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sexta-feira, 10 de março de 2023

#Verborragia: Encorajo

"Dou esperança aos homens. Não guardo nenhuma para mim mesmo!", disse Aragorn¹, certa vez, e eu repeti diversas. É, no mínimo, curioso que esta palavra tenha sido escolhida justo nesta semana, na qual me sinto particularmente desencorajado e incapaz de encorajar.

Não ocorreu nenhum evento específico que me tivesse minado a confiança; nenhuma falha, infortúnio, ou o que quer que fosse; Vinha seguindo a vida normalmente, trabalhando sempre, escrevendo às vezes, lendo raramente, quando tomado por um súbito e intenso decréscimo de ímpeto; foi/é como se todas as vezes nas quais me senti aquém de algo se tivessem reunido, simultaneamente, decididas a comprovar-se acertadas. O grande problema desta sensação é que abraçá-la, decidindo tomá-la como verdade definitiva, é mais fácil (e tentador) que qualquer esforço para recuperar o eixo. Ora bolas! Quem me daria esperança? Quem me encorajaria?

Há um prazer familiar no sentimento de derrota; na tristeza. Provavelmente em função das derrotas serem mais frequentes que as vitórias, acabam parecendo mais seguras; confiáveis. Toda expectativa de êxito carrega consigo a decepção latente; a derrota não decepciona.

Não sei o que fazer com este texto. O caminho mais óbvio é torná-lo um relato piegas de superação, seja com ajuda externa, seja por esforço individual. Não posso. Não gosto de coach.

Outra via que se apresenta é falar de energias, sejam aquelas dos místicos, sejam as figurativas psicológicas. É uma via que me agradaria explorar, embora em acredite correr o risco de aborrecer um visitante mais cético. Querido cético, me perdoe: vou por aqui.

Não sou especialista do tema; nunca me debrucei sobre seus tratados; seria legal que a frase seguinte fosse "mas eu sinto!". Não é o caso. Há pessoas que declaram sentir a coisa, seja fluindo para elas, seja delas; observam o bailar de forças místicas, invisíveis aos demais, entre objetos, plantas, animais e mesmo pessoas; declaram ter a habilidade de capturar as intenções, usando isso para discernir os dignos de sua amizade. Eu, por outro lado, passo tão longe de qualquer sensibilidade desta natureza que, não raro, converto-me em cético.

Nos ocasiões de credulidade ponho-me a refletir sobre a coisa; lembro-me de momentos de tristeza imotivada no passado, não tão severos quanto o desta semana, e não tenho como não vincular a profundidade do que senti à forma da minha interpretação e reação. No passado, em épocas em que mantinha com mais rigor o hábito da meditação, associando a leituras e diálogos de cunho metafísico, senti, duas ou três vezes, um gérmen de tristeza, igualmente sem relação com qualquer evento ou circunstância daquele momento. Repleto de confiança (ou iludido, se você preferir ler assim. Não vou protestar) coloquei-me a imaginar que a situação não partia de mim, mas de algum agente externo, desconhecido, potencialmente distante, que estivesse me evocando por qualquer motivo e, com este ato, me extraia alguma energia. Interpretando assim a situação, optei deliberadamente por não autorizar o assalto; isso não significa que me fechei ao evento, expulsando a origem da subtração; pelo contrário, passeio a enviar energia consciente e voluntariamente. "Seja você quem for, onde quer que esteja, eu desejo para você paz e bem. Eu envio para você paz e bem". A perturbação passou.

Na ocorrência desta semana, por outro lado, eu não estava vigilante; não estava consciente, assim, quando a coisa começou eu não tomei qualquer medida, permitindo-me afundar naquela areia movediça, chafurdando na lama em vez de me mover para fora dela.

