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Há anos ocorrem ricos diálogos sobre Civilização Humana e Filosofia, Teologia, História e Cultura em geral! Tudo que possa interessar a alguém que espera da vida um pouco mais que outra temporada de BBB! Após diversos convites a tornar públicos estes diálogos, está feito! Quem busca uma boa fonte de leitura, por favor, NÃO VISITE este site. O que esperamos, de fato, é a franca participação de todos, pois não se chama “Outros Discursos”.

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

#Verborragia: Imprescindível

Para entender o motivo da Verborragia clique aqui (Por favor Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz).  A palavra de hoje é #Imprescidível. Excepcionalmente hoje escolhi a palavra eu mesmo. Era imprescindível fazê-lo.

Imprescindível é algo que não se pode evitar; com efeito, algo de que não se pode abrir mão em hipótese alguma.

Há uma infinidade de coisas efetivamente imprescindíveis em nossa existência: água, ar, alimentação, abrigo contra o frio, segurança contra predadores (humanos ou não), etc.

Há uma infinidade de coisas artificialmente imprescindíveis: dinheiro, emprego, companhia, etc. Escutei daqui vosso protesto contra esses exemplos: "como vai comer sem dinheiro?", "Como sobreviver sem emprego?", "o que é a vida sem afeto?", Etc.

Vamos avançar sem pressa: como de costume, iniciemos nossa análise em perspectiva biológica; na natureza não existe dinheiro, comércio, economia; há trabalho (caça, coleta, etc.), mas não há emprego; mesmo a companhia é prescindível e, embora a socialização seja característica básica entre mamíferos, o volume de espécies que prosperaram sem esse recurso é esmagador.

Passando ao nível social, a socialização (companhia de outros das mesma espécie) é imprescindível para a existência da sociedade, não necessariamente para a do indivíduo; mesmo dinheiro e emprego são prescindíveis, sendo exigidos apenas para a configuração específica de sociedade que nossa espécie adotou; qualquer manifestação superior de racionalidade já os teria expurgado (repito; não confunda emprego com trabalho).

Avançando à subjetividade é que as coisas ficam mais complicadas; dinheiro e emprego extrapolam questões de simples sobrevivência, adentrando em aspectos de percepção de segurança, identidade, auto estima, pertencimento, etc. As fronteiras entre o "im" e o "prescindível" ficam abaladas, como nestes filmes em que duas dimensões distintas colidem e se fundem. Não vou me aprofundar neste tema; por ora basta admitir que na configuração atual da sociedade estes elementos, intrinsecamente prescindíveis, adquirem imprescindibilidade subjetiva contra a qual não pretendo fazer qualquer objeção; por outro lado, quando anunciei a escolha da palavra apontei que o alvo era o #Amor. Passemos a ele.

Biológica e socialmente a companhia é prescindível, mas útil; subjetivamente temos uma "fusão de dimensões" análoga àquela que acabamos de apresentar; quase todas as dimensões da auto percepção orbitam um "quê" de "ser para o outro" ou de "ser com o outro"; salvo exceções específicas, não vislumbramos cenário no qual nos seja confortável ou desejável uma existência sem familiares e/ou amigos, mesmo que todas as demais necessidades fossem magicamente supridas; aqui a necessidade de "pertencimento" encontra sua manifestação mais forte e profunda e, para além dela, necessitamos de afeto; é na variedade das manifestações gerais de afeto que surge aquele afeto particular que chamamos de #Amor; para os amores familiares e fraternos deixemos todos juntos no conceito de "afetividade"; curioso mesmo é o outro Amor, o amor romântico (fica desde já combinado, para não ficar repetitivo, que daqui pra frente empregarei "Amor" para me referir a "Amor Romântico"). Se tudo que falamos até agora procurou demonstrar, em escala, a prescidibilidade de cada elemento, o amor (romântico; não esqueça!) é o mais prescindível de todos; por favor, não se precipite em me julgar; eu não descartei os outros afetos apenas por postular sua prescindibilidade prática; é certo que não farei o mesmo com o amor. Um visitante mais pragmático poderá evocar questões de sexualidade e necessidade de manutenção da espécie para fundamentar a origem deste amor: discordo; por favor observe que a etapa biológica de nossa análise já foi superada e há infinidade de espécies a sobreviver sem qualquer sugestão de amor. Por que o produzimos? Por que o desejamos? Por que o discutimos, escrevemos, ilustramos em filmes (choramos nos filmes), buscamos nas adjacências? etc.

