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Há anos ocorrem ricos diálogos sobre Civilização Humana e Filosofia, Teologia, História e Cultura em geral! Tudo que possa interessar a alguém que espera da vida um pouco mais que outra temporada de BBB! Após diversos convites a tornar públicos estes diálogos, está feito! Quem busca uma boa fonte de leitura, por favor, NÃO VISITE este site. O que esperamos, de fato, é a franca participação de todos, pois não se chama “Outros Discursos”.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Consciência

      A presente reflexão é demasiadamente metafísica, portanto, provavelmente não muito agradável ao paladar de espíritos mais materialistas ou pragmáticos. Ela é absolutamente não científica e não poderia estar mais distante de qualquer mínima chance de empirismo. É completamente especulativa e não demonstrável, assim como desprovida de "verificabilidade" posterior (salvo em extrapolação interpretativa, como metáfora ou equivalente. Talvez o faça no final). Dadas estas premissas indico que uma personalidade não muito afeita à especulação inútil pule esta publicação. Haverá (como houve) abundante conteúdo de maior eficácia pragmática e, com isso, garantimos a manutenção da amizade.
      Ao desafortunado ente que decidiu manter-se nesta leitura, digo que quero explorar nossa interpretação de nosso ato de ser/estar consciente em nosso transito entre sono e vigília e ver o que daí poderemos "capturar" de sugestões para a interpretação de nosso transito entre a vigília e a existência superior (nesse ponto tanto faz se pós-morte, em momento de iluminação ainda em vida, pequenos e passageiros momentos de grande clareza, "eureca", etc.).

      O parágrafo anterior é o nosso roteiro, logo, começaremos pela análise do "transito" do ato de ser/estar consciente entre a vigília e o sono. Ora, é de consenso geral que durante a vigília estamos plenamente e constantemente conscientes (eu discordo), sendo, inclusive, este um dos métodos de verificação para distinguirmos este estado do sono. Consequentemente, durante o sono/sonho ignoramos não apenas os eventos ao redor do corpo dormente, mas inclusive os eventos internos, subjetivos, as "histórias" que ali são retratadas. Para todos os efeitos, e sem qualquer distinção, parecemos conscientes, interagimos com pessoas, tomamos decisões frente aos eventos, dialogamos, desempenhamos papeis complexos em relacionamentos, (não vou extrapolar para as especulações sobre projeção de consciência, viagem astral, etc. Para o ponto ora analisado nada se perde em admitir que tudo se passa no mesmo local físico denominado corpo) e afins. Basta acordar para perceber (sem assombro! é rotina!) que nenhum ato foi consciente, que seu estado atual é incontestavelmente distinto daquele imediatamente anterior e que todos os atos aparentemente conscientes não foram decididos, foram assistidos. Você não era/estava consciente dos eventos. Sofria-os mais que causava-os. Há, porém, um evento particular, menos ordinário, que altera um pouco este cenário: O Sonho Lúcido. Ora, para quem já o experimentou (e, novamente, nada perdemos em admitir que se passa inteiramente no cérebro, sem desdobramentos metafísicos), trata-se do rompimento da fina membrana que separa o ser/estar consciente aqui (isto é, na vigília) com o ser/estar passivo de ali (no sono/sonho), permitindo ao ente consciente que denominamos "eu mesmo" interferir nos atos e decisões do que se passa no mundo onírico.

      Aos que já experimentaram o sonho lúcido não vai ser estranho o cenário que descreverei a seguir, ponto central de tudo o que eu quero explorar: Nossa lucides/consciência na vigília é diametralmente oposta de nosso torpor/inconsciência no estado de sono, mas o "sonho lucido" não é pleno em um lado, nem no outro. É como se ocorressem lampejos. Dentro da linha temporal de um único sonho você desperta (sem acordar), se reconhece sonhando mas lúcido por alguns instantes, interfere um pouco, toma algumas decisões eventuais, mas rapidamente se distrai, adormece (sem dormir. Você já está no sonho) e a história da qual você era espectador passivo segue totalmente livre de sua intervenção. Com sorte o "despertar" ocorre mais uma ou duas curtíssimas vezes, você dorme em seguida e tudo se perde. Acredito que qualquer pessoa que tenha experimentado um sonho lúcido reconheça este cenário. Um interlocutor que ainda não o tenha experimentado é capaz, espero, de imaginá-lo. Estudantes/praticantes do tema são, por consequência, pessoas comprometidas em descobrir e realizar técnicas que aumentem a incidência, duração e qualidade desses eventos. Até aqui reunimos a base para o próximo passo do nosso "roteiro" metafísico para o exame da consciência (e a nossa capacidade de ser/estar/mantermo-nos conscientes).

