A vida é um processo: uma sucessão ininterrupta de interações com o mundo exterior: pessoas, eventos, tempo, intempéries etc. Por mais que eu procure me manter otimista, é preciso reconhecer que não está tudo bem o tempo todo (como melhorar?).
Há uma espécie de oscilação: somos pêndulos balançando entre polos de "tudo muito bem" e "não tão bem assim"; prazer e dor; alegria e tristeza. Com o tempo, conforme amadurecemos, vamos aprimorando nosso modo de reagir ao movimento pendular, sofrendo menos os estremos e prolongando os meios. Perceba que vinculei o sofrimento aos dois pólos, não apenas àquele que descreveríamos como negativo. Todos os extremos (aqui como extremo das situações, não das nossas ações) são sofríveis, se não estivermos suficientemente maduros para não repudiar este e não nos apegarmos àquele. Quando notamos o movimento pendular, mesmo que ainda não tenhamos compreendido completamente os períodos, começamos a intuir cada vez que começamos o movimento de afastamento de um polo (qualquer um deles).
Imagine um pêndulo. Todo extremo do movimento oscilatório tem alguns segundos de parada total, antes de voltar na direção contrária àquela que o levou àquele ponto. A depender de nosso nível de maturidade e consciência, essa retomada de movimento pode ser, por si só, ocasião de gozo, ou de sofrimento, para além daqueles experimentados nos próprios polos.
Observe: O movimento oscilatório é inevitável; os eventos, positivos e negativos, nos polos, são inevitáveis; vivê-los é, na maior parte das vezes, inevitável; sofrê-los é totalmente evitável. Eu não posso escolher a totalidade dos eventos, mas posso escolher como os recebo e reajo.
Este texto, entretanto, não é sobre o extremo, é sobre o início do movimento pendular que nos afasta de cada polo.
>>> Perceba quanto sofrimento (ou deleite) pode(m) ser produzido(s) artificialmente, indevidamente, pelo simples fato de notar o movimento em direção ao outro polo. Façamos um experimento intelectual (se não ficar claro, me escreva que eu explico. risos):
* Você já entendeu o que é movimento pendular; imaginemos que os polos, aqueles dois pontos nos limites do movimento pendular, são dois pontos, que nomearemos como A e B;
* Agora a linha que representa o período, o movimento de A até B e de B até A, nós denominaremos C;
* Registre, então, que temos muito claramente (e, no mínimo), três elementos distintos que, apesar de justapostos, não se confundem (ao menos em nosso experimento), sendo eles A, B e C;
Tudo bem até aqui? Sigamos.
* Como eu disse, esta não é uma reflexão sobre polos, portanto, ainda que eu não entenda que A seja invariavelmente sofrível, nem que B seja invariavelmente gozável, não contestarei esses pontos, supondo ser esta a sua opinião;
* Sobre o arco C, releia o sexto parágrafo, não sem motivo colocado em itálico; assumamos que A é dor e B é alegria; no exato momento que me aparto de A e começo e me mover em direção a B, ainda estou mais próximo da dor que da alegria, ainda assim, me alegro; em contrapartida, no exato momento que começo a me afastar de B e caminhar rumo ao A, ainda que eu esteja muito mais próximo da alegria que da dor, sofro. Eu antecipo a dor e a alegria do polo oposto, no lugar de experimentar a alegria ou a dor do momento concreto em que me encontro. Percebe?
* No limite, se A é sempre A (portanto, sempre dor. Não é no que creio, mas estou aceitando por ora) se B é sempre B (portanto, sempre alegria), forçoso é aceitar que C não muda nunca, com seu degrade infinito de A a B, de B a A.
* Ora, se C é sempre igual, porque metade das vezes que você o percorre é com alegria (quando está na direção de A para B) e a outra metade é com sofrimento (quando está indo de B para A)? Consegue entender? C não mudou? "Cê" que mudou? (eu sei. Eu tinha que escrever você. Mas gostei do trocadilho. )
Se as analogias acima estiverem suficientemente claras (é possível que não estejam), somos obrigados a compreender que a maior parte do tempo passamos mergulhados em deleites e sofrimentos totalmente subjetivos, enquanto as alegrias e sofrimentos reais são momentos pontuais, espaçados entre si. Se assim for, não é A, B ou C que precisam ser ajustados, mas sim a percepção e resposta do ente que os atravessa: Você.
Quando sua mente foi capaz de experimentar o momento, mais que a projeção, o caminho, mais que o limite, não estaremos mais discutindo alegrias e sofrimentos, mas sim compreensão e calma: Alívio.
Como fazer?
Ah meu amigo! Este é um espaço de reflexões, não de respostas. Divirta-se em seu percurso!
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