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quinta-feira, 12 de maio de 2022

#Verborragia: Lealdade (Espanha)

 Para entender o motivo da Verborragia clique aqui (Por favor Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz!). A palavra de hoje é "Espanha", um verdadeiro colosso para enfrentar.

Eu não podia converter este texto em uma análise histórica e/ou política, dada a superficialidade de meus conhecimentos no tema. Também não me agradou a hipótese de pesquisar, pois seria desleal; simulação de profundidade que não tenho. Estou orbitando a palavra desde ontem (04/05/2022. na ausência de sugestões recorri a um gerador aleatório; ai de mim) e poderia, facilmente, ter desistido e escolhido outra; ninguém saberia: desleal de novo. Quando estava no fundo do poço (Leia Cheguei ao fundo do Posso) até uma análise da música "Espanhola" (Flavio Venturini) pensei em fazer. Nesta manhã (05/05) pensei em Cervantes; nunca li; tudo que sei de Dom Quixote assisti no Chaves.

Dadas estas premissas terei que pedir sua licença (e perdão) e assumir que "Espanha" converteu-se em gancho para falar de "Lealdade". (Escrita interrompida em 05/05 e retomada em 11/05).

O romantismo me obrigada a sonhar com a possibilidade de sermos nobres, não em títulos, mas em dignidade. Ler Tolkien e conhecer a infinita dignidade de Aragorn sempre me comoveu demais: uma espécie de ideal distante do qual a eventual capacidade de reproduzir qualquer minúscula fração seria motivo de grande orgulho. Falar se consigo ou não seria impor-nos um paradoxo.

"Lealdade" é um substantivo que orbita ideias como "honra", "dignidade", "responsabilidade", "sinceridade", etc., valores em avançado grau de declínio em nossa espécie. Há de se notar que a escolha da última frase é demasiadamente romântica: pressupõe uma época de maior lealdade que a atual; talvez tenhamos sempre sido assim (ou piores). Sou capaz de imaginar bolsões de Lealdade, sociedades e períodos específicos onde ela tenha florescido; mais romantismo.

Não quero (procuro sempre não fazê-lo. Se acontece, me perdoe) iniciar um tratado de moralismo, puritanismo e afins. Quero investigar/compreender porque ser leal é tão difícil para tanta gente. O que tornou o egoísmo tão profundo e íntimo que torna qualquer intenção ou ato justificável porque o bem individual vale mais que o bem do outro, seja um estranho, seja um próximo? Eu sei que até esta questão é relativa, pois os maiores canalhas são capazes de certos níveis de lealdade entre os seus, porém, trata-se de lealdade corrompida, ainda praticada em vista de um interesse egoísta e facilmente revogável.

É fácil pensar em épocas passadas e duras lutas pela sobrevivência; períodos de escassez nos quais uma eventual demonstração de lealdade configurasse um sacrifício (no sentido de morte, não de trabalho árduo). Nessa época a lealdade seria facilmente descartada num processo confuso de seleção natural e artificial: os leais morreram ou renunciaram à lealdade para sobreviver; os desleais prosperaram e transferiram seus valores à prole: DNA social.

Isso explicaria de forma muito pragmática (seja possível verificar a hipótese ou não) o porquê da deslealdade se manter mesmo quando/onde não há luta pela sobrevivência: está encravada no DNA moral das pessoas, famílias e sociedades. Está no "o que eu ganho com isso?", no "jeitinho brasileiro", "toma lá, dá cá", nos lobbys, nos acordos, nos esquemas, na retenção do troco errado, no flerte com a amiga da namorada, etc. Nem sempre é uma necessidade real; geralmente é só um hábito. A coisa é tão profunda que é possível eventual ato de "malandragem" apenas por medo de "o que vão pensar?" se a opção for pelo ato justo.

Não estou denunciando inversão de valores, pois para isso eu deveria presumir haver um conjunto correto de valores e as ações contraditórias a este seriam os valores invertidos. Isso seria, em si, contraditório com minha expectativa de não criar um livro de regras morais. Quais critérios usaríamos para escolher o que é certo? Por que meus valores são melhores que os do outro?

Biologicamente a espécie se sustenta e até prospera. Organicamente ética e moral são prescindíveis. Espiritualmente tudo é arbitrário. Dizer "está no livro" não chancela nada.

Por outro lado a Lealdade me fascina tanto. Desejo tanto sê-la e vivê-la. No transbordo disso fico automaticamente tentado a convidar os outros à mesmo via. Como? Por quê?

Por mais que a Lealdade não tenha eficácia biológica ela é, sem dúvida, relevante em questão sociais. Uma sociedade não vai ruir se mergulhar em deslealdade; apenas se reconfigurar. Por outro lado, caso abraçasse a Lealdade, produziria um residual de paz e conforto inexistente na primeira via.

Ora, não somos mera capela lutando pela sobrevivência; Somos entidades com complexa existência subjetiva e, neste cenário, buscamos mais que a manutenção da existência, seja coletiva, seja individual. Anseia-se por segurança, conforto, paz, carinho, afetividade, etc. Estes elementos florescem em uma situação de confiança, portanto, de Lealdade; eles enfraquecem na onda de riscos e temores que a deslealdade crônica engendra.

Dadas estas premissas parece-me defensável -não porque Deus mandou ou porque eu acho bonito- que procuremos um modo de vida alinhado ao conceito de Lealdade. Com isto criaríamos uma rede de confiança e, consequentemente, um maior senso de segurança para todas as relações: sociais, afetivas, profissionais, comerciais, etc.

Não me parece utópico e o esforço necessário é quase mínimo; a grande dificuldade é/seria a desconfiança, pois cada um teria receio em ser leal, ele mesmo, frente ao risco da deslealdade do próximo. Se, por outro lado, eu não condiciono a minha lealdade à do outro nada me impede de começar imediatamente. Sei lá. Talvez eu só esteja "pensando alto". Talvez tornarmo-nos leais seja realmente um gigante para enfrentar e, cada um de nós (ou apenas eu) um velho louco com armadura enferrujada; por outro lado, pode ser apenas um moinho e nos baste contorná-lo.

Não sei; só sei que sigo; só sei que tento; A Lealdade é vivida em atos que não convêm enumerar; fazê-lo parece-me desleal, minando a credibilidade e dignidade dos mesmos; convêm mais ser que falar; mais fazer que cobrar. Boa sorte!

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