      Introduzindo-nos dentro a hipótese da existência de um terceiro nível de existência, evolutivamente e "consciencialmente" maior e mais evoluído que os estados de consciência que acreditamos experimentar durante nossa vigília humana, podemos (e devemos) inferior que a relação/distância/diferença existente entre nosso nível atual de consciência e aquele intuído é equivalente à relação/distância/diferença que há entre o sono/sonho e nossa vigília. Se assim for, a próxima características que se pode presumir é que todo o mar de atos, deliberações, decisões, frases, pensamentos, desejos, sonhos. alegrias e tragédias desta existência não passam de pequenos, heterogêneos, quiçá acidentais, sonhos plenamente inconscientes aos olhos da consciência que somos/temos naquele outro nível, do qual viemos, estando aqui como visitantes casuais noturnos. Se assim for (lembre-se. Estamos dentro de um experimento especulativo. Não estamos discutindo se a hipótese é real nem pretendemos demonstrá-la. Estamos apenas explorando os desdobramentos se nos inserirmos nela, tomando-a como verdadeira à priori), também neste outro nível:

      * temos as consciências que nunca tiveram sonhos lúcidos, a grande massa dos homens contemporâneos e passados, todos vivendo suas vidas acreditando-se conscientes quando, na verdade, a sofrem, a recebem, sem atuação consciente concreta. No final, nenhum inferno. Apenas uma risada rápida e o comentário à mesa do café da manhã "vocês vão rir muito do absurdo (uma existência humana inteira) que eu sonhei esta noite";

      * temos as raras consciências que experimentam sonhos lúcidos acidentais e fugidios, a minúscula "casta" dos pensadores, homens da história que tiveram pequenos lampejos do eterno e, por meio desses vislumbres, fundaram religiões, filosofias, criaram tecnologias até então inimagináveis, poesias eternas, etc.; e

      * temos as raríssimas consciências que realizam estudos e trabalhos ativos para descobrir e realizar técnicas que aumentem a incidência, duração e qualidade desses eventos, o ser/estar consciente aqui neste nível de existência. Estes são os budas, os santos, os magos, os mestres herméticos, os mestres ancestrais de escolas esotéricas, etc. "Medito constantemente: Como posso conduzir as pessoas ao caminho supremo e fazer com que adquiram rapidamente o corpo de um buda?" é o desejo e labuta do buda, segundo frase que lhe é atribuída dentro do Sutra de Lótus.

      Encerrada esta jornada especulativa, preciso dizer que não tenho qualquer perícia no ser/tornar-me lúcido lá no mundo dos sonhos, isso como ato consciente deste ente que agora escreve, portanto, quanto menos o devo ser para tornar-me lúcido aqui, como ato da consciência maior da qual derivo, a qual me é tão absurdamente estranha e, ainda, donde veio tudo que sou e para onde retornarei. "Desmetafisicando" isso tudo, como prometi/pretendi no início, penso que independente que qualquer possibilidade metafísica (portanto, agora dispo-me da hipótese que abria o experimento), os três níveis que exploramos, o sono, a vigília inconsciente e a vigília consciente podem muito bem ser localizados e postulados dentro de uma interpretação materialista, biológica e psicológica de homem e, ainda assim, nada nos impede de seguir interpretando a existência com base nos paradigmas aqui propostos; nada nos impede de ser/tornarmo-nos entes que realizam estudos e trabalhos ativos para descobrir e realizar técnicas que aumentem a incidência, duração e qualidade das ocasiões em que somos/estamos conscientes.

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