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domingo, 11 de fevereiro de 2024

#Verborragia: Carnaval

 Nesta verborragia fora de época, exploraremos os preconceitos, suas justificativas e meios de superação. Vou começar pelo fim.

No fim, bem no fim, no último instante antes da linha que você agora visita, eu escolhi colocar a música "Se a vida é" (Pet Shop Boys) de fundo, como satélite "inspiracional", enquanto escrevia. O motivo? Meus despreparados ouvidos da adolescência escutavam "CARNAVAL, essa vida é…", ali onde se diz "COME ON, essa vida é, that's the way life is, that's the way life is…". Só isso. Pulando o meio (que é este texto) e indo ao começo, explico a sugestão da palavra ora estudada.

Para que o começo faça sentido, preciso ir ao "antes do começo", a "pré-história" da "história" deste registro. Em um passado muito remoto, fui cristão. Precisamos ir antes de "em um passado remoto", pois minha aversão ao carnaval me era inerente desde a mais remota juventude. Gostava do feriado, nunca da festa (para mim, bagunça, desde sempre). O cristianismo, preciso dizer, não cria loucos, tampouco preconceituosos, ele apenas oferece, a quem desejar, as justificativas (mais que convenientes) para as loucuras e preconceitos preexistes. Com isso, registro que no cristianismo encontrei toda uma variedade de justificativas para meu desagrado ante o "pecaminoso" evento ao qual me opunha, muito tempo antes de ser cristão e/ou de saber o que era pecado. Importa registrar que o amigo que indicou este texto (o amado Mestre Newton) o é (amigo) há mais de 3 décadas, portanto, conhece-me agora, conhecia-me no remoto passado e, sobretudo, no "antes do remoto passado cristão".

No decorrer da parte cristã de minha vida, aprendi duas "leituras" para "Carnaval". Uma era a pura, cristã, "correta", de que "Carne Vale" era o "Adeus à carne", a despedida (aqui, carne é bife, churrasco, boi, etc.), pois em seguida entraríamos no período de penitência quaresmal, deixando de comer carne até a Páscoa.

Na segunda, "naturalmente equivocada" (pelo prisma daqueles que me instruíam), o "aval à carne" era essa autorização ao pecado, esse mergulho nas coisas da carne, libidinosas, que afastavam de Deus. Uma "deturpação do que o carnaval deveria ser".

Para uma pessoa que não gostava da festa do Carnaval, essas definições (e consequentes restrições) eram uma maravilha. Uma mentira? sim. Mas uma maravilha.

O tempo passou, eu amadureci e a fé cristã tornou-se insustentável. Ainda ontem (escrevo em 11/02/2024. A conversa foi em 10/02/2024), comentava com o senhor indicador da palavra ora explorada que "a fé é uma coisa para jovens". Fé precisa de uma mistura de elevadas doses de "esperança" e "imaturidade". A vida real, quando alongada (quando você fica velho), demonstra que "esperança" não cabe, na mesma medida que te dá "maturidade". A fé perde espaço, ou se converte em uma "fé desconfiada", de qualquer modo, distinta da "fé cega" (e alucinada) dos jovens.

Saí da igreja, assim, avançamos para "um passado menos remoto". Nesse momento, o senhor "sugeridor" da palavra de hoje, debandado antes de mim, já mergulhava no mundo secular, mas, respeitoso por meu estado civil (então, casado), não me convidava aos eventos aos quais se lançava. Eu já tinha saído da igreja. Minha desculpa para a ausência não era mais o cristianismo, mas sim o estado civil, ambos embuste, mascarando preconceitos muito mais antigos.

Encerrado o casamento, meu querido amigo julgou pertinente o convite ao evento ("Vamos em um bloquinho de Carnaval?"), encerradas as desculpas de minha ausência. Ainda assim, rejeite os convites, abraçado aos antigos preconceitos por mais de 3 décadas. Essa rejeição durou 2 anos. 

Ontem, 10/02/2024, aceitei o convite pela primeira vez. Fui ao bloquinho. Meu amigo repetia "Venha, ao menos, como experimento sociológico". Fui, não como estudante teórico de um evento que me era externo, fui como participante, humano, real. GOSTEI!

Para muito além de todos os meus preconceitos, os de antes do cristianismo, os contraídos no cristianismo, há uma parte de mim que se encanta com o que é "absolutamente humano", e o que assisti ontem foi "absolutamente humano". Na igreja aprendi que encontraria um antro de pecado. Não foi o caso. Deve haver mais pecado na "Caminhada da ressureição" (evento católico de São Paulo. Pesquise) do que no que assisti ontem. Ontem eu assisti a mais pura demonstração da liberdade associada à felicidade. 

Não era feio.

Não era sujo.

Era puro, belo, harmonioso, ruidoso, desorganizado. Era humano. Pessoas felizes. Se alguém dissesse "Deus criou o mundo na expectativa daquele momento", não seria demagogia. Os deuses criaram o mundo na expectativa de momentos como aquele. Pureza, harmonia, barulho, bagunça. 

Sabe? Um cara beijo outro cara. Sabe? Um cara e uma moça se beijaram em um desejo desesperado. Encantador. Sei lá eu se se conheciam? Eram namorados antigos? Ou se viram ali e nem sabem os nomes uns dos outros? Nada disso mura que era puro, belo, harmonioso.

Porque a pureza não versa sobre o ato, mas sim sobre a malícia da intenção. Por malícia leia "maldade", coisa que não encontrei ali. A pureza está intacta. Deus está tranquilo. O céu tem, garantidos, seus habitantes.

Como bônus, encontrei Jesus. Sim. É verdade! Um rapaz completamente trajado de Jesus estava ali. Tirei até foto. Esse encontra nunca aconteceu nos passeios cristãos de minha adolescência. Isso é significativo. Encontrei no bloquinho o Jesus que procurava nos eventos cristãos (Caminhada da Ressurreição inclusa). Pense nisso.

Deus (qualquer deus. Todos os deuses) crio(aram) o mundo para ser como é. Quando dizem que "Jesus se fez igual ao homem em tudo, exceto no pecado", deveríamos compreender que "pecado" não é o beijo (ou transa) aleatórios de um carnaval qualquer, mas sim as atrocidades ocorrendo na Palestina. Não é a alegria (NEM O PRAZER) que desagradam a Deus (qualquer deus. Todos os deuses) é a ação consciente de alguém pela dor de alguém. 

Quando pessoas morrem de covid no Brasil por ação de um presidente perverso, ou crianças morrem em Gaza pela omissão de uma ONU inútil, aí reside o verdadeiro pecado, a verdadeira maldade, a verdadeira malícia. A dor infringida à carne não tem aval de nenhuma divindade.

Já, sobre a alegria na reunião dos justos, CARNAVAL.

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