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sexta-feira, 11 de novembro de 2022

#Verborragia: Zumbi

A palavra de hoje é #Zumbi, o curioso fenômeno cinematográfico, quiçá folclórico, que saltou de nossos imaginários e, sabe-se lá como, apossou-se de nossa praxe.

Os senhores, com filmes, séries, livros e jogos que visitaram, devem ter muito mais compreensão conceitual da coisa que eu; por mais que eu ame cinema, não o visito com a frequência que gostaria e, quando o faço, não é este estilo de filme que me cativa (salvo "Eu sou a lenda" e "Guerra Mundial Z"). Não posso deixar de lembrar de filmes mais antigos nos quais tais criaturas não consumiam a totalidade da vítima, como tende a ser atualmente, mas tinham uma fome específica por material cerebral. Há também variações sobre a forma da transmissão, eventualmente pelo ar, como uma doença e, com maior frequência, por mordidas (também uma patologia). Acho particularmente bem pensado o conceito de fungo explorado em "The Last of Us", sobretudo por já existirem fungos com tal capacidade no mundo atual (fique em paz; eles atacam apenas artrópodes [por ora]).

Como de costume, não é um estudo cinematográfico que se pretende aqui (já indiquei visita ao Portal Pepper  ), mas uma exploração do conceito para refletir sobre nossa vida. A vontade de extrapolar isso para o cenário político é imensa, mas vou me conter (por ora). Antes do conceito, um protesto sobre o cinema: ao contrário dos vampiros que, racionais, podem decidir deliberadamente não matar a vítima, promovendo e assistindo sua contaminação/transformação, os zumbis perderam sua racionalidade e foram reduzidos a entidades puramente instintivas, movidas exclusivamente pela fome, logo, não teriam qualquer motivo para interromper um ataque: devorariam qualquer vítima até o fim; noutras palavras, a "estratégia" de contaminação por mordida não seria eficaz, acidentes com sobreviventes seriam raros e a pandemia não seria possível.

Voltando à vida real preciso informar, caso você não tenha notado ainda, que há uma imensa horda de zumbis entre nós (você pensou em política porque quis; eu não falei nada). A estratégia de propagação é a pior de todas, pois não é por mordida, picada de inseto, aérea, nem nada desta natureza (do contrário poderíamos instalar protocolos sanitários e controlá-la); A epidemia é por deficiência; Imagine uma epidemia de uma variedade mortal de gripe que não se transmite pelo espirro, nem pelo toque, mas por uma súbita carência mundial de vitamina C; Eu sei que não é a vitamina C que garante a imunidade, mas nessa variante hipotética tal vitamina era essencial para o processo de imunidade e, justo nesta época, pragas sucessivas quase extinguiram os principais alimentos donde essa vitamina era obtida; consegue imaginar o cenário? Entende a questão da deficiência/carência/insuficiência? Não precisamos de tanta imaginação: A Fome é uma epidemia que assola muitas regiões do mundo e ocorre por deficiência, não por transmissão (não é uma doença). Deficiências são mais complicadas de controlar que transmissões ativas, pois não há máscara e álcool gel que lhe possa suprir o que te falta, apenas evitam o que não deve chegar até você; o pior problema da "transmissão por deficiência" é que ela não ocorre porque uma praga atacou as plantações (meu exemplo da gripe foi ruim), mas sim -geralmente- porque é do interesse de alguém que algo não chegue em certa região; A epidemia da fome é o maior exemplo, pois não há deficiência na produção de alimentos no mundo, tanto que a Obesidade é outra epidemia evidente (COMO PODE?). Não falta alimento, falta interesse: É uma questão econômica. Se não dá lucro, não entrega.

Compreendida o que é a epidemia por deficiência preciso repetir que está instalada uma pandemia zumbi e ela se propaga por deficiência de conhecimento; Leia com atenção! Não falei "informação", falei "Conhecimento" (aproveite e leia Crítica à Informação ). Somos bombardeados initerruptamente por informações de toda a natureza (e de todas as qualidades), mas não há propagação de conhecimento suficiente para lidar com elas; não somos instruídos (e isso interessa há muita gente) sobre os processos pelos quais informações são transformadas em conhecimento; é um processo quase químico! Uma reação entre um conhecimento prévio e uma informação nova para gerar conhecimento novo; na carência de conhecimentos prévios ocorre uma overdose de informações inúteis (e desconexas) que intoxica a mente e "zumbiliza" o indivíduo. O resultado se vê em todas as direções: negação e contestação de conhecimentos evidentes e antigos pelo simples fato de "não concordo", "não gosto", "acho que…", "vi na internet que …", sem qualquer operação de análise a respeito. Todo o acesso ao conhecimento é uma vacina eficaz, porém há fatores que minam sua eficácia: características regionais, culturais e -sobretudo- familiares são fatores que potencializam o risco de contaminação e neutralizam as vacinas. Em uma sociedade na qual o pai vai à escola brigar com o professor pela baixa performance do filho (em vez de tomar, ele mesmo, parte do processo de educação) é comum que desde muito cedo os escassos conhecimentos transmitidos às nossas crianças em nosso precário sistema de educação sejam sumariamente anulados por contra-argumentos (evidentemente sem qualquer fundamentação; baseados em ignorância, preconceito e achismo) emitidos no seio familiar; esses "equívocos" são fortalecidos pelo círculo de amigos (que também tiveram visões distorcidas alimentadas em suas próprias casas) e fomentam a caótica reação em cadeia na qual nos encontramos: uma epidemia zumbi.

O Zumbi dado, ao contrário do ficcional, não devora pessoas fisicamente (embora já tenha tirado vidas) mas se volta ao empenho contínuo de manutenção de sua situação e propagação de sua patologia; devora cérebros figurativamente, minando-lhes o alcance com o objetivo de engrossar suas fileiras. Neste cenário a transmissão da doença não se dá por mordidas, ainda que um "quê" de animalidade seja constante; ocorre por mútua validação, reforço e pressão social (leia Megafone ). Como agravante um veículo de ação mais rápida e alcance mais amplo que a dos insetos transmissores se instalou sem qualquer dependência de água parada: as mídias sociais. O alcance e velocidade dos elementos de validação e pressão cresceram exponencialmente, donde a força e dimensão das hordas atuais.

Sem máscara, vacina e álcool nossa única arma é conhecimento: mais que nunca estudo, debate e pesquisa devem ser fomentados, evitando novas infecções e promovendo recuperação dos já contaminados.

É um trabalho duro e demorado; um caminho longo, repleto de acidentes e curvas; uma "série televisiva" de intermináveis temporadas, mas não nos é facultado outro caminho.

Para entender o motivo da Verborragia clique aqui (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz! )

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