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quarta-feira, 27 de março de 2024

#Verborragia: Horizonte

Há um oceano de profundos significados para extrair desta palavra. Eu, por outro lado, neste momento, só consigo pensar em "Horizonte de eventos". Você conhece este termo?

Caso você não o conheça, assista "Interestelar". Conheça ou não, preciso explicar algumas coisas:

Você sabe (espero) o que é gravidade, essa "coisa" que nos puxa "para baixo". Gravidade não é uma força "para baixo", mas sim um atração geral entre todos os corpos (para mim, uma derivação do eletromagnetismo, mas, enquanto os físicos não discutem isso, calemo-nos). A força da atração tem proporção direta com a massa do corpo, portanto, massas maiores, atrações maiores (é por isso que você não se sente atraído/a por mim, mas é, irresistivelmente, atraído/a pela Terra). "Irresistível" é importante aqui. Reserve.

Se você estivesse na Lua, massa menor que a Terra, gravidade menor, donde aqueles pulos altíssimos que vemos nos vídeos das missões da Nasa. Se você fosse à Júpiter (desconsideremos ausência de um solo), a massa maior te daria maior peso (maior atração).

No limite, buracos negros tem massa tamanha que geram gravidade que atrai absolutamente tudo, inclusive a luz.

"Horizonte de eventos" é, justamente, a fronteira. O quão perto seria possível você se aproximar de tamanha força sem ser impossível retornar? Se você conseguiu voltar, ótimo, do contrário, você ultrapassou o horizonte de eventos.

Vivemos em uma civilização extremamente distantes da mais remota ideia de visitar um buraco negro, portanto, os riscos e repercussões reais da proximidade do horizonte do eventos nos são irrelevantes (por ora). Ainda assim, sou apaixonado pelo conceito e acho que temos algo para extrair daqui.

A vida é repleta de momentos de "forças" das quais não podemos escapar (ou seja, irresistíveis).

Quando comecei este texto, na noite de 19/03/2024, não sentia qualquer inclinação para levá-lo por rumos românticos. Talvez o romantismos fosse um buraco negro do qual eu estivesse a uma distância segura. Agora, manhã de 20/03, parece que me distraí dos controles da nave e me aproximei do horizonte de eventos.

No dia a dia utilizamos o termo "irresistível" sem perceber seu profundo significado. Quase adivinhamos o que expressa, mas o aplicamos com um tom amenizado. "Irresistível" se torna "encantador", "atraente" e afins. "Irresistível" é, por definição, aquilo a que não se pode resistir. Não é sobre afeto, carinho, desejo, atração física, vontade de comer strogonoff. É, repito, "aquilo a que não se pode resistir". É sobre qualquer força, em qualquer circunstância, para a qual não existe força oposta suficiente. Não se pode resistir.

Ultrapassado o horizonte de eventos, não há força no universo capaz de retornar. Não se pode resistir. Em motociclismo existe um incidente chamado "shimmy". Trata-se de uma oscilação na roda, quando em altas velocidades, que pode derrubar o piloto. Quando o guidão começa a tremer, transmitindo a oscilação da roda, o piloto tenta "segurar" a vibração. Isso não é possível. O "shimmy" é descrito como uma oscilação de eixo crescente e irresistível. Por que irresistível? Porque você está confrontando a força de um homem comum, tentando reter a oscilação, com a força giroscópica de uma roda girando a dezenas de quilômetros por hora. Irresistível.

Precisei pausar o texto para ir trabalhar. Retornando agora, 22:17 de 20/03/2024, registro que superei a inclinação romântica da manhã. Ocorre que "Tenho um repositório de textos (evernote). Tudo que eu publico eu arquivo lá.

Eventualmente tenho o impulso de escrever sobre o #Amor . Quase sempre que acontece, uma voz aparece e diz "ainda não!", levando-me a inserir aquela ideia em um arquivo do repositório chamado "Sobre o Amor": uma colcha de retalhos com fragmentos de pensamentos iniciada em 22/07/2021.

Um dia, quando a voz sumir, eu publico."¹

Ufa. Foi um impulso resistível. Não está em meu horizonte publicações desta natureza.

Retomando, falávamos do shimmy. É impossível resistir a uma força irresistível! Por outro lado, é possível "desirresistibilizá-la". Dica: agora é a hora que você protesta, tanto pelo neologismo quando pelo paradoxo: "Tá doido parceiro?". Veja! Se/quando acontece o shimmy, o piloto se desespera e começa a lutar contra a oscilação, ele a "alimenta"; uma vibração de milímetros vira um ziguezague que termina em queda. Era irresistível. Se, porém, em vez de resistir, ele realiza alguma estratégia alternativa, que não seja de resistência, mas sim a remoção cuidadosa e progressiva do elemento que sustenta a irresistibilidade (no caso, a velocidade), o shimmy cessa sozinho. 

Quantos momentos da vida passamos por situações irresistíveis apenas porque nós lhes alimentamos o elemento irresistível?

Todo ato compulsivo reside na insistência do agente em reforçar a "irresistibilidade" da situação ou coisa, objetos de sua compulsão. Pense em qualquer vício, compulsão, etc.

Geralmente o texto se conclui de uma vez. No máximo em duas, quando o inicio de manhã e preciso parar para o trabalho, terminando-o no almoço. Outros textos, porém (você já deve ter notado), se estilhaçam no tempo, com vários registros de "parei dia x", "retomei dia y". Você não precisa saber destas rupturas, mas gosto de registrá-las. De alguma forma, estes hiatos tem seus próprios significados e agregam algo ao texto. Camadas? Não sei. O "etc." logo acima foi escrito em 20/03. O "geralmente" se inicia em 26/03.

O que é o "horizonte" em si (sem o complemento "de eventos"). Aquele limite que nosso olhar alcança, lá na fronteira entre o céu e a terra? Voltei-me para o oeste; O Sol se pôs há 3 horas e meia. O que é o "horizonte"? É aquele ponto específico que estou fitando? São suas adjacências, o que minha visão periférica captura? E o que está à minha esquerda e direita? e o leste? Há infinitos horizontes, conforme cada ponto ao qual fixo minha visão? Ou a circunferência inteira é "O Horizonte", ainda que eu não seja capaz de observar de uma única vez?

Esse texto(e a vida) é(são) exemplo(s) dessa singularidade: algo que é uno e fragmentado ao mesmo tempo. Ainda que a sua existência inteira seja um todo coeso, você pode fragmentar indefinidamente suas experiências passadas e, principalmente, suas possibilidades futuras: horizontes infinitos.

Viver é ser capaz de observar os horizontes, hora com mais atenção a um ponto, hora com mais admiração pelo todo, sem deixar-se engolir por algum elemento irresistível; caminhar rumo aos infinitos horizontes possíveis, tornando partes deles fato, sem perder-se em algum horizonte de eventos qualquer, sejam as compulsões de 20/03, sejam os romantismos desmedidos de 19/03, seja a simples paralisia (ansiedade) frente ao desconhecido.

Os horizontes são infinitos: Isso pode assustar. Não deixe acontecer. Os horizontes são infinitos: SE ALEGRE! Nunca é um ponto final. A cada novo horizonte alcançado, novas infinidades se apresentam.

Divirta-se!


Notas:

1. Do twitter, em 27/07/2023 


Para entender o motivo da Verborragia clique aqui (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz! )

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