Cabeçalho

Há anos ocorrem ricos diálogos sobre Civilização Humana e Filosofia, Teologia, História e Cultura em geral! Tudo que possa interessar a alguém que espera da vida um pouco mais que outra temporada de BBB! Após diversos convites a tornar públicos estes diálogos, está feito! Quem busca uma boa fonte de leitura, por favor, NÃO VISITE este site. O que esperamos, de fato, é a franca participação de todos, pois não se chama “Outros Discursos”.

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

#Verborragia: Retrato

Para entender o motivo da Verborragia clique aqui (Por favor Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz!).  A palavra de hoje é #Retrato e é importante fixar-mo-nos nela, em detrimento de "fotografia", pois lhe é anterior e é justamente aí, no #Tempo, que desejo me concentrar.

Pintavamos retratos eras antes de fazer a primeira fotografia (importa registrar que foi tardiamente que aprendi que foto se faz, não se tira) e os objetivos sempre foram os mais diversos, além de sofrer modificações conforme a época na qual o retrato era feito. Deixemos de lado (e isso não significa que são inválidos) objetivos tais como "fixar ou comunicar um sentimento", "expressar uma ideia", "comunicar uma mensagem", "registrar um momento", etc., e olhemos (figurativamente e literalmente) para os retratos de pessoas enquanto tentativa de guardar seu semblante para apoiar a rememoração quando ela se ausenta (no espaço, no tempo e/ou pela morte).

No mundo atual a fotografia (primeiro química, agora digital) tornou virtualmente impossível a ausência de retratos para quase qualquer pessoa que você conheça; não tornou impossível (lamento) as ausências (no espaço, no tempo e/ou na morte).

Quanto maior a duração da ausência (lembrando que para este raciocínio fazer efeito é preciso que ao menos uma foto tenha sido guardada e visitada), mais marcantes ficam as afirmações "fulano não mudou nada" e "ciclano é outra pessoa". A oposição das duas cria uma aparente contradição, mas preciso registrar que é equivocada. Não há regra sobre mudar ou não, portanto, os dois cenários ocorrem, nenhum dos dois é absurdo e ambos são acentuados pelo tempo.

Bem mais antigas e muito mais profundas que qualquer retrato são as percepções sensoriais que as pessoas tem umas das outras ; mais antigas porque ocorrem desde quando há pessoas para perceber e mais profundas porque são infinitamente mais complexas que os simples registros de aspecto visual marcados nos retratos; para além de qualquer aspecto, registramos e "retratamos" internamente a voz, os gostos, as manias, os valores, etc. Por outro lado, ao contrário dos retratos, a afirmação "ciclano é outra pessoa" torna-se virtualmente impossível, ainda que seja o efeito mais provável ocorrido em ciclano.

Explico: assim como no retrato, fixamos na memória características das pessoas; caso se façam ausentes (no tempo e no espaço. Agora não cabe a morte) visitamos as memórias, reforçamos seus traços, fixamos cada vez mais aquela imagem geral, desprezando que o tempo está passando e a pessoa está vivendo; ao contrário dos retratos (desconsidere degradação do pigmento, do material, etc.) , viver é evoluir (ou involuir), é mudar (quase sempre), assim, quanto mais avançamos no tempo, mas ciclano se torna distinto da imagem que guardamos dele.

Para o bem e para o mal, tornamo-nos pessoas novas a cada dia, num processo interrupto, mas geralmente ignoramos o processo (se não temos hábito de nos observar) e, consequentemente, supomo-nos imutáveis. Se assim procedemos conosco, quanto mais com os ausentes. Aqui não desejo nem mesmo explorar o processo de acentuar características (boas ou más) que geralmente operamos, justamente para não perder a fidelidade ao conceito original, o retrato.

Agora, mantenha esta operação em mente, mas gire o cenário 180 graus, colocando o outro na posição de "observador do retrato" e você mesmo no lugar de ausente, no espaço e no tempo. Quanto daquele retrato que o outro está observando ainda é você? Quanta gente há, tem observando em retratos/memórias que não são mais vocêe? Noutras palavras, quanto gente neste momento ignora quem você é e conhece apenas versões suas que não existem mais?

Se você vai retorna, no espaço e no tempo, para solucionar essa divergência e apresentar-se novamente (ineditamente, diga-se), não me cabe dizer ou propor? Ignoro se há razões ou meios e, sobretudo, com/para quem fazê-lo. Agora, conclua o giro (mova-se mais 180 graus) retornando tudo à posição real, você como observador, dentro do seu quarto mental fitando todos os retratos dos ausentes. Percebe o quão imensa é a possibilidade destas pessoas não existirem mais, ainda que vivas? Lhe é possível contornar estas distãncias? Há muita gente antiga-nova para conhecer, retratos para atualizar. Por quê não?

Nenhum comentário:

Postar um comentário