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quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

#Verborragia: Essência

Dia destes conversava com uma pessoa muito amada a respeito de uma antipatia de um terceiro contra ela; noutras palavras, a pessoal mal a conhecia e decidira não gostar dela. Quando a palavra de hoje foi sugerida, aquele diálogo foi a primeira coisa que me ocorreu.

A amada em questão é uma das pessoas mais doces e cuidadosas que eu conheço, isso é a sua essência, ainda assim, duvidou de si mesma, quando teve ciência da maneira como o terceiro a via. Parece-me natural que, quando acusados de algo, fiquemos inseguros sobre o quanto daquilo é verdade. O quanto do que acreditamos ser nossa essência o é de fato? Quanto nos enganamos sobre nós mesmos? Quanto da opinião de terceiros sobre nós é válida? Quanto disso é preconceito?¹

Sobre a amada, protestei. Não deveria deixar-se abater por aquilo, pois era uma opinião obviamente infundada. Apelei para suas outras relações: quantas pessoas já haviam anunciado a mesma impressão? Nenhuma. Como deixar-se convencer por uma agente com o qual mal se tenha interagido? Não aceito.

Por outro lado, a posição que ela adotou deveria servir de modelo para todos nós; a reação mais óbvio, natural e arrogante seria, desde o início, invalidar a posição do terceiro, certos de que não se aplica a nós. Estar disposto a reavaliar sua essência, buscando confirmar se há traços da característica reclamada e, consequentemente, tentar o aprimoramos, é tarefa que poucos estão dispostos a adotar. Acredito que infinitos pontos de conflito seriam contornados com essa autoanalise sincera e aberta.

Ainda assim, há sempre o erro. O outro pode, muitas vezes, ter opiniões distorcidas ao meu respeito. Já fui acusado de ser manipulador quando, em um diálogo, pela primeira vez, discordei da interlocutora da época. Noutra ocasião a pessoa "intuiu" que eu representava encrenca. Não quero soar arrogante, mas preciso citar-me como objeto em uma análise assim, pois eu sou o único ente que me é possível conhecer por dentro, portanto, o único caso, no universo, para o qual sou capaz de conhecer, sem chance de engano, as reais intenções, a cada momento, e se são ou não compatíveis com o julgamento do terceiro. Nos exemplos dados, não eram.

Mascara-se pela acunha do "eu intuí", "energia não mente", "o santo não bateu" e afins toda a sorte de preconceito superficial. Elementos que não estão na pessoa, mas que eu projeto nela, desvios potenciais meus, não dela, que eu autentico com essas máximas levianas. Veja: Não vou discutir intuição, energias e similares; estou inclinado a crê-las como reais, mas muitas vezes são colocadas como elemento de justificativa/validação/confirmação em um cenário no qual não estavam realmente atuando. Preconceito.

Este texto foi iniciado em 28/11/2023 e abandonado. Não escrevi mais nada até este momento, 13:46 de 13/12/2023. Sentei -me em uma área de descanso existente em meu local de trabalho decidido a iniciar um texto novo, fora da verborragia, discutindo os sentimentos deste hiato. Começaria, naturalmente, relatando a existência de um texto incompleto para, então, explorar minha incapacidade de dar sequência ao mesmo. Nesse ato surgiu-me a compreensão de que todos os sentimentos, sejam aqueles que me fazem escrever, sejam os que me travam, pertencem a mim; são minha essência. A reflexão que pretendi fazer não caberia em outro lugar, se não, no próprio texto que eu declararia abandonado.

A própria Verborragia é uma evidência de que não estou inspirado o tempo todo. Meu gosto pela escrita não a torna, automaticamente, prolífera em mim. Incomodado pelos hiatos de produção, criei a verborragia para que as indicações feitas pelas pessoas (e o sentimento de dívida a quem indicou) me estimulassem (ou obrigassem) a escrever. Deu certo por um bom tempo. "Um bom tempo" não é "para sempre". Eventualmente o desejo de escrever (ou o compromisso de lavar a louça) são ofuscados por um outro sentimento, forte, profundo, sem nome nem rosto (até então).

Nessa semana meu filho me mostrou um vídeo do Ludoviajante ² e ele deu nome ao meu sentimento. Ele narrou situações nas quais, frente à necessidade de fazer algo, a mente diz "Não!". Só "não!". Sem justificativa, argumentação, substituição. Sem nada. Só não. Porque não!

Esse "não" era o sentimento que eu sentia (e sinto), eventualmente, e que me levou a abandonar o presente registro em 28/11. Eu abria o PC (ou o celular. Escrevo em ambos), olhava para o Evernote e, simplesmente, dizia não. Não havia agonia, incômodo, insatisfação, tristeza, sono, etc. Apenas "não". Aconteceu com o texto, a louça, o almoço do meu filho na quinta feira passada (acabei pedindo Ifood), a roupa para dobrar ocupando metade da minha cama (que bom que é de casal).

O Ludo termina seu vídeo com proposições fantásticas, as quais não reproduzirei aqui. Assista ao vídeo. Quanto a mim, decidi ser sincero com (e sobre) a minha essência. Muitos anos atrás eu fui cristão (católico) e me ensinaram que pecado confessado é pecado 50% vencido. Gosto disso. Não vou visitar um padre. Visito-vos. Quando eu aceito minha essência e abro a fragilidade que a nela (confessando-te neste relato) crio, simultaneamente, um compromisso de esforço para revisão e aprimoramento de minha própria essência. Expondo minha fragilidade, tornando-te ciente da mesma, forço-me, a exemplo da verborragia, ora por honra, ora por constrangimento, e revisar-me, garimpando no fundo do meu ser o "sim" que fiquei devendo.

É essencial!

É es.Sim.cial!


Notas:

1. Leia Estranho  e Preconceito 

2. Assista Como ser mais gentil consigo mesmo   


Para entender o motivo da Verborragia clique aqui (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz!)

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