato, é a franca participação de todos, pois não se chama “Outros Discursos”.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Tarefa Difícil

Continuo escrevendo porque continuo afundando nesta via. Veja bem, não estou dizendo que superei os obstáculos (leia Eu Creio nas promessas de Deus), tampouco que eu seja capaz de faze-lo, mas trata-se de pensamento que me assalta ininterruptamente.
Vivemos em um universo governado por vicissitudes. Em detrimento de todas as preces de todos os crentes de todas as religiões o mundo não parece mais ou melhor assistido. Não é difícil entender como é fácil a propagação do ateísmo ideológico (o cara briga para demonstrar a indemonstrável inexistência de Deus) e funcional (um teísta meramente formal. Anuncia crer em divindade[s], mas conduz sua vida como se não existisse[m]). Eu mesmo declarei-me ateu por muito tempo. Mesmo hoje tenho sentimentos conflitantes a este respeito, mas inclino-me ao teísmo pela via sedutora do Deus Esclarecido. A relação com o Deus esclarecido é, porém, complicada. Tarefa difícil. Ele não promete recompensas pela sua fé e retidão. Pelo contrário. Ele manda cumprir o dever pelo dever, sem expectativa de recompensa.
Neste mundo no qual as religiões, todas elas, são reduzidas a meras joias dos desejos, instrumentos mágicos para obtenção de tudo quanto se deseje, quem seria capaz de abraçar um relacionamento com um deus que declara incidir em erro quem nutre expectativas de recompensa neste mundo E no próximo? Tarefa difícil.
Posso ter sido infelizmente na escolha da expressão "via sedutora", afinal, quem se deixaria seduzir pela via que acabo de descrever? Somos insistentemente doutrinados à ideia de Deus como um pai amoroso, consequentemente provedor. Quando não provê fugimos de casa (Deus não existe) ou mergulhamos na depressão (ele assiste a todos, menos a mim. O que fiz errado?). O que seduz na via do Deus Esclarecido não é a possibilidade de obter as recompensas que outras doutrinas prometeram e não deram (afinal, tal via é justamente o oposto disto), mas sim o grau de compreensão/esclarecimento que ela proporciona sobre o funcionamento da vida. Ora, abstraindo as infinitas discussões sobre este(s) ou aquele (s) Deus(es) ser(em) o verdadeiro, o grande centro da discussão existencial humana é, na verdade, se existe (m) ou não Deus(es).
O mundo ao nosso redor não é um mar de rosas. Há uma irrefreável tendência ao problema, à dificuldade, seja nos eventos sujeitos à interferência humana (aos caprichos dos humanos adjacentes), seja nos eventos completamente entregues à aleatoriedade. Sou pessimista? Certamente. Mas é isso que assisto ao sair de casa (e dentro dela) todos os dias. Todos com vidas cada vez mais difíceis, lutando com com crescente esforço e minguante resultado para sobreviver neste mundo caótico. Em contrapartida prospera a vilania. Homens sem Deus no coração (mas sempre com ele nos lábios) e sem escrúpulos parecem sempre "abençoados", exemplos de sucesso, posses e felicidade. "Mas será que dormem bem?", você perguntaria. Claro que sim. O sono tranquilo deles é quase a definição de "inescrupuloso". Mas este não é um texto sobre luta de classes, nem sobre política, tampouco corrupção. Por mais que pareça controverso, também não é uma apologia à vilania nem um ode ao pessimismo.
Este texto é um convite à análise honesta da vida, ver que as preces não são atendidas, os bons sofrem e os maus prosperam, e ainda assim não é defensável a rendição à vilania ou o mergulho no ceticismo desesperado. Não sermos atendidos em nossas preces não significa que não somos assistidos em nossas reações. O Deus Esclarecido declara que apenas aquele que aprendeu a reagir com igual ânimo aos eventos positivos e negativos, sem se desesperar por estes nem se apegar àqueles, pode ser chamado de sábio (somente ele).
Concluo, então, que o grande problema de nosso século não é o abandono dos homens por Deus, ou deuses, ou budas, ou como você quiser denominar as infinitas possibilidades de desmembramentos metafísicos para esta nossa existência. O grande problema é o total abandono dos homens pela busca da sabedoria. Se não desejamos ser sábios (tarefa difícil), obviamente não teremos qualquer compromisso em manter o mesmo ânimo frente a quaisquer situações. Se não desejamos a iluminação (tarefa difícil) não seremos budas. Se não desejamos a santidade (tarefa difícil) não veremos Deus.
"Mas eu não quero ver Deus", protestará o ateu. Não se sinta especial, meu amigo. Eu tinha medo do céu até quando eu era cristão. Veja só que interessante: Se não existir Deus algum, então a via do Deus Esclarecido desponta ainda mais como a mais sedutora e apropriada. Analise a genialidade do homem que criou o Deus. Onde não há promessas não há frustração quando não forem cumpridas (e não serão. Não há quem cumpra). Onde não há desespero nem apego edifica-se a maturidade necessária para a construção de uma sociedade mais plena e justa que seria capaz de sonhar o mais ousado "utopista". É uma tarefa difícil, eu sei, sobretudo pela responsabilidade que evoca. O ateu, quando comprometido com uma existência equilibrada e ética, o faz por saber que deve fazer, alheio aos crentes e seus sonhos com céu e recompensas. Há um Deus que iguala ateus e crentes, convidando ambos á reta ação simplesmente por dever, sem recompensas para ninguém. Sem promessas. A única certeza é a dificuldade da tarefa. O convite aqui é ao fim da infância. Deixar de ser filhos (crentes) ou órfãos (ateus) para assumir a paternidade e maternidade frente ao mundo. A maturidade suprema. A "adultisse" (ser adulto) suprema, nunca antes assumida por inteiro. Tarefa difícil, eu sei, mas não a julgo impossível. Requer empenho, determinação e paciência. Você aceita o desafio? Vamos?

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