Cabeçalho

Há anos ocorrem ricos diálogos sobre Civilização Humana e Filosofia, Teologia, História e Cultura em geral! Tudo que possa interessar a alguém que espera da vida um pouco mais que outra temporada de BBB! Após diversos convites a tornar públicos estes diálogos, está feito! Quem busca uma boa fonte de leitura, por favor, NÃO VISITE este site. O que esperamos, de fato, é a franca participação de todos, pois não se chama “Outros Discursos”.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Deuses seletivos


     Um grande amigo meu fez um comentário muito perspicaz ao incluir o adjetivo "seletivo" para o sujeito "Deus". Fiquei com vontade de explorar o tema.

     Primeiramente importa reconhecermos que não existe um único deus. Aqui não estou falando da eventual existência metafísica em si ou de politeísmo. Refiro-me à experiência subjetiva da religiosidade. Mesmo no estudo de um grupo no qual todos os participantes sejam cristãos, portanto, monoteístas, não teremos realmente um único Deus. Cada um tem seu Deus particular, amoroso para uns, rigoroso para outros, mera "lâmpada mágica de atender desejos" para outros; Deuses tão diversos quanto o número de indivíduos do grupo analisado.
     Isto basta (e mais uma vez declaro que até este ponto não estou dentro da hipótese da existência metafísica) para entendermos a seletividade das divindades. Por que parecem favorecer uns e desprezar outros? Na verdade tal características não é das divindades, mas sim da multiplicidade de interpretações dos crentes. Se Deus favoreceu José e não Zé, foi "porque Zé não mereceu", "ainda na era o momento", "Deus tem algo muito melhor para Zé", "José não está no caminho de Deus e por isso tem vida fácil. Mas o pós morte não será nada fácil", etc. Infinitas explicações. Infinitos deuses e perfis comportamentais dos mesmos deuses.
     Agora, inserindo-nos na hipótese da existência de deuses, o que realmente acontece? Eu não creio que, se Deus existe, tenha interesse em perder tempo brincando de mágico. A jornada que Deus quer assistir e estimular é a da nossa emancipação espiritual. Nada mais. Pouco importa para Deus se você passa no vestibular, arranja o emprego, fica com a garota, cura a doença, adia a morte, etc. Tudo isso, conteúdo das preces de cada crente para cada Deus, é distração e atraso no caminho de encontro com o próprio Deus. Creio que nada disto interesse à divindade. Do contrário, não teria arranjado a existência como está. Bastava não ter criado os obstáculos, já que sabia (onisciente, lembra?) que milhares de anos depois o José pediria para removê-los. Então acredito que cada "sim" para José não seja um milagre e cada "não" para Zé não seja uma represália ou ensinamento. Deus não tem parte com milagres e castigos. Tais eventos não passam de aleatoriedade e nossa interpretação subjetiva dela.
     Os deuses são seletivos? Sim! Mas não os deuses reais (inserindo-me na hipótese de sua existência), cuja agenda é muito mais significativa e profunda que os patéticos dramas vividos neste pálido ponto azul. Os deuses que criamos e frente aos quais nos prostramos (invariavelmente pessoais, subjetivos, criaturas e não criadores) são tão seletivos quando decidimos que sejam.

Nenhum comentário:

Postar um comentário