Eu vi a moça no metrô e me apaixonei, mas não me apaixonei pela moça.
Admirei seus cabelos e me apaixonei, mas não me apaixonei pelos seus cabelos.
Perdidos entre a massa geral alguns fios brancos denunciavam o tempo. Na fronte um maior acúmulo, formando uma mecha branca que entrava em contraste com o castanho escuro geral.
Amo castanho, mas me apaixonei pelo branco.
Nesse mundo de alucinada guerra contra o que é natural, pois vaidade deixa de ser "se sentir bem" e passa a ser "preciso mostrar o aspecto que esperam que eu tenha", aquela mecha branca foi a coisa mais linda que eu vi nesta semana. Nenhuma beleza fabricada será capaz de superar, nunca, a mais sutil e simples beleza natural. Digo mais: quando é natural, sempre é belo, tenha ou não sido reconhecido pelo vosso olhar; a mim só importa o meu.
Posso ter sido vítima de um golpe? Pode a mecha em si ser artificial? Adorno? Tudo é possível, mas não importa o que era, importa o que significou para mim e eu me apaixonei pelo que significou para mim.
Queria ter tido coragem de falar com a moça, informá-la sobre o que eu vi, sobre o que significou para mim, mas neste mundo estranho em que vivemos meu avanço teria sido assédio, flerte mal vindo, ou pior (flerte bem vindo, o que não era o plano).
Há muita beleza no mundo, no olhar, na flor, da calçada rachada, no galho, no musgo, na nuvem, na chuva, na Lua, no verso, no acorde, no batuque, no gesto, no "como você está?", no olhar (de novo, pois importa o olhar que vejo e o olhar que pratico), etc.
Eu sou infinitamente grato pelo que vejo. Me apaixonei pelo que vi. Sou apaixonado por #Olhar.
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