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Há anos ocorrem ricos diálogos sobre Civilização Humana e Filosofia, Teologia, História e Cultura em geral! Tudo que possa interessar a alguém que espera da vida um pouco mais que outra temporada de BBB! Após diversos convites a tornar públicos estes diálogos, está feito! Quem busca uma boa fonte de leitura, por favor, NÃO VISITE este site. O que esperamos, de fato, é a franca participação de todos, pois não se chama “Outros Discursos”.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

#Verborragia: Lula

Palavra de escotista: Eu não escolhi a palavra. Quando ninguém sugere uma eu recorro a um site de palavras aleatórias e a Álea optou por #Lula. Em que cilada fui me meter?

Tornei-me eleitor em meados de 1997 e votei em Lula na eleição de seu primeiro mandato. A infância na Zona Leste de São Paulo garantiu-me uma boa (inicialmente grafei "plena"; seria muita pretensão da minha parte) compreensão da precariedade da vida na periferia e, consequentemente, uma antipatia natural pelo Capitalismo (e seus defensores).

Era curioso: na minha infância e adolescência a urgência de uma revolução socialista e a estupidez das visões conservadores eram (e são) tão evidentes que "ser de Esquerda" me parecia indicador de inteligência e "ser de Direita" era uma vergonha; na minha cabeça só os ricos eram de direita (por razões óbvias) e pobres, caso simpatizassem com a coisa, o fariam constrangidos, em segredo, como quem usa pantufas.

Não sou petista. Voltei no Lula no primeiro mandato e nunca mais (até 2022). Votei no Lula porque na infância os professores obrigavam a assistir horário político, fazer anotações e entregar trabalhos a respeito. Acompanhei umas duas tentativas fracassadas em eleições anteriores e fiquei marcado com tudo que aquele candidato dizia que era possível fazer no Brasil e não era feito porque não interessava aos poderosos.

Eu não sou (nem era) inocente: Eu sabia que o Lula no qual votei em 2002 não era o mesmo Lula das tentativas anteriores. Ele havia sido editado, "ajustado" e condicionado; foi tornado algo mais comercial (invariavelmente menos que si mesmo), agradável ao paladar do eleitorado brasileiro, mais contido, moderado e, por esse pacto com o demônio, venceu.

Eu não era inocente, mas alimentava esperanças de que o pacto fosse só para a campanha e que, uma vez eleito, o revolucionário ressuscitaria e o Brasil passaria por transformações nunca imaginadas. Foi com estas expectativas que pulei de alegria na noite em que o vencedor foi anunciado. Foi daí que nasceram todas as frustrações nos anos posteriores. Não vou renegar os avanços, invariavelmente além do que se operava até então, todavia, indiscutivelmente aquém daquilo que o discurso pretérito levou a esperar. É neste contexto -o conflito entre expectativas e realidades- que quero falar sobre o futuro do Brasil. O raciocínio a seguir não é inédito para meus amigos mais próximos (não devem aguentar mais me ouvir repeti-lo), mas acho que não cheguei a organizá-lo em texto escrito.

Lula foi eleito em uma disputa acirrada com o sujeito cujo nome não ouso mencionar, sinônimo de tudo que há de mais perverso. Otimistas procuram reduzir o quão o cenário é preocupante alegando que a ínfima diferença percentual representa pouco mais que 2 milhões de brasileiros (menos de 1% da população bruta). É uma visão simpática, mas não deve servir para esquecer que 58 milhões de brasileiros (mais de 20% da população) consideraram os quatro desastrosos anos dos quais acabamos de sair um êxito e optaram, voluntariamente, pela sua manutenção. Temos, à frente, um país devastado -quase um pós-guerra- para reconstruir e, como se não bastasse, 58 milhões de brasileiros bradam "na época da guerra estava melhor".  Observam um país sucateado e pilhado e ainda ousam chamar o que assume de "ladrão", o foragido de "mito" (ainda!!!).

Não vou transformar esse espaço em defesa jurídica do Lula, não sou inocente (repito). Mas manter, a esta altura do campeonato, o discurso de honestidade para validar a preferência pelo outro é uma mistura de demência com corruptibilidade em escalas nunca antes observadas (deviam estar incubadas). É batata: grita por justiça, chama Lula de ladrão, abraça a bandeira do inominável = Pedófilo e/ou sonegador e/ou miliciano e/ou assassino e/ou "qualquer merda que você imaginar cabe aqui".

É BATATA! Não falha nunca.

