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sexta-feira, 8 de julho de 2022

#Verborragia: Pai

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A palavra de hoje é "Pai". Antes de mais nada, convém alertar que este texto não é uma homenagem; por outro lado, também não é uma válvula de escape de ressentimentos (não tenho nenhum). É uma tentativa precária de estar honesto (não se pode SER honesto. Leia Honestidade, disponível como reflexão e como conto).

Falar de paternidade é um problema pois, via de regra (e isso não é defesa da família tradicional brasileira), os pais são homens e homem é um problema. Você pega todo o mar de lama ancestral que constitui um homem comum e, plau, dá na mão dele um outro ente para formar (estou falando de pais, não de reprodutores, portanto, os homens que abandonam filhos não cabem neste texto).

Eu não gosto de falar em toxidade simplesmente pelo modismo que orbita o termo, mas ela não deixa de estar lá só porque eu a evito.

Com isso, todo um mar de feridas, ressentimentos e até traumas são inseridos num ente, o filho, que deveria ser protegido de tudo isso. Que Shiva me perdoe: É impossível calcular o mar de feridas que eu mesmo devo ter causado ao meu filho por simples imaturidade, despreparado e condicionamento (eu não sou perfeito. Estamos estudando os pais reais, não os ideais, e eu sou real).

Meu pai morreu muito cedo e minha mãe não casou novamente. Minha figura paterna foi um Frankenstein formado pelas lembranças do meu pai, as idealizações que fui construindo ao redor dele, meus tios e figuras masculinas mais velhas que fui conhecendo na jornada (amigos, colegas, patrões, padres, etc.). Como eu disse, nenhum ressentimento aqui: eram todos pessoas muito boas, cada qual tentando o seu melhor e eu procurando apreender o melhor do melhor. Como eu disse, homens são invariavelmente falhos, portanto, tentar fazer o seu melhor não elimina o oceano de condicionamento ancestral imposto pela sociedade.

Toda sorte de comportamentos e inclinações indevidos (aquilo que convencionou-se chamar "masculinidade tóxica") tão perfeitamente aceitos e fomentados pela sociedade num processo quase imperceptíveis, de tão natural, e imperdoavelmente profundo; difícil demais de reverter.

Para cada homem que nota este cenário conscientemente e se empenha deliberadamente para reverte-lo há mil homens alimentando-o e há cem canalhas simulando-o para atingir propósitos egoístas (e tóxicos; paradoxo).

A reversão, quando tentada, é turbulenta, tortuosa, e mesmo nos raros momentos de linha reta ocorre com alternância de dois passos para frente, um para trás. Quando o assunto é tornar-se (e/ou ajudar no desenvolvimento de) homens melhores , estamos todos bêbados.

A masculinidade em si, o "ser homem" não é uma coisa a ser combatida; todos os entes tem, individualmente, partes masculinas e femininas e a eliminação de qualquer uma delas é uma amputação no espírito. 

Ser/tornar-se homem, consequentemente, pai, é (precisa ser) um processo ininterrupto de auto avaliação e ajustes e deve ser empregado por cada pessoa, homem ou mulher, independente de questões de sexualidade, pois somos todos, em alguma medida, homens tóxicos e propagadores da toxidade.

Importa dizer uma vez mais: ajustar a masculina não é amputá-la. É perceber que não se é mais homem por perpetuar (ou cobrar dos amigos; ou ensinar aos filhos) posturas que nada agregam à vida de ninguém. É possível ser homem (e pai; e amigo) de uma forma infinitamente mais saudável. O ponto fundamental é: não é apenas possível, é urgente, pois a masculinidade como é vivida (e ensinada aos filhos) é uma tortura e prisão na vida das mulheres. Como pais, narramos amar nossas filhas, ao mesmo tempo que desprezamos e ferimos as filhas dos outros (não raro, as nossas também, em detrimento do suposto laço familiar).

Se você é homem, por favor perceba como lhe foi fácil vestir qualquer coisa e sair para o trabalho nesta manhã. Enquanto isso uma mulher precisou se trocar movida pelo terror do assédio potencial no transporte; outra chorou por motivos semelhantes ou piores; outra não teve força nem para sair. Um piada "desinteressada" sua foi a ruína de um coração. Você vai dizer que não fez por mal? Ok. Eu acredito. Mesmo assim você fez mal a alguém, e ensinou o mal ao seu filho.

Há algo para ajustar aqui, amigo. Pelo bem de nossos filhos e filhas. Isso é urgente!

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