Existam ou não estas energias e seja ou não possível haver quem as absorva (note que nada tenho a dizer sobre estes personagens; caso existam, não os considero inimigos; talvez façam o que fazem involuntariamente), não posso deletar de minhas memórias que tive estas experiências e os resultados se repetiram de forma consistente conforme a minha resposta era reproduzida ou alterada. Tudo se passou como se energias existissem, como se fosse possível a subtração por terceiros e como se me fosse facultado o controle sobre a operação. Sendo pragmático, posso dizer com segurança que há um método consistente cuja eficácia varia conforme meu nível de consciência se alterava em cada evento; os resultados são passíveis de reprodução, independente da maior ou menos verossimilhança dos eventos metafísicos ou subjetivos que eu acredite descrever. Noutras palavras: Deu certo, ainda que eu esteja empregando interpretações incorretas.

Sejam as energias uma realidade extramaterial, sejam apenas uma descrição imprecisa de fenômenos meramente subjetivos, não podemos descartar que A) sofremos sua influência em nossa rotina, manifestada em nosso humor, inclinações, desejos, e B) temos meios, conforme o nível de nossa compreensão sobre esta influencia, manejá-la para resultados mais positivos para nós e para outros.

O mais interessante é que há, parece-me, uma "falha" matemática nessa economia; as energias (já ficou claro que não importa se são concretas ou meramente afetivos, né?) não se comportam de modo análogo ao dos elementos materiais. Explico:

Matéria - Se eu possuo alguns pães e você vem escondido à noite e subtrai uma parte, sobram-me menos pães. Se, em vez de roubar, você vem à luz do dia, me pede e recebe por um ato voluntário meu, nada muda. O resultado final continua sendo "tenho menos pães".

Energia - Se eu estou em um certo conforto energético (um dia tranquilo; nenhuma preocupação imediata; um momento de paz), MAS DISTRAÍDO, e você me assalta, despejando sobre mim uma série de queixas sobre seu relacionamento ou trabalho, eu posso mergulhar no seu cenário, reforçando suas frustrações, alimentando seus ressentimentos e, com isso, fomentando os meus; menos energia. Caso, por outro lado, você se aproxima em um (raro) momento de consciência meu, eu procuraria contornar suas queixas, encorajando-o a ver por outro ângulos, avaliar outros cenários, buscar outras soluções (lhe entregaria voluntariamente minha energia e consciência); você terminaria o diálogo (espero) potencialmente confortado; eu, ao contrário da história dos pães, terminaria com minhas próprias energias renovadas; mais energia.

Na economia regular 7-3=4, não importa o cenário; na economia energética 7-3=9, desde que a subtração ocorra de forma voluntária e consciente.

Estes cálculos são a descrição conceitual da minha experiência desta semana; extrapolando a coisa para além das fronteiras do alcance material (você não está ao meu lado para uma conversa direta, tampouco me enviando mensagens por meios eletrônicos), se estamos dispostos a aceitar momentaneamente a hipótese (mesmo que seja apenas para efeito especulativo) das energias como elemento real, mas imaterial, precisamos postular que regras de distância e alcance não se aplicam exatamente como fazem com a matéria, logo, eu posso te encorajar, ceder energia voluntariamente, como naqueles meus momentos de tristeza do passado, concluindo a operação com mais energia do que iniciei OU, como nesta semana, deixar-me envolver passivamente pela subtração, encerrando com muito menos.

Extrapolando um pouco mais, lembrando que estamos explorando uma hipótese (um passeio especulativo), este baile de energias, níveis de consciência e vontade ativa pode acontecer independente não apenas da distância, mas até mesmo de sabermos quem opera do outro lado:

"Seja você quem for, onde quer que esteja, eu desejo para você paz e bem! Eu envio para você paz e bem!"

Eu encorajo você a reler este texto; Eu encorajo você a repensar suas experiências passadas à luz das hipóteses exploradas aqui; eu já o estava encorajando enquanto escrevia; estava encorajando enquanto lutava contra a vontade de escrever e, veja só você, termino este texto com mais do que tinha quando o iniciei, justo nesta semana, a qual iniciei me sentindo tão desencorajado; tão incapaz de encorajar.

Nota:

1. Tolkien, "O Senhor dos Anéis"

"Para entender o motivo da Verborragia clique aqui (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz! )

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