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Há anos ocorrem ricos diálogos sobre Civilização Humana e Filosofia, Teologia, História e Cultura em geral! Tudo que possa interessar a alguém que espera da vida um pouco mais que outra temporada de BBB! Após diversos convites a tornar públicos estes diálogos, está feito! Quem busca uma boa fonte de leitura, por favor, NÃO VISITE este site. O que esperamos, de fato, é a franca participação de todos, pois não se chama “Outros Discursos”.

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

#Verborragia: Atemporal

 Não poucas vezes eu inferi que somos o que lembramos¹; se não há quem lembre, não existiu. “Mas há outros registros: Há os livros, os fósseis, as marcas deixadas…” você protestará, evocando sinais que permanecem no mundo de coisas que aconteceram quando não estávamos aqui, mas somos capazes de resgatar e, com isso, mesmo que ninguém recorde, provar que existiram.

Ora, todos esses registros são, no limite, lembranças; marcas deixadas no mundo como nossas experiências deixam marcas em nosso espírito; tudo isso é memória. O livro, o fóssil, a marca, são lembranças; se não existisse livro, fóssil ou lembrança, não existiu: se não há quem lembre, não existi.

Reflita um pouco: 

A) A Terra tem 4,5 bilhões de anos;

B) Já a vida existe há 3,5 bilhões de anos;

C) O australopithecus deve ter vivido há 3,9 milhões de anos;

D) O homo sapiens existe há 300.000 anos;

E) Uma das civilizações mais antigas conhecidas, a Suméria, existiu há 6.000 anos;

F) O vidro dura um milhão de anos;

G) O plástico dura até 500 anos;

H) O ferro, quando exposto, dura 50 anos;

I) O cobre, quando exposto, dura alguns séculos;

Qual a relevância destes números?

* Se o a distância entre o australopithecus e o homo sapiens é de 3,6 milhões de anos, cabe o surgimento de umas 972 espécies de tipo sapiens no tempo de existência de vida na Terra (b/[c-d));

* Se era impossível inteligência antes do homo sapiens, cabe o surgimento de 50 civilizações do Suméria no tempo de existência do homo sapiens (d/e);

* Se a distância entre o surgimento do primeiro sapiens e os sumérios (294.000 anos) for o tempo médio que uma espécie inteligente leva para se organizar em uma civilização, cabe o surgimento de 13 civilizações no tempo de existência de vida na Terra (b/[d-e]);

* A exceção do vidro, nenhum material ou tecnologia que qualquer espécie inteligente ou civilização tenha empregado teria se mantido para ser localizado hoje e demonstrar que aquela civilização existiu.

Bônus: Há um intervalo de 3,45 bilhões de anos entre o surgimento da vida e o surgimento dos dinossauros e um intervalo de 66 milhões de anos entre a extinção dos dinossauros e nossa presença na Terra, assim, em um cenário de pessimismo, uma sociedade inteligente precisa de 66 milhões de anos para se formar. Se assim for, cabem 52 civilizações idênticas ou superiores à nossa no período pré K-Pg².

Pense em quanta vida inteligente o tempo de vida deste planeta comporta. Nada é impossível, mas como você não localiza o registro, diz que não existiu: se não há quem lembre, não existiu.

MAS o que é lembrar? É, no espírito, no papel ou na pedra, fazer persistir no tempo o que não existe mais no momento. Percebe? Sua namorada te deu um beijo. As bocas não estão mais em contato, você já a acompanhou até seu destino e retornou para a sua própria casa; o beijo não existe mais, mas como você lembra, o faz persistir na existência: Memória é lutar contra a inexistência, é arrastar o passado para o presente, agarrá-lo e mantê-lo aqui, ainda que tudo no Universo seja desenhado na direção oposta, como se você caminhasse em um deserto e um vendaval matinal procurasse te arrastar para o horizonte do nada, como fez com tudo mais que existia³. 

Há, porém, alguma coisa demasiadamente sutil para o vento do tempo levar: A beleza vai desaparecer do rosto da menina com o tempo e a lembrança daquela beleza vai desaparecer comigo, eu que me lembro de como era bela, mas, desaparecidos a bela e o observador, haverá ainda a Beleza, redescoberta em cada novo observador que virá depois de mim enquanto, embaraçado, se esforça para não olhar para cada nova bela. As juras de amor dos enamorados desaparecerão com eles, mas o Amor renascerá em infinitos outros corações, bem como a capacidade de jurá-lo.

Você pode ter desprezado completamente os cálculos realizados há pouco, mas se eu te pedir para imaginar uma única civilização dentre as 52 (ou 13, ou 50 ou 972 civilizações que inferimos ser possíveis), qualquer uma, a qualquer tempo, com qualquer configuração fisiológica, você irá me dizer que existiu ali alguém que tenha amado, que tenha se espantado com belezas, que tenha admirado as estrelas a noite, fantasiado uma alegria futura ou sofrido alguma saudade. 

Há, portanto, de alguma forma difícil de explicar (faz sentido para quem assiste Interestelar) , pois tudo o que é explicável é temporal (a palavra, em si, a racionalidade, em si, a capacidade de comunicar qualquer ideia, em si, é [são] temporal[is]) e, note, o que não somos capazes e explicar (me explique o Amor, a Beleza, a Tristeza, a Saudade etc.) se torna, à revelia de nossa temporalidade, nós que sentimos tudo isso, se torna atemporal; somos finitos e, ainda assim, sentimos coisas eternas. 

Quem pode explicar? Talvez o Tempo! 4

Notas:

1 . Leia Você lembra? 

2 . Esse vou deixar pra você pesquisar

3 . Leia  #Vazio 

4 . Já que a gente chegou aqui, leia Sobre o tempo 


Para entender o motivo da Verborragia clique aqui (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz!  )

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