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Há anos ocorrem ricos diálogos sobre Civilização Humana e Filosofia, Teologia, História e Cultura em geral! Tudo que possa interessar a alguém que espera da vida um pouco mais que outra temporada de BBB! Após diversos convites a tornar públicos estes diálogos, está feito! Quem busca uma boa fonte de leitura, por favor, NÃO VISITE este site. O que esperamos, de fato, é a franca participação de todos, pois não se chama “Outros Discursos”.

domingo, 17 de setembro de 2023

#Verborragia: Saudade

Notei que quando uma palavra  é proposta/escolhida para a #Verborragia eu não costumo verificar se já produzi texto sobre aquela palavra. Penso que mesmo se a palavra for repetida, a época mudará a inclinação de minha inspiração, gerando resultado distinto. #Saudade, por outro lado, é coisa tão natural de existência humana que me deixou curioso: Como nunca ninguém pediu/propôs? Pesquisei meus textos passados: Nunca ninguém pediu/propôs.

Se a "#Saudade é um prego, o coração é um martelo, fere o peito e doí na alma, e vai virando um flagelo". Perdão. Não tinha como não evocar essa música. A coisa mais encantadora da palavra #Saudade é o relato frequente de sua difícil tradução, sendo fácil localizar traduções para "nostalgia", mas não exatamente para aquilo que "saudade" evoca. Deve ser verdade (não sou linguista. Não fui estudar todos os idiomas para confirmar essa afirmação. Rs). Somos entidades mnemônicas. De todas as características que se pode evocar para descrever o que é "ser humano", fala, raciocínio, polegar opositor, etc., a menos utilizada (sobretudo por não ser exclusiva) é a memória. Ocorre que, em nós, os mais diversos níveis, conscientemente ou não, de memória, é que tornam possível nossa definição e coesão como espécie, assim como são a condição de possibilidade de nossa individualmente. É meu acervo mnemônico que me faz ser eu, me faz ser único e distinto de cada possível visitante deste texto. Cada escolha de palavras que faço aqui pode ser explicada rastreando minha existência até um momento passado que aproximou minha personalidade (desejos, gostos, valores, etc.) desta palavra e não de outra; cada reação minha a um estímulo externo poderia ser explicada pela mesma estratégia: mais que este corpo, esta cor de pele, esta altura, aquela cicatriz, o timbre e tom de voz, eu sou o que eu lembro (até quando a lembrança não é consciente).

Sendo a memória algo tão marcante e profundo em nossa existência (coletiva e individual), não é surpresa alguma que um dos sentimentos com maior poder de impacto sobre nós seja a saudade. Se eu sou o que eu lembro, eu existo muito mais na memória que no ato, assim, minha mente tende a dar mais atenção às ausências que às presenças.

Como tudo que constitui nossa existência, a existência da saudade não é, em si, um problema mas um desequilíbrio¹ em sua dosagem pode vir a ser. Uma definição  superficial, incompleta e facilmente contestável de "Depressão" é "excesso de passado (ou de memória)". Por ora, não a contestemos. Vamos assumir como "uma definição possível" e explorá-la: Ora! Se tudo o que somos é memória, como o excesso do nosso elemento mais fundamental pode ser fonte de sofrimento? Ainda assim, acontece. O ponto é a dosagem. Tudo que somos é memória, ainda assim, precisamos estar no mundo, viver o presente, atuar no agora. Para tanto, recorro ao meu acervo mnemônico e, com ele, seja por reflexão, seja por instinto, tomo uma decisão e ajo. O dano nasce quando eu me fixo no acervo, abraço o passado, a memória, e abandono a atuação no presente. Não vou, obviamente, tirar uma máxima do tipo "Viva o presente!" como uma cura mágica para a depressão. Trata-se de coisa séria que não pode ser contornada com frases de efeito (a famosa "não fique assim!"). Não vou falar de depressão nem de curas, vou falar dos momentos em que nos apegamos ao passado, deixamos de atuar no presente, mas não em cenários depressivos (para os quais cabe a ajuda profissional, não a leitura deste texto). Eu gosto do passado. Eu gosto de lembrar. Isso pode reforçar (negativamente) meus quadros de procrastinação (este texto era para quarta, comecei a escrever na sexta e o estou concluindo no domingo). O mesmo recurso ao acervo mnemônico deveria me alertar para as ocasiões em que a procrastinação me causou complicações, levando-me a reações diferentes no presente. É preciso equilibrar memória e ação.

Voltando à Saudade, tendo o cenário acima como premissa, devemos compreender que há situações, lugares e pessoas que se vão, no tempo e no espaço, e nos ressentimos destas ausências. Foram momentos bonitos, nos quais é bom pensar, mas não precisam ser dolorosos. A ausência deve ser encarada como ocasião de valorizar aquilo que se foi, não um meio de reforçar a ausência, convertendo-a em dor.

A Saudade é uma característica bela, cuja função e nos mostrar que aquilo que nos habita a memória foi prazeroso, algo a ser guardado e, eventualmente, revisitado, com carinho e respeito, não com lamento. A Saudade deve ser, ainda, professora de que é bom pensar no que FOI, mas é inútil (e danoso) pensar no que poderia "TER SIDO". Somos seres mnemônicos, mas também imaginativos. Não nos apeguemos à imaginação. Mantenhamos a imaginação onde ela é útil: Como ferramenta para construir futuros melhores, não para lamentar passados irreais.

Tens saudade de relacionamentos significativos? Construa relacionamentos ainda melhores.

Tens saudade de lugares belos? Conheça novas paisagens.

Tens saudade de pessoas que partiram²? Valorize o tempo com os presentes.

Eu tenho saudade de quando a vida era simples e eu tinha mais esperança ³. Dever ser momento de simplificar minha vida.


Notas:

1. Leia Não deixe o medo DE cegar!  e Resiliência 

2. Leia Morte

3. Leia Encorajo


Para entender o motivo da Verborragia clique aqui (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz!   )

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