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quinta-feira, 7 de novembro de 2024

#Verborragia: Incógnita

Acho relevante abrir esta reflexão apontando que é positivo, quiçá útil, que a sugestão tenha sido a versão feminina da palavra, pois há menos em "incógnito" do que teremos para explorar aqui.

Ambas as formas de expressão referir-se-ão a algo que não se conhece, já que a raiz "cógnito" tem origem comum com palavras como "conhecimento" e "cognitivo", enquanto o prefixo "in" tem efeito de negação, como em "in+eficaz" e "in+animado". A versão feminina do termo e o objeto do presente texto inclui um elemento adicional, não totalmente dissociado deste que acabamos de apresentar, que é o da incógnita matemática: Encontre o valor de X. Novamente (e ainda) se refere a algo desconhecido, porém, acompanhando de premissas suficientes para fazer-se conhecer. Não me iludo: sei que a matemática tem incógnitas insolúveis, por ora, como a da bendita fórmula que decide os primos, mas na vida cotidiana, na academia cotidiana, todas as incógnitas são "encontráveis", correspondendo, SEMPRE, a testes aos pupilos, nunca um paradoxo intransponível.

A matemática dá a sugestão que de há mais em "in+cógnita" que em "cógnita", portanto, se operarmos pela busca do que é mais simples, deveremos admitir que o natural é a "cógnita", tendo ocorrido o esforço de inserir o "in" para criar o termo ora explorado. Em tudo que há "mais" há artificialidade, pois o que é puro, simples, natural, espontâneo, há sempre menos (em volume de esforço, não em valor).

De algum modo isso equivale a dizer que a situação original, mais simples, portanto, a raiz, é a de "cógnita" para qualquer coisa, sendo o "in" um elemento artificial e arbitrariamente inserido na equação.

Ora: a última inferência é coisa absurda, se observarmos nossa existência prática e nosso relacionamento com o que é possível conhecer. Nascemos virtualmente vazios, portanto, repletos de incógnitas, seja em relação ao mundo externo, seja sobre nós mesmos. Absolutamente ninguém sabe quem somos, nem mesmo nós. Se assim é, e isso ninguém há de negar, como alguém poderia dizer "a situação original, mais simples, portanto, a raiz, é a de "cógnita" para qualquer coisa, sendo o "in" um elemento artificial e arbitrariamente inserido na equação."?

Nada muda, desde que aceitemos dar um passo para trás e observar a existência em panorama. Em panorama tudo o que há para saber está dado, existe desde já no Universo (este parágrafo é uma substituição. Eu ia propor uma camada metafísica aqui, mas notei que seria um acréscimo, portanto, eu mesmo teria falhado na busca da resposta simples que propus). Mas há um acréscimo de "in" (maia ?) ao redor de tudo, e o "in" se disfarça de muitas formas. O que há para a criança saber já existe no mundo, mas está convertido em "in+cógnita" pelo tempo necessário para ela crescer; o segredo só funcionamento dos buracos negros está revelado desde quando eles começaram a existir, mas está encoberto em um manto de "in+cógnita" disfarçado de distância (e horizonte de evento, mas esse é um outro rolê.); o que há para eu saber de mim esteve em mim o tempo todo, "incognitizado" pelo apego a essa casca que eu chamo de pessoa.

Você poderia protestar, dizendo que eu forcei a barra ao buscar o exemplo da infância, tão repleta de limitações intelectuais e até orgânicas (via de regra, provisórias) e o das magnitudes incomensuráveis dos eventos e corpos astronômicos. Precisei recorrer a estes limites e contava com vosso protesto, justamente para dizer que tudo isso é irrelevante, pois até o Eu, do qual não há tempo ou espaço a me separar, quase nada sei; sou eu mesmo e, ainda assim, invariavelmente, incógnita.

Por outro lado, não abro mão da hipótese de que tudo é "cógnita" e que qualquer véu, qualquer desconhecido, qualquer empecilho, é acréscimo, com "in" adicionado à receita. Se assim é, compete-nos menos um esforço pela busca do conhecimento (pois este está sempre dado), que um ato voluntário de rejeição do "in". Se, por ora, falta-nos elementos orgânicos e tecnológicos para superar os "in's" dos dois primeiros exemplos, não me parece intransponível a remoção do "in" que me separa do Eu. O caminho é transponível (olha aí mais um "in" indevido).

Insisto ainda em falar de "incógnita", em detrimento de "incógnito", para manter em nosso horizonte a segurança matemática de que X, que na atual equação sou Eu, é sempre encontrável.

Mas o funcionamento das fórmulas de matemática requer elementos mínimos para viabilizar o cálculo de X, algo que é sempre garantido. Quais os elementos mínimos para tornar possível a jornada rumo ao Eu?

