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Há anos ocorrem ricos diálogos sobre Civilização Humana e Filosofia, Teologia, História e Cultura em geral! Tudo que possa interessar a alguém que espera da vida um pouco mais que outra temporada de BBB! Após diversos convites a tornar públicos estes diálogos, está feito! Quem busca uma boa fonte de leitura, por favor, NÃO VISITE este site. O que esperamos, de fato, é a franca participação de todos, pois não se chama “Outros Discursos”.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

#Verborragia: Bacon

Convidado para uma festa de aniversário neste final de semana (21/01/2023) tive o privilégio de reencontrar pessoas que me são muito caras e  que eu não via há muito tempo. Ali, um amigo muito querido me perguntou "E aí? Qual a palavra de hoje?"; Irrefletidamente devolvi "#Bacon", sem nem imaginar que ele pudesse estar pensando na Verborragia. Deste diálogo nasceu o presente desafio.

Alguns meses atrás tive a oportunidade de receber a seguinte provocação, assim, a aproveitarei como base para seguir com o texto de hoje:

" 'Qual o sentido da #Vida?', me perguntaram os filhos do @albertokb
No susto, respondi 'Bacon'.
Rimos como se fosse uma piada.
Não era.
É sobre #Deleite"

Eu gosto de Bacon! Geralmente é meu critério de seleção ao escolher lanches (leia-se hambúrgueres) e ingrediente indispensável quando cozinho feijão, mas por que eu gosto disso e não daquilo? Os mecanismo que levam à formação dos gostos (no sentido de "preferência", não de "sabor") já foram explorados em outras ocasiões ¹ e não vamos repetir isso aqui; no momento interessa investigar nosso relacionamento com aquilo que gostamos, uma vez que o gosto já esteja definido. 

Em 17/12/2021 eu publiquei ² "Da janela do 18º andar assisti, vários metros acima (lá pelas bandas do 25º), uma solitária borboleta voando. Construções cinzas e frias adornadas por um céu nublado. Não havia cheiros ou cores de flores que pudessem tê-la atraído tão alto. Até onde sei borboletas não possuem visão de águia, portanto, também não era o caso de ter subido para ver melhor onde "atacar" lá embaixo. Subtraídos quaisquer utilidades à sobrevivência, quaisquer imperativos instintivos, só consigo pensar em um motivo para aquele passeio: Deleite! (Será possível?)" em 13/11/2022 complementei ³ "Hoje observei, à distância, uma fragilíssima borboleta amarela sobrevoando as ondas, as quais não tem cor, cheiro nem aspecto de flor. Nem cheiro de água fresca há.
Continuo acreditando que o motivo é simplesmente o ato: #Deleite".

Desejei evocar o inseto porque se falasse de mamíferos lhes seria mais fácil aceitar que se deleitam com algo, dadas as familiares que temos com os demais representantes de nossa classe. Observamos suas interações sociais, seus jogos em grupo, as brincadeiras dos filhotes, etc. Vocês não contestariam. O inseto, por outro lado, lhes pareceriam demasiadamente simples, em todos os níveis de avaliação (orgânico, neurológico, social, intelectual e afetivo); a simplicidade é tão evidente que não seria difícil reduzi-lo a um autômato existindo apenas para obedecer seu programa de busca por combustível (alimentação) e auto replicação (reprodução) para manutenção da espécie; um sabidão nos desafiaria tentando falar de formigas, cupins e abelhas como exemplos de existência social não tão simples assim mas, a rigor, nada nos impediria de seguir falando de automação e programas, só que aí seriam apenas mais complexos.

O deleite, por outro lado, e em um ser tão simples, é coisa fantástica! Não tem função nos mecanismos de sobrevivência, sobretudo em entidades que não cremos possuir subjetividade; nos humanos você poderia inferir que o deleite tem função na manutenção da saúde mental e com isso, utilidade prática, mas em criaturas que não sofrem pela tensão das "segundas-feiras", saudades de entes queridos, mágoas por amores não correspondidos, nada disso tem função; Eu sei que estou em um campo minado e pode surgir, a qualquer momento, um entomologista com explicações técnicas muito precisas da utilidade prática do comportamento que observei, minando minhas expectativas e devolvendo-nos ao império dos instintos de sobrevivência. Eu sei! Por outro lado, enquanto ele não vem, enquanto não o faz, permitam deleitar-me com minhas ilusões pseudofilosóficas.

