A palavra de hoje, #Tribunal, é simples, pois mesmo uma pessoa sem vivência nos meios jurídicos tem noções mínimas do que se passa lá dentro (provavelmente distorcidas, mas tem); ela é também complexa, já que me incomoda o desperdício de tempo (teu e meu) passeando pelo lugar comum; eu não poderia ficar discorrendo sobre o "não julgar", tão insistentemente apregoado (e não praticado) pelo cristianismo. Para onde podemos ir se tentarmos driblar esse primeiro impulso?
Parece-me que, para além (melhor, talvez, para antes) dos juízos de valor sobre as pessoas, tão entusiasticamente praticados por todos nós (independente das crenças religiosas), um sistema de juízo muito mais profundo e interessante opera em todos nós o tempo todo, desde os mais remotos lampejos de intelectualidade que se instalaram em nossa espécie: os juízos sobre os conceitos.
Ora, desde a mais rudimentar experiência de organizar grunhidos em sonoridades significantes fez-se necessário - subjetivamente - avaliar (julgar) os mesmos grunhidos para conferir-lhes aderência crescente ao que se esperava comunicar. Julgamento por parte do emissor, julgamento por parte do receptor e, um pouco mais tarde, quando o acervo de sons significantes (vocabulário) estava suficientemente desenvolvido, deliberação por ambos e/ou por uma comunidade para ajustar e tornar mais preciso o mesmo acervo: Um "Tribunal da Palavra".
Se a comunicação é um processo de avaliar/julgar os significados dos significantes emitidos toda a oportunidade de rediscutir e aprimorar o mesmo processo é um tribunal: fazemo-nos todos (inclusive agora) advogado, juiz, júri, escrivão, arquivista, etc. Onde dois ou mais estiverem reunidos, debruçados sobre a própria experiência de comunicar, o Tribunal estará com eles (com efeito, eles serão o Tribunal).
Esta experiência riquíssima, antiquíssima e belíssima, viva desde o primeiro urro e invariavelmente perene é a raiz de toda a parte consciente de nossa experiência subjetiva, a origem profundo de quase todas as inclinações reflexivas posteriores, a ferramenta primordial para o homem compreender o mundo e a si mesmo, veículo de todas as nossas capacidades intelectuais e espirituais.
Talvez a palavra do dia devesse ser "Templo", pois aqui, onde estamos agora, eu faria uma reverência. Quem poderá julgar? (Qual o melhor termo para agora?). Avalie bem minha escolha de palavras, proponha os ajustes que julgar pertinentes; o Tribunal é vivo e renova-se em cada interação.
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