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Há anos ocorrem ricos diálogos sobre Civilização Humana e Filosofia, Teologia, História e Cultura em geral! Tudo que possa interessar a alguém que espera da vida um pouco mais que outra temporada de BBB! Após diversos convites a tornar públicos estes diálogos, está feito! Quem busca uma boa fonte de leitura, por favor, NÃO VISITE este site. O que esperamos, de fato, é a franca participação de todos, pois não se chama “Outros Discursos”.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Você foi DESLIGADO!


Há pouco mais de dois meses fui desligado da empresa na qual trabalhava, evento seguido pelo desligamento de vários outros colegas da mesma área. Em um curtíssimo diálogo on-line (via FaceBook), um amigo trouxe à tona que talvez este termo dê ao indivíduo humano o valor de “autômato”. Convidado que fui a refletir sobre isto, decidi localizar o sentido específico da palavra “ligar” a qual, segundo o Dicionário Michaelis ¹, significa, entre outras coisas, “fazer laço ou nó em; atar, fixar, prender (vtd1)” e também “fazer aderir; pegar, cimentar (vtd 2)”. Segue um breve comentário sobre a visão que boa parte das práticas contemporâneas de gestão de pessoas evidencia em relação à sua matéria prima, o profissional.
No ambiente corporativo, infelizmente, por mais que se apresentem infinitos discursos acerca de práticas inovadoras para gestão de pessoas, o que se vê na prática é o simples ciclo de encaixe e descarte, no qual se remove a peça obsoleta ou “problemática” e a substitui por outra, a qual deve ser capaz de se metamorfosear para conectar-se adequadamente à vaga disponível. Ignora-se as características e potenciais inerentes ao individuo. Que ele sirva para isto que eu preciso agora é o que basta. O que ele poderia me oferecer fora dali (noutra área ou atividade) não interessa. Esta facilidade de substituição evidência que a contratação daquele indivíduo não tinha tanta relação assim com o correto emprego do verbo “ligar”, uma vez que ele foi inserido em determinada atividade mas não foi profundamente conectado à realidade daquela empresa. Não se fez um laço. Nada foi aderido ou cimentado. No máximo, aproximado.
Do funcionário é cobrado o comprometimento com a empresa, ele deve “vestir a camisa”, mas esta via é de mão única. A desatenção às potencialidades intrínsecas àquele indivíduo mostra que outro sentido bastante significativo do verbo ligar é desprezado, o sentido de “unir(-se) por vínculos morais e afetivos (vtd e vpr 5)”. A formação moral de cada indivíduo é um processo que se inicia na família, segue na escola e deve ser continuado pela sociedade e, sobretudo, pelo local de trabalho, ambiente no qual ele passará a maior parte ativa do seu dia. Ora, é exatamente o contrário que se observa. A atividade profissional não toma para si o papel de formadora e “consolidadora” moral, uma vez que expõe aquele profissional à praticas, metas e prazos que se tornam verdadeiros testes de seus valores morais prévios; constroem-se convites (quiçá exigências) para que a visão moral e emocional que aquele individuo tem sobre o mundo e as relações sociais sejam subvertidas.
Ao indivíduo que não se dobra ao esquema pronto fica garantido o “desligamento” em breve. Aqui se começa a perceber o real sentido que tem o verbo “ligar” no universo corporativo; uma vez que outro sentido de “ligar é “dar importância, atenção, fazer caso (vti 11)“, opta-se por “desligar” fulano pois ele deixa de importar, não é digno de atenção, não se faz caso dele. E isto é fato. O desligamento é frio. Toma-se de volta o crachá e o individuo precisa de escolta para deixar o prédio. Em alguns casos até o tempo para se despedir dos colegas é controlado.
Finalmente, descobrimos que a palavra “desligar” evidencia o real valor que um profissional tem para uma empresa. Outros dois sentidos de “ligar” são “Eletr: Pôr em circuito, pôr em funcionamento (vtd 13)” e “pôr em andamento uma máquina, engatando-a com o mecanismo motor (vtd 18)“. O indivíduo humano deve assumir o papel de autômato, cumprindo rigorosamente o papel ao qual foi convidado no momento da contratação, assim como os demais que o empregador julgue por bem lançar sobre ele no decorrer do tempo, conforme as necessidades e interesses da empresa. Um individuo que não acompanha o ritmo pretendido, não aceita de bom grado todos os processos estabelecidos se torna um aparelho com defeito e de manutenção cara. Hora de DESLIGAR o aparelho velho, lançando-o à sucata do mercado de trabalho. Hora de ligar um sobressalente, e ai dele se não cumprir com seu papel. Toda a máquina deve realizar com perfeição aquilo à que foi construída! Ai de mim se anuncio que fui construído para pensar!!!

Notas:

3 comentários:

  1. Excelente artigo! Infelizmente essa é a realidade em todas as grandes empresas do mundo: eles querem profissionais motivados, atualizados, disponíveis 24x7 e apaixonados pelo que fazem, porém falta uma visão humanista de que não somos simplesmente "recursos humanos" (no sentido mais restrito da palavra recurso). E isso se intensifica ainda mais nas empresas baseadas em conhecimento, que em teoria deveriam ser as pioneiras em oferecer um ambiente aberto e verdadeiro junto aos seus funcionários.

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  2. É isto mesmo amigo Meireles (a propósito, saudações)!
    O que o senhor acredita que falta para o despertar humano da prática corporativa atual???

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  3. Parabens! É exatamente o que descreveu que sinto em todas as empresas que já trabalhei. É a vez do cordeiro e acredite em mim, existem milhares de cordeiros que ligam e desligam ao comando do Chefe. E felizmente esse é sempre o motivo dos meus desligamentos. Mas, a esperança de achar uma empresa que pense me faz sempre me ligar. Proximo passo: Lecionar e Viver! rs

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