Não postulamos nem procuramos o amor por afeto, pois podemos obtê-los doutros modos; não é por atenção, pois temos amigos; não é por semelhança de interesses e visões, pois também as encontramos na amizade; não é por carinho, carícias ou prazer, pois sempre foi (e hoje mais que nunca) tudo isso se pode obter sem sentimentalidades; O que afinal é o Amor e porque o buscamos?

Não vou tentar explicar o Amor; não tenho medo de tentá-lo; ocorre que tenho um  texto sobre ele fermentando há mais de um ano e ainda não sinto que chegou no ponto; fica para o futuro; mas ainda posso explorar aqui sua busca; Erigimos (muitos de nós. não todos) o Amor como uma Imprescindibilidade quase máxima; perde-se mais o sono por solidão que por preocupação com dívidas, mesmo que você não esteja sozinho (há amigos; há familiares; há atenção, afeto e carinho). Não fosse isso, não seria tão grande o sucesso dos aplicativos para busca de companhia (e não me venha falar de busca de sexo novamente; já superamos esta parte; sabemos que nem todas as buscas são desta natureza).  O que há, o que pode haver, de tão singular neste afeto tão específico?

O Romantismo da literatura (e depois do cinema) o apresenta em formas distorcidas que podem ter convencido muita gente que esta busca é importante, quiçá urgente; mas distorções a parte, há amores reais; há quem os encontra; O pulo do gato (aqui preciso te lembrar, estamos discutindo imprescindibilidade, não o Amor e como produzi-lo) e o equívoco é a questão da procura. 

Eras passadas eu disse para uma moça (com a qual não me casei; registre-se) "Você quer tanto se casar que até aceita que seja comigo; Eu quero tanto estar com você que até aceito me casar!"; Você consegue compreender a diferença de sentimento e de ato? Talvez o Amor seja mesmo imprescindível; não o contestarei; Eu mesmo o desejo (deve ser um negócio muito doido; doído também); mas a sua imprescindibilidade é convertida em busca e essa busca é absolutamente prescindível; é justamente por nos apegarmos a busca, desejando antecipar a chegada de algo que deveria ser natural, que mergulhamos em relacionamentos precários, sucessão de interações defeituosas, coisas que nos ferem, nos enfraquecem, nos diminuem; você abraça uma pessoa em sua busca enlouquecida por amor, é (obviamente) feriada por ela e sai da história dizendo que não acredita no amor; não nota sua responsabilidade? Não havia amor ali, você o forçou e, como ele não estava realmente ali, você culpa o Amor, não o seu ato; a sua busca; Há Amor em algum lugar e eu creio nele; Eu o vi no "vídeo Tarcísio e a da Glória falando de amor. Mais que ouvi-los, eu o vi. Sobretudo ele. Não era um ator. Era um homem. Não era galã atuando, era amor, pleno, puro, devocional. Ele sequer olhava pra câmera. Só existia Glória! Um sorriso bobo. E a vida valeu a pena!" (veja o vídeo aqui; frase entre aspas porque resgatei uma publicação passada).

O verdadeiro Amor, parece-me, só é possível quando você é capaz de tornar o outro PRESCINDÍVEL! A única declaração de #Amor real e possível é "EU NÃO PRECISO DE VOCÊ!". Todo o resto é ilusão, projeção, muleta e carência. A ficção e o romantismo nos condicionaram a esperar que o #Amor seja um incêndio, uma fúria, uma coisa avassaladora, quase dor e saímos pulando de relacionamento em relacionamento, busca em busca, tentando encontrar essa coisa impossível de encontrar (quando encontrada é linda, mas acaba. Não é sustentável). Talvez Ele seja tão suave, puro, meigo; talvez seja tão terno que se/quando nos ocorre, coisa rara, sequer o consigamos reconhecer. Ele é um abraço... Pobre Amor. Ignorado Amor.

Dei inúmeras voltas e não cheguei no ponto; o que importa é que precisamos parar de romantizar o Amor e interromper sua procura; tratá-lo como prescindível; só assim poderá ser encontrado; Mais que isso; quando encontramos uma pessoa e supomos amá-la, é imperativo que ela mesma seja tornada prescindível em nossa vidas; Se PRECISAMOS dela há um erro no processo; precisamos de nós e de nossa capacidade de proporcionar a nós mesmos as coisas imprescindíveis que iniciam este texto; nada mais; APENAS quando o outro, o objeto do nosso amor, for visto como prescindível, é que poderemos render-lhe o carinho e amor que ele merece; só aí, quem sabe, poderemos construir a relação afetiva que nos explique  e demonstre porque o amor é -ou deveria ser- imprescindível.

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