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Há anos ocorrem ricos diálogos sobre Civilização Humana e Filosofia, Teologia, História e Cultura em geral! Tudo que possa interessar a alguém que espera da vida um pouco mais que outra temporada de BBB! Após diversos convites a tornar públicos estes diálogos, está feito! Quem busca uma boa fonte de leitura, por favor, NÃO VISITE este site. O que esperamos, de fato, é a franca participação de todos, pois não se chama “Outros Discursos”.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

#Verborragia: Resiliência

      Para entender o motivo da Verborragia clique aqui. A palavra de hoje é "Resiliência". Quando ela foi proposta, semanas atrás, meu único conforto era saber que eu tinha tempo; a data de publicação era distante; a ideia poderia encubar em paz para eclodir quando se sentisse segura. Ela decidiu que seria hoje (texto iniciado em 11/02/2022).

      Quero conversar sobre veneno; quando eu era budista frequentemente lia textos que recorriam à figura do veneno para ilustrar a importância da quantidade correta, em detrimento da coisa em si: veneno é veneno, mas se compreendido e dosado corretamente, é remédio. Remédios tomados em doses exageradas podem causar intoxicação, complicações e até a morte. A Resiliência pode ser remédio e pode ser veneno; tudo depende da dose aplicada.

      Antes de discutir dosagem, porém, cabe obter compreensão. O ponto central a abordar, penso, é a ideia de elasticidade. A Resiliência é uma propriedade atribuível a materiais e ilustra sua capacidade de sofrer deformações (decorrentes de forças externas) e recuperar a forma normal, tanto quanto possível, quando tais forças cessam.

      Este conceito é transportado aos indivíduos e então usado para indicar sua capacidade de se adaptar às situações da vida, principalmente as desventuras, e de se recuperar delas. Compreendido o conceito precisamos retornar ao debate sobre dosagem, pois a coisa pode não ser tão positiva quanto sugere à primeiro vista. Observe!

      Em caso de desventura (eu abri este parênteses e escrevi "ninguém vai perder tempo discutindo capacidade de se adaptar à felicidade". Me arrependi. Agora quero discutir felicidade também. Já volto).. 

      Nota: O "já volto" acima deveria ilustrar que eu faria continuidade ao raciocínio da "desventura" e voltaria à "felicidade" em seguida. Acabei me perdendo do texto em si e só voltei agora, 17/02/2022.

      Em caso de desventura a elasticidade é magnífica pois se formos demasiadamente rígidos, resistentes, seremos despedaçados. Você já deve ter visto no meio dos Infinitos vídeos aleatórios da internet aquele em que comprimem diversos objetivos e materiais diferentes em uma prensa hidráulica. O final não é um "olha. Amassou", é uma explosão. Quanto mais rígido o material, mais violenta a explosão. Se a pressão não for pontual (como é no vídeo), mas sim uniforme (como um mergulho no oceano, por exemplo) poderemos implodir. Em nossa vida cotidiana, caso demasiadamente rígidos, "implosão violenta" pode ser todo tipo de infortúnio que você imaginar, desastre e até tragédia.

      Caso, ainda na desventura, sejamos um pouco mais elásticos, flexíveis, sobreviveremos às primeiras ondas de pressão e nos sairemos bem. É neste ponto que a dosagem ganha valor. Elasticidade desmedida, adaptabilidade imensa, transformam-se em omissão, submissão, auto depreciação, e tantos outros "...são's" quanto seu vocabulário permitir, todos auto destrutivos. Resiliência desmedida é entrega irracional, donde a anulação de si mesmo em detrimento do outro, das circunstâncias e do ambiente. Isso é potencialmente irreversível e se a "força externa" acabasse (não acaba. Se nos submetemos não acaba) não teríamos mais a segunda capacidade da resiliência: voltar à forma original. "Tanto quanto possível" fica igual a nada.

      Em caso de desventura a resiliência e a capacidade de manter-se consciente (e crítico) sobre a situação devem equiparar-se. Cada qual orbitando a outra e ajustando suas "marés". Resiliência para não explodir e análise consciente para reagir pois, do contrário, implodimos. Atenção aqui: Não confunda qualquer silêncio com resiliência (ou seja, simular resiliência com omissão) e não considere reação como apologia à explosão. As diferenças são sutis.

      E na (boa) Ventura? Em caso de Felicidade toda a análise acima continua válida e necessária. Se utilizamos a figura da alta pressão (física e/ou mecânica) para ilustrar as formas de resposta ao infortúnio precisamos aceitar que a Felicidade nada mais é que a queda da mesma pressão. Os mesmos fenômenos são possíveis: se demasiadamente rígidos explodimos, se desmedidamente flexíveis, nos expandiremos até não mais nos reconhecer, o que equivale a uma explosão (atenção: não é um texto sobre espiritualidade. A expansão aqui analisada não é legal). A Felicidade, se vivida com resiliência e consciência, pode ser desfrutada sem que nos identifiquemos com ela, pois a identidade com o momento de felicidade é perda da identidade individual, tal qual era na submissão da primeira análise. Pelo mesmo motivo, passado o período de felicidade (voltando à pressão normal), a capacidade de retomar a forma original estaria comprometida, exatamente como acontece como uma bexiga que você enche até o limite e depois murcha (sem estourar); aquela coisa murcha e deformada que costumamos encontrar um dia depois das festas.

      Uma terceira questão precisa ser ponderada: A velocidade da alternância entre a ventura e a desventura (ou vice-versa) e um momento intermediário que chamaremos de "neutro". Ocorre que se o "retorno" do polo (ou seja, a saída do pico da ventura ou do vale da desventura) for demasiadamente brusco o próprio momento de neutralidade terá o peso (a pressão) do polo oposto e todo o ônus daquele. Noutras palavras, se você está no alto da ventura e retorna muito bruscamente a um estado que deveria ser de simples tranquilidade/neutralidade este estado pesará (machucará) como se fosse uma desventura; no caminho oposto, vindo da desventura, a neutralidade trará toda a confusão da felicidade excessiva (euforia desequilibrada). Disto deriva que, mais uma vez, resiliência e consciência precisam estar presentes e em medidas adequadas para que os polos não nos afetem, para que (não nos identificando com eles, não nos conformando a eles) os momentos de alternância não sejam ocasião de mais sofrimento.

      A Resiliência pode ser um caminho tão desastroso quanto sua ausência, caso não esteja devidamente equalizada pela análise lógica e crítica de cada momento e cenário; a análise crítica só é possível quando conseguimos nos manter conscientes de/em cada momento; o caminho para tal nível de consciência, meu amigo, eu não sei.

      Vamos aos poucos, juntos, errando, voltando, avançando, retomando.

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