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quarta-feira, 20 de novembro de 2024

#Verborragia: Ressonância (ou "A Frequência da Alma")

Hoje, se bem me lembro, tenho 43 anos. Devo ter assistido "Beakman" na falecida TV Cultura em minha adolescência, uns 30 anos atrás. 90% de tudo que eu sei desse mundo deve ter vindo dali. "O que eu sei" não deve ser confundido com "dados úteis para sobrevivência ou trabalho"; São universos distintos.

 Há um episódio do Beakman especificamente sobre "ressonância" e eu lembro até hoje da voz dizendo a palavra com eco, dando o exemplo daquilo que seria tratado já enquanto era nomeado. O som é, via de regra, propagado pelo ar, mas não exclusivamente. O som é uma vibração nas partículas gasosas cuja frequência é decodificada em nosso aparelho auditivo e cérebro, sendo convertido em voz, música, buzina e afins. Se esta vibração não fosse transmissível a meios não gasosos, noutras palavras, se ela não pudesse se propagar também em sólidos e líquidos, não seria possível escutar o que ocorre do outro lado de uma parede; não seria possível nem mesmo existir o aparelho auditivo (o qual consiste em um sistema mecânico, portanto, formado por partes sólidas, que recebe as vibrações aéreas e as converte em dados eletrônicos para o cérebro).

A forma como as ondas sonoras interagem com os diferentes meios pode causar distorções nas próprias ondas, assim, um ruído pode diminuir, quando estou dentro de uma sala, a voz pode ser amplificada, quando em um auditório bem desenhado, ou ecoar, a depender das formas e materiais dos sólidos ao redor. Mais interessante que as modificações sofridas pelas ondas é a modificação que o objetivo sólido pode sofrer. As vibrações sonoras que, quando no ar, são invisíveis, nos líquidos e sólidos se tornam evidentes ao tato e, eventualmente, ao olhar. Você vê quando um som ondula o café na sua xícara e quando o grave do show de rock parece bater no seu peito.

A ressonância é, entre outras descrições, a repetição de uma frequência. Um certo objeto A vibra em uma frequência X, isso se transmite pelo ar na forma de som, atinge outro objetivo B e, quando há semelhança de forma e substância, o objetivo B, espontaneamente, começa a vibrar na frequência X (lá vem de novo na mente a voz do Beakman dizendo "Ressonância"). A coisa é tão profunda e poderosa que no episódio ao qual me referi no início era apresentada uma grande ponte suspensa, dessas de atravessar rio mesmo, larga (se bem me lembro, duas faixas de carros e duas faixas para pedestres), cuja somatória de formas, partes e materiais teve a incrível e imprevisível faculdade de ressoar com o vento daquela região. Conforme o exemplo do café, a vibração sonora, quando em líquidos e sólidos se observa em movimentação, o que, no caso da ponte, foi observado com a ponte se  ondulando e contorcendo. Ainda que o relato fosse de "fortes rajadas de vento", a ponte se contorcia, por ressonância, não por força do vento, como se estivesse no meio de um ciclone. Isso teria levado ao desmoronamento.

Mais sútil que isso, mas não menos verdadeiro, é que essas vibrações não atravessam (e alteram) apenas os gases, líquidos e sólidos, elas ressoam na alma. Um sentimento X sai de um emissor A, atravessa o mundo, por música, texto, arte, atinge um sujeito B, que  chamaremos de receptor e este começa e ressoar no mesmo sentimento X. Há uma necessidade de identidade de forma e substância (ainda que espírito não tenha nenhum dos dois, você entendeu).

Quando há algo no espírito de B que coincide com o que existia no espírito de A, o sentimento ressoa, o espírito de B entra na mesma frequência do espírito de A. isso vale para o bem e para o mal; toda sorte de sentimentos, positivos ou negativos, são lançados mundo afora por infinitos emissores e cada pessoa viva neste mundo é um potencial receptor; o que decide o fim da história, se haverá ressonância ou não, é a forma e a substância de cada potencial receptor.

Não vou dar exemplos de sentimentos positivos e negativos, pois não é minha intenção criar um texto moralista, nem te convencer de qual forma e substância seria interessante produzir em seu espírito, com quais sentimentos seria mais apropriado ressoar. O ponto chave aqui é tornarmo-nos conscientes do processo de ressonância em nossos espíritos, ao qual se acrescenta uma característica ausente na ressonância física: a metamorfose¹. 

Voltemos ao exemplo dos objetos inorgânicos: Para que o objeto B ressoe na mesma frequência do objeto A é preciso, conforme dissemos, que B tenha equivalência de forma e substância. Não significar ter as mesmas formas e substâncias; note que a ponte não tinha a forma e a substância do vento; é necessário que a somatória de características físicas, as formas do todo, das partes, quando o objeto é complexo, das substância, tudo isso junto, se converta em um objeto que tem a mesma frequência do outro, quando isso se dá, a ressonância ocorre. Se, por outro lado, A e B não possuírem, de cara, a mesma frequência, você pode deixar o objeto A emitindo suas vibrações ao lado de B por 200 anos que nada mudará em B; ele não sofrerá alterações internas que produzam a equivalência, nunca chegará à ressonância.

O espírito, por outro lado, é mas maleável. Se mantido em contato com determinado emissor, com determinado sentimento, vai se alterar progressivamente, até adquirir "forma e substância" equivalente e, então, ressoará com aquele emissor e seu sentimento. Percebe?

A coisa ocorre em duas vias:

* Tanto pode ser que o receptor B já tenha um germe de identidade com o emissor A, portanto, um principio de ressonância e, justamente por ressoar, sustenta voluntariamente o contato, promovendo as alterações de sua substância para fortalecer a identidade, quanto

* Pode ser que, a priori, não exista ressonância alguma, mas pela manutenção do contato, a identidade com o emissor seja construída.

Concluímos, portanto, que é preciso mantermo-nos atentos às ressonâncias que assumimos ou construímos pois, deliberadamente ou não, estamos alterando a forma e substância de nossos espíritos. Estamos mantendo contato com o que realmente queremos ser? Ressoamos com o que há de melhor para se tornar? Insistimos na manutenção de sentimentos e/ou emissores cujas sonoridades já não são as mais agradáveis aos nossos ouvidos?

Por quê?

Notas:

1 . Pode te interessar ler a reflexão sobre Metamorfose   

Para entender o motivo da Verborragia clique aqui (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz!  )


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