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sábado, 30 de março de 2024

Compreendi Jesus

Ontem (29/03/2024) fui levado por minha irmã e cunhado à Guararema (se alguém for ao restaurante "Coronel", por favor diga a Ana que ela é encantadora!), para assistir a encenação da Paixão de Cristo. Fui ateu por muito tempo, depois budista, agora (pseudo)hinduísta. Da fé Cristã me encanta o cristo; me repelem as igrejas.

Enquanto assistia os atores moendo Jesus (os caras estavam batendo com vontade), comovido com a memória de tudo o que Jesus significa, pus-me à investigação intelectual de como conciliar aquela sucessão de eventos e seus significados com o meu atual sistema de crenças.

Se Jesus é "Deus visitando o mundo", precisamos resgatar o conceito de avatar, extremamente comum no hinduísmo, por meio do qual os deuses assumem forma humana para realizar sua agenda neste planeta. Krishna, por exemplo, é avatar de Vishnu, inserindo-se no ventre da mãe Devaki, sem conjugação carnal com o pai, Vasudeva. (familiar?)

Se eu pretendo ser um hinduísta honesto, sou obrigado a abrir minha mente para o panteão de divindades possíveis, ou, se preferir, para a infinidade de manifestações possíveis para Deus (monoteísmo polimórfico). Assim sendo, mesmos os deuses externos ao panteão oficial hinduísta precisam ser compreendidos com primos distantes, tão reais e possíveis quanto os deuses vigentes. Se eu fosse me fechar ao panteão que escolhi e declarar que qualquer ideia de divindade externa a ele é errada, mentirosa, pecaminosa e/ou demoníaca, eu não seria hinduísta (o nome disto é cristianismo).

Sendo assim, passei a passear pela trimúrti (a trindade hinduísta), investigando qual daqueles deuses poderia ser Jesus.

Brahma é o pai de tudo, o deus criador deste universo. Ele é intuitivamente vinculável ao Deus pai cristão (e vaidoso igual), sendo contra intuitivo tentar identificá-lo a Jesus. Não é apenas pela presença do termo "pai" que esta separação se opera, ocorre que Jesus não cria. Ele se instalou neste mundo com outro propósito.

Vishnu, ou Krishna, é o deus da manutenção. Uma vez criado o Universo, por Brahma, Vishnu é o deus que se instala na existência para mantê-la. Krishna, a versão humana de Vishnu (e seu oitavo avatar), é sábio, doce, amoroso, repleto de qualidades facilmente identificáveis com Jesus. A presença constantemente amorosa de Devaki nos remeteria facilmente a Maria e a simplicidade serena do pai, Vasudeva, um perfeito José. Mas há um problema. Jesus não é mantenedor. Você consegue entender? Não há manutenção na vinda de Jesus, do contrário, seriamos judaístas (uma religião que acabo de inventar para descrever judeus convertidos, sem o sangue do povo judeu [joguei no Google e descobri que o termo que "acabo de inventar" já existe. Segue o jogo).

Jesus é o cara que correu atrás dos vendilhões com o cinto na mão, prometeu destruir o templo, aniquilou a morte, etc. Para todos os efeitos, o nazareno que veio ensinar o amor é, invariavelmente, um/o destruidor. Há um deus destruidor. Quem? SHIVA!

Om Namah Shivaya!

Shiva é o deus que se fez pequeno, sem pompas, vivendo na floresta, trajando peles de animais. Seus amigos eram as criaturas desperecidas pelos demais, duendes, demônios, etc. As prostitutas, ladrões e cobradores de impostos da mitologia cristão. Shiva é o Deus que desafiou o panteão (destruiu o templo?), para que a vaidade desse lugar à virtude.

Shiva é o deus que tem uma serpente enrolada no pescoço, pois VENCEU A MORTE. Shiva é o deus que tem a Lua como coroa, e incinerou o pecado com um olhar.

Shiva é o deus que uma mulher amou, e para merecer o amor, devocionou-se incontáveis eras para provar o mérito da companhia do amado (Madalena?). 

Jesus é Shiva, invariavelmente Shiva, Shiva Shambo.

No teatro de ontem havia uma tela ao fundo do palco. Quando Jesus foi crucificado, os atores ficaram parados, enquanto o telão exibia cenas do filme "A Paixão de Cristo" do Mel Gibson. Quando Jesus cai e Devaki, não, péra, desculpe, Maria tenta confortá-lo ele fala "Viu mãe? Eu renovo todas as coisas!".

Sabe? "RENOVAR" não é "concertar". SE o mundo estivesse com defeito e a função do Cristo fosse o concerto, ele seria Vishnu, inserido no mundo para garantir o retorno à normalidade, a manutenção. Quem renova precisa destruir o velho para introduzir o novo. 

Quando eu era católico cantávamos "Eis, que faço novas todas as coisas!", não "Eis que eu concerto no mundo!".

Amanhã é Páscoa, uma festa pagã. Repito, UMA FESTA PAGÃ!

Procure ler o que é "pagão" no dicionário (recomendo o Michaelis). Resumidamente, "o que não é Cristão".

Irmão, Jesus não era Judeu! JESUS NÃO ERA CRISTÃO!

Se desejar, repito: JESUS NÃO ERA CRISTÃO!

Estamos falando do sujeito que destruiu, DESTRUIU, todos os tabus de sua época. O que o cristianismo fez? Erigiu uma infinidade de novos tabus.

Onde você acha que Jesus teria estado ontem e hoje? Comendo bacalhau ou em um churrasco?!?!?!

Shiva, pagão por natureza, "vida que brota da vida, é fruto que cresce no amor, é vida que vence a morte, é vida que vem do senhor".

Vê, mãe, eis que faço novas todas as coisas.


E Ana? Ana é a menina cujo sorriso tomou meu coração e que eu nunca mais verei nesta existência.


Notas:

1.  Escute o Eugenio Jorge  

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