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Há anos ocorrem ricos diálogos sobre Civilização Humana e Filosofia, Teologia, História e Cultura em geral! Tudo que possa interessar a alguém que espera da vida um pouco mais que outra temporada de BBB! Após diversos convites a tornar públicos estes diálogos, está feito! Quem busca uma boa fonte de leitura, por favor, NÃO VISITE este site. O que esperamos, de fato, é a franca participação de todos, pois não se chama “Outros Discursos”.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Milagres e Conquistas

Quando eu era cristão aprendi que se orasse com muita fé poderia até mover montanhas. Paralelamente, aprendi que se orasse com muita fé e mesmo assim não fosse atendido era porque a sabedoria de Deus discernia o que era melhor para mim (???)

Aprendi que Deus queria que eu fosse santo. Paralelamente, aprendi que respeitaria meu livre arbítrio (respeitando minha liberdade para pecar mesmo que eu orasse com muita fé para ele me ajudar a ser santo [???])
Hoje sou Budista e percebo que há uma grande dificuldade em nossa sociedade, predominantemente cristã, para compreender o budismo. Como não há divindades no budismo, tacham-nos de ateus. Ainda por não haver divindades, decidem que o Budismo não pode ser religião; o tacham filosofia de vida. Por ora basta dizer que o Budismo é uma religião, não uma filosofia, e não é baseado no ateísmo. Em breve apresentarei reflexão mais ampla sobre este tema. Concentremo-nos agora nas orações, postura, milagres e conquistas.
Há um dito popular (atenção ao "popular". Não se trata de máxima cristã) útil como base ilustrativa de onde pretendo chegar: "Quem espera sempre alcança!". É óbvio que a sabedoria popular não faz aí apologia ao ócio, mas sim incentiva paciência. Para efeito de reflexão, porém, reduzamos esta inferência ao que ela não é. Coloque-a ao lado de frases como "peça e será dado", "bata e será aberto", etc. Há aí uma postura viciosamente passiva, viciosamente heterônoma. Por que não trocar o "Quem espera sempre alcança" por "quem busca sempre alcança"? Coloque, ao menos, "quem estica o braço e fica na ponta dos pés sempre alcança"! "Não peça, conquiste", "não bata, obtenha a chave". Quando eu era cristão fazia parte do chamado "ministério de música". Quando decidíamos realizar um evento nos reuníamos com frequência, discutíamos detalhes, traçávamos planos para captar recursos, ensaiávamos. Terminados os preparativos, o evento. Terminado o evento, reuníamo-nos em círculo e de mãos dadas agradecíamos a Deus por ter dado tudo certo. Dezenas de eventos depois, num destes momentos de oração, um raio caiu em minha cabeça: "Como assim agradecer a Deus? E todo o nosso esforço e preparo?" Deve ter sido exatamente ali o começo do fim. Hoje, sou budista.
Por favor, Leia com atenção! Não interprete estas linhas como um discurso ateístico ou como uma pregação probudismo. A coisa é mais simples. Deixemos ateísmo e budismo de lado. Concentremo-nos no interior da hipótese da existência de um pai amoroso que nos assiste e escuta nossas preces. Coloque-se no lugar dele e pense em qual seria o maior presente que você poderia lhe dar.
Estive ao lado de minha esposa em sua colação de grau. Vi um de seus colegas de turma receber o diploma e dá-lo de presente ao pai. Não sonho em receber o diploma do meu filho, mas sonho vê-lo formado, completo. Será que este Deus, que você chama de Pai, merece menos gratidão que um pai mortal? Se Ele existe, como tantos se esforçam para convencer-me, merece no mínimo tanto amor quanto o pai humano. Agora repito a pergunta: "qual seria o maior presente que você poderia lhe dar?"
Amadureça em sua fé, forme-se como o indivíduo que você sabe que deve ser, torne-se pleno. Não implore milagres, conquiste, construa. Não se resigne no sofrimento, lute pela justiça. Não ore pelos fracos, lute por eles. Não peça perdão pelos seus pecados, crie as condições necessárias para nunca mais precisar recorrer à misericórdia divina. Abandone definitivamente esta ridícula muleta do "sou apenas um humano". 

Eu, Marcelo, não sou filho de Deus. Eu, Marcelo, não acredito em Deus. Ainda assim creio que "ser um Buda" seja algo concreto e plenamente realizável em minha vida. Esforço-me diariamente por isto. Como pode você, temente a Deus, filho legítimo e amado de Deus, ainda não ser santo? Não ore por isto. Não se esconda atrás do "Deus ainda não realizou". Construa isto. Realize isto. Não há milagres. Há conquistas.

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