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Há anos ocorrem ricos diálogos sobre Civilização Humana e Filosofia, Teologia, História e Cultura em geral! Tudo que possa interessar a alguém que espera da vida um pouco mais que outra temporada de BBB! Após diversos convites a tornar públicos estes diálogos, está feito! Quem busca uma boa fonte de leitura, por favor, NÃO VISITE este site. O que esperamos, de fato, é a franca participação de todos, pois não se chama “Outros Discursos”.

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

#Verborragia: Efêmero

 Esta palavra é curiosa, pois pressupõe um antônimo que é ilusório: o que há que não seja inerentemente efêmero? Para inferir um "não efêmero" qualquer precisaríamos nos embrenhar por todas as especulações filosóficas sobre absolutos, trabalho que me seria extremamente prazeroso, mas nada útil para a presente reflexão.

Assumamos, portanto, que embora nossa espécie seja criativa suficiente para postular infinitos absolutos e que todos sejam conceitualmente defensáveis, nenhum é empiricamente demonstrável ¹. Por outro lado, a impermanência geral é incontestável, desde um momento, que se esvai em um suspiro, até o Sol, inda que demore 5 bilhões de anos para se esvair. Entre o momento e o Sol, nossas tacanhas existências simulam eternidades enquanto se aniquilam em poucas décadas de labuta e lástima.

Há alegrias, eu sei, mas se dissolvem como momentos. Há infortúnios, e estes parecem durar mais que as estrelas. Essa ilusão/distorção em nossa forma de experimentar a Duração em si e as durações particulares alimentam nossa confusa interpretação sobre efemeridade e eternidade.

Medindo tudo pelas réguas de nossas vidas curtas e limitadas sustentamos a falácia de que tudo que nos supera em tempo de permanência tende a ser perene e aquilo que superamos é efêmero. Se pudéssemos dar um passo para trás e olhar a existência com os olhos de Brahma (você não precisa ser místico. Leia "Brahma" como a perspectiva do Universo material que lhe cerca) perceberíamos que absolutamente tudo no Universo (e ele mesmo) é efêmero e não dura mais que um dia.

À luz da mais plena certeza (e compreensão) da completa impossibilidade de manutenção das coisas (do que quer que seja) poderíamos, talvez, nos libertar do julgo dos apegos. 

Isso é bom, mas efêmero. Deixo ir. Já foi.

Isso dói. É efêmero. Já não sinto mais.

A psicologia e a espiritualidade vão te ensinar que passado e futuro são ilusões, te convidando a se dedicar ao presente. Eles estão corretos, porém, por um instante, sem ônus ao que te ensinaram, quero propor momentaneamente (efemeramente) que ilusórios são o futuro E O PRESENTE, pois à luz da efemeridade geral das coisas, tudo já passou. Nossa existência é uma memória. Tudo já passou (repetição não acidental). Você supõe que me esteja lendo, mas a palavra "lendo" já é passado. Tudo que veio antes e depois dela é memória para você e para mim. Tudo desfeito no tempo, ilusoriamente sustentado em sua mente, ou armazenado em um banco de dados que, em breve, será desfeito, instalado em sistemas de computadores com validade limitada alocados em um planeta que será engolido pelo próprio Sol ², cujo passado amarelo será lembrança de uma raça que não nos é facultado conhecer.

E as estrelas? São uma bela imagem prática da efemeridade. Todas, sem exceção, são passado. Algumas já não existem mais. "O Sol existe!", você protestará, mas até ele é passado, pois a luz que atinge seu rosto saiu de lá 8 minutos antes. A luz que você observa é do passado. Lembrança do que o Sol era. O Sol já passou, efêmero, se foi.

Esse não é um texto pessimista. Não quero falar de fim. A impermanência não é uma lástima, mas sim o que atribui beleza à existência inteira. Shiva, o deus da destruição, é a condição de possibilidade de tudo o que é novo. Não é possível criação, mística, poética e material sem a impermanência de tudo que antecedeu cada novidade; do contrário, seriamos estáticos, absolutos, imóveis, inertes, perenes, sem graça, vazios.

A a compreensão da efemeridade que torna possível os novos amores, novos empregos, novas canções, assim como a visita a velhos lugares com novas emoções.

Tudo passa.

Notas:

1. Leia Uma Questão de Fé! 

2. Leia Salvar os Santos 

Para entender o motivo da Verborragia clique aqui (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz!   )

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