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quinta-feira, 17 de março de 2022

#Verborragia: Emoção

Para entender o motivo da Verborragia clique aqui (Por favor Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz!).  A palavra de hoje é "Emoção". Não sei quem criou (todos abraçaram, ninguém vive) a máxima "O homem é um animal racional". Eis um belo equívoco. Somos entidades emocionais.

Não estou inferindo que não existe racionalidade, tampouco que ela não está em nós, mas a máxima acima tenta fixar que é ela que nos define e nada poderia estar mais distante da verdade que isso.

O ser humano, como todas as entidades biológicas, é um elemento mais ou menos externo às regras mecânicas tradicionais (inércia, causalidade, gravidade, atrito, etc.), na medida em que, por aparato natural ou artificial, consegue transcendê-las em alguma medida mais ou menos eficiente. Para exemplifique pense na inércia: um corpo em repouso tende a permanecer em repouso até que outro corpo ou evento o coloque em movimento. Uma entidade biológica pode (independente do motivo: reflexo, medo, fome, deliberação, etc.) pode voluntariamente se colocar em movimento em detrimento da ação externa.

Assistimos a vida navegar pelo mundo enquanto manifesta suas infinitas formas e dimensões de liberdade ao mesmo tempo em quê criamos a ilusória certeza de quê a nossa liberdade é especial, dada a coroa da racionalidade. A racionalidade é capaz de analisar e medir a liberdade além de ser, de fato, um poderoso meio de sua manifestação, porém, não é, na maior parte do tempo, o mais ativo método de produção de liberdade na existência humana.

Outro elemento muito ativo em nossa existência, tão ou mais poderoso que a racionalidade,  é (ou são) a(s) emoção (ões).

Para muito além de qualquer suposição sobre a natureza intelectual de nossa atuação no mundo, se nos observarmos com mínima sinceridade, ficará evidente que são os ímpetos emocionais quem determinam a maior parte de nossos atos.

Alerta: este texto não é uma censura, tampouco apologia, a qualquer das vias ora examinadas, seja a da racionalidade, seja a da emoção. O ponto aqui é nos tornarmos capazes de reconhecer as forças responsáveis por nossos atos e decisões para, talvez, aprimorar nossa capacidade de manifestar/construir Liberdade.

A Emoção, muito mais que a razão, é o mais evidente elemento distintivo entre nós e os outros animais, cuja característica mais marcante é o instinto. Não me parece leviano propor, hipoteticamente, que a emoção humana seja um instinto mais apurado e depurado. Outra proposta possível seria inferir que a emoção é o meio termo perfeito entre o instinto e a racionalidade, combinando elementos da simples programação orgânica (o instinto) e a emancipação intelectual da razão. Sei lá. Talvez esse parágrafo seja pura verborragia; uma tentativa emocionada minha de dar à emoção valor que a racionalidade lhe negaria.

As emoções tem formas e nuances que tendem ao infinito e moldam nossa personalidade em cada detalhe; foi uma emoção que me deixou eufórico quanto recebi a sugestão desta palavra, mas também foi uma emoção que me fez procrastinar a escrita até o último dia; foi uma emoção que me fez passar o início da manhã (momento mais comum de escrever) mergulhado notro diálogo, deixando este texto de lado e é uma emoção que neste momento, tarde da noite, me faz dar "alt tab" para ver uma coisa ou outra entre cada parágrafo que escrevo. Acho que tenho medo. Eu, sempre racional, ousei inferir que a emoção transcende a razão; ocorre que sou escravo das palavras; se escrevi é fato (ao menos no meu universo subjetivo); se não o era antes (era), passou a ser hoje. Então a emoção que adia este texto tão especifico é algum tipo peculiar de medo; sentimento de que o tema é maior que minhas capacidades; medo do produto ficar infinitamente aquém daquilo que o termo ora explorado merece.

Também são emoções (não se iluda. "Compromisso", "Lealdade", "Honra", etc. não são aparatos da racionalidade; nesta não passam de conceitos; verbetes de dicionário; só são reais e realizáveis quanto nos rasgam a alma e domam outras inclinações; isso só ocorre quando são emoções intimas, não dados técnicos) que me obrigam a enfrentar o medo e seguir digitando, nisto; não é por racionalidade, mas sim por aceitar, apreciar e abraçar minhas emoções, que vou ultrapassando níveis menores de liberdade para alcançar liberdas mais profundas. Eu era livre para não escrever; estou certo de que não seria cobrado; mas esta liberdade era turva (era liberdade real minha ou imposição do medo, da preguiça, etc.); transcendendo o medo realizo o ato livre de escrever e publicar, em detrimento do resultado e das reações; também são emoções, mais que a racionalidade, que me impõe conceitos como responsabilidade para me preocupar (outra emoção) em escolher palavras que não agridam, mas que acolham, que procurem orientar sem impor; Ao mesmo tempo, dada a infinidade de tipos e qualidades de emoções, vem a racionalidade hierarquizá-las e, a partir daí, selecionar emoções (espera-se que realmente melhores) que sejam a força e o ímpeto para realizar os atos que outras emoções teriam adiado ou feito desistir.

Não está claro para mim se me deixei levar pela emoção correta; Qual emoção teria sido ideal para conduzir a construção deste texto? Racionalmente não sei decidir; emocoionalmente ainda sinto que falta algo; vou lá fora, olho a lua (magnífica nesta noite) e me lembro do que pensava agora há pouco, enquanto retornava do trabalho. Eu subi a rua da minha casa e olhava a lua. Em uma vida de 40 anos são pelo menos 480 luas cheias; umas 9.600 luas de todos os tipos (supondo que um terço das noites de minha vida foi de luas novas ou nubladas); subi pensando que a imensa reincidência de visões da lua a deixa quase desprezível para tanta gente e, ainda assim, para mim é sempre emocionante revê-la. Nunca vou enjoar da lua e da emoção que me causa; talvez a emoção mais apropriada (seria leviano ter escrito "a correta") seja esta: a do deleite despretencioso, a da alegria e satisfação gratuítas; a do reconhecimento da beleza do processo, sem desejo de racionalizá-lo.

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