Pretender comparar Lula ao Verme Foragido é o mesmo que comparar o menino que pegou uma bala ali na bomboniere e saiu correndo e o cara que atirou na cabeça do meu pai. Ah, meu amigo, e quantos pais vosso presidente foragido matou??? Aqui há as mortes por omissão, na pandemia, mas nem perca seu tempo falando que ele não tinha o que fazer, foi um desastre natural, blá blá blá; há tantas mortes ativas, por comando direto ou indireto, que cem anos de limpeza não dariam conta de tirar o sangue daquelas mãos e das vossas. Aproveitando, limpeza ali não há no caráter NEM na vida, não é? Vistes o Alvorada?

Enfim. Me perdi do tema que já saturou meus amigos: o desafio do Lula nos próximos quatro anos é terrível, colossal, homérico.

Veja: tudo que qualquer país em situação comum necessita é um governo minimamente organizado. Honestidade é utopia, portanto, sequer levantarei essa bandeira aqui (e disto não deriva que autorizo ou compactuo com a corrupção. Só estou sendo pragmático). Lula não tem permissão para ser apenas organizado.

Tudo que um país pós-guerra precisa é de um governo eficiente e ágil; Lula não tem chance de ser apenas eficiente e ágil.

Lula é perfeitamente capaz, e muito competente, para fazer um ótimo governo; Lula não tem chance de fazer um ótimo governo.

Lula é quase capaz (aqui entra a alma vendida para complicar) de realizar a revolução que eu esperava em 2002; ele não tem chance ... Você entendeu!

Lula necessita realizar NADA MENOS que uma revolução ainda maior que minhas mais extravagantes conjecturas! Para quê? Agradar o Marcelo? Evidente que não. Ocorre que o dia 31/10/2022 não é uma vitória, é um fantasma, um mostro de pesadelo, uma matilha de lobos famintos perseguindo o presidente dia e noite: 58 milhões de brasileiros (lembra do percentual ínfimo?) acréscimo de sabe-se que volume de pessoas que apertou 13 com o pé atrás esperando a mais boba oportunidade de dizer "Tá vendo?"

Os extremistas não dormiram; você viu os ataques desta semana; qualquer dose de "apenas o necessário" é argumento para "não fez nada" e reacender a chama da vilania que facilmente cativará outros tantos indecisos. Jair Anticristo Bolsonaro nunca mais voltará, mas isso é irrelevante; uma vilania imensa está desperta, instalada e devidamente validada, pronta para agarrar cada oportunidade de transformar inocentes em massa de manobra para sua agenda própria nas eleições de 2026. Não é nem questão de "qualquer deslize será o fim." Não é preciso nem deslize. Já tivemos um impedimento com um crime inventado simplesmente para cumprir este fim. Daqui pra frente qualquer R$ 0,10 de aumento em um bem vital, uma gaze atrasada no SUS, uma fatia de salsicha a menos em uma merenda escolar (não vamos discutir o que é ou não responsabilidade Federal; para os os planos dos vilões e na ingenuidade do povo nada disto importa) levará a protestos (e conversões de intenção de voto) que podem devolver, com facilidade, o país às garras daquela quadrilha.

Note que quando falo "povo" e "massa de manobra" não é das pessoas simples que estou falando (embora eles também façam parte do risco); estamos falando de médicos, engenheiros, empresários, funcionários públicos, pessoas supostamente letradas, supostamente "inteligentes", vizinhos seus, colegas de trabalho, gestores nas empresas, gente testada pela vida, por processos seletivos, vestibulares, quiçá concursos públicos, batendo no peito (e babando, vale dizer) para falar de tríplex e pedalada fiscal enquanto desprezam, conscientemente, rachadinhas, imóveis comprados com dinheiro vivo, compra de favores, leites condensados e carnes a preço de ouro, "kit sexo" para militares e TANTAS outras coisas que me dá até ânsia de começar a lembrar. Trata-se da mais suja e torpe parcialidade, tomando como verdade as mais evidentes distorções dos fatos, simplesmente porque são convenientes para sustentar seus discursos, enquanto fecham os olhos para toda sorte de canalhice, perversidade e sordidez.

Eu votei no Lula, não para defendê-lo; eu só quero a chance de poder tecer criticas, como sempre fiz, ser, talvez, oposição, em um país no qual a dialética seja restaurada e que o outro lado diga "Discordo!", em vez de atirar em mim. É o mínimo da civilidade, e até o mínimo esse país conseguiu perder.

Reze pelo Lula, independente de qual seja a sua convicção religiosa; reze até se for ateu, meu irmão. Porque não é o futuro do Lula que está em risco aqui; é o seu.

Para entender o motivo da Verborragia clique aqui (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz!  )

Para entender que minhas previsões não são demagogia leia Para não dizer que não falei de Impeachment 

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