Desde aquele momento eu sabia que precisava digerir a nova frase, seus significados, as consequências da troca de "TE" por "DE" e agora me sinto pronto para compartilhar.
O ser humano, mortal que é, teme. O medo é natural da vida, recurso derivado da necessidade de auto preservação. Neste cenário o medo é, primordialmente, individual. Nos mamíferos (não exclusivamente mas com maior frequência e eficácia) a intenção instintiva de preservação se amplia do indivíduo à família e, em certas espécies (a nossa incluída) o instinto de preservação ultrapassa o núcleo familiar e alcança agrupamentos, bandos, manadas e capelas (não vou incluir "tribos", "cidades", "sociedades" e "civilizações". Nós nunca saímos da capela).
A espécie humana (supostamente a única consciente) tinge estes instintos com significações conceituais, donde, amor, caridade, respeito, contrato social, etc. No processo evolutivo tivemos época (historiadores e juristas te garantirão que já foi ultrapassada. Saia na rua e verás que está mais viva do que nunca) na qual a lei era o "olho por olho; dente por dente". Embora pareça contraditória, esta autorização temporária e pontual de ferir ou matar era uma estratégia de preservação. Aproveitava o medo e o instinto de preservação individual (mais profundo que suas formas mais abertas e mais recentes, evolutivamente falando) para desencorajar a lesão a outros, portanto, pelo medo, fomentar a preservação geral. Não havia o medo de ferir, de matar, DE cegar; havia o medo da retaliação.
Supomo-nos evoluídos e superiores às práticas e visões de mundo desses povos e alguns de nós até, por alguma evolução adicional inexplicavelmente, tem medo DE cegar. Medos à parte, cegamos figurativamente e literalmente. Temos a capacidade potencial de ferir os olhos físicos e os olhos mentais (quiçá os olhos da alma); machucamos, enganamos, roubamos, distorcemos, mentimos, etc. Aprendemos a ter medo de fazê-lo, por valores herdados dos pais, receio de desaprovação social, receios de castigos pós morte, infernos sem fim, etc. Temos a capacidade potencial DE cegar e não a convertemos em ato (pelo menos não a maioria de nós) por toda uma infinidade de motivos.
Vivemos uma época incomum; postamo-nos em uma bifurcação muito séria:
* Para um lado vemo-nos, em proporções assustadoras, reassumindo as mais primitivas demonstrações do "olho por olho; dente por dente", quando não "olho porque deu vontade; dente porque me olhou torto", a preservação individual e/ou familiar colocada acima da capela, o desprezo pelo bem comum até quando não há necessidade de escolha (ou seja, até quando não é situação de "ou eles, ou eu"). Cegar, figurativamente ou literalmente, é tão trivial quando bocejar (este é um texto moral, não político, mas se desejar entender que este lado é à Direita, vai na fé).
* Se escolhermos e seguirmos pelo outro lado (o cenário geral dá sugestões de que é impossível, mas aprendi em "O dia em que a Terra Parou" - 2008, que são nesses momentos limite que vossa espécie se supera) romperemos completamente com as maldades potenciais, abraçando novos níveis de existência, comportamento e pensamento não por medos -internos, externos ou transcendentais- mas por convicção, lógica e consciência.
Urge que o próximo passo seja dado e que não exista mais quem cegue, literalmente e figurativamente, mas enquanto o passo não acontece, enquanto o medo não é abolido (importante: aqui abolir o medo porque transcendemos sua necessidade, não porque mergulhamos num caos de "cegadores" voluntários), não deixe o medo DE cegar.
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