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quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

#Verborragia: Soma

A palavra de hoje se acrescenta ao grupo de tantas outras pelas quais já passamos, saturadas, apropriadas e empregadas pelo "lugar comum" à exaustão. Como de costume, gostaria de seguir por caminho distinto.

Algumas existências atrás¹ eu tive uma namorada que dizia "Eu quero somar na sua vida. Nunca subtrair."; Era uma boa moça; Somou tanto quanto minha imaturidade juvenil permitiu. Faço votos de que esteja feliz. Não vou falar da soma matemática, tampouco da soma afetiva (e até operacional) pretendida por esta moça, mas sim do Soma, bebida ancestral mística retratada nos Vedas, textos sagrados do hinduísmo.

O Soma, cuja receita se perdeu nos séculos e milênios (a ponto de ser considerado puramente ficcional por muitos) era o elemento que, ao ser consumido, conferia imortalidade aos deuses e sabedoria e vigor aos homens (os poucos eleitos para ter acesso a ele). Para os que defendem sua existência real, seria algo semelhante ao atual ayahuasca, preparado a partir de plantas e/ou cogumelos com propriedades psicoativas que levariam a estados alucinatórios interpretados pelos usuários como místicos, catárticos e expansores da mente (da espiritualidade).

Não é meu papel fazer crítica NEM apologia à recorrência a estes subterfúgios (seja os disponíveis atualmente, seja ao próprio Soma, caso a receita seja recuperada). O que quero apontar é que, curiosamente, o hinduísmo atual repele, em quase todas as suas vertentes, o uso de qualquer substância capaz de alterar o estado mental: álcool, tabaco, drogas e, em alguns casos, até mesmo o café.

Eu, particularmente, não me sinto atraído por estas experiências (isso não é crítica; é gosto pessoal), mas suponho que as proibições atuais expliquem o desaparecimento; a coisa pode não ter sido perdida, mas sim deliberadamente apagada. Por quê? A interpretação mais óbvia é de que, em um balanço geral, notou-se que essas interferências artificiais na psique criavam experiências transcendentais ilusórias, portanto, atrasos na evolução espiritual real. Eu nunca recorri a estes elementos, mas já fui em missas de "cura e libertação" e sempre estranhei como um Deus, infinitamente poderoso, precisava de missas adicionais para nos curar; por que a cura não era definitiva? Para quê prolonga-la em um tratamento indefinido? (tal qual a indústria farmacêutica). Certa vez ouvi a Monja Coen narrar que conversara sobre drogas com um mestre e ouviu dele "Por que pular a janela se você pode entrar pela porta?".

POR OUTRO LADO, há um conto hindu mais ou menos assim:

Shiva, que é o adiyogi (o primeiro iogue), caminhava com seus discípulos pelas proximidades de um povoado e, passando por um acampamento comercial, bebeu uma bebida alcoólica (eu gosto de pensar que era cerveja. Certamente era alguma bebida indiana que eu não conheço). Seguindo o passeio notou o burburinho entre seus discípulos, queixando-se uns aos outros de serem proibidos de algo e o Guru bebeu. Notando a insatisfação, Shiva andou até a área na qual estava um ferreiro, tomou o recipiente da forja e bebeu o ferro derretido. Ensinou que no dia em que forem capazes de beber o ferro estarão livres para beber o álcool. Noutras palavras, o problema nunca é a coisa externa, mas as capacidades e forças de cada individuo. A proibição era um proteção, não uma decisão aleatória por capricho do guru. Talvez (repito, este parágrafo não é uma apologia; o anterior não era uma censura) quando formos discípulos preparados para receber, a fórmula do Soma seja recuperada (talvez já esteja acontecendo, dada a "redescoberta" das "medicinas" tribais pela população ocidental).

Uma terceira interpretação seria a simples mudança na praxe: o Soma era consumido, tradicionalmente, por Indra, o rei dos deuses, mas com o passar dos séculos a devoção a Indra foi substituída pelo culto aos deuses da Trimurti (Brahma, Vishnu e Shiva) e, consequentemente, as práticas religiosas mudaram. (atente-se aos dois pontos anteriores; esse aqui é só uma especulação adicional).

Toda sorte de interpretações possíveis pode ser dada às duas proposições anteriores e muitas outras distintas podem ser propostas; o que não se pode negar é que algo ocorre àqueles indivíduos que se lançam a estas experiências, independente da explicação (se realmente foi um evento transcendental ou se foi mera alteração psíquica e seus desdobramentos na imaginação). Considerando esta questão um elemento importantíssimo precisa ser SOMAdo em nossa reflexão: O Inconsciente.

O pulo do gato é: Se estamos preparados (e, de fato, já o fazemos) para aceitar que o inconsciente utiliza todo o tipo de meios para se comunicar conosco (psicanalistas, ajudem. Falem para eles dos sonhos ² ) e o estudo desta comunicação é atentamente observado academicamente, sem a mais remota insinuação de tratar-se de misticismo, charlatanismo ou pseudociência, precisamos inferir sinceramente e nos debruçar com seriedade sobre o estudo da comunicação que, invariavelmente, opera nas pessoas sob efeitos destas substâncias; alguém está falando, seja Shiva, sejam as camadas mais profundas do próprio sujeito, e precisamos aprender a ouvir. 


Para entender o motivo da Verborragia clique aqui (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz!)


Notas:

1. Leia Vidas Passadas  

2. Leia Eu nunca sonhei com Deus, Consciência, Eu Sonhei com Deus, Inspiração e Pinturas

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