Emprestemos da matemática o habito de dizer "encontre X" com frequência muito maior que "calcule X". A procura é, via de regra, espacial. você encontra algo em algum lugar. "X está ali", você realiza o percurso do cálculo e chega até ele. Onde está o Eu?

Supõe-se que o lugar físico do Eu coincida com este ponto (do espaço, do mapa, da geografia) no qual se encontra meu suposto corpo. Se eu sei EXATAMENTE onde eu estou, como é que não me conheço? Deve haver uma outra dimensão na qual Me procurar, já que não é no espaço.

Será que meu percurso é no tempo? Na duração, para ser bergsoniano. "Encontre o Eu!" no tempo seria uma jornada ao longo da minha existência, no tempo? vamos ver se eu me encontro por essa via.

Imaginemos que toda a minhas história é representada em uma régua, sendo o 0 o meu nascimento, o 15 o momento atual e o 30 o dia de meu derradeiro suspiro.  Então passo o olhar por todos os milímetros, tentando identificar onde Eu estou. Se sou sincero comigo mesmo, preciso compreender que o 0 é quase nada de mim, com uma tendência crescente de "Eu" conforme subimos a escala. Há uma fração qualquer de Eu, mas nunca o Eu completo, em tudo o que existe de 0 até 14,999… ; se, por outro lado, inicio minha investigação pelo 30, forçoso é admitir que muito do que há ali, se não tudo, é devaneio meu. Não sou Eu me encontrando mas sim, Eu me imaginando, projetando versões de mim, seja do que desejo, seja do que receio, jamais eu; sobretudo, "in+verificável" eu, até que a minha existência, não o meu olhar, tenha se deslocado ela toda para o 30, para que eu coincida com aquele ponto e, portanto, não mais o fantasie, mas o seja. Com isso, a escada do futuro é preenchida de in+finitas variáveis de "não eu", em um espelho daquele mesmo eu in+completo que ocorre de 0 a 14,999…, agora indo de 15,001 até 30, cujo percentual de Eu vai de 99,9% a 0,001%. (na minha cabeça faz sentido. Se você precisar a gente vai para um bar e eu desenho).

Se assim for, a única esperança de localizar um "Eu" que esteja completo, tanto quanto possível, e esvaziado de projeções artificiais de si mesmo está em fixar nosso olhar no 15, ou seja, no momento atual.

Ocorre que mesmo quando nos supomos no momento estamos, o tempo todo, forçando um "não eu" qualquer sobre ele, seja com elementos do "quase Eu" do passado, seja com coisas fantasiadas sobre o "ainda não eu" do futuro.  Forçamos um "in" no presente.

A fórmula consiste então em, por tanto tempo quanto possível, esvaziar nossas mentes de tudo o que é passado e de tudo o que é futuro, abraçando (e aceitando) o que é absolutamente AQUI; absolutamente AGORA.

Quando você anda na rua você vê as outras pessoas, geralmente estranhas; você as vê, não as ignora, não topa com elas, não as abraça, nem beija, nem dança. Você as nota, sem se identificar com elas, ajusta seu percurso, se/quando necessário, e segue rumo ao seu destino.

Faça o mesmo com as tentativas de sua mente de procurar os "não eu" alocados entre 0 e 14,999… e 15,001 até 30. Cada um deles é um transeunte que não é você. Não o despreze, pois poderá esbarrar, mas não o abrace, pois é um estranho. Apenas ajuste seu caminho e siga.

No começo você vai se distrair, como o jovem que se encanta pela moça bonita na calçada oposta. Há "eu's" atraentes na quase infinita escala do "nau eu". Não se puna por ter parado para admirar. Olhe, tanto quanto lhe parecer necessário e depois, sem nem se perdoar, pois você não cometeu qualquer erro, retome seu caminho.

Em um certo momento você inverterá seu estado mental, seu padrão de percepção: Hoje lhe é natural ignorar o que você é, no aqui e agora, e mirar compulsivamente o passado e o futuro. Haverá dia que te encantará o Eu puro, deste momento, e então você até poderá espiar o resto da escala, sem qualquer culpa, desvio ou tropeço, pois, devidamente apropriado de si, não será afetado pelo que vê ao redor. Tornar-se-á consciente, com o "in" removido também disto e, assim, finalmente, cógnita.

Curiosamente, ali, naquele momento, se lembrará que eu = Ego, e que saber e pensar são sinônimos no interior da palavra "cógito" e, bem ali, naquele aqui, naquele agora, "Ego cogito! Ego sum". (substituição do "ergo" não acidental).

Nota:

Para entender o motivo da Verborragia clique aqui (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz!  )


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