Quando essa palavra foi sugerida eu achei que fosse um erro ou um neologismo, ainda assim, reconheci imediatamente ao que remetia. Visitando o dicionário tive a feliz surpresa de constatar tratar-se de um verbete existente.
Como você deve ter imaginado, a mais simples definição dessa palavra é o barulho constante que pequenas ondas do mar fazem ao atingirem as pedras. Trata-se de um som suave, constante e ritmado.
Desde sua proposição, na última segunda feira, essa palavra vem constantemente atingindo minha mente, indo e retornando como ondas do mar. O que são os pensamentos?
Repetitivos ou não, compulsivos ou não, pensamentos são essas curiosas movimentações de nossa mente, tão controláveis quanto é possível abarcar o oceano na concavidade produzida pelo encontro das mãos. Imagine-se caminhando na praia. Mesmo quando não há pedras para as ondas se chocarem há a repetição do som das ondas se desfazendo no limiar¹ da areia. Agora você caminha mar adentro até que o nível da água lhe atinja a cintura, faz a tal concavidade com as mãos, recolhe um pouco d'água e a ergue até a altura dos seus olhos. Isso em suas mãos são os seus pensamentos conscientes; esse punhado de água representa aquelas curtas frações de tempo nas quais você controla e observa o que está pensando, escolhe a direção de sua mente, delibera e toma decisões conscientes (é importante atentar-se à sucessão dos termos aqui empregados porque nem toda decisão é consciente.)
A superfície da água contornando sua cintura e distribuindo-se em todas as direções -ora perfeitamente calma e horizonta, ora ondulando e "marulhando" suavemente, ora, ainda, revolta e tempestuosa- representa aquela parte de sua mente a qual você até consegue observar, quando decide prestar atenção, mas não tem capacidade de controlar; o oceano profundo é o seu subconsciente² (não mergulharemos tão fundo).
Com a água em suas mãos você faz o que quiser: bebe (não recomendo), lava o rosto (arderão os olhos), joga pra cima, devolve ao mar etc. A água adjacente você só pode contemplar e escutar. Nota? Ouvir o marulho. Para muita gente este som (não confunda com a tempestade) é relaxante, praticamente uma meditação.
O pensamento controlado e consciente, aquele em suas mãos, é importante e útil; não por isso o pensamento solto que de circunda deveria ser negligenciado. Esse suave som, indo e vindo, tem o poder de te dizer algo, se você se dedicar a aprender esse idioma: A água fala.
Não pretendo explorar potencialidades transcendentais da mente solta, mensagens, intuições etc. Sejamos pragmáticos? A observação atenta, dedicada e constantes dos teus pensamentos soltos podem te ensinar sobre você: seus medos, desejos, preocupações, compulsões etc.
Tornando-se consciente de "por onde sua mente vaga³", poderá compreender melhor a si mesmo, tornando-te apto para os primeiros mergulhos rumo a um eu mais profundo.
Onde suas ondas tem batido? O que o seu marulho lhe tem dito?
Notas:
1. Aproveite e leia Limiar
2. Leia Imersão
3. Não à toa o termo "vaga", aplicado como substantivo, não como conjugação do verbo "vagar", pode significar "onda".
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