A palavra de hoje é uma palavra bônus, pois será publicada entre duas quartas. Também é um neologismo, o que torna sua interpretação ainda mais interessante. Foi sugerida pela minha Dulce Colorine. Bora lá!
“Questionamoro”, nas circunstâncias em que veio a ser conhecido, derivava da junção de “questionamento” e “namoro”, referindo-se às pessoas que enamoravam-se pelo questionamento (tipo “nóis” aqui!). Mas oque é, exatamente, o “questionamoro”?
O nosso querido amigo Michaelis diz que “namoro” é, entre outras definições, “ato ou efeito de namorar; namoração”; “namorar”, por sua vez¹, é “Esforçar-se para conseguir inspirar amor a alguém; cortejar, galantear, tourear:”, “Namorar de modo efêmero; namoricar, namoriscar” e “Inspirar amor a; apaixonar(-se), atrair ou sentir(-se) atraído”. Isso é o que a gente esperaria, mas também é “Desejar algo ardentemente; cobiçar:”, “Mostrar interesse por alguma atividade, área de conhecimento, ideologia etc., alheias a sua realidade” e “Encantar-se com algo; enamorar-se:”. Enamoremo-nos por estas três últimas.
Existe um tipo muito peculiar de pessoa, e se você leu até aqui você é assim, que deseja ardentemente conhecer mais, entender melhor, se interessa pelo conhecimento, todos os tipos de conhecimento, e se encanta pela busca deste mesmo conhecimento. Aqui residimos, os enamorados pela descoberta.
Ora, descobrir é questionar; aprender, o que quer que seja, é perguntar. Perguntamos quando falamos com alguém, quando abrimos um livro, quando jogamos no “Google”. Tudo é busca, tudo é cortejo ao conhecimento. Questionamos em busca de respostas, respostas podem, eventualmente, trazer conhecimento, conhecimento pode, vez ou outra, levar à sabedoria (Sofia). Isso significa que nosso “questionamoro” é, de algum modo, uma semente de Amor à Sofia³, ou “Filosofia”. Ele é, simultaneamente, anterior e posterior à Filosofia. Explico:
* Anterior, quando adotado no sentido de enamorar-se com o conhecimento, de cortejar a sabedoria. É um amor ainda não correspondido, germinal, algo a se cuidar, extremamente frágil.
* Amor à Sabedoria é um passo a mais, mas ainda está aquém da sabedoria possuída, pois amá-la não significa que há correspondência. Eu, menino tímido da Zona Leste de São Paulo, amei muitas meninas que nunca o souberam. “Ela é minha namorada. Só não sabe ainda”. O ponto em que a filosofia se instala é o ponto no qual a sabedoria é amada, buscada, mas não necessariamente possuída.
* Um “questionamoro” maduro é quando o relacionamento, o namoro, já está estabelecido; andamos de mãos dadas com a busca, levamos as indagações para jantar, discutimos assuntos profundos até duas da manhã.
Alguém poderia protestar, dizendo que o segundo e o terceiro ponto se confundem. Provavelmente sim. De algum modo, Sofia nunca é possuída, é sempre buscada; cortejamo-la initerruptamente, mas, via de regra, ela recua quanto tentamos segurar sua mão.
Notas:
1. E é claro que fiquei automaticamente com vontade de escrever um poema dançando entre “sua vez” e “suaves”
2. Leia Para que serve a Filosofia?
3. NÃO LEIA Abandonei Sofia!
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