Em criaturas mais desenvolvidas, sobretudo nos mamíferos, poder-se-á dizer que as brincadeiras infantis caracterizam treinamentos, por imitação, das atividades adultas e, com isso, atuações instintivas com a finalidade prática de proporcionar maior eficiência posterior (correção de métodos por tentativa e erro, desenvolvimento de memória muscular, aprimoramento das reações, etc.) com a vantagem de ocorrerem em situações mais seguras do que as reais. Essa "pragmatização" é aplicável, parece-me, a uma grande variedade de atividades recreativas, mas não a todas. Há uma infinidade de atividades sem correlação às da vida adulta e há, ainda, atividades de/por deleite realizadas pelos adultos: o golfinho salta para fora da água, faz anéis de ar como um homem adulto faz de fumaça, o macaco importuna o vizinho, o cachorro trás o brinquedo sem ser solicitado, a criança escala o armário, etc.

Há atividades, individuais ou em grupo, realizadas sem utilidade prática, seja utilidade imediata, seja futura (pensando em treinamento); ocorrem como uma finalidade em si. Tecer explicações sobre descargas hormonais de prazer, alegria e/ou satisfação não elimina o fato de serem atividades contraproducentes, quando analisadas à luz das programações instintivas pela sobrevivência; auto preservação é um imperativo de todas as programações instintivas e temos diversas expressões de deleite que não são apenas inúteis, são diretamente contrárias à autopreservação: são exposições diretas e deliberadas a riscos desnecessários.

A borboleta em seu voo "estratosférico" nada tinha a encontrar a não ser o impacto com um paredão após uma onda de vento ou tornar-se almoço de uma ave (esta sim em sua área de atuação instintiva); idem para a borboleta brincando na praia; o golfinho que pula para fora da água mergulha em um domínio no qual não sobreviveria se permanece, tal qual o homem que se lança em águas profundas; o macaco que cutuca o vizinho se expõe do risco de um "não 'tô' pra brincadeira", uma reação desproporcional e uma agressão física real; quando criança eu quase derrubei um armário em cima de mim enquanto o escalava; nunca esqueci o terror quando o notei saindo do eixo (coisa ínfima; um grau, talvez) e a certeza do desastre irremediável que teria ocorrido.

O deleite é uma afronta direta às programações biológicas; é um "olhe para mim, #Vida! Acima de tudo sou livre!"; É uma expressão do que há de mais humano, a rebeldia contra toda a programação, contra toda a segurança, contra toda a estratégia ancestral; curiosamente, a coisa mais humana possível não é exclusividade desta espécie específica que decidimos denominar "ser humano"⁴.

Paradoxalmente, é a coisa mais biológica possível (e talvez aqui eu contradiga todo o resto); a rebeldia que as formas de vida demonstram em sua busca por deleite (com ou sem recompensa hormonal), rebeldia contra todos os mais sensatos programas de preservação de indivíduos e espécie é -pode ser - ela mesma a mais ambiciosa e eficiente estratégia da própria #Vida em sua busca por auto preservação. Explico: Enquanto todos os programas instintivos são estratégias da Vida para a preservação daquela espécie, a Rebeldia, a busca por #Deleite, é/pode ser  uma estratégia da Vida em si pela sua manutenção última, em detrimento das espécies individuais.

Não é nada difícil aceitar que a maioria dos habitats foram povoados enquanto certas espécies buscavam atender aos programas básicos, ou seja, se deslocaram para lá (e se adaptaram para sobreviver ao novo ambiente) em busca de alimento , segurança e afins. Por outro lado, não é impossível conceber cenários de regiões alcançadas por simples deleite, seguidas de adaptação e estabelecimento. Não é impossível.

Seja imperativo da vida, seja rebeldia contra os imperativos, deleitem-se.

Para entender o motivo da Verborragia clique aqui (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz!)

Notas:

1. Leia A Falácia do Consumo

2. No Twitter

3.  No twitter 

4. Leia "Ser" humano! Mesmo? Que tal "tornar-se?"

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